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TUDO NOVO por Donana

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Palavras: 5282
Acessos: 335   |  Postado em: 16/07/2025

Capitulo 13 - A familia de Julia

Os dias ao lado de Laura estavam sendo os mais felizes da vida de Júlia. Pela primeira vez, ela sentia que havia encontrado um tipo de paz que nunca imaginou possível — tudo parecia simples, leve e natural. Desde que voltaram da fazenda, Laura praticamente passava todas as noites no apartamento de Júlia. Mesmo quando o cansaço das cirurgias falava mais alto e tudo o que conseguiam fazer era dormir abraçadas, a companhia bastava.

Contar sobre o namoro à irmã caçula, Larissa, foi fácil. A garota, sempre perspicaz, já tinha percebido tudo desde a primeira vez que Laura dormira ali. Apenas sorriu, como quem confirma uma teoria antiga, e abraçou Júlia com naturalidade.

Mas o restante da família era outro capítulo.

No dia seguinte, Júlia viajaria com Larissa para visitar a mãe, a avó e o irmão Guilherme, na cidade onde moravam agora. A ideia de abrir o coração para eles e contar sobre Laura pesava. Laura chegou a se oferecer para acompanhá-la, mas Júlia achou melhor ir sozinha. Queria enfrentar a conversa no seu tempo, sem colocar a namorada numa situação desconfortável.

Na noite anterior à viagem, o sono não veio fácil. Júlia rolava na cama, os pensamentos acelerados. Sonhou com olhares de reprovação, frases duras e portas se fechando. Acordou inquieta, o travesseiro úmido de suor — ou talvez de lágrimas.

Laura percebeu logo, ao acordar e encontrar a namorada sentada à beira da cama, com o olhar perdido.

— Ruim assim? — perguntou, ainda com a voz sonolenta.

Júlia forçou um sorriso, tentando fingir que estava tudo bem, mas Laura se aproximou devagar e a abraçou pelas costas.

— Você não precisa enfrentar isso sozinha, sabe?

— Eu sei... mas preciso.

Laura não insistiu. Apenas apertou mais o abraço e sussurrou:

— Então vai... e volta. Que eu te espero aqui, com o mesmo amor. Sempre.

E ali, mesmo com o coração apertado, Júlia sentiu que, acontecesse o que acontecesse, ela já tinha um lar para onde voltar.

Após o café da manhã, se despediram na garagem do prédio onde Júlia morava. Trocaram um beijo carinhoso e um abraço apertado de boa sorte.

Larissa, sempre animada e com uma piada pronta, abraçou Laura com naturalidade.

— Até a volta, cunhadinha. Fica tranquila, vou cuidar bem dela — disse com um sorriso travesso.

— Obrigada — respondeu Laura, sorrindo com carinho e os olhos brilhando de afeto.

Larissa assumiu o volante na primeira parte do trajeto, percebendo que a irmã precisava de um tempo para descansar — talvez até tirar um cochilo e aliviar a tensão que carregava desde a noite anterior.

A estrada serpenteava entre campos e árvores altas, mergulhados na luz dourada do fim da tarde. O som suave do motor era quase um mantra, e o silêncio dentro do carro só era interrompido vez ou outra por algum ronco leve de Larissa, dormindo no banco do carona, enrolada no moletom e com os pés descalços apoiados no painel.

Júlia segurava o volante com firmeza, mas o pensamento estava longe da estrada.

"Como eu vou contar pra eles?"

O coração apertava, e não era pelo tempo longe da família, nem pela saudade da infância. Era outra coisa. Um medo antigo, um receio de decepcionar ou de se sentir deslocada naquela família que sempre chamou de lar.

"Será que minha mãe vai entender? E a vó, com aqueles comentários que parecem elogios, mas ferem mais do que tapas?"

Suspirou. Mudou a marcha. Desviou o olhar para a irmã, que dormia como se o mundo fosse um lugar simples. Acho que nunca tive essa leveza na vida, pensou, sempre fora cobrada ao máximo, pela mãe e pela avó. Com Laura era diferente, ela não exigia, não cobrava… Mas a verdade era que ela sentia um nó de nervos.

"Laura… se você estivesse aqui, ia saber o que dizer. Ou melhor, não ia dizer nada — só ia segurar minha mão e sorrir daquele jeito que me lembra que está tudo bem."

O peito aqueceu ao pensar nela. No jeito que Laura a olhava quando achava que ela não estava prestando atenção. No cuidado com que a chamava de “minha namorada”, como quem segura algo valioso com as duas mãos. E, no fundo, era disso que se tratava: algo valioso demais para esconder. Ela só queria poder viver isso inteira, sem receio, sem precisar medir palavras ou sentimentos.

"Eles sempre me disseram pra ser honesta. Pra ser forte. Então por que é tão difícil agora? Por que parece que estou levando uma bomba no porta-malas, prestes a explodir em forma de verdades?"

Olhou o GPS. Ainda faltavam trinta e cinco quilômetros.

"É agora ou nunca, Júlia. Você salvou vidas em centro cirúrgico, já enfrentou chefes e decisões de horas... Mas morre de medo de dizer que está apaixonada por uma mulher incrível. Que loucura."

Riu sozinha, quase sem querer. A ironia da vida era essa: os maiores medos, às vezes, vinham das pessoas que mais amamos.

Encostou a mão no coração.

"Eles precisam saber quem me faz feliz. E se não entenderem… bem, eu entendo. Porque me conhecer inteira é o mínimo que qualquer um que me ama deveria fazer."

A estrada seguia. O céu começava a ficar cor de lavanda, e Júlia pisou um pouco mais leve no acelerador. Ainda não tinha todas as respostas, mas sabia que uma parte da coragem já havia acordado dentro dela. E essa parte tinha olhos azuis, sorriso torto e cheiro de amor.

Sorriu.

"Vai dar certo."

Talvez não do jeito que ela sonhava, mas do jeito que a vida costuma fazer: no tempo certo, com verdade e, quem sabe, com um abraço apertado no final.

A casa da família Carvalho, simples, acolhedora e com cheiro de bolo de fubá recém-assado, estava tranquila naquela tarde de sábado. Júlia havia passado a manhã conversando com o irmão sobre o passo que estava tomando de ir tentar a sorte em Curitiba, que agora ria sozinho com um programa qualquer na televisão da sala. A irmã caçula, Larissa, estava na cozinha preparando o que ela fazia de melhor, brigadeiro de colher, como fazia sempre que voltava para casa. A mãe, Marlene, terminava de colocar o bolo preferido dos filhos para assar, enquanto a avó, Dona Meire, tricotava uma blusa de lã, na varanda, com os óculos pendendo na ponta do nariz.

Júlia sentia o estômago embrulhado. Já havia ensaiado dezenas de formas de dizer. Pensou em fazer graça, pensou em ser direta. Mas optou por algo no meio.

Reuniu coragem, respirou fundo e disse alto, da porta da cozinha:

— Gente… posso falar com vocês um minutinho?

Todos se entreolharam. Guilherme foi o primeiro a sair do sofá, e vir para cozinha, com um copo de refrigerante nas mãos. Marlene fechou o forno, prestando toda a atenção na filha mais velha. Dona Meire continuou na varanda, mas esticou o ouvido, como sempre fazia quando dizia que "não estava escutando nada".

Júlia se postou no centro da cozinha, com a coluna ereta, mas as mãos trêmulas.

— Eu queria contar uma coisa importante. É sobre mim… sobre minha vida.

— Aconteceu alguma coisa no hospital? — Marlene perguntou com preocupação.

— Não. É pessoal. — respirou de novo. — Eu estou namorando.

Guilherme sorriu, curioso.

— Olha aí! E quem é o felizardo?

Júlia engoliu em seco, mas manteve o tom sereno.

— O nome dela é Laura. Ela é médica.

O silêncio caiu como um cobertor pesado sobre todos.

Guilherme foi o primeiro a quebrar.

— Peraí… “dela”? Então você tá namorando uma mulher? — ele perguntou, arregalando os olhos.

— Sim. Estou. E amo muito ela.

Guilherme pareceu processar por alguns segundos e, com um sorriso leve, deu um passo à frente e abraçou a irmã.

— Se ela te faz feliz, então tá certo. Só quero ver você bem. Quem é essa mulher que conseguiu amolecer esse seu coração frio de cirurgiã? Ela é gata?

Júlia riu com os olhos marejados.

Marlene, porém, não sabia o que dizer. Sentou em uma das cadeiras como se o corpo tivesse esvaziado de energia.

— Júlia… minha filha… — murmurou, apertando as mãos. — Eu não sabia. Não que eu esteja te julgando, só... é difícil imaginar. Nunca falou nada.

— Eu sei, mãe. Porque nem eu sabia direito por muito tempo. Mas é real. É amor.

Foi nesse momento que Dona Meire se levantou da cadeira da varanda e entrou na cozinha com passos firmes, encarando a neta com um olhar carregado.

— Que vergonha, Ana Júlia. Eu te criei com tanto sacrifício, batalhei nessa vida pra ver minha neta médica, doutora, e agora você me aparece dizendo que tá namorando… outra mulher? Onde já se viu uma coisa dessas? Onde você está com a cabeça? Foi os anos no estrangeiro que te estragaram? Bem que eu falei para sua mãe não te deixar ir, porque lá o povo é libertino e faz as coisa da forma errada, olha ai te contaminaram e levaram para o mal caminho.

Júlia manteve a postura. Estava preparada para isso, mesmo que doesse.

— Vó, eu continuo sendo a mesma Júlia. A que estudou, que se esforça, que cuida dos pacientes, que não esquece da família. O que muda é que agora eu tenho alguém que me ama — e que eu amo.

— Não é normal! — rebateu a avó. — Vai se envergonhar quando sair na rua. Vai ver as pessoas falando. E eu? Eu que vou dizer para o resta da família, quando perguntarem de você? Que agora é sapatão?

Júlia respirou fundo, mantendo o tom tranquilo:

— Vó, com todo respeito… a senhora não precisa dizer nada. Quem tem que se orgulhar de mim sou eu mesma. E eu estou muito orgulhosa da mulher que me tornei. Eu amo a Laura. E não vou esconder isso porque a senhora tem vergonha.

O silêncio voltou, agora mais denso.

Guilherme tocou no ombro de Júlia, orgulhoso. Marlene suspirou, os olhos marejados, dividida entre a filha e a mãe.

Dona Meire, em vez de responder, virou-se e foi para o quarto rezar, murmurando algo como “nem reza brava resolve”.

Júlia, embora com o coração apertado, manteve o sorriso sereno. Sabia que algumas batalhas se vencem pelo cansaço… e pelo tempo.

Guilherme puxou a irmã para um abraço e sussurrou:

— Você é corajosa pra caramba. Eu já te achava foda, por tudo que conquistou e ainda ajudou a mãe cuidar de nós. E se essa tal de Laura te faz feliz, quero conhecê-la. E se alguém mexer contigo, vai ter que lidar comigo.

Júlia sorriu, os olhos agora cheios d’água, mas era de alívio. Porque às vezes, um apoio basta para suportar um mundo.

O domingo amanheceu preguiçoso, com aquele céu meio encoberto que parecia pedir mais tempo para a semana começar. Na casa dos Carvalho, as malas já estavam arrumadas e encostadas perto da porta. O café da manhã foi servido cedo, com bolo de milho, pão francês fresco, café coado no pano e um silêncio respeitoso que substituía o burburinho comum das despedidas.

Júlia ajeitava as últimas coisas no carro, conferindo a bagagem da irmã caçula, Larissa, cada vez que vinham visitar a família a mala dela voltava mais cheia. Agora também reservava espaço para a mochila do irmão, Guilherme, que decidira tentar a sorte na capital, em busca de um emprego como Engenheiro Mecânico.

— Tem certeza que cabe tudo aí? — perguntou ele, rindo ao ver a mala pesada da irmã sendo empurrada com força para dentro do porta-malas.

— Se não couber, a gente amarra no teto igual os farofeiros — brincou Júlia, tentando aliviar o nó que apertava no peito.

Marlene apareceu com os olhos marejados, agora eram os três filhos indo embora de uma vez, pensou em considerar a proposta de Júlia desde que voltou ao e foi morar em Curitiba, largar tudo e se mudar com eles e abrir um negócio, pensaria com cuidado, pois os bens mais preciosos que tinha na vida estavam indo embora. A avó, Dona Meire, permanecia sentada na cadeira da varanda, calada, fingindo não estar ouvindo nada.

— Você cuida dos seus irmãos, hein, Júlia? — disse a mãe, com voz trêmula. — E me liga quando chegar. E não esquece de alimentar direito essa menina que só come besteira.

— Pode deixar, mãe. — Júlia sorriu, abraçando-a forte. — Vai ficar tudo bem.

Guilherme beijou o rosto da mãe com carinho, depois foi até a avó.

— Bença, vó. E não fica brava com a Júlia. Ela não mudou, só ama de um jeito diferente.

Dona Meire olhou de relance, sem responder. Apenas fez um leve gesto com a cabeça, seco. Larissa beijou o rosto da avó  — apenas disse um “tchau, vó”, e entrou direto no carro.

Júlia respirou fundo antes de se virar para o portão.

— Mãe, obrigada por tudo. A gente se fala assim que chegar.

— Vai com Deus, filha. E… — Marlene hesitou — eu ainda estou tentando entender tudo, mas… eu te amo, tá bom? Não esquece disso nunca.

— Também te amo, mãe.

— Vó, bença... Fica com Deus — disse Júlia com a voz baixa, carregada de emoção.

A mulher mais velha, rígida, ignorou o gesto da neta.
Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Júlia.

O irmão se aproximou, pousando a mão com delicadeza no ombro dela:
— Vem, Júlia... Deixa o tempo colocar as coisas no lugar.

Júlia assentiu em silêncio e entrou no carro. O irmão assumiu o volante, ligando o motor.
O som do carro ganhando vida pareceu selar aquela despedida — um ruído que marcava não apenas a partida, mas o peso de tudo o que ficou para trás.

Lá na frente, Curitiba os esperava. E com ela, Laura, a vida nova e todas as promessas de recomeço. Mesmo com o coração ferido pelas palavras da avó, Júlia se sentia mais certa do que nunca:

Ela não estava sozinha, nunca fugiu de desafios, não era agora que fugiria. Ela estava indo ao encontro da mulher que escolheu amar — e do futuro que escolheu construir.

_______________________________

Shopping Pátio Batel, Curitiba – Final de tarde de sábado

Enquanto Júlia viajava para visitar a família e matar as saudades de casa, Laura decidiu aproveitar o tempo livre para fazer algo que raramente conseguia: sair com Fernanda, Lívia e Olivia, sem nenhum homem Becker por perto. Um raro momento feminino, quase terapêutico.

— Finalmente conseguimos sair só nós quatro — comentou Lívia, já com três sacolas de roupas penduradas no braço. — É impressionante como vocês Becker acumulam compromissos!

— Fala por você, que vive com o celular da empresa grudado na mão — brincou Fernanda, abraçando a cunhada. — Mas eu admito que um dia de compras ajuda a equilibrar o humor.

— Meu equilíbrio é proporcional ao número de cafés que tomo e à quantidade de coisas bonitas que vejo nas vitrines — disse Olivia, já puxando as três em direção à praça central do shopping.

Enquanto andavam, entre uma loja de maquiagem e outra de sapatos, Laura se distraía, mas não conseguia parar de pensar em Júlia. A saudade apertava, e o aniversário da namorada se aproximava. Ela queria algo especial — algo que tivesse significado.

Foi então que pararam em frente a uma elegante joalheria. A vitrine brilhava com ouro branco, safiras e diamantes, mas o que chamou a atenção de Laura foi a simplicidade delicada de um colar fino, com um pequeno pingente de coração entrelaçado a uma pedra azul.

— Esse colar... tem a cara da Júlia — disse Laura, parando diante da vitrine.

— Tem mesmo — comentou Fernanda. — Discreto, bonito, com um toque sofisticado. Igual a ela.

Laura entrou na loja sem pensar duas vezes. As três a seguiram como boas espectadoras de um momento decisivo.

Enquanto experimentava o colar, notou ao lado um par de alianças de ouro branco. Simples, lisas, com um brilho discreto.

— Não me olha com essa cara — disse Laura, virando-se para Fernanda que arregalava os olhos. — Eu não vou pedir ela em casamento agora. Mas quero algo... simbólico. Algo que diga “estamos juntas”, mesmo sem alarde.

Olivia sorriu de canto.

— Aliança de compromisso, Laura? Isso é mais sério do que parece.

— Eu sou séria com ela. — Laura respondeu, firme. — Ela entrou na minha vida como uma tempestade e agora é o sol depois dela. Quero que ela saiba que eu penso em nós duas como um “nós” de verdade.

— Então compra logo antes que eu me emocione — disse Fernanda, secando um canto do olho discretamente. Os hormônios da gravidez tinham deixado a amiga sensível.

Laura escolheu o par de alianças, pediu para gravarem discretamente as iniciais “L & J” por dentro de ambas, junto da data do dia do primeiro beijo das duas e fechou a compra do colar também.

— Acho que ela vai desmaiar quando ver — comentou Lívia, abraçando Laura de lado.

— Melhor isso do que ela fugir — respondeu Laura, meio rindo, meio nervosa.

Saíram da loja com uma sacola delicada em mãos e um misto de empolgação e ansiedade nos olhos de Laura. O sol já caía lá fora quando as quatro se sentaram para um lanche, conversando sobre a vida, sobre amores e sobre como, às vezes, os gestos mais discretos são os mais marcantes.

O clima era leve, entre sacolas, risadas e goles de suco e chás. As quatro estavam sentadas em uma mesa próxima à vitrine da cafeteria — Laura, Fernanda, Lívia e Olivia. Ao redor, o burburinho das lojas e o perfume doce de pão de queijo recém-assado e perfumes florais preenchia o ar.

— E então, como estão os preparativos do casamento? — perguntou Laura, puxando o assunto enquanto mexia o suco com o canudinho. — Ou melhor... já conseguiram decidir o tipo de cerimônia?

Fernanda soltou um suspiro dramático e mordeu o canto do canudo da bebida.
— Eu e Leonardo queremos algo pequeno, íntimo, sabe? Só a família mais próxima e amigos muito queridos. Um brunch ao ar livre, com flores do campo, música ao vivo bem suave... — seus olhos até brilharam com a ideia.

— Aham... — respondeu Olivia, erguendo uma sobrancelha. — E o Conselho Supremo dos Pais de Noivos já aprovou isso?

Lívia riu e completou:
— Ou os pais de vocês ainda estão no modo “festa de novela da Globo às 20h”?

Fernanda revirou os olhos.
— Eles estão no modo “casamento de princesa”, versão deluxe. Minha mãe já falou em salão, buffet, vestido bordado, 300 convidados e uma entrada triunfal com coral e tapete espelhado. Ela diz que sou filha única e que isso tem que ser inesquecível.

— Olha… nada contra uma boa produção — disse Laura, sorrindo — mas 300 convidados?! Fernanda, você conhece 300 pessoas?

— Claro que não! E o Leonardo muito menos. Ele já surtou quando minha mãe mostrou um portfólio de decoração com lustres de cristal e projeção mapeada no teto.

Lívia, que até então só observava, inclinou-se para frente com expressão compreensiva:
— Amiga, talvez vocês tenham que ceder um pouco. Algo entre a simplicidade que vocês querem e a grandiosidade que os pais idealizam. Afinal, casamento também é sobre unir famílias e… bem, tradições contam.

— Sim, eu sei — respondeu Fernanda, pegando um biscoitinho da bandeja — mas é difícil. Eles dizem que é o “dia mais importante da minha vida”, mas parece que querem fazer a festa mais importante das vidas deles.

— Isso sempre acontece — comentou Laura — mas o importante é que você e o Leonardo se sintam bem. Talvez marcar uma conversa franca com os pais ajude. Com jeitinho, lógico... sem provocar terremoto.

— Ou pelo menos só magnitude 3,5 — completou Lívia, fazendo todas caírem na risada.

Fernanda assentiu, olhando as amigas com gratidão.
— Obrigada, de verdade. Talvez vocês sejam minha salvação.

— E quem sabe — disse Olivia, pegando o celular — a gente não ache o lugar perfeito agora mesmo. Tem um espaço lindo aqui perto, super charmoso, que pode agradar gregos, troianos e mães empolgadas.

— Perfeito. E depois a gente passa na loja de doces, porque, com ou sem festa de 300 pessoas, eu exijo bolo de pistache no casamento — brincou Laura, fazendo Fernanda rir alto.

Depois de mais algumas risadas e comentários sobre bolos e decorações possíveis, Lívia cruzou as pernas com elegância e apoiou o queixo sobre a mão, olhando diretamente para Laura com um sorrisinho curioso.

— Mudando completamente de assunto… Laura, soube que você andou visitando um certo imóvel da nossa lista VIP essa semana… Está pensando em pedir uma certa neurocirurgiã em casamento?

Laura ergueu as sobrancelhas, surpresa.

— Ué, como você sabe disso?

— Amor, meu pai comanda a imobiliária, mas sou eu que cuido dos imóveis especiais. — respondeu Lívia, balançando levemente os ombros com um ar de importância divertida. — Vi seu nome na consulta do imóvel. E confesso que fiquei curiosa.

— Então… — começou Laura, mexendo distraidamente no copo vazio. — Sim, fui ver a cobertura. Fica perto do prédio da vovó, um lugar nobre, tem uma vista maravilhosa e o projeto é super moderno. A corretora me disse que o imóvel está com preço excelente, considerando a localização e o padrão, e que vai ser entregue logo.

— Humm… — Lívia fez um som de aprovação. — E pelo jeito gostou, né?

— Gostei bastante, na verdade. — Laura confirmou com um sorriso discreto. — Tanto que coloquei meu apartamento à venda. Aquele que ganhei do papai, como presente de formatura.

Fernanda arregalou os olhos.
— Sério? Vai se desfazer dele?

— É, acho que chegou o momento. É um ótimo imóvel, mas quero algo que seja mais… meu. Que represente essa nova fase. E, com o dinheiro que tenho investido, mais a ajuda do papai — que já disse que topa me apoiar se for um bom negócio — acho que consigo fazer a compra da cobertura sem apertos.

— Uau, que virada! — Olivia comentou, surpresa. — Não sabia que você estava pensando nisso, mamãe deve estar surtando, os gêmeos saindo de casa ao mesmo tempo…

Laura sorriu, com os olhos brilhando de entusiasmo.

— Nem eu sabia até pouco tempo. Mas acho que o relacionamento com a Júlia me fez repensar algumas coisas. Ter um espaço novo, com nossa cara… pode ser o início de algo maior. Sem pressa, claro. Mas estou empolgada.

— Olha aí… Becker apaixonada fazendo planos de lar. — Lívia brincou, erguendo a taça de chá gelado como se brindasse. — Isso merece um brinde antecipado.

— Merece mesmo. — completou Fernanda, tocando a taça de Lívia com a dela. — E já avisa o seu pai, Lívia: negocia direitinho essa cobertura, porque vamos querer ir lá brindar o novo lar com espumante bom!

— Sabem, que ouvindo Laura, lembrei de quando eu e o Fabrício compramos nosso cantinho. Foi um processo parecido. A gente estava noivo ainda e achamos um apartamento na planta que era perfeito pra nós — claro, na época parecia um salto gigantesco. Sabe né, o Fabrício é orgulhoso, não queria ajuda de nossos pais.

— E vocês nem tinham casado ainda? — perguntou Olivia, surpresa.

— Nada. A gente ainda estava decidindo o tipo de convite do casamento quando assinamos o contrato — respondeu Lívia, rindo. — Meus pais acharam uma loucura. Mas o Fabrício estava tão certo daquilo, tão seguro… e eu também queria construir algo nosso, sabe? Não só viver num espaço qualquer, mas num lugar que tivesse nossa energia desde o início.

Fernanda sorriu.

— Isso é lindo. Eu acho que quando o casal consegue projetar o lar junto, tudo começa mais sólido.

— Foi exatamente isso que sentimos — continuou Lívia. — Assim que o prédio foi entregue pela construtora, começamos a mobiliá-lo e, pouco depois, o Fabrício vendeu o apartamento que o pai dele tinha dado de presente na formatura. Com o valor, conseguimos quitar quase todo o restante das parcelas e ainda mobiliar a casa do jeitinho que sonhávamos.

— Uau, então vocês fizeram tudo muito planejado mesmo. — comentou Fernanda, visivelmente impressionada.

— Planejado, sim. Mas com o coração na frente também. — Lívia completou, olhando para Laura com um sorriso cúmplice. — E quer saber? Valeu a pena cada centavo, cada decisão ousada, cada frio na barriga. Eu acordo todos os dias naquele apartamento e penso: “a gente construiu isso”.

Laura abaixou os olhos por um momento, pensativa, e depois respondeu com um sorriso calmo.

— Acho que é isso que eu quero também. Um lugar onde a gente possa construir, errar, crescer… mas juntas. Não um imóvel qualquer. Um lar.

— Então já começa mobiliando bem a varanda. — brincou Olivia, entrando na conversa. — Porque eu exijo brunchs, tardes com queijos e vinhos e plantinhas na parede.

As quatro riram alto, e Fernanda levantou a mão como se estivesse fazendo um brinde invisível..

— E aí, Dona Noiva, onde é que você e o Leonardo vão morar depois do casório? Quero saber onde vão rolar os jantares de casal e as tardes de pizza com os Becker reunidos.

Fernanda sorriu, ajeitando os óculos escuros na cabeça, e respondeu com a naturalidade de quem já tinha esse plano desenhado na mente.

— Então… a gente decidiu vender os apartamentos. O meu e o do Léo. Vamos comprar uma casa em um condomínio novo, nos arredores de Curitiba. Um lugar mais tranquilo, com espaço, sabe?

— Olha ela! Já indo direto pro jardim com rede e cachorro correndo no quintal. — brincou Olivia, piscando para as outras.

— Mas é bem isso mesmo! — Fernanda riu. — O Leonardo sempre gostou de espaço. E, sinceramente? Eu também. Cresci em apartamento, mas ando sonhando com silêncio, com varanda, com horta, essas coisas. Acho que queremos um lugar mais nosso, com cara de início. 

Lívia assentiu com um sorriso de compreensão.

— Faz todo o sentido. É aquele velho ditado: “duas malas novas não cabem num armário velho”. Construir do zero pode ser a melhor decisão mesmo.

— Exatamente. E achamos um condomínio lindo, recém-lançado. É um pouco afastado, mas super arborizado, segurança 24h, e o melhor: tem casas com quintal e lareira. O Léo ficou encantado. Já está pensando no churrasco de inauguração.

— Homem e churrasqueira, né? Uma ligação ancestral. — comentou Laura, rindo, enquanto passava os dedos distraidamente sobre o visor do celular.

— E o mais bonitinho — continuou Fernanda — foi quando ele disse que queria plantar uma jabuticabeira no quintal. "Pra gente colher junto e fazer geleia", acredita? Achei meio brega, mas fiquei emocionada.

— Gente, vocês estão muito românticas hoje. — provocou Laura, com um sorriso maroto. — Deve ser o efeito joalheria.

As quatro riram juntas, e Olívia respondeu:

— Ai, ai… — disse, balançando a cabeça com um sorriso meio resignado. — Vocês estão aí falando de casamento, casa com quintal, jabuticabeira e churrasco no domingo… e eu? A única das quatro ainda solteira, sem perspectiva de sair do sofá dos meus pais.

As três riram.

— Ah, cunhadinha… — disse Lívia, colocando um braço carinhosamente sobre os ombros dela — sua hora vai chegar. Quando a gente menos espera, a vida dá um nó e joga alguém no nosso caminho. Literalmente, às vezes.

— Só queria encontrar alguém que me desse vontade de fazer planos, sabe? De dividir a vida, comprar cama de casal, discutir cor de parede e escolher o nome do cachorro — desabafou Olívia, num tom mais sincero agora. — Alguém que me faça querer o “pra sempre”, mesmo sabendo que ele vem com contas pra pagar e DRs.

Fernanda apertou a mão dela com carinho.

— E você vai encontrar, sim. Mas até lá, aproveita! Você é linda, inteligente, engraçada, dona de um dos corações mais leais que eu conheço. E ainda tem tempo de escolher com calma, com critério, com afeto. Não precisa se apressar.

Laura concordou, sorrindo de canto.

— E só pra constar, eu também passei anos me convencendo de que não ia mais querer ninguém. Até que uma médica decidida e linda apareceu na minha vida cheia de perguntas e com muita paciência.

— Decidida, é? — disse Fernanda, rindo. — Gosto desse adjetivo. Combina com a Dra. Júlia.

— E olha no que deu! — completou Lívia. — Amor, planos, apartamento novo… e um certo ar de “vou me casar” no brilho dos olhos.

Olívia sorriu, agora menos triste e mais leve.

— Tá bom. Eu espero. Mas vocês que lutem pra me apresentar alguém decente, hein? E que pelo menos saiba conjugar verbos e lavar a louça.

— Justo! — disseram as três em uníssono, gargalhando mais uma vez.

Naquele momento, entre risadas, sacolas e cumplicidade feminina, Olívia sentiu que o amor pode até demorar a chegar, mas a amizade certa já é, por si só, uma forma linda de ser amada enquanto ele não vem.

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A viagem de volta para casa foi feita quase no automático. Apesar dos esforços dos irmãos para distraí-la e arrancar algum sorriso, Júlia sentia o coração apertado. As palavras duras da avó, dizendo que ela era uma vergonha para a família, ecoavam em sua mente como um bisturi cortando fundo — e sem anestesia.

Acomodou Guilherme no quarto de hóspedes, entregou o cartão a Larissa para pedirem algo para comer, e entrou direto no banho. A água quente escorria pelas costas, misturando-se com as lágrimas que, enfim, deixaram de ser reprimidas. Ficou ali mais de trinta minutos, deixando o vapor e o choro lavarem a tensão acumulada.

Quando enfim saiu do chuveiro e vestia o pijama, seu celular vibrou sobre a cômoda. O visor iluminou o quarto escuro: Laura. Júlia respirou fundo, enxugou os olhos com a manga da blusa e atendeu tentando soar leve.

— Oi, meu amor.

— Graças a Deus! — disse Laura, aliviada. — Já estava quase ligando pra polícia. Você não me respondeu nada, Júlia…

— Desculpa… foi corrido. Chegamos há pouco.

— E aí, como foi? Tá tudo bem? Júlia hesitou por um segundo, mas forçou um sorriso que Laura não podia ver.

— Foi tudo certo, sim. Um pouco cansativo, só. Família, né? 

Laura percebeu o tom contido, algo estava fora do lugar, mas decidiu não pressionar.

— Seus irmãos estão bem?

— Estão. Já se instalaram… Larissa já pediu comida e tá matando a saudade do sofá — riu fraco.

— E você… como você tá?

Júlia fechou os olhos por um instante.

— Tô bem, amor. Só cansada. Vou dormir cedo hoje, prometo que amanhã te conto tudo com calma.

Do outro lado da linha, Laura suspirou, desconfiada.

— Você tá mesmo bem?

— Tô. Juro. Só queria você aqui pra me dar um abraço apertado.

— Eu posso ir. Agora, se quiser.

— Não… amanhã a gente se vê. Conversamos com calma, te apresento meu irmão que está ansioso em te conhecer, pra conferir se você é tão linda como falei. — disse tentando brincar.

Laura deu uma risada curta.

— Tá bom, amanhã nos vemos no hospital, podemos almoçar juntas. — Respondeu não muito confiante, no bem estar da namorada. 

— Com toda certeza, estou morrendo de saudade..

— Também estou, minha Júlia. Vou deixar você descansar. Boa noite.Te amo.

— Também te amo, muito.

 

Quando desligou, Júlia ficou olhando o teto por alguns minutos. Sabia que Laura perceberia mais cedo ou mais tarde, mas por ora, preferia protegê-la da dor. Já bastava a dela. Amanhã… talvez, amanhã tivesse coragem de dizer a verdade.

Fim do capítulo


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Comentários para 13 - Capitulo 13 - A familia de Julia:
Mmila
Mmila

Em: 16/07/2025

Sempre tem alguém na família com esse tipo de reação.

Mas Júlia é sempre forte como sempre foi.

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