Caps. 11 – Pam – Ela me deixa nervosa
– Essa criançada deixa uma bagunça depois que saem.
– Está falando sozinha agora, Pam? – Olhei para a porta e Ana entrou toda sorridente, sorri também, dizendo.
– Estava apenas resmungando.
– Sei... – me olhou desconfiada e em seguida perguntou – vai querer carona hoje?
– Obrigada, Ana, hoje não precisa – peguei uma caixa que estava sobre a mesa e ela outra me seguindo para a salinha ao lado onde guardávamos os materiais usados em aula – preciso organizar essa sala, e depois vou caminhando.
– Está com coragem mesmo, hein? – Olhou em volta, sorri dizendo.
– Quando a minha sala estiver pronta, quero deixá-la toda organizada, essa estou improvisando.
– Eu me ofereceria para ajudar, mas preciso ir porque a babá vai sair cedo hoje, e o Marcio vai trabalhar a noite. – Fez carinha triste, a abracei dizendo.
– Não precisa, minha amiga, vai cuidar dos seus filhos – me afastei segurando-a pelos ombros – podemos almoçar amanhã? Eu cozinho.
– Ótimo, estava precisando mudar o cardápio mesmo – gargalhou e eu a segui, foi em direção a porta dizendo – nos encontramos amanhã então, boa sorte minha amiga.
– Obrigada, Ana, até mais... – mandou um beijo e saiu.
Voltei para a sala ao lado e comecei a organizar as coisas, nem vi as horas passarem, distraída ouvi alguém chamar na sala de aula, pedi que aguardasse um minuto que já estava saindo, quando estava a caminho acabei batendo na estante, uma caixa de guache que estava aberto na prateleira de cima caiu em mim espalhando tinta para todo o lado, no susto acabei gritando, alguém apareceu na porta perguntando.
– Tudo bem aqui? – Olhei para a pessoa e não pude acreditar, de todos os momentos que ela poderia aparecer, tinha que ser naquele? Sorriu vindo em minha direção dizendo. – Deixe-me te ajudar com isso.
Pegou a caixa que ainda estava em meus braços, depois se abaixou colocando as tintas que ainda estavam fechadas nela, aí me dei conta de que não havia dito nada, perguntei.
– O que faz aqui?
– Suponho que tenha aparecido na hora certa, do contrário você teria se perdido no meio dessa tinta toda. – Sorriu lindamente, apesar de ter uma marca de tristeza enorme perdido em seu olhar, sorri dizendo.
– Desculpa se fui rude – ela levantou me entregando a caixa, alcançou ao lado uma caixa de lenços e pegou um passando de leve em meu rosto, perguntando.
– A professora costuma se sujar mais que seus alunos? – Sorri achando fofo aquele gesto dela, disse apenas.
– Às vezes bem mais que eles, acredite.
– Eu acredito sim, na verdade estou tendo a prova viva em minha frente. – Sorriu, em seguida nossos olhos se prenderam um no outro, coloquei minha mão sobre a dela que ainda tocava meu rosto, desviou os olhos dizendo sem jeito – desculpa se ultrapassei algum limite.
– Não ultrapassou, na verdade foi muito gentil, agradeço por isso – sorri tentando limpar o máximo de tinta que conseguia – sempre trago umas peças de roupas comigo, caso acidentes assim aconteçam, se importa de me esperar um pouco enquanto me troco?
– Claro que não me importo, fica à vontade.
Sorriu voltando para a sala de aula, soltei a respiração aos poucos, dizendo a mim mesma.
– Eu mereço... – inspirei fundo pegando minha bolsa e corri para o banheiro ao lado para me ajeitar, quando voltei ela estava analisando os desenhos das crianças que estava em exposição na parede, me aproximei perguntando – localizou o desenho de sua filha?
– Sim... – me olhou sorrindo, mas senti a dor estampada em seus olhos quando continuou – agora ela desenha só duas pessoas e a Lucy.
– Izzie é uma criança muito inteligente, Beatriz, observe esse outro desenho – me aproximei dela apontando para uma folha ao lado, sorri dizendo – aqui ela expressou o que sentia, está vendo?
No desenho as duas de mãos dadas no chão, com o borrão que era sua cadelinha, e no alto sobre elas, um anjo sobrevoando, ela se aproximou passando a mão, dizendo.
– Sara... – me olhou perguntando – como?
– Ontem quando estávamos conversando, ela me perguntou como poderia representar a mamãe dela que foi morar no céu – desviei os olhos dos dela que ficaram marcados por lágrimas, sorri dizendo – então disse a ela que agora sua mamãe era um anjo que estava protegendo vocês duas lá do céu, ela pareceu se contentar com isso e resolveu desenhá-la assim.
Terminei de falar, olhando para aquela mulher ao meu lado, que passava os dedos sobre o desenho da filha, em seu rosto a marca das lágrimas que caiam, foi a minha vez de pegar o lenço e passar de leve sobre seus olhos e rosto, ela me olhou e esboçou um sorriso tão lindo quase me matando, se aproximou e me abraçou dizendo.
– Obrigada por tudo o que tem feito por minha filha, agradeço de coração – fiquei sem jeito, mesmo assim retribui o abraço dizendo apenas.
– Não precisa agradecer, você faria o mesmo por mim.
– Certamente que sim – se afastou, sorri entregando mais um lenço a ela que agradeceu – desculpa, não costumo ser tão emotiva assim na frente das pessoas, mas não consegui evitar dessa vez.
– Tudo bem, Beatriz, as vezes chorar faz bem, alivia o peso que está na alma.
– Bia... – ela disse, perguntei confusa.
– Como?
– Me chame apenas de Bia, prefiro – sorriu, concordei dizendo.
– Como quiser, Bia. – Sorriu inspirando fundo, olhou em volta e disse.
– Sara estava certa quando resolveu fazer aquela doação – olhei confusa para ela que disse apenas – a escola tem sorte de ter você como professora.
– Espera – afastei dois passos perguntando confusa – foram vocês quem fizeram a doação?
– Na verdade era um desejo de Sara, mas foi eu quem assinou o cheque – coloquei a mão sobre a boca abafando o espanto, sorriu, depois perguntou – parece espantada?
– Como não estaria diante de tanta generosidade?
– Ahh... – ficou sem graça passando a mão na nuca sorrindo lindamente, olhei para ela e minha vontade era de me jogar em seus braços e dizer que ela era tão linda e perfeita que fazia meu coração vibrar a cada instante, mas consegui me controlar, não tanto que me aproximei passando a mão em seu rosto dizendo apenas.
– Não sei como agradecer a vocês – me olhou ternamente, sorri, estávamos tão próximas, aqueles olhos verdes que me faziam viajar, poderia me perder neles sem querer me achar...
– Atrapalho?
Olhamos para a porta e lá estava a Cintia que nos olhava curiosa e logo Isabel apareceu, também nos olhando, ficamos em um momento meio constrangedor, dei um passo para trás dizendo.
– Não atrapalha não, – Bia olhava para as duas, curiosa, sorri dizendo – Beatriz, essas são Cintia, a nossa diretora, você já a conhece – indiquei e ela se aproximou estendendo a mão cumprimentando – e essa é Isabel, professora de canto e dança.
– Olá, Cintia, tudo bem? Isabel, prazer em conhecê-la. – Essa que pegou na mão dela se jogando.
– O prazer é todo meu, Beatriz – balancei a cabeça, detestava aquele jeito de Isabel, disse para chamar atenção.
– Cintia, a Bia estava apenas olhando os desenhos das crianças, dentre eles da sua filha.
– Sua filha estuda conosco? Não lembro de tê-la visto por aqui? – Isabel disse interessada, revirei os olhos.
– Na verdade, minha esposa que costumava ser mais ativa na vida escolar de nossa filha, assumo que falhei em alguns aspectos, mas agora estou me policiando com isso.
– Imagino que esteja orgulhosa, as crianças expressam seus desejos em artes – a diretora disse gentil, mas Isabel a interrompeu.
– Esposa, então você é casada? – Me adiantei salvando a Bia de responder perguntas do tipo, dizendo apenas.
– Isabel, não acha que você está abusando? – Bia me olhou como se agradecesse, a outra disse apenas.
– Me desculpe, foi apenas curiosidade.
– Tudo bem, Pamela – Bia tocou em meu braço, olhou para a professora dizendo apenas – sim, eu era casada, mas infelizmente minha esposa faleceu há seis meses.
– Sinto muito – a ironia nas palavras já conhecida de Isabel, me fizeram tomar as rédeas daquela conversa.
– Cintia, em que posso ajudar?
– Ah, então... estávamos de saída e vimos a porta de sua sala aberta, vim saber se estava precisando de algo?
– Não, eu já estava de saída, apenas explicando algumas coisas para a Beatriz.
– Entendo – sorri – nesse caso você poderia fechar a escola, falta sua sala e o portão?
– Claro, pode deixar que cuidarei disso.
Ela concordou saindo, Isabel a seguiu dando um adeus tão sonso que acabei revirando os olhos de novo, as duas saíram, Bia me olhou sorrindo e dizendo.
– Ousada sua amiga.
– Você não imagina o quanto – sorri e ela me acompanhou, disse – ela é minha “ex” – disse entre aspas – não que isso seja importante, mas a ousadia dela causou a nossa separação.
– Sinto muito por isso – disse sentida de verdade, sorri.
– Tudo bem, acredite, foi melhor assim – revirei os olhos sorrindo, ela me acompanhou, nos olhamos por alguns segundos, mas ela quebrou o contato me tirando do transe.
– Não quero te atrapalhar, se já estiver saindo, acompanho você.
– Obrigada – fechei a sala pegando minha bolsa, perdi até a vontade de organizar aquela bagunça, veria com mais calma na segunda, fechei as portas e seguimos para o portão, o qual tranquei me dando conta de uma coisa, perguntei – desculpa a indelicadeza, Bia, mas você veio fazer o que aqui mesmo?
– Ah, sim! – Me ajudou quando o portão emperrou, e disse ao meu lado. – Vim agradecer o presente que deu a Izzie.
– Presente?
Acabei perdendo um pouco o sentido com o perfume inebriante dela, sorriu dizendo apenas.
– A pintura dela com Sara.
– Claro!
Fiquei sem jeito, na verdade estava me perguntando quando ela iria vir falar comigo sobre, já que a semana passou e quase não a vi e sua irmã quem estava vindo trazer e buscar Izzie, não comentou sobre, pensei até que tivesse ficado chateada comigo,
– Deveria ter vindo antes, mas não tive tempo e queria agradecer pessoalmente – ela sorriu sincera – foi um presente maravilhoso, nós amamos, muito obrigada – me acompanhou até a calçada, sorri dizendo.
– Não foi nada, aquela pintura eu havia feito na última vez que as vi juntas aqui na escola, infelizmente não deu tempo de entregar em mãos, achei que seria o suficiente dá-lo a filha.
– Certamente, ela ficou muito feliz e eu também, colocamos o quadro em nossa sala – se virou em minha direção dizendo sincera – agradeço de coração, Pamela, pelo desenho, por ajudar Izzie a entender onde a mamãe dela está, e agradeço também pelas ajudas futuras, que certamente virão, já estou me adiantando – sorriu sem jeito, a achei fofa por aquilo.
– Se quer mesmo me agradecer, me chame apenas de Pam – sorri e ela concordou com a cabeça, segui dizendo – farei o que estiver ao meu alcance, sua filha está passando por uma fase delicada, espero ajudar sempre que puder.
– Agradeço de coração... – sorriu, fazendo meu coração transbordar como sempre, olhou em volta perguntando – pretende ir como para casa?
– Pensava em ir caminhando, mas acabei desistindo, chamarei um Uber – abri minha bolsa pegando meu celular, gentilmente ela colocou a mão sobre a minha dizendo.
– Deixe-me que a leve em casa?
– Não precisa se incomodar Bia, deve ter muito o que fazer...
– Por favor, eu insisto – me olhou com tanta ternura que acabei cedendo, concordei, sorriu feliz, me acompanhou até o carro, gentilmente abriu me ajudando a entrar.
– Obrigada! – Agora eu estava sem jeito, quando ela fechou a porta, fechei os olhos apenas, pedindo desculpa para Sara em pensamento, mas não tinha como negar, estava completamente apaixonada pela esposa dela, me assustei quando ela disse ao meu lado.
– Para onde? – Sorriu dizendo em seguida – desculpa, não queria te assustar.
– Tudo bem, acabei me distraindo – sorri e ela me acompanhou ligando o carro, disse – segue a avenida, moro quase no final dela.
– Certo... – saímos e fomos conversando mais animadas, agora ela estava curiosa quanto a desenvoltura da filha na escola, com paciência expliquei algumas coisas, não demoramos muito nisso e chegamos em minha casa, fiquei até desanimada, a companhia estava muito boa, e queria desfrutar mais, infelizmente não quis ser invasiva, quando ela parou que tirei o cinto para sair, foi mais rápida, quando dei por mim, abria a porta e me ajudava a sair, sorri dizendo.
– Obrigada pela carona e pela companhia.
– Eu que agradeço, fazia algum tempo que não conversava amenidades assim ao acaso, obrigada por ter me doado seu tempo.
– Quando você quiser, estou disponível – me olhou divertida, vi que estava sendo oferecida, disse – quero dizer... desculpa... eu só quis dizer que quando quisesse conversar, que eu estava disposta... affs... – deixei meus ombros caírem e acabei sorrindo, ela jogou a cabeça para trás gargalhando tão gostosamente, que acabei quase enfeitiçada, me recompus dizendo – confesso que você me deixa nervosa.
– Quase sempre eu que que fico nervosa diante das pessoas, é bom variar um pouco – estava brincando, sorri dizendo.
– Que bom que estou divertindo você com meu nervosismo.
– Desculpe, não me entenda mal, por favor – parou de rir, estava realmente preocupada, sorri.
– Relaxa moça, estava brincando – pareceu relaxar, inspirei fundo olhado para minha casa, dizendo – obrigada por ter me trazido em casa.
– Disponha... – sorriu olhado na direção em que eu olhava, segundos depois disse – você tem uma bela casa.
– Obrigada, foi herança de minha vó – sorri saudosa – fico feliz de ter comigo, uma parte dela.
Seu celular tocou, ela passou a mão no bolso da calça tirando-o, pediu licença para atender, segundos depois disse.
– Preciso ir... – pegou uma de minhas mãos apertando com a outra, sorrindo sincera – obrigada pela companhia, pelo presente e por me fazer rir... – se aproximou beijando meu rosto de leve, concluindo – se eu puder, gostaria de ir na escola em outros momentos, quero acompanhar Izzie sempre que puder.
– Claro, fica à vontade, sua presença será sempre bem-vinda – o que dizer diante daquilo? Fiquei totalmente sem ação, ela concordou apenas e seguiu para o carro, mas voltou perguntando.
– Gostaria de almoçar comigo e Izzie qualquer dia desses?
– Iria adorar... – nem hesitei diante daquele convite, ela sorriu feliz.
– Vou me organizar – parou pensativa, dizendo em seguida – esse final de semana está muito em cima, provavelmente tem compromisso, que tal sábado que vem?
– Perfeito para mim... – apesar de que se ela me chamasse naquele instante, eu iria, sorri, ela beijou meu rosto novamente e foi para o carro, quando estava entrando, perguntei.
– Se importa se eu disser na escola que foi você quem fez a doação? Todos estão curiosos para saber quem o tinha feito?
– Pode dizer, mas em nome de Sara, por favor, foi ela quem o fez, na verdade – sorri, dessa vez um pouco mais animada, concordei dizendo apenas.
– Obrigada mais uma vez!
– Disponha, tenha um bom final de semana, Pam.
– Vocês também, Bia, até mais.
Entrou no carro acenando com a mão, sorrindo, me despedi vendo seu carro virar na esquina e sumir de vista, inspirei fundo entrando em casa, me joguei no sofá olhando em volta, sobre a mesa, os desenhos que havia feito alguns dias atrás, os peguei na mão vendo que o sorriso estampado naquele desenho, não era nada comparado ao sorriso da pessoa pessoalmente, suspirei dizendo
– Ainda vou morrer de amor... – sorri fechando os olhos lembrando cada pedacinho daquele final de tarde, relaxei e acabei adormecendo no sofá, quando acordei estava anoitecendo, fui para meu quarto, tomei um banho, depois comi alguma coisa e dormi, estava serena, calma, flutuei pelos sonhos, tive uma noite maravilhosa.
Fim do capítulo
Olá, meninas, tudo bem?
Agora não tem mais jeito, Pam finalmente aceitou que está apaixonada... Será que ela vai conseguir disfarçar esse sentimento? E como vai ser esse almoço, hein?? Estou ansiosa... hehe
Bjs... e uma ótima semana para vocês.... se cuidem e até a próxima...
Bia
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Cacavit
Em: 18/07/2025
Olá autora! Bia
Venho humildemente suplicar que tenha clemência dessa pobre leitora que se encontra viciada nessa leitura e que tem estado do dia 03/07 em diante quase que diariamente a procura de novas atualizações, e em algumas vezes quase 3 vezes ao dia, imagino os diversos/milhares se compromissos que tens que resolver. Mas lhe imploro que tenhas empatia. Por essa pobre leitora que vos fala. Lhe imploro para que não desapareça por tanto tempo. Por favor!!
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HelOliveira
Em: 18/07/2025
Oi minha amiga saudades....
As vezes a acabo não comentando, mas estou sempre te acompanhando a cada capítulo, e esse foi muito bonitinho...Pam aceitando que está apaixonada, acho ela uma pessoal muito especial...já estou ansiosa para ver esse almoço...
Bom fim de semana
Bia Ramos
Em: 24/08/2025
Autora da história
Oi,Lenah, tudo bem?
Essas duas, cabeça dura... rs
Agradeço o carinho sempre... S2
Agradeço o comentário...
Bjs, se cuida
Bia
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