A conversa com Amanda não foi das melhores, como era sempre Sara quem resolvia isso com ela, não me preocupava. Não sou muito paciente para “vitimismos” fora de hora, e ela era uma verdadeira atriz em se tratando disso. Fechei com ela mais um contrato de três meses, o qual ela me deu sua palavra de que não iria atrasar ao mandar o material para a revista, afinal, estava sendo bem paga para isso.

Almoçamos com Albert e Deise e seguimos para casa, cheguei tomei um banho e descansei, aquela semana seria corrida, então, quase não parei em casa. Minha sorte que Lara estava conosco, e ela conseguiu se adequar a nossa rotina, mas teria que rever meus horários, minha irmã não ficaria muito tempo conosco, e infelizmente Sara não estava...

Parei com aquele pensamento, pensar nisso doía demais, enfiei a cara no trabalho. Consegui em alguns dias da semana ir buscar Izzie na escola, ela já estava reclamando muito da minha ausência, e merecia mais de mim.

Maio chegou, Lara foi embora prometendo voltar na próxima semana, seria aniversário de Izzie e tinha prometido fazer um festão para ela. Iria fazer aniversario no terceiro sábado do mês, e estava uma correria em organizar todas as coisas. Já tinha contratado um buffet de festa infantil, um dos melhores da cidade, levei minha pequena algumas vezes para ela escolher o tema, o que foi difícil, pois, ela era igual a mim, indecisa, no fim, eu tive que escolher e ficamos com Princesas da Disney, daria dor de cabeça aos pais que levariam seus filhos, seria uma festa a fantasia.

Isso animou muito, minha princesinha, fazia tempo que não a via tão animada. Passamos a primeira semana de maio, tranquilo. Na segunda sexta do mês, teve a festa na escolinha, um dia muito animado e emocionante. Izzie estava maravilhosa, e a homenagem que a escola fez as mães, foi perfeita.

Seguimos no sábado para a capital, iríamos passar o dia das mães com Deise e Albert, tínhamos essa tradição quando Sara ainda era viva, as datas comemorativas, passávamos com seus pais, já que os meus não mantinha contato, ela fazia isso para me motivar, mesmo se estivéssemos apenas ela eu e Izzie, seriam dias maravilhosos.

Domingo foi saudoso, muitas lembranças e lágrimas, mas foi um dia maravilhoso, voltamos pra casa no mesmo dia, chegamos tarde, coloquei minha pequena na cama e segui para a sala, sentei no sofá próximo a janela, chovia e estava frio, a noite estava triste, sem me conter, deixei as lágrimas caírem, a falta da minha esposa era enorme, e a noite doía mais porque era o momento em que passávamos juntas, conversando ou fazendo amor, e depois ficávamos abraçadas nos curtindo até o sono a pegar primeiro, e eu ficava ali sentindo-a ressonar em meus braços.

Por horas fiquei ali sentada olhando pela janela, fui para a cama passava das quatro da manhã, fechei os olhos e parece que se passaram segundos, até que Izzie entrasse no quarto com a gritaria de sempre. Mais um dia começou, e aquela semana seria correria.

Resolvi que iria mudar algumas rotinas minhas, pela manhã ficaria em casa com Izzie, podia trabalhar de casa, para não a deixar com estranhos, queria fazer mais parte da vida dela, nossos momentos seriam aqueles, e depois que a deixasse na escola, iria trabalhar. E seguiríamos assim, no final do dia a buscaria e passaríamos a noite juntas.

Então, começamos a semana, manhã de segunda chuvosa e preguiçosa, ficamos no sofá assistindo desenho ou a vendo correr pela casa atrás de Lucy, almoçamos e a levei para a escola.    

– Olá Beatriz, tudo bem?

– Professora Pamela, estou bem e você?

– Bem, obrigada por perguntar.

– Tchau mamãe, te amo... – e saiu correndo para a sala, fiz uma careta comentado.

– Único momento em que ela não liga a mínima para mim.

– Crianças... – sorriu dizendo em seguida – não conta para ninguém, mas elas formam um grupo quando se encontram, esquecem todos a volta.

– Agora entendi tudo, e você deve ser a líder desse grupo, ficarei de olho. – Disse olhando-a séria, logo ela jogou a cabeça para trás gargalhando, sorri entrando na brincadeira. – Agora preciso ir, o dia vai ser longo, cuida da minha pequena, por favor.

– Ela ficará em boas mãos.

– Confio nisso, obrigada. – Acenei seguindo para o portão – Até mais, professora.

– Até...

Saí ainda olhando para trás, sobre a professora Pamela, gostava dela, me sentia leve e solta ao seu lado, sorri sincera, Sara tinha razão, tinha que fazer novas amizades e me divertir mais, quem sabe não era um início de amizade entre nós? Era tão ruim de interagir com as pessoas socialmente, queria mudar naquele quesito, mas era difícil, iria rever aquilo com o tempo.

Segui para a editora, como havíamos finalizado a revista daquela edição, estávamos com tempo e planejamento para a próxima, além de pequenos trabalhos e jornais que começamos a pouco tempo a lançar. Alguns livros de escritores autônomos, cada dia mais o nosso conteúdo estava sendo reconhecido pelo país, estava muito orgulhosa da equipe que havíamos montado, o trabalho era maravilhoso.

 O dia passou que nem vi, estava entrando na escola para buscar a Izzie quando me dei conta que logo anoiteceria, as crianças passavam animadas com os pais, conversando e rindo sobre seu dia na escola. Melhor momento para minha filha e eu, embora não tirasse muita coisa dela, sorri divertida.

– Mamãee... – Olha ela vindo correndo e se jogando nos meus braços, a beijei perguntando.

– Oi, minha princesinha, como foi seu dia? O que aprendeu hoje?

– Meu dia foi legal, aprendi um montão de coisas. – E só isso, logo ela se distraiu com meu óculo tirando e colocando no próprio rosto, sorri encantada quando alguém se aproximou.

– Olá!

– Oi! – Olhei a professora que me entregou a bolsa da Izzie.

– Ela deixou na sala, quando a viu saiu correndo.

– Desculpa, acho que isso ela pegou essa mania minha também, comentei que sou bagunceira?

– Você não, mas Sara havia comentado uma ou duas vezes, que vocês a deixavam maluca com as bagunças.

– Não, ela não disse isso, que calúnia!! – Fiz uma cara de falsa surpresa, a professora sorriu, pela primeira vez percebi que não senti tanto impacto com alguém citando o nome de minha esposa, fiquei surpresa.

– Acredito que não seja calúnia, mas irei acreditar na sua versão para não perder a amiga.

Sorri gostosamente, me senti muito bem com aquilo, e quando a olhei, ela sorria também, por segundos vi novamente um brilho diferente nos olhos dela, e mais uma vez fiquei intrigada, porém, ela soube disfarçar. Conversamos um pouco e nos despedimos.

A semana foi nesse ritmo, e logo a festa da Izzie chegou, embora tenha dado trabalho, foi maravilhoso, todos os amiguinhos dela vieram, a diversão foi única. Albert e Deise vieram, mas não puderam ficar, teriam compromisso em outro estado na segunda, e viajariam no domingo.

Lara veio, e resolveu ficar mais uma semana, disse que não tinha gostado da cidade, mas tenho quase certeza que tinha alguém envolvido, já que ela parecia muito “animadinha” em ficar. Enfim, descobriria isso depois, ela levou Izzie para casa que estava exausta, ainda tinha gente lá, inclusive Pamela, que se aproximou dizendo.

– Como não vejo mais a aniversariante, acho que não tem problemas eu ir também.

– Pois é, minha irmã a levou quase desmaiada para casa, acho que dei canseira nela hoje – nos olhamos sorrindo por alguns segundos e disse – obrigada por vir, foi muito importante para Izzie sua presença e de todos, inclusive das crianças.

– Imagina, faço e farei qualquer coisa para vê-la feliz.

– Isso significa muito para mim, obrigada. – Fiquei muito feliz por ouvir aquilo dela.

– Imagina, só disse a verdade – momento constrangimento, sorri e ela me olhou em dúvidas, mas quebrou dizendo – estava em dúvidas se deixaria meu presente em meio aos que ela recebeu, mas como é um pouco delicado, resolvi entregar em mãos, espero que ambas gostem, o presente é para ela, mas tenho certeza que você também irá gostar.

– Obrigada, não precisava se preocupar... – ia falar mais alguma coisa, mas ela me interrompeu.

– É de coração, na verdade faz um tempinho que tenho e estava achando um momento certo para entregar a ela.

– Nossa, fiquei curiosa agora – olhei o embrulho, pelo jeito parecia um quadro – direi a você qual foi a nossa reação na segunda, pode ser? – Sorri.

– Irei aguardar ansiosa... – Ela me olhava e em seus olhos aquele brilho que eu não entendia, mas que me deixava curiosa, fiz menção de perguntar o motivo daquele olhar, mas ela parecendo adivinhar, disse.

– Tenho que ir, preciso descansar que a semana que vem vai ser agitada.

– Imagino que esteja cansada, muito obrigada pela sua presença, e muito obrigada pelo presente, Izzie vai amar, tenho certeza.

– Espero que sim... – sorriu – preciso ir, até mais, Beatriz.

– Até mais, professora Pamela.

Dei um beijo no rosto dela e a segui com os olhos até sair do salão, inspirei fundo, aos poucos o pessoal foi se despedindo e só restou eu e o pessoal do Buffet, agradeci a todos e segui para casa. Passava um pouco das 21h, a casa estava em silêncio, Lara estava na sala mexendo no celular.

– Oi, demorou.

– Fiquei até todos irem embora, como estão as coisas por aqui?

– Bem, Izzie nem banho queria tomar, mas com jeitinho arranquei aquela fantasia dela e tomou banho caindo na cama praticamente dormindo.

Descarreguei os presentes de Izzie trazendo o ultimo que fora dado pela sua professora, me joguei ao lado da minha irmã que perguntou curiosa.

– O que é isso?

– Presente da professora dela, me entregou antes de ir, fez questão disso.

– Gentil da parte dela, o que é? – Tentou pegar o embrulho da minha mão, mas fui mais rápida.

– Deixa de ser enxerida, isso é da minha filha, saberemos o que é quando ela abrir amanhã, junto com os outros... – tentou pegar novamente e levantei dizendo – por precaução, o levarei comigo.

Levantei sorrindo, ela me olhou brava, fui para o quarto da Izzie, deixei o presente dela lá, a beijei na testa, e segui para meu quarto, precisava de um banho. 

Domingo amanheceu com gritaria em casa, como sempre, me espreguicei na cama, olhando em volta me dando conta que passava das nove da manhã, me espantei, fazia tempo que não dormia tanto. Levantei, tomei banho e segui para a sala, Izzie quando me viu veio correndo se jogando em meus braços, estava radiante, tinha aberto metade dos presentes, saiu me mostrando todos, dei um beijo no rosto da minha irmã que sorriu dizendo.

– Dormiu bem?

– Nossa, como a muito tempo não fazia, estou até com o corpo dolorido – me joguei ao lado dela, inspirando fundo vendo aquela bagunça – a colheita esse ano foi boa, hein.

– Nem me fala, quem é que deu um patinete para essa criança? – Olhei em volta tentando localizar o que ela falou, sorriu dizendo – tive que esconder, ela quase quebrou aquele jarro que Sara adorava.

Sorri, imaginando a cena e a bagunça, me espantei de não ter acordado com a confusão. Enfim, milhares de embrulhos abertos depois, lembrei do que a professora dela deu e fui buscar.

– Izzie, amor, venha aqui... – veio correndo e se sentou no meu colo – esse foi o presente da Tia Pam, vamos abrir e ver o que é?

– Oba oba... rasgou os papéis, depois um plástico bolha que o envolvia, era um quadro, estava virado, com jeito ajudei ela a virar em nossa direção e qual não foi a minha surpresa. Minha boca abriu sem que notasse, sem me conter meus olhos se inundaram e senti as lágrimas descerem pelo meu rosto.

– Que lindo, nossa... – Lara passou a mão sobre o vidro – pelo jeito pintado à mão, uma verdadeira obra de arte.

– Nossa... – Izzie me abraçou chorosa, o sorriso de Sara e nossa filha, pintado com tanta perfeição, me deixou totalmente sem palavras. Aquele sem dúvidas, era o melhor presente que nós duas recebemos, nem contive as emoções, tracei seu rosto perfeito com a ponta dos dedos.

– Você está bem?

Olhei para minha irmã e sorri, triste e emocionada, apenas balancei a cabeça, Lucy começou a latir pedindo pela dona, que se animou e voltou a correr pela casa.

– É como se eu pudesse tocá-la novamente.

– Um presente perfeito, elas estão lindas.

– Elas são perfeitas, e os traços desse desenho mostra que o artista capturou tudo.

– A artista...

– Como? – Olhei para minha irmã confusa.

– Foi a professora de Izzie quem o pintou.

– Como sabe? – A olhei interessada.

– Porque prestei atenção no quadro todo e não fiquei babando nele – sorri, ela apontou o canto inferior onde estava a assinatura.

– Pamela... – sorri, passando a mão sobre seu nome, aquela moça me surpreendia – Sara sabia o que fazia quando doou aquele dinheiro para a escola, espero de coração que invistam na aula de artes, como ela queria.

– Sara doou para a escola?

– Sim, foi um dos últimos pedidos que ela fez...

Sorri, minha irmã tocou meu rosto, estava feliz por ela estar ali conosco, a saudade apertou e a emoção fluiu novamente... deixei extravasar.

Domingo passou que nem vimos, a semana entrou e com ela muita confusão na Editora, nem conseguia pensar direito, a última revista que saiu repercutiu muito, e agora estávamos recebendo cartas de todos os lugares, muitos pedidos de novos escritores, muitas visitas e fechamento de novos projetos, mal tive tempo de ir agradecer a Pamela, precisava.

Finalmente na sexta, no final da tarde, Lara tinha passado para pegar Izzie, sabia e arrisquei aparecer lá sem avisar, e eis que encontro a escola aberta, segui para a sala dela, chamando-a.

Fim do capítulo