Capitulo 52
O som da chuva que caía pesadamente no telhado da delegacia parecia refletir o peso que pairava no ar naquela manhã. Gabriela estava sentada à mesa, observando as evidências espalhadas diante de si. Olívia, ao seu lado, folheava os relatórios com a mesma precisão de sempre, mas havia algo diferente em seu comportamento, algo mais tenso.
— Algo está errado, não está? — Gabriela perguntou, quebrando o silêncio que pairava na sala.
Olívia a olhou rapidamente, como se estivesse tentando avaliar se a pergunta valia a pena ser respondida.
— Está. O pai de Lucas sabe. — Olívia disse, sua voz grave, sem rodeios. — Ele sabe que a polícia tem provas.
Gabriela franziu a testa, surpresa. O que Olívia estava sugerindo não parecia possível. O pai de Lucas, o ex-delegado, sempre foi astuto, mas como ele poderia ter descoberto que estavam investigando-o?
— Como você tem certeza disso? — Fernanda perguntou, tentando não deixar transparecer sua preocupação.
Olívia se recostou na cadeira, cruzando os braços.
— Lucas deve ter dado bandeira ontem. Antonio ter vindo ver o filho é muito estranho, quando ele entrou na sala, estava claro que ele sabia. O jeito como se comportou, a maneira como olhou para a mesa com as evidências... Ele percebeu, ele só veio confirmar. — Ela pausou, observando Gabriela. — Ele sabe que o cerco está se fechando. E o pior: eles sabem que só há uma única maneira de se livrar das acusações. Lucas vai fazer de tudo para proteger a imagem do pai dele, eu senti isso, mas o que eu não sei é o que Antonio vai fazer.
Gabriela sentiu um nó na garganta. A situação estava se tornando mais complexa a cada minuto. Lucas estava claramente perdido entre a lealdade ao pai e o compromisso com a justiça, mas agora, com o pai dele sabendo da investigação, a situação poderia tomar um rumo inesperado.
— E o que vamos fazer agora? — Gabriela perguntou, sentindo a pressão aumentar.
Olívia levantou-se da cadeira, pegando uma xícara de café da mesa. Ela parecia calma, mas seus olhos estavam mais escuros do que o normal.
— Temos que ser rápidos. Eles não vão ficar parados. Se já sabem que estamos investigando, podem tentar apagar as pistas, ou até mesmo criar novas. Precisamos tirar Lucas do caminho primeiro, ele sabe de mais. E não podemos mais confiar nele como antes. — Hugo disse, o tom sério como sempre.
Houve uma tensão na sala, sabendo que o que Hugo sugeria era arriscado, mas talvez fosse a única maneira de avançar no caso. Eles precisavam encontrar uma forma de pegar o pai de Lucas sem alertá-lo ainda mais de que que estavam chegando perto demais.
O telefone de Olívia tocou, cortando o silêncio. Ela olhou para o número exibido na tela e, por um momento, hesitou antes de atender.
— Olívia Santori. — Ela disse, sua voz profissional, mas com um toque de tensão.
Gabriela não conseguiu evitar de se aproximar, tentando ouvir a conversa. Não era como se estivesse espionando, mas o ambiente parecia ter mudado de repente, e ela sentia que algo estava prestes a acontecer.
— Entendido. Estarei aí em breve. — Olívia desligou o telefone e olhou para Gabriela. — Temos uma pista. Alguém viu o Antonio saindo da cidade ontem à noite. Está claro que ele está tentando desaparecer, ou então ele sabe que estamos chegando perto demais.
Gabriela sentiu um frio na espinha. Agora, as coisas estavam se tornando reais. Não era mais uma simples investigação; era uma corrida contra o tempo para impedir que alguém escapasse.
— E o que vamos fazer? — Gabriela perguntou, sua mente já acelerando com as possibilidades.
Olívia já estava pegando o casaco e colocando-o sobre os ombros. Seu rosto estava impassível, mas havia uma intensidade nos seus olhos que Gabriela não podia ignorar.
— Vamos até lá. Não podemos perder tempo. Ele está se afastando, mas ainda podemos alcançá-lo antes que seja tarde demais. — Olívia fez uma pausa e olhou para Gabriela com uma intensidade que quase parecia desconcertante.
O caminho até o local não foi longo, mas o silêncio no carro era palpável. Gabriela sentia a adrenalina subindo em seu corpo, e embora estivesse ao lado de Olívia, uma parte dela não conseguia deixar de se preocupar com o que aconteceria a seguir. O que aconteceria agora?
Quando chegaram à pequena cidade, o cenário era sombrio. A chuva tinha dado uma trégua, mas o céu ainda estava carregado, como se o universo soubesse da tensão que pairava sobre eles.
Olívia parou o carro perto de um armazém abandonado. As luzes estavam apagadas, e o local parecia deserto.
— Eu sabia que ele estaria aqui. — Olívia murmurou, saindo do carro com uma firmeza que Gabriela admirava. Ela seguiu atrás de Olívia, o coração batendo forte no peito.
Elas caminharam até a entrada do armazém, onde um carro estava estacionado, com as luzes apagadas. Olívia fez sinal para Gabriela ficar atrás, enquanto se aproximava cautelosamente da porta. Gabriela ficou em silêncio, observando.
O som de uma porta sendo aberta veio de dentro. Olívia se encolheu um pouco, mas manteve sua postura firme. Gabriela podia ouvir a respiração ofegante de Ricardo e Fernanda atrás de si.
— Está tudo pronto, não é? — Uma voz masculina, que Gabriela reconheceu imediatamente, ressoou do outro lado.
Era o pai de Lucas.
O som da voz de Antônio fez o sangue de Gabriela congelar. Ela estava tão focada em Olívia que não percebeu a aproximação dele até ouvir a familiar cadência de sua fala. O pai de Lucas estava ali, mas o que ele estava fazendo naquele lugar, tão distante da cidade e da delegacia? Gabriela sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
Olívia permaneceu imóvel por um momento, a tensão no ar palpável. Ela não se moveu, mas Gabriela percebeu a leve mudança na postura da policial, uma forma quase imperceptível de se preparar para o que estava por vir.
— Ele está aqui. — Olívia sussurrou, mais para si mesma do que para Gabriela, a voz carregada de tensão. — Não podemos hesitar agora.
Antes que Gabriela pudesse responder, Olívia se adiantou, empurrando a porta do armazém com uma precisão silenciosa, como se já soubesse exatamente o que encontrar do outro lado. O barulho da porta rangendo ecoou no vazio, como um aviso de que o jogo de gato e rato havia começado de verdade.
Dentro, a escuridão dominava o ambiente, com apenas a luz trêmula de uma lâmpada pendurada sobre uma mesa suja de óleo e papéis espalhados. Antônio estava de costas, olhando para a mesa, com uma expressão séria que não deixava transparecer o que estava pensando.
— Eu sabia que vocês viriam. — Antônio disse, sem virar para encarar ninguém. Sua voz tinha um tom de quem já sabia a resposta de antemão.
Gabriela sentiu um nó na garganta. Ele sabia. Ele sabia que estavam chegando perto e estava ali, esperando o momento certo para agir. Aquelas palavras, simples e diretas, foram o suficiente para confirmar o que ela temia.
Olívia, com sua postura inabalável, não se intimidou.
— Sabemos o que você fez, Antônio. — Olívia falou, a calma de sua voz contrastando com a intensidade da situação. — E sabemos o que você está tentando fazer agora. Não há mais saída.
O silêncio que se seguiu foi pesado, e Gabriela percebeu que o velho delegado não estava mais apenas tentando escapar, mas sim manipulando cada movimento deles para sua vantagem. Ele sabia que estavam prestes a confrontá-lo, e parecia que ele já tinha planejado sua reação.
Antônio se virou lentamente, agora encarando-os diretamente. Seus olhos, cansados e calculistas, estavam fixos em Olívia.
— O que você acha que eu fiz? Você não tem prova de nada? — Antônio riu, o som grave reverberando pelas paredes do armazém. — Não há evidência suficiente, e vocês sabem disso.
Gabriela percebeu a estratégia dele. Ele estava tentando desestabilizá-los, fazer com que se sentissem inseguros e vacilantes. Mas o que ele não sabia era que Olívia já estava mais de um passo à frente.
— O que está fazendo aqui essa hora Antonio. — Tem algo a esconder?
Olívia deu um passo à frente, sua postura assertiva e sua voz cortante, sem qualquer dúvida ou hesitação. Gabriela observou, admirando a maneira como Olívia se mantinha inabalável diante da pressão. Era como se ela estivesse em controle total da situação, mesmo diante de um adversário tão experiente e ardiloso quanto Antônio.
Antônio, por outro lado, estava começando a perder a compostura. Ele sabia que a situação estava ficando cada vez mais apertada, mas não estava pronto para admitir sua derrota.
— Você acha que tem o direito de me acusar? — Ele perguntou, a voz agora carregada de raiva. — Você acha que isso vai acabar bem para você? Para todos vocês? Sabem quem eu sou?
O silêncio voltou a dominar a sala por um momento. Gabriela sentia que tudo o que acontecia ali estava além de qualquer coisa que ela poderia controlar. Mas algo dentro de si disse que esse momento de confronto era inevitável, e era agora ou nunca.
Olívia não recuou. Ela permaneceu firme, encarando Antônio com uma expressão que não deixava dúvidas sobre suas intenções.
— Sabemos exatamente quem você é, por isso estamos aqui — Ela disse, e, com um gesto imperceptível, sinalizou para que Gabriela e os outros se preparassem.
Antônio deu um passo para trás, um sorriso amargo surgindo em seus lábios. Ele sabia que estava cercado, mas sua expressão de desdém parecia indicar que ainda havia algo mais em jogo.
Antes que pudesse reagir, um barulho de sirenes cortou o silêncio da noite, anunciando a chegada de reforço policial. Eles estavam prontos para agir.
Mas a sensação que permeava o ar era clara: a caça estava apenas começando.
O som das sirenes cortou o silêncio denso do armazém e trouxe uma sensação de alívio momentâneo. Mas não era uma vitória completa, ainda havia muito a ser resolvido. Antônio, visivelmente irritado, parecia se preparar para algo mais. Olívia, no entanto, manteve sua postura imperturbável, como uma rocha em meio à tempestade. Gabriela observava atentamente, ainda tentando processar a tensão e a velocidade dos acontecimentos.
— Está cercado, Antônio. — Olívia disse, sem desviar o olhar.
O ex-delegado não respondeu imediatamente. Seus olhos, agora frios e calculistas, observavam a equipe de policiais se aproximando do local. Ele parecia mais calmo, talvez porque soubesse que, naquele momento, não havia muito mais a fazer. A pressão estava sobre ele, e não podia escapar.
Gabriela sentia a adrenalina pulsando em suas veias, mas também uma sensação de desconforto. Ela sabia que tudo estava mudando agora. A pressão de resolver o caso, de lidar com o fato de que Lucas estava no meio de tudo isso… era mais do que ela imaginava. Ela ainda não sabia como isso afetaria sua relação com ele, ou como ele reagiria quando descobrisse que o pai estava realmente envolvido.
Olívia, por sua vez, parecia ter assumido totalmente o controle. Ela estava se comportando com a confiança de quem sabia exatamente o que fazer. A chegada do reforço policial confirmou isso: ela estava liderando o momento.
— Não se mova. — Olívia falou com firmeza enquanto os policiais se posicionavam ao redor de Antônio. — Estamos apenas começando.
Antônio finalmente cedeu à pressão. Ele ergueu as mãos, não como um gesto de rendição, mas como quem estava apenas esperando o momento certo para jogar sua última carta. Ele sabia, de alguma forma, que estava perdendo, mas ainda tinha um jogo a fazer.
— Nos vemos na delegacia. — Ele disse, a voz com uma pitada de sarcasmo, como se quisesse testar os limites da paciência dela.
Fim do capítulo
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