Capitulo 51
A manhã seguinte chegou com o som de chuva batendo contra as janelas da casa dos Santori. Gabriela acordou cedo, como sempre, antes de Olívia, que ainda dormia profundamente. A noite anterior tinha sido estranhamente boa, com a tensão no ar entre elas e as provocações sutis de Eleanor. Mas, por algum motivo, Gabriela se sentia mais tranquila agora, como se o calor da lareira e a presença de Olívia tivessem, por um breve momento, suavizado o peso do trabalho que as aguardava.
Ela se levantou, tentando ao máximo não fazer barulho e desceu para o café da manhã. No caminho para a cozinha, encontrou Eleanor, que estava sentada à mesa, mexendo em uma xícara de chá.
— Bom dia, querida. — Eleanor disse, com um sorriso suave. — Dormiu bem?
Gabriela hesitou por um momento antes de responder, ainda processando as palavras de Eleanor na noite anterior.
— Sim, obrigada. — Ela forçou um sorriso. — E você?
— Eu? Bem, você sabe... sempre em busca de um pouco de paz. Mas, se quer saber, eu estava mais preocupada com o que você e a minha filha estão enfrentando, eu posso ver como Oli está. — Eleanor lançou um olhar significativo, preocupada. — Como está o caso? Tem conseguido dormir com tudo isso?
Gabriela não sabia bem o que responder. A situação com o caso estava se tornando mais complicada, e ela sabia que seria difícil manter o equilíbrio entre a justiça e as emoções pessoais envolvidas.
— Estamos... lidando com isso. — Gabriela respondeu, guardando a tensão dentro de si. — Não vai ser fácil.
Antes que a conversa pudesse continuar, Olívia apareceu na porta da cozinha, com os cabelos ainda bagunçados da cama e o olhar sonolento. Ela parecia adorável, tão inocente e diferente .
— Você me deixou lá sozinha! Gatinha má? — Olívia disse dengosa, com a voz suave, indo de encontro até o corpo da mãe para um beijo de bom dia e depois escondendo o rosto no pescoço de Gabriela, que apenas riu da birra que era feita.
O caminho até a delegacia foi silencioso. Ambas sabiam que, ao chegarem, a pressão do caso as atingiria com força total. O assassinato estava finalmente ganhando contornos mais claros, mas o envolvimento do pai de Lucas não era algo que Gabriela conseguia ignorar. Ela havia se distanciado das suas próprias emoções para lidar com a investigação de forma racional, mas, a cada pista que surgia, ela sentia a dor de Lucas se intensificando.
Ao chegarem na delegacia, os outros membros da equipe já estavam reunidos na sala de reuniões. Ricardo estava ao telefone, gesticulando com as mãos, enquanto Fernanda fazia anotações rápidas em uma prancheta. Hugo, o delegado, estava sentado à cabeceira da mesa, com a expressão grave e os olhos fixos em um relatório.
— Bom dia. — Gabriela cumprimentou, sentando-se ao lado de Olívia. Ela sabia que a tensão no ambiente era palpável, mas precisava se manter firme.
Hugo não demorou para falar.
— As evidências apontam para o pai de Lucas. Estamos tratando isso com muito cuidado, mas o que temos até agora não é bom. A ligação entre o antigo delegado e as vítimas é inegável. — Ele fez uma pausa, olhando para os outros. — Precisamos ser profissionais.
Olívia cruzou os braços e se inclinou para frente.
— Precisamos focar nos fatos. O envolvimento emocional de Lucas é complicado, mas não podemos deixar que isso nos desvie do caminho. Não podemos perder mais ninguém.
Gabriela olhou para Olívia, surpresa com a frieza em sua voz, mas ela sabia que era necessário manter a objetividade.
— Temos que ser rápidos. — Ricardo disse, sua voz firme. A sala ficou em silêncio por um momento, todos ponderando sobre a gravidade da situação. Hugo finalmente quebrou o silêncio.
— Vamos reunir as evidências e conversar com o juiz. Precisamos de uma declaração clara, e isso pode ser decisivo. — Ele olhou para a equipe, aguardando sua aprovação. — Está claro que este caso vai afetar todos nós de maneira pessoal, mas precisamos colocar o trabalho em primeiro lugar.
Antes que alguém pudesse responder, a porta da sala se abriu com um baque. Lucas entrou, o rosto pálido e os olhos cheios de cansaço.
— Eu sei o que estão tentando fazer. — Sua voz estava baixa, mas carregada de raiva e dor. — Meu pai não fez isso.
O ambiente ficou tenso novamente. Gabriela sentiu seu coração apertar ao ver a dor de Lucas. Olívia, no entanto, parecia completamente imperturbável.
— Lucas, sabemos o quanto isso é difícil para você. Mas precisamos que você entenda que as evidências são claras. — Gabriela tentou manter a calma, embora soubesse o quanto aquilo afetaria Lucas.
Ele olhou para ela, os olhos cheios de frustração.
— Eu não vou permitir que ninguém destrua o legado do meu pai com base em acusações infundadas. — Ele olhou para Olívia, que apenas o observava em silêncio. — Não estou sozinho nisso, certo?
Olívia não respondeu de imediato. Ela olhou para Gabriela, que estava tensa, mas determinada a fazer o que fosse necessário. O caso estava se tornando mais complicado a cada minuto que passava, e as linhas entre a justiça e a lealdade estavam se tornando mais difíceis de distinguir.
— Vamos fazer o que for necessário. — Olívia disse finalmente, sua voz grave. Ela se levantou da cadeira e se dirigiu até a mesa onde as evidências estavam dispostas. — Mas precisamos saber, se não for ele, seguimos em frente Lucas, não importa o quanto você queira proteger seu pai precisamos saber.
Gabriela sentiu uma onda de compaixão por Lucas, mas sabia que a investigação não poderia ser afetada pela sua dor. O silêncio pairou na sala enquanto todos olhavam para os papéis sobre a mesa, esperando o próximo passo.
Fim do capítulo
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