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TUDO NOVO por Donana

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Palavras: 3614
Acessos: 364   |  Postado em: 03/07/2025

Capitulo 8 - Primeiro dia no Memorial Klein e Becker

Laura manobrava seu carro com a precisão de quem já conhecia cada centímetro daquele estacionamento como se fosse a palma da própria mão. Ou melhor: conhecia o seu lugar. O quarto à esquerda da entrada dos médicos. De sombra perfeita no verão e brisa suave no inverno. Sagrado. Imexível. Seu.

— Ah, não. — murmurou, com os olhos semicerrados atrás dos óculos escuros tamanho “celebridade em fuga da imprensa”.

Ali, estacionado com a audácia de quem ignora leis cósmicas e tradições não escritas, estava um SUV compacto branco de capô preto. Novinho. Com um adesivo na traseira que dizia “Paz no trânsito começa por você”. Irritante. Educado. Abominável.

Laura buzinou. Como se o som pudesse fazer o carro evaporar. Ele não evaporou.

— Hoje não, universo. Hoje não. — disse, enquanto batia a cabeça suavemente no volante.

Com uma manobra dramática, girou o carro até o canto mais distante do estacionamento, onde o sol já fritava o asfalto e duas pombas discutiam em cima de um poste. Estacionou entre um cone torto e um Fiat com cara de aposentado.

Desceu do carro sentindo-se traída por todas as forças do cosmos e do cafezinho do plantão noturno, que claramente não segurara a onda da tequila da noite passada.

Calça social amassada. Blazer jogado no banco do passageiro. Um coque mal feito no alto da cabeça que mais parecia uma homenagem involuntária a um furacão categoria 2. A ressaca, por sua vez, fazia o serviço de percussionista dentro do crânio. Bum. Bum. Bum.

— Que a reunião comece sem mim e acabe antes que eu chegue. — praguejou, caminhando em direção ao prédio com um andar que mesclava urgência com desprezo pela humanidade.

No caminho, cruzou com o segurança Jonas.

— Bom dia, Dra. Laura! Tudo bem?

— Jonas, só te respondo isso depois do café. Ou de um exorcismo.

— Entendido. Boa sorte lá dentro. A nova doutora já chegou cedo hoje, tá até na reunião.

Laura estreitou os olhos.

— Nova doutora?

— Sim. A neurocirurgiã. Estacionou um SUV branco novinho logo ali... — apontou inocentemente.

Laura parou. Respirou fundo. Olhou para o céu como se pudesse ver o roteirista da sua vida e dizer: “Sério, irmão?”

— Claro. Tinha que ser ela. Que comece a guerra silenciosa e passivo-agressiva dos estacionamentos.

Ela entrou no hospital de queixo erguido, como se cada passo dissesse: “Meu humor é cortesia da ressaca e do caos. Não tente me conquistar com simpatia ou bom senso.”

Porque numa manhã de segunda-feira, em pleno janeiro, a única coisa mais implacável que um plantão de 24 horas era Laura Becker sem café, de ressaca... e sem vaga no estacionamento.

Desde o reencontro com Natália no hospital, Laura sentia como se carregasse uma tempestade no peito — daquelas que não anunciam quando chegam, mas deixam tudo em alerta. O rosto dela, tão familiar quanto distante. A voz, que um dia era aconchego, agora soava como um lembrete doloroso de tudo que Laura havia tentado esquecer.

Ela não esperava. Não naquele dia, não naquele lugar. Não com os olhos ainda inchados de sono e a cabeça ocupada com prontuários, cirurgias, horários. E lá estava Natália, como se os anos entre elas fossem uma pausa de filme que alguém, cruelmente, apertou o "play".

Desde então, tudo estava fora de lugar.
Os cafés pareciam mais amargos.
As noites, mais longas.
O jaleco, mais pesado.

Laura tentava manter a compostura. O olhar firme, o passo decidido, o sarcasmo afiado — seu tripé de defesa desde a adolescência. Mas por dentro, tudo era farpa. As lembranças de Natália invadiam como flashbacks insolentes: a risada no carro, o toque nos ombros após um dia difícil, o jeito como ela a chamava pelo nome inteiro, só para provocar.

E o pior: a lembrança de Eduardo.

A traição que Laura não soube decifrar. Amor dividido? Engano? Egoísmo?
Ela nunca quis a versão deles. Tinha sua própria versão — a da mágoa. E a cultivou em silêncio por anos, como quem cuida de um jardim de espinhos.

Agora, vê-la ali, elegante, segura, advogada do hospital, cercada de elogios da avó e da irmã... era como assistir uma peça onde a protagonista fora substituída, e ninguém a avisou.

Laura não sabia se sentia raiva, saudade ou vergonha. Talvez tudo junto. Talvez nenhum.

Talvez apenas medo.

A bebedeira da noite passada foi só mais uma tentativa patética — e tradicional — de Laura esquecer que fazia parte do seleto grupo das miseráveis traídas. Mal colocou os pés no bar Ponto Cego, e Bianca, a bartender de plantão (e de paciência limitada), já sacou que alguma coisa estava errada.

Laura pediu uma tequila. De cara. Sem nem checar o cardápio. Nem fingiu dignidade com um vinho branco ou uma IPA artesanal. Não. Foi direto ao veneno mexicano.

Bianca observava em silêncio, com aquele olhar de quem já viu muitos corações partidos se afogarem em álcool destilado. E a “suposta provável namorada” — sumida durante toda a semana — agora reaparecia enfiando tequila no peito como se o fígado fosse um saco de pancadas emocional.

E não parou na primeira dose.
Nem na terceira.
Na verdade, no fim da noite, meia garrafa de tequila já tinha sido promovida a confidente.

Bianca, que já tinha se permitido imaginar um futuro improvável com a loira misteriosa (um brunch no domingo, talvez?), entendeu ali, entre uma dose e outra, que era melhor parar. Nada mais desmotivador do que alguém bêbada chorando por outra.

Não queria esse tipo de encrenca para sua vida. Corações partidos são como fogões com vazamento: uma hora tudo explode.

Ligou para o irmão gêmeo da loira, que chegou com Fernanda — amiga fiel e acostumada a resgatar Laura de crises existenciais desde a faculdade.

Eles a levaram embora, meio carregada, meio tropeçando nos próprios erros, enquanto Bianca limpava o balcão, pensando que talvez fosse hora de colocar um aviso ali:

“Corações em cacos? A fila para tequila começa à esquerda. Recolha seu orgulho na saída.”



--------------------------------------------------------------

O céu de Curitiba ainda estava tingido com tons suaves de um azul amanhecendo quando Júlia estacionou seu carro novo — um SUV compacto e brilhante que ainda tinha cheiro de fábrica — bem na vaga perfeita, na sombra e pertinho da entrada principal do hospital.

Ela sorriu para o retrovisor com a euforia de quem acabara de ganhar na loteria.
— Começamos bem!, disse para si mesma, ajeitando o cabelo no espelho com o entusiasmo de uma criança no primeiro dia de aula — só que com diploma de medicina e carteira de CRM no bolso.

Vestia um conjunto social claro, elegante e discreto, e sobre ele, o jaleco recém-passado que cheirava a amaciante, bordado com seu nome, feito pela sua mãe, que costurava tão bem como cozinhava. Na mochila, roupas, tênis, documentos, canetas, um bloquinho para anotações e um chocolate escondido — porque ninguém sabe o que o plantão pode trazer.

Respirou fundo e desceu do carro. Os saltos baixos batiam compassados no chão da garagem enquanto ela caminhava para a entrada. Por fora, a postura era profissional. Por dentro, o estômago dava cambalhotas. Primeiros dias eram sempre um pouco assustadores, até para uma neurocirurgiã.

Na recepção, o segurança a cumprimentou com um aceno simpático, e ela retribuiu com um sorriso sincero:
— Bom dia! Sou a Dra. Ana Júlia Carvalho. Primeiro dia, será que estou no lugar certo?
— Está sim, doutora! Seja bem-vinda. — disse o senhor com um brilho no olhar, já acostumado a receber médicos, mas nem sempre tão gentis.

Enquanto subia pelo corredor central do hospital, Júlia fazia questão de sorrir e cumprimentar todos com um aceno tímido, mas caloroso:
— Bom dia! — para a moça da limpeza.
— Tudo bem? — para o rapaz da manutenção que carregava uma escada.
— Oi, gente! — para o grupo de enfermagem que passava rindo em grupo.

A cada "bom dia" recebido de volta, a tensão diminuía um pouco. O hospital era grande, moderno, cheio de vidros e tons suaves, mas o que mais a confortava era o movimento das pessoas — trabalhadores, pacientes, familiares — e a sensação palpável de que vidas aconteciam ali, e ela faria parte disso.

No elevador, ajeitou o jaleco mais uma vez, respirou fundo e pensou:
— Você conseguiu, menina. Agora é só dar o seu melhor.

O destino? A sala de reuniões, onde Olivia Becker, a nova administradora do hospital, a aguardava para apresentá-la aos outros médicos.

O primeiro encontro com Olivia, na semana anterior, havia sido surpreendentemente leve. Júlia descobriu que ela e a administradora do hospital tinham praticamente a mesma idade — e mais do que isso: gostos parecidos, senso de humor afiado e uma habilidade impressionante de rir das próprias desgraças.

Olivia a levou para almoçar em um restaurante simpático ali perto, e entre garfadas e confidências sobre caos hospitalar e séries favoritas, criaram uma sintonia poderosa. Não era comum encontrar alguém no ambiente profissional com quem se conectasse tão rápido. Mas ali estava: uma amizade recém-nascida, promissora, do tipo que parecia ter anos de estrada.

Mas por ora, Júlia estava só… grata. Pelo carro, pela vaga na sombra, pelo novo começo. E pelo simples fato de estar ali, pronta para mais um recomeço.

A sala de reuniões estava impecável, iluminada por luz natural que entrava pelas janelas amplas. À cabeceira da mesa, a sempre elegante Dra. Eunice Becker, médica renomada e presidente do conselho do hospital, comandava a reunião com sua autoridade tranquila. Ao lado dela, Olívia Becker, administradora-chefe, organizava documentos com a eficiência de quem poderia gerir uma pequena nação com uma prancheta e um cronograma de cores.

— Senhores, senhoras, equipe mavavilhosa.  — começou Dra. Eunice com um leve sorriso — é com muita alegria que apresento a nova integrante do corpo clínico do hospital: Dra. Ana Júlia Carvalho, neurocirurgiã, formada pela USP, com residência e experiência internacional em Boston, e, agora, uma peça fundamental na nova ala de neurologia.

Todos viraram os olhos para a mulher de postura elegante e olhar firme. Júlia sorria com simpatia genuína, mas discreta, um tanto tímida, enquanto um leve rubor tingia suas bochechas diante de tantos elogios.

— Esperem até ver o currículo dela. — completou Olivia, sem disfarçar o entusiasmo. — Uma mente brilhante, uma profissional ética, humana, e incrivelmente dedicada. Um ganho imenso para nós.

Júlia agradeceu com um aceno de cabeça, e respondeu com um tom calmo:

— Estou muito feliz por estar de volta ao Brasil e por fazer parte dessa equipe. Tenho muito respeito por este hospital e espero contribuir ao máximo.

Antes que pudesse continuar, a porta se abriu com um leve estalo e um arrastar de pés denunciador. Laura Becker entrou na sala com óculos escuros, um coque mal feito e uma xícara de café prestes a transbordar.

— Desculpem o atraso — murmurou, indo direto ao seu lugar ao lado de Fernanda na mesa sem encarar ninguém. — Trânsito... e dor de cabeça.

Dra. Eunice levantou uma sobrancelha com elegância. Olivia cruzou os braços, claramente duvidando da desculpa.

— Laura, esta é a Dra. Ana Júlia Carvalho, nossa nova neurocirurgiã. — disse Eunice com suavidade, mas com um brilho no olhar que parecia dizer "observe e aprenda".

Laura finalmente tirou os óculos. Seus olhos, de um azul cortante, encontraram os castanhos intensos e acolhedores de Júlia. E naquele breve instante, algo inexplicável pairou entre elas — uma conexão muda, como se o ar tivesse mudado de densidade. Não trocaram uma única palavra, mas também não precisavam. Era como se um campo magnético tivesse sido ativado entre dois polos opostos.

Laura sentiu um desconforto no peito — uma pontada que não sabia se era culpa da tequila da noite anterior, do mau humor crônico ou do fato de que aquela mulher, até então um nome num contrato, agora era um par de olhos castanhos que pareciam ler sua alma. Lembre-se, Laura, pensou, tentando manter a pose. Ela é o inimigo. Roubou sua vaga no estacionamento.

Júlia, por sua vez, sentiu uma pontada de algo indefinível. Reconhecimento? Curiosidade? Antipatia? Era cedo demais para nomear. Mas havia uma certeza: aquele olhar azul a atravessara como uma brisa gelada num dia quente. E deixara marca.

Mas Laura piscou, voltou os olhos para a caneca de café e disse, num tom entre cético e irônico:

— Uau. Bem-vinda, então.

— Obrigada — respondeu Júlia, com um sorriso educado. Ela reconhecia o tipo: cética, rica, filhinha de papai... e charmosa. Charmosa? Desde quando você se encanta por mulheres charmosas, Júlia?, repreendeu-se mentalmente, tentando ignorar o leve frio na barriga.

Enquanto a enfermeira-chefe do pronto-socorro fazia perguntas técnicas, Laura permanecia de olhos semicerrados. Seus pensamentos, no entanto, estavam a mil. A forma como sua avó olhava para Júlia, os elogios entusiasmados de Olivia… tudo aquilo a incomodava mais do que gostaria de admitir.

“Ótimo”, pensou. “A neurocirurgiã brilhante é linda, simpática, e já encantou metade da minha família. Faltava isso.”

 

-----------------------------------------------------------

A manhã no hospital passou voando — o que, para Laura, foi quase um alívio. Mas o universo, claro, não deixaria barato. Para melhorar (ou piorar) o dia, ela ainda levou uma bronca caprichada da mãe. A doutora Camila, com aquela mistura clássica de doçura e autoridade, não poupou palavras ao saber da bebedeira da filha na noite anterior:

— Laura Prado Becker, além de médica, você acha que é o quê? Teste de resistência etílica? Atender pacientes com essa cara de ressaca é o cúmulo da irresponsabilidade! Seus pacientes são crianças Laura!

Laura só revirou os olhos e se encolheu na cadeira da sala de consulta, enquanto o sermão ecoava pela linha telefônica como um lembrete de que, não importa a idade, mãe sempre sabe. E mãe médica… sabe em dobro.

Laura teve vontade de encher a cara de novo… Sério, parecia que o universo estava de implicância pessoal com ela naquele dia. Pelo menos, pensou aliviada, ninguém tinha falado mais nada sobre a "nova médica". Mas a paz durou menos que café fresco no plantão da madrugada.

Ao sair em direção ao refeitório, notou que, em cada ilha de enfermagem até o refeitório, havia um burburinho sussurrado. Era como se o hospital tivesse virado um episódio ao vivo de “Plantão de Fofocas” e a “Rádio Corredor” estava a todo vapor naquela manhã. E, claro, o assunto era ela — a tal nova estrela da neurologia.

Pra piorar, Laura jurava ter escutado uma enfermeira dizendo que a recém-chegada já estava envolvida com o Dr. Cadu, o anestesista. Laura bufou. Porque, claro, além de linda, brilhante e ladra de vaga de estacionamento… agora era também “caso” do colega mais galanteador e gay do hospital.

— Isso só pode ser uma pegadinha cósmica — murmurou, pegando um café frio com raiva suficiente para amassar o copo.

Laura entrou no refeitório já com o humor levemente azedo. A fome era real, mas a vontade de socializar era zero. O cheiro do arroz com alho queimado só acentuava a sensação de que o dia estava fadado ao desastre.

Foi quando avistou a mesa do canto. E lá estavam eles: Cadu, Leonardo, Olívia... e Júlia.

— Ótimo — murmurou, apertando a bandeja com tanta força que o talher quase pulou.

Leonardo, em sua versão mais "Don Juan em jaleco branco", inclinava-se em direção a Júlia com aquele sorrisinho de canto que ele achava irresistível desde o colegial. Júlia, por sua vez, ria de algo que ele tinha dito — um riso breve, educado, tímido, mas que para Laura soou como uma gargalhada apaixonada em câmera lenta.

— O que foi que esse idiota contou? A piada do bisturi outra vez? — Laura resmungou, sentando-se em uma mesa afastada, ao lado de Fernanda, que já a esperava com o suco na mão e uma sobrancelha arqueada e cara de poucos amigos.

— Eu vi. Ele ativou o modo “galanteador carente” — comentou Fernanda, mexendo o purê no prato com desdém. — E ela riu. Com os dentes. Não foi só um sorrisinho, foi com os dentes, Laura.

— Eu percebi! — respondeu Laura com os olhos semicerrados, mastigando o pão como se fosse a cabeça do irmão.

As duas observaram em silêncio quando Júlia se virou para falar com Olívia, o que fez Laura se morder por dentro.

— Olívia está do lado dela agora… Amiga íntima. Nem parece que se conheceram ontem…

— Um erro. Claramente. — Laura cruzou os braços. — E por que diabos ela tem que ser tão educada com o Leonardo? Aquilo ali é tóxico com cabelo bonito.

Fernanda soltou uma risada discreta e encostou o queixo na mão.

— Sabe o que eu acho? — disse em tom provocador. — Você está com ciúmes. Só não sei ainda se da novata ou de seus irmãos

— Eu? Claro que não. Só estou preocupada com a reputação científica da neurologia neste hospital.

Fernanda soltou uma gargalhada.

— “Reputação científica”, entendi. Laura Becker, a mais comprometida defensora do decoro institucional. Vai querer mudar de mesa ou vai continuar torturando a si mesma?

Laura bufou, empurrou uma folha de alface de um lado pro outro no prato e respondeu com um muxoxo:

— A única aqui que tem motivos pra sentir ciúmes é você, que vive esse tico-tico no fubá com o mulherengo do meu irmão! Você devia cortar o piu-piu dele.

— Não posso... gosto demais daquele piu-piu.

— Eca! — Laura fez uma careta de nojo e jogou o guardanapo na amiga. — Informação demais, Fernanda!

E, naquele momento, Júlia olhou na direção de Laura. Só um segundo. Só um olhar. Mas foi o suficiente pra Laura desviar os olhos rápido, fingindo muito mal que o salpicão da bandeja era extremamente interessante.

Fernanda apenas sorriu de canto.
A guerra fria estava declarada — e com direito a bandeja, ciúmes e purê.

-------------------------------------------------------

Para Júlia, a manhã foi intensa. Após as apresentações na reunião da manhã, seguiu direto para a sala de consultas, onde já havia pacientes agendados. Assim que finalizou os atendimentos, dirigiu-se ao posto de enfermagem para passar algumas informações a elas. Foi quando uma voz familiar, alta e espalhafatosa, ecoou pelo corredor:

— Ana Júlia Carvalho! Achei que você ia fingir que não me conhecia! Chega no hospital e nem pergunta por mim?

Ela virou-se surpresa, com um sorriso imediato no rosto.

— Carlos Eduardo Fontes! O mundo realmente é pequeno!

Os dois se abraçaram com carinho e entusiasmo.

— É muito bom te ver, Cadu.
— Melhor ainda te ver, Júlia.

— Esperava te encontrar na reunião hoje de manhã — disse Júlia, sorrindo — mas me disseram que você estava em cirurgia desde às cinco.

— Verdade, uma longa cirurgia de transplante de coração com o Dr. Afonso. Ele também não apareceu na reunião.

— Vem, vamos conversar na minha sala.

Carlos Eduardo caminhava com sua típica energia elegante, mas genuína. Ao fechar a porta da sala, virou-se para ela com um sorriso nostálgico.

— Fiquei muito feliz quando o Dr. Hermes me contou que você estava aqui. Mas confesso que me surpreendi em saber que agora é anestesista! Sempre achei que viraria um cirurgião plástico famoso.

— Ah, Ju... — suspirou, o sorriso sumindo aos poucos. — As coisas desandaram depois que meu pai… você sabe… tirou a própria vida. Ele devia tanto, Jú, tanto... que os credores não esperaram nem o corpo esfriar no túmulo. Tomaram tudo.

Júlia o olhou com olhos marejados, sentindo o baque da confissão.

— Entrei em parafuso — continuou ele — caí no álcool, um pouco de drogas… Até que um dia acordei num motel nos quintos do inferno e quase segui o mesmo caminho do meu pai. Foi quando, num lampejo de sanidade, encontrei na carteira um cartão do Dr. Hermes. Liguei pra ele.

Fez uma pausa, respirando fundo.

— Ele me deu uma segunda chance. Me trouxe pra cá. Me deu um emprego. Escolhi anestesia porque era mais rápido, mais direto... e mais seguro pra mim.

— Cadu... eu sinto muito. De verdade. E o Marcos?

— Sumiu quando descobriu que eu estava pobre. Nunca mais deu as caras.

Júlia balançou a cabeça, solidária.

— Ainda bem que o Dr. Hermes segue sendo esse paizão dos alunos, né?

— Você sabe que ele é dono de parte desse hospital, né?

— Imaginei.

— Foi o pai dele e da Dra. Eunice que fundaram o Memorial. E olha... dizem por aí que ele e a Dra. Eunice têm um romance.

Júlia reprimiu um sorrisinho. Tinha algumas curiosidades sobre aquela família — especialmente sobre uma certa doutora loira de olhos azuis — mas sabia que não podia dar margem com Cadu. Ele era maravilhoso, mas tinha a língua solta como um ventilador na potência máxima.

— Preciso comer — disse ele, mudando o tom. — Vem, vou te mostrar o refeitório. A comida daqui é muito melhor que a da nossa faculdade.

No refeitório, encontraram os irmãos Becker. Foi ali que Júlia descobriu que Leonardo e Laura eram gêmeos. Leonardo, que era cirurgião otorrinolaringologista, ao que tudo indicava, era não só galanteador, mas um "galinha" profissional — o tipo que flertava até com o reflexo no espelho.

Mas a atenção de Júlia foi desviada quando uma loira de olhos azuis sentou-se ao lado da ruiva Fernanda. Seus olhos se cruzaram — os olhos de Laura eram de um azul cortante, quase elétrico — e os de Júlia, castanhos, se desviaram com um calor inexplicável na espinha.

Por um breve segundo, foi como se todo o barulho do refeitório tivesse silenciado.

Ela não sabia explicar por que aquela mulher mexia tanto com seus pensamentos, mas havia algo ali. Algo que chamava. Algo que inquietava. E, acima de tudo, algo que instigava.

Fim do capítulo


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Comentários para 8 - Capitulo 8 - Primeiro dia no Memorial Klein e Becker:
Mmila
Mmila

Em: 08/07/2025

Grandes conexões à vista.

Será?

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