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  • O Nosso Recomeco - 2a Temporada
  • capítulo vinte: talvez só em pausa

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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

Ver comentários: 4

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Palavras: 3795
Acessos: 811   |  Postado em: 01/07/2025

capítulo vinte: talvez só em pausa

A sala estava cheia. Gente demais, entre bacharéis em Direito, advogados, juízes, promotores. Eu havia acabado de descer do palco em mais uma palestra, dessa vez sobre concurso de crimes.

            As pessoas pediam foto comigo e minha paranóia já estava começando a achar que não era pela competência, pela fala, pela oralidade e por ser uma profissional incrível — mas sim por fofoca.

            Os olhos das pessoas não diziam, mas pensavam alto.

            “É ela. A que foi traída pela esposa com a concorrente da firma.”

            Blazer fechado. Postura séria. Voz treinada.

            Essa era eu tentando matar alguns dos mil dragões que a vida havia mandado desde que Fernanda resolveu me apunhalar. E eu não era nenhum Harry Potter.

            Não importava o currículo, os prêmios ou os processos vencidos. Ali, eu era só a manchete que vazou pelos corredores do Congresso.

            O engraçado era que eu respondia as pessoas e respondia dúvidas de estudantes e advogados como se minha vida estivesse em plena ordem. Eu não me deixava abalar, por fora eu continuava impassível. Por dentro, eu só conseguia pensar na minha filha.

            “— Mas... eu quero as duas... — ela soluçava. — Eu quero as duas...”

            A culpa estava me corroendo. Eu estava sendo egoísta? Fria?

            Eu estava tão machucada que queria romper relações com Fernanda, mas teríamos um vínculo eterno que era Ceci. E ela estava sendo machucada no meio disso tudo, mesmo que sem querer.

            “— Tem noção do quão covarde você é?”

            As palavras de Fernanda, desde que foram utilizadas, estavam dando marteladas na minha mente.

            “Covarde.”

            Será que eu estava sendo covarde mesmo? Será que, no fundo, eu não era uma mulher e sim uma menininha assustada? Volto naquela Anna da adolescência. Ela não lembra em nada a Anna hoje. Suspiro. O que será que está acontecendo?

            Por que ao me olhar no espelho eu vejo uma mulher em pedaços tentando resgatar os cacos de um coração que, mais uma vez, foi quebrado? E não a mulher impotente, altruísta, dona de si?

            Eu mesma respondo essa.

            Antes de Fernanda, eu era vazia. Vivia trocando de relacionamentos. Olha, para ser sincera, eu nem sei se uma noitada com qualquer mulher que conquistasse a minha atenção dava para chamar de relacionamento. Sempre foi uma noite e só. Motéis, banheiros de balada, dark room. Porém, no dia seguinte, eu me sentia... uma parede oca.

            Quando conheci Fernanda, aqueles olhos azuis me mostraram o que era sentimento. O que era ficar ansiosa pela chegada de alguém ou ansiosa para encontra-la novamente. Depois que fui beijada pela primeira vez por ela, nenhum outro beijo teve um encaixe tão perfeito. Depois que nós fizemos amor pela primeira vez — porque sim, com Fernanda era sempre amor, por mais erótico que o sex* fosse, as trans*s da rua se tornaram simplesmente insignificantes.

            Fernanda era meu alicerce, minha base, a mulher que me deu o presente mais lindo: minha Cecília. Foi com Fernanda que eu conheci o amor. Aliás, hoje eu entendo que o que eu senti por Beatriz no passado não é um terço do que sinto por Maria Fernanda. Ela era minha base, meu alicerce e minha morada. E sem ela, eu juro que só conseguia ser, verdadeiramente, mãe de Cecília.

“— Você quer o divórcio, Anna Florence? Não me pede por telefone, me pede pessoalmente. Fala na minha cara!”

A voz dela ecoava na minha mente a todo momento e às vezes me pegava meneando a cabeça a fim de que a lembrança sumisse como uma anulação do pensamento. Lembrei dos personagens de histórias em quadrinhos: quando eles queriam anular algo que pensaram e apagavam o balão do pensamento.

            Depois de um coquetel com alguns advogados da Florence-Baldez de São Paulo, eu finalmente cheguei ao meu quarto de hotel, onde fui me despindo do salto, do terno, do escudo.

            Peguei meu celular. Este, peguei como se fosse meu bote salva-vidas no meio de um naufrágio. Não precisava somente ouvir a voz, precisava vê-la. A chamada era de vídeo.

            — Oi... — ela disse

            Estava em casa, no nosso escritório. Onde a nossa vida começou a desmoronar.

            Suspiro.

            — Oi... — respondi.

            — Você está bem?

            — Não sei — admiti

            Ela assentiu. A gente se entendia até no silêncio.

            — Fernanda, eu... Ver a Cecília chorar daquela forma abriu um buraco no meu peito enorme, a nossa filha é a coisa mais importante pra mim nessa vida e eu achei que a trazendo para cá, eu poderia fazer isso sem danos... mas ela está muito machucada, não quero isso. Não quero ver minha filha chorar por nossa causa nunca mais. Você... conseguiria vir com ela? Passar o aniversário dela aqui? Nós três.

            — Eu vou. — ela respondeu, sem hesitar.

            Meu coração errou as batidas.

            — Obrigada.

            — Nós vamos ficar no hotel com você?

            — Sim, vocês podem ficar aqui.

            — Anna... — ela hesitou — A gente vai poder conversar... sobre nós?

            Respirei fundo.

            — Não agora. Não quero que a Ceci presencie qualquer coisa que possa mexer com a cabecinha dela, essa febre emocional está me preocupando... e eu também não tô pronta para essa conversa.

            — Então vamos evitar o assunto.

            — Podemos... voltar a ser amigas. Como antes.

            — Promete? — ela pergunta com um brilho no olhar

            — Eu prometo.

            E de repente, não era mais minha ex-mulher ali.

            Era minha melhor amiga.

            A única que sabia ler meus silêncios, mesmo quando eu estava quebrada.

 

📱❤

 

            Depois da minha conversa com Fernanda, meu coração parecia ficar mais calmo e ao mesmo tempo, exausto. Eu queria continuar fingindo que não estava com saudade daquela voz ao pé do meu ouvido e daquele abraço maravilhoso com jeito de casa que ela tem, mas estava cada vez mais difícil.

            Eu não queria o divórcio, na verdade. Eu queria que a situação que nos separou jamais tivesse acontecido, mas isso era impossível. Eu ainda continuava magoada, de verdade. E qual remédio se usa para coração partido? Whisky. (pelo menos o meu, é claro).

            Eu precisava respirar um pouco, então decidi tomar um banho. Só que as lembranças que vieram acompanhadas da água morna, ainda eram sobre ela.

            *FLASHBACK*

            Fê me acordou com um beijo na testa. Nada de café na cama, nada de exagero. Só o cheiro do sabonete dela e aquele sorrisinho contido, quase infantil.

            — Toma um banho, vida. Coloca uma roupa despojada, confia em mim. — Sussurrou

            Desconfiei, mas obedeci. Quem sou eu pra negar algo pra ela, né?

            Ela pegou as chaves do carro, disse que ela quem ia dirigir e fomos para algum lugar desconhecido. A playlist era com as nossas músicas, que iam de Avenged Sevenfold até Taylor Swift.

            A mão dela apertava a minha no câmbio a cada música, como se cada refrão fosse um recado.

            Quando chegamos na “La Cabaña da Prata”, eu travei.

— Fê… — murmurei, já com a garganta fechando.

Era o mesmo chalé. O mesmo.

— Eu liguei há dois meses pra reservar. Liguei muito, perturbei os donos pra ser no mesmo dia e com todos os detalhes iguais — disse ela, mordendo o lábio inferior, meio tímida. — Um ano de casadas, amor. Não podia ser em outro lugar.

A lua de mel tinha sido ali. Dois dias que pareceram uma vida inteira, entre jantares ao luar, risadas na lareira e planos de futuro cochichados sob cobertas. Depois, partimos em viagem para Buenos Aires.

Eu não consegui falar nada. Só abracei. E fiquei ali, no peito dela, sentindo o coração bater forte. Não havia mudado. O sentimento era o mesmo desde a primeira vez que nos vimos.

— Não solta — Sussurrei contra a clavícula de Fernanda, repetindo as mesmas palavras que falei na noite do nosso casamento, quando terminamos de fazer amor da forma mais linda que já tínhamos feito.

Fernanda apertou o abraço, sorrindo e com os olhinhos cheios d’água.

— Nunca, meu amor. Eu amo você.

FIM DO FLASHBACK

 

As lágrimas queriam insistir em cair, mas eu as segurei. Tinha remédios melhores. Terminei o banho tentando bloquear Fernanda dos meus pensamentos e coloquei um vestido preto de alça fina, mas eu não conseguia me achar tão bonita assim.

“Você é a sapatão meio termo mais linda que eu já vi”

Lembrei de Amanda falando isso e dei uma risada. E também refleti que precisava pedir desculpas a ela, pois eu a tratei de uma forma que beirava a escrotidão.

Peguei o cartão magnético e minha carteira e desci em direção ao bar do hotel, quando eu cheguei achei o bar muito sofisticado. Aliás, o hotel era sofisticado. Cibelle conseguiu acertar no meu gosto. Eu estava satisfeita com a minha secretária até então.

Sentei-me próximo ao bar man, acabei pedindo um drink Manhattan pra ele, que consistia em Whisky, Vermute, Angostura e cereja. Enquanto a música tocava — um jazz moderno bem melhor do que qualquer poluição sonora de hoje em dia — olhei ao meu redor. As mesas de madeira, a luz baixa, estofados vermelhos acolchoados e se tivesse uma decoração mais retrô, o bar poderia ser confundido facilmente com um cabaré de luxo dos anos 70.

Estava no segundo gole quando ouvi a voz que me puxou de volta pro passado.

— Você fica cada vez mais linda com o passar dos anos.

Virei devagar.

Juliana. A juíza. A mulher que, anos atrás, foi só uma colega com quem troquei piadas e olhares na Proetti-Baldez. Quando ela ainda era uma simples advogada. Nada aconteceu. Mas podia ter acontecido.

Blazer preto, cabelo solto, maquiagem leve, sorriso perigoso e olhar que sabia exatamente o que estava fazendo.

— Vossa Excelência... — sorri, um pouco surpresa, um pouco satisfeita demais por vê-la — Que honra.

Ela me abraçou. Um abraço real. Lento, educado, mas com alguma coisa a mais.

Ela se sentou ao meu lado, sem pedir permissão.

— E então? Congresso intenso ou só cansativo?

— Um pouco dos dois — respondi.

— Você não mudou nada — ela disse, com aquele tom observador.

— Você mudou. Agora está ainda mais elegante. E... juíza? — arqueei uma sobrancelha.

— Vara da Fazenda Pública. São Paulo. Acabei de chegar de um ciclo de palestras no Rio. Essa é minha primeira vez nesse evento. E você?

— Estou representando meu escritório.

— Sempre achei que você cresceria na empresa. Mas se tornar a dona do lugar? Surpreendente — sorriu

— Obrigada, não sou só um rostinho bonito — sorri de volta

— E que rostinho... — ela me olhou — Como está a vida? Casada ainda?

— Como sabe que eu casei?

— Procuro me manter informada... — piscou — mas não respondeu à pergunta.

— Estamos passando por algumas... coisas. — Pontuei, desabafando — No papel continuo casada sim, mas estamos dando um tempo.

— Sempre achei que você merecia mais. No sentido mais amplo da palavra. Profissional, pessoal... Tudo.

— Você nem me conhecia tanto assim.

— Conhecia o suficiente — ela disse, olhando nos meus olhos

Flerte. Claro. Era charmosa. Não havia como negar. Eu a observei por alguns segundos. O jeito como apoiava os braços no balcão, o sorriso, os dedos girando a taça.

Era linda. Confiante. Dona de si.

Mas não era Fernanda.

E isso era suficiente.

— Juliana... — comecei, num tom que já vinha com aviso embutido — Você é incrível. Inteligente, bonita, engraçada. Mas meu coração... ainda mora no Rio.

Ela mordeu o lábio inferior. Sem surpresa. Sem drama.

— Tudo bem. Eu só vim tomar um drink com uma amiga antiga. Prometo me comportar... por enquanto.

Rimos.

Viramos o copo.

Ela me levou até uma mesa mais reservada.

Falamos do Congresso, da vida, de tudo que não doía.

Mas por dentro, em silêncio, eu só pensava:

“Se minha ruiva estivesse aqui, talvez esse vazio no peito parasse de fazer eco.”

Ou ela ia virar um monstrinho se me visse conversando com outra mulher.

Aquele ciúme passivo com potencial destrutivo — que começa com um “Você só pode estar brincando, Anna Florence.” e termina com ela três dias sem me chamar de amor.

Enquanto isso, Juliana falava sobre a rotina como Juíza e fazia piada de outros colegas juízes. Eu ri, mas não pela piada e sim pela leveza do clima, eu acho que estava precisando distrair minha cabeça um pouco. Era bom me sentir outra vez mulher, e não só a advogada premiada, a palestrante do Congresso, a mulher traída da vez.

— Posso tirar uma foto desse momento? — ela perguntou

— É claro que sim.

Ela pegou o celular, tirou uma foto de nós duas sorrindo, com as taças na mão. Acabe republicando a foto, a legenda dizia: “Entre brindes e lembranças... algumas conexões continuam especiais.”

— Quer mais um drink?

 — Vou me deixar sóbria. Já é muito por hoje — respondi.

Levantei. Ela me acompanhou até o elevador, passos lentos, elegantes.

— Se quiser companhia mais tarde... — disse, sem pressão, apenas oferecendo.

— Hoje não. Ainda tô tentando encontrar companhia dentro de mim — rebati, sem agressividade. Só verdade.

Ela assentiu. O tipo de mulher que entende quando é hora de recuar.

O elevador chegou. Eu entrei. Ela ficou.

Quando cheguei ao quarto, tirei os sapatos, larguei o vestido no encosto da poltrona e encostei a testa na parede do banheiro. Respirei fundo.

Ela estava em mim.

As lembranças que eu não queria esquecer: a noite no chalé. A dança ridícula no meio da sala com Taylor Swift de trilha sonora.

As promessas cochichadas sob a coberta:

“— Nunca dormir brigadas. Você promete?

— Eu prometo.”

Deitei. O travesseiro estava gelado. A cama king grande demais para mim.

Fechei os olhos.

O celular vibrou. Uma mensagem e uma foto logo em seguida.

*Mãe de Cecília*

- Nosso anjinho dormindo.

A foto era das duas juntas. Cecília no colo da Fê, com a cabeça encostada no peito dela, dormindo serenamente, Fernanda olhando para baixo, fazendo carinho nos cabelos dela.

Ah, vida. Que saudade de vocês.

Eu chorei. Devagar. Sem fazer barulho.

Abaixei a luz do celular, escrevi apenas:

Anna:
"Boa noite. Dá um beijo nela por mim."

Fernanda continuou a conversa.

*Mãe de Cecília*

- Eu vi o repost no insta, amiga nova?

 

Ponderei por alguns segundos. Dei um pequeno sorriso com a pergunta. Ela perguntava como se estivesse disfarçando curiosidade com neutralidade, mas eu a conhecia.

Ciumenta linda.

*Anna Florence – Adv*

— Uma conhecida antiga. A gente se encontrou no bar do hotel, só isso.

*Mãe de Cecília*

- Ah, entendi.

Três pontinhos.

O famoso “...” que gritava mais do que qualquer textão.

*Mãe de Cecília*

- Ela parece legal.

Ah, o veneno educado dela.

Ri de canto.

           

            Eu poderia ter tido uma noite maravilhosa, mas Fernanda ainda morava em mim. E mesmo que eu negasse com todos os neurônios da razão, era o nome dela que eu murmurava baixinho antes de dormir. Era ela o meu primeiro pensamento quando acordava.

            Era nela que eu pensava quando queria sumir do mundo.

            Era ela. Sempre foi.

 

❤✈

[Uma semana depois – Aeroporto de Congonhas, São Paulo]             

— Atenção senhores passageiros, Voo 3982, procedente do Rio de Janeiro, com chegada pelo Portão 4.

Céus.

Literalmente.

A voz mecânica gravada por uma mulher que certamente odiava o emprego e parecia ter um ovo na boca, anunciou a chegada do vôo das minhas meninas.

Eu estava parada, imóvel, diante da porta de desembarque. Vestia uma calça de alfaiataria preta, uma blusa branca com o primeiro botão aberto e um blazer qualquer. Nervosismo era o meu nome, o caos interno.

Olho o celular. Nenhuma notificação.

No peito, um coração que parecia querer sair correndo até a pista de pouso. Eu estava tentando manter a postura de mulher centrada, mas sentindo que ia desabar a qualquer momento.

Até que vi.

De óculos de coração preto, vestidinho bege, os cabelos loirinhos bagunçados. Mochilinha nas costas e sorriso. Ah... aquele sorriso que deixa minha alma quentinha.  

— MAMÃEEEEEEEE!

Levei as mãos na boca surpresa, mas logo dei o meu melhor sorriso, minha cria vinha correndo feito louca na minha direção. Eu me abaixei no reflexo e a recebi nos braços com a força de quem segura o próprio mundo.

Fecho os olhos.

Não consigo segurar. Minha voz embarga quando a abraço.

— Minha vida... — sussurrei, sentindo o cheirinho dela, misturado a cookie e avião.

Quando levantei os olhos, ela estava lá.

Fernanda.

Calça marrom, blazer bege, muito parecido com a cor do vestido de Cecília, os mesmos óculos de coração que minha filha usava. Elas vieram combinando. Típico de mãe e filha.

A tonalidade dos olhos azuis das duas no momento eram os mesmos.

Olhos de quem me ama. Olhos de saudade. De quem estava esperando há tempos por isso.

Ela parou a poucos passos, meio hesitante.

— Anna... Oi.

— Oi.

Respondi tentando ser cordial, mas também estava hesitante. Minhas mãos ainda envolviam Cecília com força demais, como se minha filha fosse minha âncora.

Eu não sabia como me mexer, nem o que dizer. E foi nessa dúvida que Fernanda resolveu agir.

De repente, ela me abraçou. Passou os braços ao redor de mim de forma natural, corajosa. E antes que eu decidisse se aceitava ou não… já era tarde.

O abraço aconteceu.

Ela encaixou o rosto no vão do meu pescoço, entre cabelo e pele, e aspirou meu cheiro como quem procura lembranças. Cheiro de saudade.

Meu corpo todo se arrepiou.

— Você tá cheirosa... — sussurrou baixinho

Atacante. Muito atacante.

Eu havia esquecido que, Fernanda quando queria me conquistar ou algo de mim, era direta. Ela não tinha cerimônias, sempre com atitudes que diziam: ‘eu quero você’. Foi assim que ela me conquistou há quase dez anos. Ela sempre soube o que queria.

Cecília se remexeu nos meus braços, rindo do abraço das duas.

— Mamães? Tão me amassando!

Sorrimos.

Fernanda se afastou com o rosto calmo, mas os olhos... os olhos diziam tudo.

E eu? Eu ainda estava travada. Como se aquele cheiro tivesse ativado todas as memórias que eu lutei pra calar nas últimas semanas.

O caminho até o hotel? Cecília falava horrores. Se o mundo acabasse amanhã, Cecília com certeza falaria tudo hoje.

Eu sonhei com dinossauro de novo! Mas dessa vez ele era do bem, e me levava pra escola no colo! A gente podia adotar um dinossauro… né?

— Claro, filha. Um dinossauro filhote, de preferência — brinquei, olhando pelo retrovisor.

Fernanda, que se ofereceu para dirigir com a ajuda do GPS, ria com o canto dos olhos. Ela sabia, como eu, que Cecília falava pelos cotovelos quando estava feliz. E ela estava. Dava pra ver.

— E meu aniversário vai ter parque, né? Você prometeu, mamãe Anna! É depois de amanhã, sabia? — disse colocando as mãos em meu rosto e fazendo eu olhar para ela.

— Eu sei. Mas... quem disse que precisa esperar o dia chegar pra comemorar? — olhei pra Fernanda, que arqueou a sobrancelha como quem diz: “o que você está aprontando?” — Tem uma surpresa esperando por você no quarto.

Os olhos de Ceci brilharam, os azuis vibrantes.

Quando entramos no quarto do hotel, ela praticamente atravessou a porta e se eu não tivesse prestado atenção, podia jurar que ela tinha os poderes da Lince-Negra do X-men de tão rápido que ela entrou.

— Cadê a surpresa, mamãe?

Apontei para a cama, onde estava uma caixa grande, embrulhada com papel holográfico prateado e um laço azul. Ela não era fã de rosa.

— Aniversário adiantado — anunciei, tentando manter o suspense.

Cecília deu um gritinho agudo (do tipo que o vizinho do andar de baixo deve ter ouvido), correu até a cama, pulou de barriga e começou a abrir com a empolgação de quem nunca recebeu um presente na vida.

Rasgou o papel. Clássico.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAH! MAMÃE!

Ela puxou os três ingressos com as duas mãos erguidas, como se fossem medalhas olímpicas.

— EU VOU NO PARQUE AQUÁTICO TAMBÉM? EU NÃO TÔ ACREDITANDO! EU VOU NO TOBOGÃ DE 500 METROS! EU VOU MOLHAR TODO MUNDO! EU VOU—

— Calma, calma, filha — Fernanda tentava conter, rindo. — Você não é o roda a roda Jequiti.

Mas já era tarde.

Cecília começou a rodopiar, ainda com os ingressos nas mãos, ela não parava de girar, de sorrir. Parou no meio da volta, com os olhos arregalados, boca tremendo… e desabou.

Chorou.

Mas era aquele choro de alegria, sabe? E meu coração ficou quentinho. Confesso que eu quase chorei junto.

O choro de quem se sentia em casa de novo. Em paz. Com as duas ali. Com o amor em dose dupla que ela sempre teve.

— Eu tô muito feliz... muito feliz... — soluçou, se jogando no colo de Fernanda, depois no meu. — Eu amo vocês, minhas mamães... muito...

Olhei pra Fernanda por cima dos cachinhos loiros da nossa filha. E, pela primeira vez em muito tempo, nossos olhos diziam a mesma coisa.

Talvez a gente estivesse, de fato, começando a reconstruir.

Pedimos pizza.

Cecília e Fernanda estavam deitadas na enorme cama king devorando, como sempre, uma enorme caixa de pizza. Fê colocou o filme da Disney “Encanto” pra Cecília assistir pela milésima vez e elas tentavam a todo custo não sujar a roupa de cama, mas pelo que eu pude observar, já era.

Estava toda melecada de gordura.

Mas eu não me importava.

Hoje eu ia dormir com a minha família. Meu coração estava em paz.

— Você acha que eu sou mais a Luísa ou a Isabela? — Ceci perguntou, com olhos atentos.

— Você é a Mirabel, ué. A que salva todo mundo — eu disse.

— Mas eu queria poder levantar casas igual a Luísa — ela murmurou.

Fernanda olhou pra mim, espremendo a boca segurando-se para não rir.

— Você já levanta meu astral — falei, esticando o braço pra bagunçar os cabelos dela.

Quando o filme chegou na música “Dos Oruguitas”, Cecília já estava com a cabeça encostada no colo da Fernanda, os pés sobre os meus, e um leve ronquinho escapando.

Aquela cena, com tudo que tinha de simples, era o que fazia meu coração bater sereno.

Por um instante, eu havia esquecido o mundo lá fora.

Zhang. Escritório. Separação. Não havia dor.

Só pizza de calabresa fria, música da Disney e duas metades do meu coração adormecidas ali — uma literalmente, a outra... talvez só em pausa.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Gente... aos 45 do segundo tempo! Hahahaha

Meu dia foi uma loucura: hiper corrido! Mas consegui finalizar o capítulo agora e corri pra postar pra vocês. Confesso: nem revisei! Foi na emoção mesmo.
Terça é terça até 23h59, né? Kkkkkkkk

Espero que esse respiro mais leve aqueça um pouquinho o coração de vocês, assim como aqueceu o meu. 


Obrigada por cada comentário, cada leitura, cada energia boa que vocês me mandam. 

Gente que me manda energia ruim, eu nem ligo! Apenas ignoro e posto capítulos intensos pra quem ama essa história e bota fé nela! 

 

Amo ter vocês nessa jornada comigo. Até o próximo capítulo, Fêlovers! hahaha (sim, eu sei que vocês vão defender a Fernanda até o fim da vida) 

Insta: @nathh.autora 

beijos! 


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Comentários para 20 - capítulo vinte: talvez só em pausa :
Lea
Lea

Em: 02/07/2025

Nesse friozinho gostoso, só um capítulo desse para aquecer o coração!

Boa noite, Nath!

Responder

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HelOliveira
HelOliveira

Em: 02/07/2025

Coração quentinho batendo feliz....que felicidade acho que tô igual a Anna....sou muito Fernanda não nego....mas esse trio nessa harmônia é lindo demais....

Anna foi incrível nesse capítulo...quando a Juliana apareceu já fiquei nervosa rss

Acho que ainda vem momentos delicados mas já deu pra relaxar um pouquinho..

 


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 02/07/2025 Autora da história
Tá vendo? Eu sabia que vocês amavam mais a Fê hahaha
Juliana ainda vai aparecer mais


Responder

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Mmila
Mmila

Em: 02/07/2025

Ainda com choro por aqui, mas de felicidade com esse trio.

Ja é um bom recomeço para essa situação caótica das duas.

Feliz pelo desenrolar da história.

 


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 02/07/2025 Autora da história
Ah, esse momento família foi muito fofinho, né? Amanhã tem mais!


Responder

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Letysantos
Letysantos

Em: 01/07/2025

Lindas,lindas,lindas,amo tudo isso.


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 02/07/2025 Autora da história
Demais! Nossas meninas tem um elo que vão uni-las pra sempre.


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