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  • O Nosso Recomeco - 2a Temporada
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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

Ver comentários: 4

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Palavras: 3958
Acessos: 678   |  Postado em: 24/06/2025

capitulo dezoito: cidade cinza

CAPÍTULO 18. CIDADE CINZA.

            O pouso em Congonhas foi tranquilo. Não demorei a chegar, cerca de uma hora e meia eu já estava em solo paulistano. Eu carregava um peso que eu não declarei na bagagem, mas que veio comigo desde o Rio de Janeiro — espremido entre saudade, frustração, orgulho, fuga e o gosto amargo de tudo que ficou mal resolvido.

            Desci com passos firmes, tentando convencer minha mente de que eu estava inteira.

            Tentar.

            Era meu verbo de sobrevivência.

            O saguão estava movimentado, pessoas passando de um lado para o outro e abraçando seus parentes, amigos. Ou simplesmente com seus fones de ouvido com expressões impassíveis.

            Hoje, eu era só mais uma estrangeira temporária em São Paulo — de passagem, de fuga, de ressaca emocional.

E então eu a vi.

Amanda estava de jeans, jaqueta preta e um sorriso desproporcional ao meu humor. Quando nossos olhos se encontraram, ela simplesmente largou o celular no bolso e veio correndo. Literalmente correndo. Antes que eu tivesse tempo de pensar, me jogou os braços no pescoço e pulou no meu colo como se fôssemos adolescentes se reencontrando depois das férias.

— Caralh*, você tá aqui mesmo — ela sussurrou, apertada contra mim.

— Tô. Inteira, aparentemente — murmurei, rindo baixo, tentando disfarçar a fisgada no peito.

Ela me envolveu com força, e no meio do abraço, afundou o rosto no meu pescoço. Ficou ali, inspirando fundo, como se aquele instante pudesse durar mais do que devia.

— Amanda… — comecei.

— Só um segundo. Tô me atualizando do cheiro da minha madrinha favorita — respondeu, com a cara ainda colada no meu cangote.

Revirei os olhos, mas não consegui conter o riso abafado.

— Nem desembarquei direito e você já arrumou um jeito de tirar uma casquinha.

Ela se afastou minimamente, olhando pra mim de cima a baixo com aquele sorriso malandro que misturava charme e provocação.

— Só tô te dando as boas-vindas. Ah, você é a sapatão meio-termo mais linda que eu já vi.

Puxei minha mala com uma das mãos, e com a outra, segurei o braço dela.

— Vamos, antes que você invente mais alguma forma criativa de me recepcionar.

Ela não disse nada no caminho até o carro, e eu agradeci por isso. Ainda não era o momento de conversar. Nem sobre o Rio, nem sobre o que quer que estivesse passando pela cabeça dela.

Quando chegamos ao seu apartamento, fiquei boquiaberta. Era comum, mas a decoração do apartamento era linda. Moderno, bem iluminado, com toques de aconchego que não combinavam com a rotina caótica que eu sabia que Amanda tinha.

— Decorou tudo sozinha? — perguntei, puxando a mala para dentro do apart

— Quase tudo. Uma colega do time me ajudou.

— Colega? — pergunto, implicando

— Cala a boca, vai.

Passo os olhos ao redor do apartamento, até notar o violão preso em um suporte na parede. O violão que eu dei pra ela quando ela fez 14 anos.

— Você trouxe...

— Sim, é meu companheiro de solidão — ela abaixa a cabeça, desviando o olhar do meu.

— Tô impressionada.

— Obrigada — dá um pequeno sorriso.

Deixei minha mala perto da porta e fiquei observando o espaço.

— Você falou que ia ficar no alojamento do CT...

— Fiquei. Mas depois quis ter um canto só meu. Liberdade, silêncio, você sabe. — ela andava pelo apartamento tentando aparentar naturalidade, mas sabia que ela estava nervosa — E o hotel? Vai fazer check-in quando?

— Só amanhã. Vou sequestrar você hoje pra me levar pra algum lugar nessa Cidade.

Ela riu, mas depois baixou o olhar.

— Na verdade… tem umas coisas que eu preciso te contar. Mas eu fiquei com medo da sua reação.

— O que aconteceu, Amanda? — perguntei, me aproximando um pouco, tentando entender o que havia por trás daquele ar preocupado.

— Você quer um café?

— Amanda.

— Eu comprei uma máquina de Nespresso. Tô viciada. E a culpa é sua.

— A culpa é minha. Sempre. — E deixei escapar um olhar distante, um pensamento que me atravessou antes que eu conseguisse bloquear.

Adriana.

Amanda me olhou com atenção.

— Não se culpa por nada, tá? Eu vou te contar tudo. Só... me dá um tempo.

Assenti com a cabeça, mas continuei ali, parada, sentindo o eco do nome da Adriana na memória, mesmo sem tê-lo dito em voz alta.

Ela me entregou a xícara de café como quem entrega uma notícia ruim.

— É forte — comentei, tomando o primeiro gole.

— Eu sei. Aprendi com a melhor.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. Até que Amanda sentou na beirada do sofá, com as mãos entrelaçadas.

— Eu… perdi acesso a tudo que tinha, Anna. Tudo que ganhei jogando bola, desde quando me tornei atleta federada. Tá tudo bloqueado.

— Como assim?

— Meus contratos, os investimentos, os direitos de imagem, alguns patrocínios... tudo estava no nome da Adriana e da Paola.

— Porr*, Amanda...

— Eu abri mão de uma parte do patrimônio. Uns dois milhões ficaram com elas. Eu só queria paz.

Meu peito se fechou de um jeito que nem o café conseguiu aliviar.

— Por que você não me contou? — perguntei, me levantando de supetão. — Por que não me ligou? Eu teria dado um jeito, feito alguma coisa!

— Anna, eu não queria mais ser um peso pra você... — coçou a nuca — Não queria mais atrapalhar você e a ruiva. Eu já tinha te causado problemas demais.

Revirei os olhos e comecei a andar de um lado pro outro na sala.

— Não acredito que você passou por isso sozinha.

— Eu não tava sozinha. A Andressa tem me ajudado com isso.

Parei. Me virei devagar.

— Andressa? — arqueei a sobrancelha, cruzando os braços.

— É. Mas antes de você odiar alguém, espera. Tem mais uma coisa que eu preciso te contar.

Ela segurava a xícara com as duas mãos, visivelmente nervosa.

— Mas promete que não vai me odiar?

— Fala, Amanda.

— A gente... flertou.

O quê?

— Você tá louca, Amanda? — levanto, me afastando dela

— Anna... eu sabia que você não ia entender.

Respiro fundo.

— Quando?

— O quê?

— Quando flertaram?

— Tem uns dois meses, a gente ainda está tentando entender isso... Foi por mensagem, só. E... uma chamada de vídeo ousada.

— Tá ciente que ela era sua madrasta, né?

— Mas não era minha mãe. Não tinha vínculo maternal com ela. Se a minha mãe quis trair ela com Paola, dane-se. Ela, de todas as pessoas, não merecia... ela nunca mereceu as migalhas da minha mãe. Ela não merecia essa dor.

— E você estava lá para consolá-la, claro. Por que você tem alguma coisa com mulheres mais velhas quase-da-família.

— Anna, não faz isso... Não foi intencional.

Ela tenta se aproximar, mas eu não deixo. Me afasto.

— Para. Você tá querendo me provocar, é isso? — sorrio, irônica.

— Não, estúpida. Só tô te contando, pois você é parte da minha vida, talvez a pessoa que eu mais amei e eu estou a confusão em pessoa e... ainda me importo com o que você pensa.

— Amanda, não acredito nisso.

— O quê?! Vai me julgar mais? Fala! Me chama de louca, de inconsequente, de ingrata. Me diz que eu estraguei tudo de novo — bufou

— Você flertou com a Andressa, Amanda! A porr* da sua madrasta e uma das minhas melhores amigas.

— Ex-madrasta — me corrigiu, sínica — Por que você está se importando tanto com isso? Tá com ciúme?

Dou uma gargalhada.

Mas no fundo, não sabia o que eu sentia. Era muita coisa para processar.

— Me dá um tempo, Amanda. Só um tempo pra processar.

Me afasto dela e caminho até a varanda do apartamento dela, me apoiei no parapeito, tentando conter o caos. Tinha raiva, confusão, mas no fundo… um cansaço que não tinha nome. Me perguntava em que momento deixei a vida virar essa loucura. Ficar no Rio estava insuportável. Estar em São Paulo era um peso novo. E dentro de mim, era só bagunça.

Me sentia covarde.

Eu tinha boas novas para contar pra minha psicóloga, que me alertou em nossa última sessão que a fuga era pior. E bom, parece que ela tinha razão, né?

Depois de meia hora em um ócio contemplativo, a porta da varanda abriu.

— Anna… posso? — Amanda estava ali, segurando a porta com uma das mãos, a voz mais calma do que no momento anterior.

Assenti com a cabeça.

Ela veio devagar, recosa, como se tivesse tentando não pisar no meu campo minado. Eu era uma mulher bomba que iria explodir a qualquer momento. Ela se encostou ao meu lado, calada. Ficamos olhando a cidade lá embaixo, até que por fim, ela fala.

— Eu queria conversar. Sem brigar.

— Eu também. — respondi, baixinho.

Ela passou os olhos pela cidade, depois me olhou de canto de olho.

— Eu… tô confusa, Anna. Com você. Com a Andressa. Comigo. Parece que tudo que eu senti nos últimos anos tá voltando, misturado com as coisas novas que tô descobrindo agora. E... dói. Porque eu não sei o que é certo. Só sei o que sinto.

Engoli seco, enquanto encarava o nada.

— Amanda... eu nunca poderia dar o que você quer. Meu coração nem me pertence, pertence à outra pessoa... há muito tempo.

Ela não disse nada, só assentiu. Como se eu falasse o óbvio, mas com o olhar meio perdido.

Continuo, a fim de que ela entenda de uma vez por todas:

— Eu não te vejo como você gostaria. Não como mulher. Não é justo com você, não é justo comigo.

Ela virou o corpo na minha direção e eu fiquei encostada no parapeito, de frente pra ela. Com delicadeza, ela passou a mão pelo meu rosto e eu fechei os olhos, sentindo aquele carinho e a brisa gelada de São Paulo na minha face.

— Então se permite sentir. Por um instante. Depois você pode dizer o que quiser. Eu prometo que não te cobro nada. Só… sente.

E então ela se aproximou mais.

Antes que eu pudesse responder, seus lábios encostaram nos meus. Devagar. Sem invadir. Um beijo leve, demorado. E eu fechei os meus olhos, por um segundo, me deixei levar.

Beijei-a de volta.

Com carinho. Com ternura. Não havia desejo ou impulso naquele momento, havia afeto. Mas tinha uma dor ali.

A dor que nunca foi ela e com certeza nunca seria.

Quando o nosso beijo terminou, nós ficamos ali, próximas, respirando o mesmo ar, sem coragem nenhuma de quebrar o momento.

E então ela me puxou para um abraço. Um daqueles apertados e eu retribuí — com a minha alma quebrada.

— O seu beijo… foi exatamente como eu sempre sonhei — ela disse, encostada ao meu ombro.

Beijei sua testa, com cuidado.

— Eu não quero te machucar. E tô com medo de estar fazendo isso agora.

Ela se afastou o suficiente para me olhar nos olhos.

— Você não tá. Eu fiz isso consciente. Eu precisava saber.

— Saber o quê?

— Que nunca foi coisa da minha cabeça. Eu ainda sinto muita coisa por você. Muita mesmo. Mas eu sei, agora mais do que nunca, que eu não posso competir com a ruiva. Porque é ela a mulher da sua vida. Sempre foi. E mesmo sem saber o que aconteceu entre vocês... eu sei que vocês vão se resolver. Porque ninguém consegue te amar como ela ama.

Senti um nó na garganta, mas não disse nada.

Amanda sorriu, mas era um sorriso triste. Quase como uma despedida.

— Obrigada por esse beijo. Mas não vai se repetir. Eu... aceito ser só sua afilhada. Sua amiga. Seja lá o que somos. Só isso já vale mais do que qualquer ilusão.

Assenti, com os olhos marejando.

— E sobre a Andressa… — ela continuou — ...vou tentar entender o que sinto. Mesmo que você não aprove.

Ela sorriu de lado. E entrou, deixando a porta aberta.

Eu fiquei ali, sozinha.

A cidade cinza não brilhava. Ela estava indiferente, como se nada tivesse acontecido.

Mas algo dentro de mim havia mudado.

Definitivamente.

 

✈💔

Acabamos não saindo, ficamos em casa assistindo a uns filmes de terror que ela amava. Ela estava com a cabeça em meu colo e eu fazendo cafuné em seus cabelos pretos. Meu telefone apitou uma notificação, era dela.

Meu coração bateu mais rápido. Me mexi inquieta.

*Mãe de Cecília (15h18):*

- Minha Anna, queria muito te desejar uma boa viagem pessoalmente, mas sei que precisa desse tempo. Só peço que me avise quando pousar, caso contrário, fico preocupada. Cecília está ansiosa pra ir com você, precisei acalmar o coração do nosso curumim. Boa viagem, tchutchuca rs

*Mãe de Cecília (17h34):*

- Anna, tá tudo bem?

 

*Mãe de Cecília (20h40):*

- Porque não me responde?

 

Visualizei as mensagens.

O que eu ia falar?

*Anna Florence – adv*

- Oi, desculpa. Estava me instalando aqui na casa da Amanda antes de ir para o hotel, só faço check-in lá amanhã.

*Mãe de Cecília*

- Estava ocupada demais com a Amanda pra responder uma mensagem?

 

Suspirei.

Esqueci o quanto Fernanda era ciumenta.

Passei a mão pelos cabelos, irritada comigo mesma. Burra.

Demorei um pouco antes de digitar. E quando digitei… a frieza me escapou sem que eu percebesse.

Anna Florence – adv:*

Só consegui parar agora.

*Mãe de Cecília:*

- Boa noite, Anna Florence. E sobre ter chegado bem, não é necessário responder. Já vi que você está ótima.

“Anna Florence”.

Ela me chamava assim quando estava brava ou quando estava a fim de me repreender.

Eu a beijei, mas você não corre risco algum, Fernanda Alencar. Você é meu tudo, meu amor.

Eu só queria apagar.

Apagar tudo.

A culpa. A raiva. A saudade.

 

No dia seguinte, acordei bem cedo. Levei Amanda pra cama de madrugada e dormimos juntas, ela agarrada comigo e eu tentando me concentrar no livro ‘mulheres que correm com os lobos’, mas confesso que não estava prestando muita atenção, já que meu pensamento sempre voltava em Fernanda.

Arrumei minha mala em silêncio, vesti uma roupa monocromática, preta. Prendi meu cabelo em um coque frouxo, eu não estava com a mínima paciência para deixar meu cabelo alinhado. Quando eu ia dar um beijo na testa de Amanda, ela despertou.

— Já vai? — a voz rouca, os olhinhos quase fechados, com sono ainda.

— Tenho que ir. Preciso fazer check-in no hotel e tenho reunião com os representantes do Congresso no início da tarde.

— Anna...

— Depois a gente se fala, tá?

Ela não insistiu. Apenas me observou sair com um olhar que eu não sabia decifrar e eu... apenas desviei o olhar do dela, eu ainda teria um mês pela frente.

Quando cheguei no hotel, a recepcionista me recebeu com formalidade, me deu meu cartão magnético após algumas perguntas de praxe e eu pude subir. O quarto era como eu havia pedido: cama king e banheira de hidromassagem.

Adoraria me jogar na cama e dormir, mas precisava trabalhar. Fui até a mesinha que tinha no quarto e comecei a observar minha agenda e manter contato com Cibelle por vídeo chamada para alinhar algumas coisas. Ela fez uma apresentação no power point pra mim sobre violência doméstica e como atuar no tribunal do júri, vou confessar que fiquei satisfeita. Quase não fiz alterações.

Depois que terminei os afazeres, decidi ligar para Cecília de vídeo. Eram 12h e ela já deveria estar saindo da escola. No entanto, como Cecília ainda não tinha telefone, eu tinha que ligar para Fernanda.

Céus, eu não estava preparada pra ver aquela ruiva brava.

Ela era um doce, mas quando se irritava — especialmente por ciúmes — era um monstrinho.

Minha monstrinha.

Para minha surpresa, quem atendeu foi Cecília. Ela estava no banco de trás do carro, provavelmente recém saindo da escola.

— Oi, mamãe! — ela diz com aquele sorriso lindo

— Oi, princesa. Saudades! Como você está?

— Bem... você vai me levar pra viajar com você quando, mamãe?

— Em breve, filha. Deixa só suas provas acabarem.

— Quero ir logo, me busca amanhã — fez um beicinho

Dou um sorriso.

— Prometo que vou te buscar em breve, filha. Mas amanhã não posso.

Ela cruzou os braços.

— Droga!

— Cecília Alencar Florence! Que palavra feia. Se continuar com esse linguajar, não tem parque, você entendeu?

Ela suspirou fundo, claramente irritada, e soltou com a voz emburrada:

— Tá bom, desculpa…

Mas logo depois, voltou a contar as novidades.

— A mamãe Fê comprou ração, sabia? A gente vai levar lá pro abrigo dos cachorrinhos abandonados.

Eu sorri com doçura.

— Que legal, filha. Muito bonito ajudar os bichinhos.

Cecília virou um pouco a cabeça, como se estivesse tentando chamar alguém ao lado.

— Mainha! A mamãe Anna tá aqui! Fala com ela!

Ouvi o som do pisca alerta e o ronco abafado do motor. A voz da Fernanda surgiu logo depois, seca, objetiva:

— Tô dirigindo, Cecília. Agora não dá.

Cecília olhou de volta pra mim, fazendo uma careta.

— Ela disse que tá dirigindo...

Eu segurei a expressão, mas por dentro... doeu.

Claro que estava brava. Tão brava que nem quis aparecer na chamada. E quando quis evitar contato, usou nossa filha como escudo. A Fernanda que respondia até mensagem de áudio minha no banho, agora não podia nem dizer “oi”.

— Que bom que vocês estão indo visitar os cachorrinhos, filha. Mas não é pra trazer nenhum pra casa, hein? — falei, tentando brincar, mesmo que o riso saísse meio fraco.

— Ah, mamãe... só um pequenininho?

— Nem pensar. A gente conversa quando eu for te buscar, tá bom?

Ela assentiu, fazendo beicinho.

— Tá... Mas me busca logo.

— Eu prometo.

Ela desligou e por um instante, fiquei apenas encarando meu próprio reflexo na tela preta.

De todas as ausências que Fernanda podia me oferecer, essa — a do olhar — era a que mais doía.

O resto do dia foi tenso.

Saí do hotel pouco depois da ligação com Cecília. Peguei um café amargo no saguão e fui direto para a reunião com os representantes do Congresso. O meu tema era espinhoso — violência contra a mulher — e, por mais que eu estivesse esgotada emocionalmente, vesti minha armadura profissional. Uma das assessoras comentou que minha fala estava afiada. Eu sorri. Por fora.

Logo depois, segui para a filial da Florence-Baldez. A equipe me recebeu como uma rainha, claro, todos nervosos com a “Doutora Florence”. Eu, como sempre, fui objetiva. Reunião com o administrativo, checagem dos resultados do último trimestre, conversa reservada com a nova sócia administrativa.

Voltei para o hotel só depois das 20h. Troquei o salto por uma pantufa e finalmente consegui respirar. Enchi a banheira, mas não tive tempo de entrar.

Uma batida forte na porta me fez parar no meio do quarto.

— Quem é? — perguntei.

— Andressa.

Minha espinha gelou.

Abri a porta. E lá estava ela. Tênis, calça jeans, a jaqueta de couro cinza clara, e os olhos mais enfurecidos que já vi naquele rosto.

— Posso entrar? — ela perguntou, sem cerimônia.

— Pode — respondi, confusa por ela estar aqui, mas já sabendo que a tempestade viria.

Fechei a porta atrás dela. Andressa entrou como um furacão.

— Você vai mesmo fazer isso? — perguntou, encarando-me como se eu fosse o ser mais desprezível da terra

— Fazer o quê? — tentei manter a compostura, embora soubesse exatamente do que ela falava.

— A Amanda me ligou. Me contou do beijo. Você tem ideia de como isso soa, Anna?

— Então é por isso que você veio até aqui? Veio me dar bronca?

— Não. Vim te perguntar se você perdeu a noção de vez.

Fechei a porta com calma.

— A Amanda me beijou. E eu retribuí. Foi isso.

Ela deu uma risada cínica, cruzando os braços.

— E depois eu que sou a impulsiva.

— Andressa, eu não tenho que te dar satisfação.

— Não tem mesmo. Mas tem noção do que está fazendo?

— Você está com ciúmes dela?

— Tô com raiva! — ela rebateu. — Porque você vive dizendo que precisa de tempo, que não sabe de nada, que o mundo tá desabando, mas na primeira oportunidade você vai lá e fica com ela!

— Você veio do Rio só pra isso? Ela te contou, você pegou a primeira ponte aérea e veio até aqui? Como me encontrou?

Ela ignorou meu comentário e continuou.

— A Fernanda lá, se desmanchando, a Amanda feito adolescente apaixonada, e você... fria. Como se não fosse com você.

— Eu não sou fria. Eu só... — parei.

— Olha só, Anna... — ela põe as mãos no cabelo, fazia isso quando estava nervosa e queria matar alguém — aquela garota é apaixonada por você.

— E por você também, pelo visto. — dou de ombros — A Adriana te chutou e você simplesmente foi pegar a filha dela?

— Você quando está com esse maldito coração despedaçado é cruel — ela diz, ofendida — mas no fundo você é só uma menininha assustada. Fernanda pode ter feito merd* com você, mas você fez no início do relacionamento e ela perdoou. A Fernanda sempre segurou tudo. A Fernanda sempre te aceitou como você é. Ela cometeu um erro. UM ERRO. E você foge que nem uma garotinha mimada? Sustenta seu casamento, Anna. A vida não é conto de fadas.

Fiquei em silêncio depois de ouvir aquelas palavras.

Ela bateu a porta e saiu, me deixando sozinha.

Sentei na cama, massageando minhas têmporas. Ainda estava tentando processar o que tinha acabado de acontecer, quando o celular vibrou ao meu lado.

Amanda.

Respirei fundo antes de atender.

— Você deu meu endereço pra Andressa?

— Quê? Claro que não, Anna! — ela parecia ofendida. — Eu só contei sobre o beijo... não sei como ela descobriu onde você está.

— Ah, que conveniente. E você achou o quê? Que ela ia reagir como? A mulher ia sair do Rio de Janeiro e vir para São Paulo para me dar flores?

— Anna... — Amanda começou, num tom quase doce. — Ela ficou com ciúmes. Mas eu ia resolver...

— Resolver? Amanda, eu não sou uma adolescente e você também não é uma garotinha indefesa. Sabia muito bem o que estava fazendo.

Silêncio.

— Você não precisava me tratar assim — respondeu, magoada. — Eu só queria entender o que você sente.

— Então deixa eu facilitar. Nada. Ou melhor, confusão, culpa e uma vontade imensa de sumir. Que isso te baste.

— Eu...

— Seja feliz, Amanda.

Desliguei.

Joguei o celular sobre a cama e fiquei encarando o teto por alguns segundos. Mas ele vibrou de novo. Instagram. Uma notificação de stories. Republicado.

Abri.

@FernandaAlencar.adv

Era um repost do story da Camila Zhang. A gravação tremia levemente, com luzes coloridas e batida forte ao fundo. Fernanda estava na pista de dança, linda, deslumbrante, a taça de espumante na mão e os cabelos soltos ganhando vida com a música. Ria. Girava. Jogava a cabeça para trás. Ela dançava com aquela liberdade de quem não devia mais nada a ninguém.

Mas foi a legenda que me matou.

“Ninguém dança como quem sobreviveu à dor. Só quem sangrou sabe ser leve.”

Ela sabia de Amanda.

Andressa deve ter contado.

Ela não tinha esse direito, porr*.

Toquei para ver de novo. Mais uma vez. E outra.
Meu reflexo na tela ficou mais frio a cada repetição.

A banheira continuava ali. Cheia. Intocada.

Talvez como eu.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi, meus amores! A postagem de Terça está no ar, como prometido. 

Queria agradecer por terem me seguido no insta de autora, amei conhecer vocês. Lá eu vou postando minha rotina com a escrita, as coisas que eu faço para ter ideias e às vezes, só às vezes, soltar alguns spoilers kkkkk

 

Para quem ainda não seguiu, o link é esse: Nath (@nathh.autora) • Fotos e vídeos do Instagram

E em breve estarei no Tik Tok também! Uma rede social de cada vez, se não eu fico louca rs 

Até quinta! 


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Comentários para 18 - capitulo dezoito: cidade cinza:
HelOliveira
HelOliveira

Em: 24/06/2025

Simmm continuo sofrendo.... e só deu tudo errado nessa fuga da Anna...culpar a Amanda ... não....um erro levando a atitudes impensadas, ou erradas ....a Fê só reagiu....mas pode ter consequências tb....eita ficou confuso....resumindo autora vc tá de parabéns a história só fica melhor e da vontade de ler mais e mais...

Até o proximo


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 26/06/2025 Autora da história
Nossas personagens estão sofrendo um caos emocional com pitadas de verdade e consequências e eu, como autora, concordo que a Fê só reagiu. Embora ela não tenha feito nada demais, poderia também ter feito e estaria tudo bem. Estão separadas. No próximo capítulo você entenderá ^^


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Letysantos
Letysantos

Em: 24/06/2025

Isso é tortura,esperar ate quinta? O que fiz para merecer isso?Preciso de capitulos mais longos,please,nunca te pedi nada.


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 26/06/2025 Autora da história
Mais longos? Mulher, vocês querem acabar comigo hahahaha


Responder

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Lea
Lea

Em: 24/06/2025

Então..... próximo capítulo,please!!!

Responder

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Mmila
Mmila

Em: 24/06/2025

Vixi, deu e vai continuar dando muito ruim......


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 24/06/2025 Autora da história
Ninguém mais do que essa autora torce tanto pra dar bom... Calma, gente. Calma, pfvr. Me sinto péssima fazendo vocês passarem por isso, mas é muito necessário. Caso contrário, a história fica sem contexto.



Mmila

Mmila Em: 24/06/2025
Sim, entendo, mas cada situação que vem sendo apresentada, deve ser comentada de acordo.
Sim, vou continuar acompanhando, pois a história é simplesmente muito boa.
Abraços autora.



nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 26/06/2025 Autora da história
Eu amooooo quando vocês comentam, eu fico muito feliz quando entro aqui e vejo comentário de vocês, sério!


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