Caps. 5 – Pam – Boas novas
“Quando se trabalha com a primeira infância, arte não é algo que ocorra isoladamente. Ela engloba: controle corporal, coordenação, equilíbrio, motricidade, sentir, ver, ouvir, pensar, falar e ter segurança. E ter confiança para que a criança possa se movimentar e experimentar. E que ela retorne ao adulto, tenha contato e crie junto. O importante é ter um adulto por perto, coparticipando e não controlando.” Holm (2007)
Mais um ano letivo começando, e esse prometia, estava bem animada e com sensações boas. Embora com uma vida agitada e cheia de coisas em minha mente, ainda acordava durantes algumas noites lembrando de tudo o que aconteceu no final do ano passado, da família de Izzie, todo aquele sofrimento, mas sabia que não podia fazer muito, além de orações e ter pensamentos positivos.
Provavelmente não mais veria mãe e filha, claro que elas optariam em ficar na Capital, com maiores recursos de trabalhos e de estudo para a criança, sem contar que ali naquela cidade, guardava a dor da perda, embora aonde elas fossem, a sensação iria estar junto, mas pelo pouco que conheci da Beatriz, e por ser determinada como Sara vivia falando, ela seguiria em frente, se não fosse por ela, seria pela filha.
Enfim, fevereiro começou e com ele as reuniões de professores e diretoria da escola, com novos planos de melhorias. Março entrou e saiu, como previsto, a menina não apareceu na escola, já esperava por aquilo. Quando toda aquela poeira abaixasse, procuraria saber o endereço delas e pessoalmente levaria o retrato que havia pintado de Sara e Izzie, virou um desejo pessoal meu, fazê-lo.
Segunda começou, abril chegou e trouxe o clima de páscoa, as crianças começaram a pintar seus ovos e coelhinhos, tudo muito colorido e também, muita bagunça, porque me misturava a eles e adorava aquela sensação de liberdade que tinha com meus alunos. A turminha da manhã era animada, mas os da tarde venciam eles facilmente.
Com os alunos animados seguimos até meio dia, quando nos despedimos, conversei com alguns pais na saída e voltei para a sala dos professores onde almocei com as professoras presentes, Ana chegou meia hora depois, corrida como sempre, só tomou um lanche e correu para sua sala novamente.
Consegui descansar um pouco e fui recepcionar meus alunos na porta da sala como sempre, hoje iríamos trabalhar na quadra, o espaço era maior e tinha mais liberdade para eles. Quando todos chegaram, começamos a nos dirigir para lá, até ouvir um gritinho agudo atrás de mim.
– Tia Pam... Tia Pam...
Olhei e lá estava a pequena Izzie correndo em minha direção e se jogando em meus braços, sorri segurando-a firme, dizendo-
– Oi, meu amor, você está por aqui ainda, que saudades eu estava de você – apertei a criança forte olhando em direção de onde ela veio correndo, não encontrei ninguém, voltei para ela perguntando – quem veio trazer você, anjo?
– Tia Lara, ela foi emboia e volta depois.
Sorri escondendo meu desapontamento, perguntei novamente.
– Como você está?
– To bem...
Abaixou a cabeça tristinha, apertei ela ainda mais em meus braços sentindo por ela estar daquele jeito, abatida e com o olhar triste.
– Hei, que tal a gente desenhar um montão de coisas hoje? – Ela desceu de meu colo animada indo de encontro com os amiguinhos, depois retornou fazendo gesto com o dedinho para que eu me aproximasse, sorri me abaixando. – O que foi meu bem?
– Tia Pam, eu ia trazer a Lucy para você ver, mas a minha tia Lara não deixou – abaixou a cabeça dizendo tristinha, sorri perguntando.
– Quem é Lucy, meu bem?
– Lucy, é minha cachorrinha, minha mamãe me deu.
– Olha só, um dia quero conhecer ela, gosto de cachorrinhos.
– Vou falar com minha mamãe.
Sorriu correndo feliz, falando muitas coisas ao mesmo tempo, estava mais animada, seguimos para a quadra, ainda olhando para trás na esperança de ver alguém, mas sabia que não iria.
Passamos a tarde muito animada, todas as crianças recepcionaram Izzie muito bem, ela era uma criança cativante que levava alegria aonde ia, tempos depois, consegui visualizar o belo sorriso dela, estava feliz de vê-la novamente e saber que não tinha ido embora.
Passamos a tarde assim, quando chegou a hora de nos despedirmos fiz questão de ficar com ela até alguém vir busca-la, porém outro desapontamento, apesar da pessoa ter algumas características marcantes com a da mãe, inclusive os olhos verdes mais lindos que já vi, ainda assim não era ela.
– Tia Laraa...
A menina soltou minha mão e correu em direção a tia que a recepcionou com um abraço e um beijo, veio em minha direção dizendo.
– Olá, meu nome é Lara – esticou a mão em minha direção sorrindo – sou tia da Izzie, a Bia deve ter deixado meu nome como responsável para pegá-la esses dias, acredito que ela tenha vindo essa manhã resolver isso?
– Oi, sou a professora Pamela! – Estendi a mão apertando da moça simpática que apertou. ainda sorrindo, disse. – Sim, está no caderninho dela também, não a vi pela manhã, mas depois da recepção dessa fofura, não tenho dúvidas.
– Que bom, minha irmã tem andado meio “desligada” esses dias.
– Eu entendo, é compreensível pelo que ela acabou de passar – passei a mão no rosto da menina que estava deitada no ombro da tia, sorri dizendo – se eu puder fazer alguma coisa?
– Vocês eram amigas?
– Conversávamos pouco, na verdade tinha mais contato com Sara.
– É sempre bom ter um rosto conhecido por perto, eu até tentei fazer com que elas ficassem comigo na capital, – ajeitou a menina no colo que começou a cochilar – mas a minha irmã é difícil de se convencer – sorriu triste, continuou – além disso, Izzie precisava voltar para a escola, vim passar uns dias com elas para ajudar no que der, mas logo retorno e se você puder aparecer uma hora ou outra, acredito que ela vá gostar.
– Claro! – Fiquei ansiosa, tentei não demonstrar tanto entusiasmo. – Talvez na semana que vem, essa estou meio apertada com as crianças na escola e em casa.
– Agradeço, Pamela, deixo o convite então – esticou a mão me cumprimentando – nos veremos regularmente, já que virei buscar e trazer minha sobrinha durante alguns dias.
– Certo, manda um abraço para a Beatriz, estimo melhoras para ela e toda a família.
– Agradeço, tenha uma boa tarde!
– Obrigada, igualmente!
Ela se despediu sorrindo, dei um beijo na testa da Izzie que adormecida me deu tchau.
Sorri vendo as duas se afastarem, uma sensação estranha tomou conta de mim, não sei explicar, uma mistura de ansiedade e medo.
– Pam?
Virei assustada com Ana tocando meu ombro.
– Que foi mulher, viu um fantasma?
– Você me assustou, nossa.
– Isso que dá andar tão distraída – me olhou meio desconfiada perguntando na sequência – você está bem?
– Estou sim, já está indo embora?
– Sim, vai querer carona?
– Sim, por favor... – inspirei fundo passando a mão nos cabelos. – Vou pegar minha bolsa e já venho.
Corri em direção a sala onde estava, guardei o material que estava espalhado, passei na sala dos professores pegando minhas coisas e segui para casa com minha amiga, no caminho ela quis saber o que tinha acontecido comigo mais cedo. Disfarcei apenas, nem eu mesma saberia dizer o que tinha acontecido, e assim seguimos para casa.
Os dias foram passando, e quando entramos na semana da páscoa tivemos a primeira notícia do ano, essa que me pegou desprevenida.
– Bom dia, Ana!
– Bom dia, Pam, tudo bem?
– Mais ou menos, hoje tive que vir a pé porque meu carro resolveu que não queria funcionar – entrei na sala dos professores, praticamente me jogando no sofá, minha amiga me trouxe um café que agradeci, perguntando em seguida – tudo bem por aqui?
– Tudo ótimo, ficou sabendo da doação que recebemos essa semana?
– Não, que doação?
– Ainda não sabem quem o fez, segundo o advogado que veio representar a pessoa, ela não se identificou, – tomei meu café olhando-a que dizia sorrindo – mas é uma quantia que pode e muito ajudar na sua proposta de investir na Arte infantil.
– Como sabe que a escola vai investir nisso? – Levantei não dando muita atenção a ela. – Já me ignoraram e muito quanto aos meus pedidos de melhoria nessa área.
– Mas agora é diferente, Pam – ela veio até mim, segurando meu braço me fazendo olhá-la – ainda não conversei com a Cintia sobre, mas ouvi boatos, e segundo Isabel, essa era uma das condições proposta pelo doador.
– Ana, não estou conseguindo entender onde quer chegar.
– Você está lentinha hoje minha amiga, acorda – me sacudiu pelos ombros me fazendo rir, disse na sequência – eles doaram o dinheiro, com a condição de você ser uma das beneficiárias, aliás, você não, seus alunos.
– Está falando sério?
– Sim minha amiga, vamos ter uma reunião daqui a pouco com nossa querida diretora, até onde sei, ela está dando pulinhos de alegria.
– Deve ser um dinheiro muito bom para trazer alegria aquela pessoa.
– Bom dia, meninas.
– Bom dia, Isabel, como vai?
Perguntei voltando para o meu lugar, ela sorriu em minha direção dizendo.
– Está com tudo em Pamela, até doações em seu nome andam fazendo para a escola.
– Não estou sabendo de nada, se quer saber a verdade, Isabel.
– Mas acredito que você saiba, já que está com essa cara de quem entendeu tudo.
Ana se aproximou dela questionando, a outra deu de ombro apenas dizendo.
– Não sei de nada, e se soubesse, – pegou a bolsa saindo – não seria eu a dizer a vocês.
– Um dia ainda dou uma surra nessa mulher – olhei para minha amiga rindo e disse.
– Não vale a pena se sujar por nada, Ana, esquece ela.
– Fala para eu esquecê-la? – Olhei para ela concordando apenas, sorriu continuando. – Se você não tivesse se envolvido com ela e a trazido para cá com sua “indicação”, eu não precisaria ter que aguentá-la por esses deboches.
– Que isso minha amiga – sorri, outras professoras entraram e disse apenas – não dê tanta atenção, é isso que ela quer.
– Veremos.
Sorri apenas, nos entrosamos com as professoras na sala, e logo fomos chamadas na sala de reunião, onde nossa diretora iniciou seu discurso como sempre, parecia até que ela queria se candidatar a eleição com tanta enrolação. Enfim, chegou ao ponto em que estávamos interessadas.
– Como muitos sabem, recebemos uma doação, o que pode em muito melhorar a escola, já que precisamos de algumas reformas de imediatas e não atingimos o valor referente, nas festas que fizemos no final do último ano, para arrecadarmos o dinheiro.
– Já descobriram quem foi o doador?
Uma das professoras perguntou ao meu lado, Cintia seguiu dizendo.
– Ainda não, o que sabemos é que foi uma mulher e ela tem uma filha matriculada em nossa escola.
– Disseram os motivos? – Ana perguntou ao meu lado, e a diretora voltou a falar.
– Um dos motivos é que essa pessoa quer investir em Artes – remexi na cadeira quando a diretora olhou em minha direção – outro dos motivos é que sem a ajuda de Pamela, isso não teria acontecido, por isso, – ela veio em minha direção me pegando pela mão e me levou para a frente de todas, dizendo – em nome de nossa escola, agradeço por ter sido uma ponte para isso ter acontecido.
Todos aplaudiram seguindo o entusiasmo da diretora, como Ana disse, ela estava dando pulinhos de alegria, sorri agradecendo e dizendo em seguida.
– Fico muito feliz, Cintia, de coração, pois tenho essa escola como segunda casa, mas lhe garanto, não tenho nada a ver com isso.
– Bom, se não sabe quem é, a pessoa sabe de você e quer ajudar a melhorar a sua área de atuação, e começaremos por ela.
E deu seguimento na reunião, dizendo em que usaria uma parte do dinheiro, sinceramente, não queria estar envolvida naquilo, mas fiquei curiosa quanto ao saber quem havia feito a tal doação. Não deixei transparecer isso e seguimos para nossas salas de aula, onde meus alunos não tardaram a chegar e ocuparem o meu dia com a alegria contagiante deles.
No final do dia cansada, Ana me deu carona até em casa, entrou comigo e passamos algumas horas conversando, até nos despedirmos. Voltei para o interior da minha casa, precisava pintar, corri para o banheiro para tomar banho e tirar aquele cansaço do dia de minhas costas, depois fui em direção ao meu pequeno ateliê, sentei ajeitando a mesa e comecei a rascunhar, aproveitei que era sexta e me deixei levar.
Entretida ali nem vi que passava da meia noite quando terminei meu desenho, fiquei admirada, pois não era um desenho qualquer, e sim o rosto de alguém. Sorri admirando o meu trabalho, passei o dedo de leve sobre o papel traçando o contorno do rosto dela, me perguntando.
– Como pode tomar o meu pensamento assim, moça?
Sorri, dessa vez triste, pois sabia que aquele era um sentimento impossível, ela jamais seria minha.
Inspirei fundo e levantei deixando para trás o sorriso daquela mulher que me cativava cada dia mais, queria não pensar tanto nela, mas era impossível não o fazer, principalmente depois do último dia em que nos vimos.
Tomei um banho de água gelada agora, deitei na cama olhando pela janela, aquelas lágrimas que eu enxuguei, queria poder fazer alguma coisa para aplacar a dor que ela sentia. Mas, estava longe do meu alcance fazê-lo, inspirei fundo e com o coração apertado fechei os olhos, finalmente depois de longas horas consegui adormecer, mas foi apenas para sonhar com aquele rosto marcado pelo sofrimento.
Acordei sem inspiração naquele sábado, movida pela necessidade, levantei e comecei o dia, até porque, não podia ficar o dia todo na cama esperando as coisas caírem do céu. No domingo, Ana veio almoçar comigo, trouxe seus filhos o que me animou um pouco, a galerinha era bem agitada, fiquei até animada em cair na piscina com eles, na parte da tarde, por conta daquela agitação toda, acabei organizando minhas coisas para o dia seguinte e adormeci cedo.
A manhã de segunda foi tranquilo, tive que mudar de sala com meus alunos, pois a sala de artes iria começar a ser reformada, Cintia estava levando a sério aquela cláusula do contrato de doação. Estou vibrando por dentro, faz anos que venho pedindo para a diretoria melhorar aquela sala e comprar materiais novos, os que eu tinha lá eram frutos de doações e já estavam bem gastos, agora posso ter a certeza de que veria aquela sala da forma que eu sempre sonhei em ver.
Fim do capítulo
Boa tarde, meninas, tudo bem?
Agora vamos começar com o desenrolar da história... bora torcer para a Bia e a Pam, ambas merecem uma segunda chance no amor...
Bjs... uma ótima semana para vocês.... se cuidem e até a próxima...
Bia
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Bia Ramos Em: 11/07/2025 Autora da história
Boa tarde Nova, tudo bem?
Sara foi e sempre será um elo muito grande na relação das duas... Ambas agradecidas por isso... E nós tbm, por ela ter participado, embora pouco, mas deixou sua marca na história
Agradeço o comentário...
Bjs, se cuida
Bia