Caps. 4 – Bia – Voltando para casa
O dia amanheceu chuvoso e triste, apesar de ter tentado, não consegui dormir aquela noite, comecei a arrumar nossas coisas cedo, não via mais aquele apartamento como nossa casa, aquelas paredes não me traziam boas lembranças. Fui até a sala juntar os brinquedos de Izzie, tão bagunceira quanto eu, sorri, Sara ficava louca com nossas bagunças.
Um sorriso bobo transpassou meu rosto ao lembrar daquilo, estava quase juntando tudo quando vi algo brilhoso embaixo do sofá, era um DVD fora do lugar, Izzie deve ter tirado para brincar e não guardou, levantei e o coloquei no aparelho, ligando a tv. Quando começou a reproduzir, sentei, era o vídeo do nosso casamento, assisti o começo, passei algumas partes e parei aleatoriamente.
“...
– Amor, você não faria isso comigo, não é?
– Você fez comigo, e estão todos esperando que eu o faça.
– Malvada!
– Fica paradinha que só vou passar um pouco.
...
– Beatriz, eu vou te matar! Você disse que ia passar só um pouco.
– Você sabe que não vai me pegar na corrida, nunca pegou.
– Uma hora você vai parar e pego você dê jeito, vai ver...”
– Tinha esquecido dessa parte do nosso casamento, amor – sorri com um fio de lágrima rolando em meu rosto – de fato você me pegou de jeito, não foi?
Inspirei fundo sorrindo boba, avançando o vídeo, outra cena que me chamou atenção.
“...
– Olha como você me deixou? Cheia de bolo no rosto e cabelos.
– Vem cá vem, eu ajudo você, mas promete não me bater?
– Deixa de ser boba, quando foi que consegui cumprir uma promessa de te matar?
– Só se for de amor, isso você faz todos os dias...
– Nossa, como vocês são melosas. Credo.
– Fica nos filmando escondida e ainda não quer ouvir as coisas.
– Foi um acaso, mas já que me descobriram, Bia, resuma a Sara em uma palavra.
– Sério? Uma só, nossa! Vou ter que pensar.
– Não pense, apenas diga, deixa de ser boba.
– Você é tão chata Lara, está bem... Única, Sara é única para mim, em todos os aspectos.
– Ownn amor... Te amo sabia...
– Hei vocês duas, estou filmando aqui... Hei...”
– Esse dia foi perfeito – olhei para a porta e lá estava minha irmã, sorrindo.
– Oi, não sabia que estava aí – desliguei a tv, passei a mão em meu rosto limpando as lágrimas que caíram sem eu conter.
– Cheguei a pouco – senti o abraço forte dela, logo em seguida dizer – vocês eram perfeitas juntas, nunca duvidei de que seriam felizes.
– Foram os melhores anos de minha vida, Sara trouxe alegria para os meus dias...
Inspirei fundo sentindo seu abraço protetor, sorri quando ela colou nossos rostos, em seguida disse dengosa.
– Porque precisa voltar, se não quer ficar aqui, vem comigo para minha casa?
– Precisamos ir, Lara, Izzie já perdeu um mês de aula, e eu preciso trabalhar.
– Sabe muito bem que ela pode ser transferida, e seu trabalho pode fazer de qualquer lugar.
Sorri levantando, recolhendo o restante de brinquedos que ainda estavam espalhados no chão, disse.
– Não vou mudar a rotina da minha filha, ela tem os amiguinhos dela lá, os conhece desde que começou a estudar.
– Ela precisa conhecer crianças novas, não acha?
– Não força, La, não levo jeito mais para cidade grande, e se está tão preocupada assim, vem conosco – sorri – pronto, está de férias mesmo, tem o que, vinte dias?
– Quinze.
– Então, vamos, assim você conhece o lugar e vê que não é o fim do mundo como costuma dizer.
– Já fui uma vez lá, esqueceu? É sim o fim do mundo – ela se emburrou e sorri dizendo.
– Por mim e pela Izzie então, pode fazer esse sacrifício?
Revirou os olhos e se debateu no sofá, nem parecia que era a irmã mais velha, quando levantou disse.
– Está me devendo essa.
– Eu pago com todo o prazer – a abracei forte sorrindo.
– Que horas pretendem ir?
– Vamos almoçar com Albert e Deise e em seguida seguimos viajem.
– Tenho esperança de Deise tentar convencer você, então? – Sorriu vitoriosa, balancei a cabeça dizendo.
– Eles só me convenceram a ficar porque Albert iria fazer o lançamento do livro dele, e tinha o testamento de Sara que seria lido na mesma semana, além disso, ainda ficamos uma semana a mais do que o pedido, não vão me convencer dessa vez.
– Droga, mulher teimosa.
– Às 14h em ponto saímos da cidade, vai conosco em nosso carro?
– Não, vou com o meu, se eu me arrepender volto amanhã mesmo.
– Que isso, cadê seu espírito aventureiro?
– Nunca tive... – saiu dando de mão, sorri balançando a cabeça, antes de fechar a porta disse – pelo menos posso almoçar com vocês? Estou com preguiça de cozinhar.
– Claro sua folgada, vou ligar para a Deise dizendo que vou levar mais uma para se alimentar.
– Obrigada, nos vemos daqui a pouco.
– Tá bom, te amo.
– Também amo você.
Mandou um beijo e saiu, Izzie apareceu toda descabelada se jogando em meus braços, sorri a confortando, estava muito tristinha naqueles dias, além de Sara que ela perguntava a cada segundo, os amiguinhos da escola e a professora dizendo sempre que estava com saudades.
Voltamos para o quarto onde dei um banho nela, depois voltamos para a cozinha, preparei seu leitinho, algumas bolachas, fiquei observando-a comer, ainda estava abatida, tive uma ideia, sorrindo disse.
– Que tal você ir escovar os dentinhos, aí vamos passear para comprar o seu presente?
– Não quelo pesente.
Disse emburrada, me aproximei tocando se queixo, levantei fazendo ela me olhar, sorri dizendo carinhosa.
– Esse eu aposto que você vai querer – me ajoelhei na sua frente que ainda não queria me olhar, sorri arqueando a sobrancelha – você vivia falando tanto em ter um “au au”, agora não quer mais, que pena, a mamãe ia comprar um para você.
– Eu quelo um au au... eu quelo...
– Então eu preciso ver um sorriso nessa boquinha linda, depois que escovar os dentinhos e deixar eles bem branquinhos.
– Oba, oba... Tá bom...
Me abraçou forte, depois foi correndo para o quarto, me levantei indo atrás dela sorrindo, lá ela estava toda agitada, falava pelos cotovelos e finalmente em dias pude ver a gargalhada da minha filhota dentro de casa, sorri, tinha tomado a decisão certa.
Quando ela finalizou, saímos em nossa busca, mas primeiro, passei na casa de uma amiga, estava devendo uma visita.
– Amor, vamos passar na casa da tia Lenah e depois vamos buscar seu “au au”, está bem? – Cruzou os braços se emburrando novamente, olhei pelo retrovisor vendo o biquinho dela, lembrei de Sara, sorri, naquilo elas eram bem parecidas. – Você não quer ver a Juju, ela também tem um “au au”?
– Não, eu quelo o meu! – Fez carinha de choro, como sair daquilo, sorri dizendo.
– Você pode dizer a ela que vai ganhar um, e ela pode te ajudar, o que acha?
– Unhum...
Limpou os olhinhos, parei o carro na frente da casa de Helena, nossa madrinha de casamento, e velha amiga, nos encontramos rapidamente no velório de Sara, e tinha prometido ir na casa dela antes de viajar. Saí do carro, abrindo a porta de trás tirado o cinto de Izzie, passei a mão em seu rosto.
– Cadê o sorrisão da mamãe? – Virou o rostinho, sorri fazendo cócegas e ela se entregou. – Vai ser rapidinho, eu prometo.
Peguei sua mãozinha e seguimos para a porta, toquei a campainha e logo a dona da casa nos recepcionou com abraços e beijos, Izzie, logo se alegrou quando a Júlia apareceu correndo, se abraçaram e entraram, segui atrás com minha amiga abraçada a mim, perguntando.
– Sei que não precisa perguntar, pois está estampado no seu semblante, mas como você está? – Sorri, seguimos para a sala onde nos sentamos, respondi.
– Sobrevivendo um dia após o outro.
Desviei os olhos, inspirando fundo, ela segurou minha mão.
– Acredite minha amiga, sei como se sente, embora esteja doendo muito agora, um dia a dor se ameniza um pouco, você só precisa ser forte.
Olhei para ela, minhas emoções estavam a flor da pele, a lágrima saiu sem que eu a controlasse, sorri, dizendo triste.
– A vezes acho que não vou suportar esse aperto no meu peito, sinto tanta falta dela, a dor chega a ser insuportável, se não fosse Izzie, não sei o que seria de mim.
– Nossos filhos nessas horas nos ajudam muito, lembro de quando perdemos o Pedro, se não fosse a Júlia, teria entrado em uma depressão profunda. – A olhei, perguntando.
– Um dia essa dor passa, não é?
– Bia, minha amiga, um dia todo esse sentimento de dor, vira saudade, uma coisa gostosa de se sentir, lembrar não se torna mais doloroso e sim saudoso, todos os momentos felizes voltam, e essa nuvem negra some de nossos olhos, o que você precisa focar, é nas coisas boas que viveu com Sara, os momentos felizes, ajuda muito, sabe que ela não gostaria que ficasse assim.
Concordei sorrindo, passei a mão no rosto limpando a lágrima quando ouvimos a gritaria.
– Mamãe... mamãe... – Izzie e Júlia entraram correndo na sala, cada uma com um cachorrinho no colo. – Juju tem um montão de au au, eu posso ter também?
– Meus Deus! – Olhei para Helena que balançou a cabeça, sorri pegando o filhotinho que minha filha colocou em meus braços. – De onde veio tantos cachorros?
– Nem te conto minha amiga, estou tentando doá-los, mas está difícil achar alguém confiável. – Júlia apareceu com mais um.
– Mamãe, eu quelo... eu quelo... você falou... – sorri, olhei para minha amiga dizendo.
– Saímos de casa hoje em busca de um filhotinho para Izzie, será que viemos no lugar certo?
– Sério, Bia? Nossa, pode levar dois se quiser.
– Calma, não é assim também. – Izzie o pegou de meu colo sentando no chão com Júlia que estava com mais dois, começaram a brincar, ela estava encantada, me olhava ansiosa, sorri. – Se estiver doando mesmo, levamos um, apenas um.
Minha filha levantou correndo e pulando, me abraçou beijando meu rosto, aquilo aqueceu meu coração, voltou para o filhotinho e o abraçou feliz beijando sua cabecinha, me confortou, senti a mão de minha amiga sobre a minha dizendo ao lado.
– Elas são os nossos maiores tesouros.
Concordei apenas, minha filha me olhava sorrindo e feliz, o brilho voltou em seus olhos, sorri dizendo.
– Obrigada, Lenah, trouxe de volta o brilho aos olhos da minha princesa.
– Não fiz nada, Bia, tomou a decisão certa, os animais nos trazem uma paz enorme.
Sorri, não tinha como explicar aquele momento, Izzie se transformou, estava elétrica, sorrindo e brincando, escolheu uma cadelinha linda estilo maltês, uma coloração amarronzada e olhos negros, essa que abanava o rabinho feliz quando ela a pegava no colo, parecia que estavam à espera uma da outra. Ganhou nome, Lucy, combinava com ela.
Uma hora depois que saímos da casa de minha amiga, depois de abraça-la agradecendo, prometendo voltar em breve para visita-la, seguimos para um pet shop que ela indicou, lá compramos todos os acessórios que a nova integrante da nossa família iria precisar, todos no tom de rosa, escolha de Izzie, eu não opinei em nada, apenas paguei, faria qualquer coisa para manter aquele sorriso lindo dela.
Helena disse que Lucy já tinha tomado as vacinas e o vermífugo, mas era para procurar um veterinário assim que chegássemos em casa, para fazer acompanhamento, importante. Seguimos para casa de meus sogros, que nos recepcionaram maravilhosamente, como sempre, Lara encontrou conosco lá, no fim foi aquela choradeira, tentaram me convencer a ficar, mas não podia simplesmente deixar as coisas para trás, tinha compromisso onde morávamos, minha filha com a escola, meus clientes particulares.
Deise chorou com a neta no colo, a considerava como minha mãe, na ausência da minha que morava no interior do Rio com meu pai e irmãos mais novos, não éramos muito ligados, uma longa história. Enfim, quase cedi ao ver a senhora em prantos, mas Albert veio em meu auxílio, ele me entendia, assim conseguiu convencer a esposa de que era a coisa certa a se fazer.
Nos despedimos prometendo voltar no final do mês para visita-los, deixando o convite para eles irem até nós. Izzie, estava animada em voltar para casa, queria contar aos amigos sobre Lucy, aquilo me deu a motivação que precisava. Depois que Sara se foi, sentia que cada passo que eu dava não era o certo ou pelo menos não o bastante, precisava de auxílio, pedia a Deus orientação sempre, para seguir no caminho certo.
Voltamos para o nosso apartamento, pegamos nossas bolsas, os brinquedos de Izzie, tudo o que achava que precisaria, tranquei a porta e não olhei para trás, sabia que se o fizesse, não teria forças para ir em frente. Pegamos a estrada, cerca de duas horas depois avistamos de longe o Portal da Cidade onde morávamos, ajeitei o óculo que estava usando, minha filha animada disse.
– Chegamos em casa mamãe.
– Sim, meu amor, chegamos.
Campos do Jordão, pouco mais de cinquenta mil habitantes, um lugar aconchegante, cidade onde Sara, Izzie e eu escolhemos para viver, depois que decidimos sair de São Paulo. Apesar do pouco tempo, sentíamos como se aquele fosse o nosso lar, compramos nossa casa, Sara costumava dizer que sentia como se estivesse em um tour pela Europa, com as belas paisagens com árvores araucárias e plátanos, além das construções em estilo colonial, típicas da Europa.
Me apaixonei pelo lugar, não por ser calmo e frio também, adorava o frio, mas porque ela me fez enxergar com seus olhos a beleza natural da cidade, o brilho que eu via em seus olhos todas as manhãs quando abria a janela, me encantava. Não fazia ideia de como seria a partir de hoje, sem ela. Mas prometi que seguiria firme e forte, vou fazer de tudo para conseguir cumprir com minha promessa, por ela... por Izzie... por mim.
Fim do capítulo
Bom dia, meninas, tudo bem?
Desculpe-me, era para ter postado ontem, mas o dia foi meio puxado...
Mas, cá estou, bora começar a história e saber como ela correrá a partir de agora...
Bjs... uma ótima semana para vocês.... se cuidem e até a próxima...
Bia
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