capitulo doze: colisão
CAPÍTULO 12. COLISÃO.
O cheirinho de café invadiu o quarto, eu ainda estava enroscada no edredom quando senti um toque suave no meu ombro e a voz baixa da minha esposa dizendo:
— Bom dia, meu amor... trouxe café na cama pra você.
Abri os olhos devagar, piscando tentando me acostumar com a luz do quarto, cuja cortina ela tinha acabado de abrir. Depois disso, Fernanda sorria pra mim com aquela expressão que só ela sabia fazer — uma mistura de encanto e cuidado que me derretia toda. Na bandeja, além do café, tinha pão quentinho, frutas cortadas e um post-it escrito à mão: “Você merece todos os meus bons dias.”
— Vida... — Sorri, me sentando na cama. — Isso tudo é pra mim?
— Só se você for minha — Fernanda respondeu, piscando com malícia.
Dei uma risada baixa e a puxei pela cintura, fazendo-a cair na cama com cuidado, a bandeja foi resgatada por reflexo antes do desastre acontecer.
— Que bom que você trouxe café… — sussurrei, colando os lábios no pescoço da minha esposa — Vai precisar de energia.
Começamos o dia entre risos abafados e, claro, edredom amarrotado. Nos redescobrimos naquela manhã preguiçosa. Nossa intimidade, nosso amor. Cada suspiro uma da outra. Depois de cansar bastante a minha mulher, levantamos de bom humor. Quando chegamos até a sala, com Fernanda nas minhas costas, decidimos que a casa precisava urgentemente ser arrumada.
Colocamos uma playlist animada no volume máximo e dividimos as tarefas. Até passar pano na casa parecia divertido com ela por perto... E era mais gostoso ainda quando ela cantava “mil veces” da Anitta com uma vassoura na mão olhando pra mim.
Dou uma gargalhada nesse momento.
— Não ri, Anna Florence. É quase uma declaração de amor, tá? — disse com desdém
— Uma música que diz que você quer me dar mil vezes? — indago com um sorriso
— Tem declaração de amor melhor?
Ela enlaça os braços ao redor do meu pescoço e eu a beijo, nossas línguas se entrelaçam em um beijo lento. Fico ali, com as mãos na cintura dela, sentindo o corpo de Fernanda colado ao meu. Ela sorri contra os meus lábios, eu mordo seu queixo de leve e sussurro, com aquele meu olhar provocador que sempre a tira do eixo:
— Vai acabar me distraindo de novo, Doutora Alencar?
— Isso seria uma tragédia... — ela responde, sua voz sínica fingindo pesar — logo agora que você aprendeu a limpar o espelho sem deixar fiapo.
— Você é uma cretina.
— E você, uma péssima dona de casa. Mas eu te amo assim mesmo.
Nos olhamos por um instante e rimos. Talvez estivéssemos precisando disso ultimamente... de nós.
Quando terminamos, estávamos exaustas, mas fomos para a cozinha preparar o almoço. Quando abri a geladeira, tive uma ideia.
— Hoje vou fazer fricassê. O seu favorito.
Fê, que estava apoiada na bancada, arqueou as sobrancelhas surpresa.
— Sério? Você vai cozinhar pra mim?
— Sério. Só porque te amo.
Ela caminhou até mim devagar e me abraçou por trás, encostando o rosto nas minhas costas.
— Você é a melhor coisa que me aconteceu. E eu morro de medo de te perder por qualquer besteira...
Congelei por um instante.
Senti um aperto silencioso no meu peito, aquilo soou mais preocupante do que deveria. Estava com a lata de milho e o abridor ainda na mão, me virei com cuidado.
— Fê... por que você tá dizendo isso?
Fernanda hesitou. Abaixou os olhos, fingiu procurar algo na gaveta dos talheres.
— Não é nada, amor. Só... só tô sensível hoje, esses dias, sei lá.
Segurei seu pulso com delicadeza, fazendo-a se virar de novo. Dei um beijo em sua testa, um beijo calmo e íntimo.
— Pode confiar em mim. Me conta o que está acontecendo... de verdade.
Os olhos de Fernanda encheram d’água, mas ela engoliu em seco e respirou fundo.
— É só bobagem da minha cabeça. Insegurança boba. A gente anda tão distante às vezes, brigando, e... — ela sorriu de canto, com esforço. — Eu só não quero estragar o que a gente tem.
A olhei por alguns segundos, a estudando. Porém, naquele momento, preferi acolhê-la ao invés de pressionar, mas ainda assim, algo nela me dizia que havia mais. Que aquilo não era só um medo passageiro.
Ela estava escondendo alguma coisa.
Nossos olhares ficaram fixos por alguns segundos, foi então que a música mudou. As primeiras notas suaves de Enchanted, da Taylor Swift, começaram a tocar no fundo e um arrepio percorreu meu braço.
Fê olhou surpresa, reconhecendo a melodia na hora e seus olhos brilharam... ela lembrou. Aquela era a música. Ela vivia cantando pra mim quando começamos a namorar, quando ainda estávamos descobrindo o que sentíamos. Ela dizia estar encantada por mim.
Sem dizer nada, puxei sua mão com delicadeza e a trouxe pro meu peito. Envolvi Fernanda num abraço apertado, embalando nossos corpos no ritmo suave da canção.
— Então vamos cuidar disso juntas. — sussurrei contra o ouvido dela.
Ela assentiu, com o rosto encostado no meu pescoço, e ficamos assim, dançando no meio da cozinha, como se o mundo inteiro estivesse em silêncio só pra nós.
Mas então, o som da música mudou — Enchanted deu lugar a uma batida animada qualquer da playlist, e Fernanda logo fez uma piada:
— Se você não for logo pro fogão, esse fricassê vai virar lenda.
Sorri com a provocação, tentando acompanhar o tom leve... mas aquele aperto no peito não passou.
Ainda não.
🎶❤
— Acho que vou ficar em home office hoje. Dá tempo de buscar a Cecília mais cedo na casa dos seus pais.
— Então eu também fico — ela respondeu de imediato — A gente faz companhia uma à outra.
Fomos juntas para o escritório da casa, nossas mesas frente à frente. Ligamos os notebooks, colocamos os fones e cada uma ficou afundada em documentos.
Eu estava respondendo alguns e-mails e solicitando ao RH novos currículos para a vaga de secretária jurídica, quando recebi uma ligação de Roberta.
— Anna, dá uma olhada na última movimentação do Caso Zhang. A coisa esquentou de novo. Só pra você ficar ciente do que está acontecendo.
Abri os arquivos com um leve suspiro, olho de relance para Fê e ela está realmente concentrada em alguma mensagem em seu celular, seu semblante era sério. Naveguei até o site do Tribunal de Justiça e digitei a numeração do processo, navegando até a movimentação mais recente: Áurea Zhang entrou com petição para autorizar a venda da empresa para a Vértice Cosméticos, concorrente direta. Do outro lado, Camila Zhang protestava com base no desejo do pai, dizendo que ele deixou claro em vida que a empresa não seria vendida.
A contestação havia sido enviada por Fê há poucos minutos.
Merda. Começou.
De curiosidade, acessei o sistema de arquivos da Florence-Baldez, a qual eu tinha acesso direto da minha casa para verificar se Jian Zhang havia deixado algo escrito no testamento sobre a venda da empresa. Franzi o cenho. O histórico de acesso aos documentos do cliente: Arquivos acessados por último em 25/03/2025.
Eu estava em Fortaleza nessa época. Em uma palestra. Meu notebook no escritório de casa, como sempre. E Fernanda, em casa, com acesso ao meu sistema. Mas nós tínhamos um acordo. Cada uma respeitava seu próprio espaço. Tanto que as mesas eram separadas.
Porr*.
A Florence-Baldez era toda integrada: se meu computador na empresa estivesse ligado, mesmo em repouso, tudo podia ser acessado — pastas, históricos, arquivos. E eu sempre deixava ligado pra poder acessar de casa.
Virei lentamente a cabeça, encarei Fernanda.
Tirei os óculos. Só os utilizava em casa para descanso e telas, odiava óculos de grau o dia todo no meu rosto. Minha esposa estava fazendo algumas anotações em seu bloco, mas digitava fervorosamente no notebook.
Desviei meu olhar para a tela. Abri uma planilha no excel e, disfarçadamente, comecei a montar uma linha do tempo. A primeira movimentação do Caso Zhang havia sido feita poucos dias depois daquela abertura nos arquivos da empresa. Comecei a lembrar de todas as vezes que perguntei como ela conseguiu o caso e ela se enrolou. As vezes que perguntei como ela conheceu Camila Zhang e ela deu uma resposta robotizada, inclusive ontem.
Olhei para Fernanda novamente. Não estava acreditando que a minha esposa havia feito isso... eu estava com outro peso no olhar. Estava tensa, imóvel. Eu olhava para ela e não conseguia acreditar no que ela, que odiava jogos de poder, havia feito.
Isso não era só uma quebra de confiança. Era crime.
Concorrência desleal.
Violação de dados sigilosos.
Lei da Propriedade Industrial, artigo 195, inciso XII. Acesso mediante fraude.
E, se ela realmente acessou meu sistema pessoal, mesmo sem quebrar senha, poderia entrar no guarda-chuva da Lei Carolina Dieckmann.
Eu conhecia o peso daquilo. Fernanda também.
Mas por que ela teria feito isso?
Por ego? Por ambição? Por insegurança?
Levantei os olhos devagar.
Fernanda estava diante de mim, a mulher que eu amava, a mãe da minha filha...
E, de repente, também uma estranha sensação que talvez... ela tivesse cruzado uma linha da qual não se volta.
— Maria Fernanda, precisamos conversar.
Fim do capítulo
Bom dia, meninas!
O dia começou e eu resolvi atualizar mais um capítulo pra vocês!
É hoje que vocês me matam, hein hahaha
Como vocês acham que essa história será desenrolada? Vocês acham que Anna vai surtar? Perdoar? Entender? Comentem!
Até semana que vem! Bjssss
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HelOliveira
Em: 29/05/2025
Eu surtei...Anna pelo menos chamou para conversar, é um começo né.....agora estou torcendo para que a Fernanda tenha uma boa justificativa se é que existe ....
Ansiosa para o próximo capítulo
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Lea
Em: 28/05/2025
Por essa não esperava!!! Fernanda!!!
nath.rodriguess
Em: 30/05/2025
Autora da história
Nem a autora esperava, acredite.
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Mmila
Em: 28/05/2025
Eita, vam aí, tiro, porrada e bomba!
nath.rodriguess
Em: 28/05/2025
Autora da história
Eu poderia falar para vocês se acalmarem, mas vou ser bem clara: VEM SIM.
Tiro, porrada, bomba e tudo o que mais vocês imaginarem hahaha
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nath.rodriguess Em: 30/05/2025 Autora da história
Será que é um começo ou é o começo do fim?
Eis o questionamento.