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Entre Votos e Silencios por anonimo2405

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Palavras: 16760
Acessos: 936   |  Postado em: 17/05/2025

Ela Me Viu

Assembleia Legislativa – Corredores / Gabinete de Verena – Final da Tarde

O barulho dos saltos de Verena ecoava pelo corredor como se cada passo estivesse pronto para explodir. O blazer escuro cobria mal o caos interno. A cabeça fervia — o vídeo, o dossiê, a pressão da mídia. Os olhos pesavam como chumbo depois de mais uma noite mal dormida no seu “novo” quarto. E como se não bastasse, a lembrança do nome de Valentina escapando no momento mais íntimo ainda a assombrava.

Virando o corredor apressada, mal olhou para frente e —

— Ai! — exclamou Valentina, quase derrubando uma pilha de pastas que acabara de pegar na recepção.

Verena estacou. As mãos foram instintivas até o braço da menina, segurando firme.

— Você... — a voz saiu sem ar, o olhar grudado na boca da garota por um segundo a mais do que devia. A pele quente sob os dedos. O cheiro de lavanda suave no ar. Tudo pulsava.

Valentina congelou. O coração acelerado parecia querer rasgar o uniforme. Sentia o olhar da deputada queimando cada pedacinho de sua presença. Engoliu seco, as bochechas em brasa.

— Me desculpa, deputada... — murmurou, sem saber exatamente pelo quê.

— Tá tudo bem... — disse Verena, sem conseguir soltar o braço de imediato. Parecia hipnotizada.

Foi nesse momento que Rafaela surgiu saindo do banheiro. A cena lhe caiu como um soco no estômago: Verena ali, estática, segurando o braço da estagiária como se o mundo tivesse parado.

— Opa... licença, Verena, tá me devendo aquela conversa, lembra? — Disse Rafa, com aquele jeito descontraído típico, mas o olhar mais cortante que o habitual.

Verena soltou Valentina com certa relutância, pigarreando. A menina abaixou os olhos e saiu apressada, tentando controlar o descompasso do peito.

Gabinete de Verena – Poucos minutos depois

Verena entrou e bateu a porta. Rafaela a seguiu, fechando com mais calma.

— O que foi aquilo? — Disparou Rafa. — Quer que comecem a sussurrar que você tá assediando estagiária agora?

— Cuidado com o que tá falando. — O tom de Verena já estava mais alto. Ela começou a andar de um lado para o outro, como um animal encurralado.

— Eu tô cuidando de você, coisa que você parece ter esquecido de fazer! — Rafaela ergueu a voz. — Tem vídeo seu rodando a internet, dossiê chegando do nada, e você tá como? Hipnotizada com a garotinha que tropeça nas próprias pernas!

— Pelo menos eu tô tentando descobrir alguma coisa! — berrou Verena, virando de frente pra ela. — Você ficou dias pra nem conseguir saber quem deixou a porr* do envelope na recepção! Isso é tudo que seu talento conseguiu?

Rafaela empalideceu, mas não baixou a guarda.

— Você tá se destruindo, Verena. Eu te avisei. Essa história toda com a Valentina tá te cegando. Eu não sei nem se consigo continuar te vendo assim.

— Ah, ótimo. Já tá querendo pular fora, né? — a voz de Verena saiu como veneno. — Claro, Rafaela, no primeiro sinal de problema você larga o barco. Igual todo mundo.

— Eu tô tentando te salvar, caralh*! — gritou ela. — Mas talvez você nem queira mais ser salva!

Silêncio.

As duas ficaram se encarando, os olhos ardendo, o gabinete mergulhado numa tensão densa, onde cada palavra dita parecia carregar anos de ressentimento.

Verena respirou fundo, passou a mão no rosto. Estava tremendo.

— Você não faz ideia do que tá acontecendo dentro de mim... — disse ela, mais baixo, como se falasse pra si mesma.

Rafaela a olhou, os olhos suavizando só por um momento.

— Faço sim. É por isso que tô aqui. Mas você precisa acordar, antes que seja tarde.

Verena não respondeu. Olhou pela janela, as luzes da cidade começando a acender. O caos não estava só lá fora.

Estava dentro dela também.

Plenário da ALESP – Sessão Ordinária – Tarde de Quarta-feira

A sessão seguia como tantas outras: deputados se revezando ao microfone para discursar, criticar ou enaltecer projetos. Mas o burburinho nos bastidores deixava claro — o ambiente estava mais quente do que o normal.

O vídeo ainda ecoava pelas redes, nos grupos de WhatsApp, nas colunas políticas. E mesmo sem nenhuma prova de irregularidade, o julgamento público já havia começado.

Na mesa diretora, Verena mantinha a postura. Maquiagem impecável, cabelo solto como de costume — mas quem a conhecia bem sabia: havia algo nos olhos dela que denunciava o desgaste. O cansaço. A raiva acumulada.

— Pela ordem, senhor presidente! — pediu a deputada Marina Duarte, da ala conservadora, com um sorriso que não escondia a intenção. — Gostaria de usar o tempo de liderança do meu partido.

O presidente da Casa autorizou. Marina se aproximou do microfone com passos firmes.

— Senhores deputados, senhoras deputadas… Nos últimos dias, temos sido surpreendidos por uma série de eventos que mancham a imagem desta Casa. Eu me refiro, claro, à conduta de alguns parlamentares que, em vez de honrar o mandato que receberam do povo, preferem frequentar festas de luxo e se expor de maneira absolutamente incompatível com o cargo que exercem.

O murmúrio cresceu no plenário. Alguns deputados da base de Verena cochichavam, trocando olhares. Outros apenas cruzavam os braços, como quem assistia a um circo pegar fogo.

— E eu me pergunto, presidente… — continuou Marina, voz embargada de indignação forçada — que exemplo estamos dando à população? A senhora deputada em questão... foi filmada aos beijos com outra mulher em plena festa de despedida de solteira, representando esta Casa! Que mensagem estamos transmitindo?

Verena cerrou os dentes. A mão apertava a caneta com força.

— Isso é um escândalo moral! — concluiu Marina. — E um pedido formal de apuração da conduta da nobre colega será entregue à corregedoria desta Casa ainda hoje.

Alguns aplaudiram. Outros apenas assistiam.

Verena pediu a palavra.

— Pela ordem, senhor presidente.

Foi autorizada.

Ela caminhou até a tribuna, passos lentos, mas firmes. Olhou diretamente para Marina antes de se virar ao microfone.

— Boa tarde a todos. Eu gostaria, antes de mais nada, de agradecer a preocupação da deputada Marina com a minha vida pessoal. Realmente… é comovente.

Um burburinho irônico percorreu o ambiente.

— Agora, vamos aos fatos — continuou. — Eu não cometi crime. Eu não cometi improbidade administrativa. Eu não usei verba pública. Eu não deixei de cumprir nenhuma das minhas obrigações como parlamentar. O vídeo que está sendo usado pra me atacar — porque é isso que está acontecendo aqui — foi gravado sem meu consentimento, em um ambiente privado. Uma festa particular, onde eu estava fora do exercício da minha função pública. A “outra” mulher em questão é minha esposa.

Fez uma pausa. A voz era firme, cortante.

— Alguém aqui pode me dizer se há no Código Penal algum artigo que proíbe funcionários públicos de terem vida pessoal? Porque se houver, eu gostaria de saber. Mas se não houver... o que temos aqui é só mais um exemplo claro de como o machismo e a homofobia ainda falam mais alto do que a ética.

Marina levantou uma sobrancelha. Verena seguiu.

— E digo mais: divulgar imagens íntimas sem autorização é, sim, crime. Isso está na lei. Quem deve estar se explicando é quem vazou. Mas claro… quando o alvo é mulher, quando o alvo é uma mulher que não pede licença pra ocupar seu espaço, aí vale tudo, né?

Um dos deputados mais velhos, do fundo, resmungou alto:

— Menos, deputada. Isso aqui não é palco de lacração!

Verena girou ligeiramente o rosto, olhando em sua direção.

— Não é palco de lacração, deputado. É palco de hipocrisia. — respondeu com calma. — Porque eu nunca vi ninguém aqui levantar a voz quando colega homem foi flagrado em motel durante o expediente. Eu nunca vi ninguém protocolar pedido de cassação por isso. Mas basta uma mulher beijar outra mulher numa festa, fora do horário de trabalho, pra virar escândalo de plenário.

— Isso é um deboche, deputada! — gritou Marina, já em pé.

— O deboche, nobre colega, é vocês fingirem defender a moral enquanto ignoram rachadinha, laranja e desvio de verba passando debaixo do nariz. Isso sim é ofensivo.

O clima no plenário estava insustentável.

O presidente da Casa precisou intervir:

— Deputados, por favor. Vamos manter o decoro. A deputada Verena ainda tem a palavra.

Verena respirou fundo, voltando a encarar os presentes.

— Eu sou mulher. Eu sou gay. E eu sou parlamentar. E nenhuma dessas coisas me impede de exercer meu mandato com dignidade. Mas se alguém aqui acha que vai me ver abaixando a cabeça por causa de um vídeo editado e vazado ilegalmente… é melhor procurar outro alvo. Porque eu ainda tô de pé. E vou continuar aqui.

Saiu da tribuna sob um silêncio tenso. Parte da base aliada aplaudiu discretamente. Alguns servidores, ao fundo, também bateram palmas.

Mas do lado oposto, os olhares eram de fúria contida.

O campo de batalha estava armado.

Gabinete de Verena – ALESP – Fim de Tarde

A porta se fechou com força. Verena jogou os óculos em cima da mesa, chutou o salto de um dos pés e desabou na cadeira de reuniões. O ar-condicionado estava ligado, mas o calor que ela sentia vinha de dentro. O suor colava a blusa social à pele, e o estômago parecia uma pedra.

Rafaela entrou logo atrás, mais contida. Trazia uma pasta em mãos e o celular preso entre a bochecha e o ombro.

— …eu sei, Dani, eu já pedi pra levantar tudo. Vê se consegue alguém que rastreie o IP daquele perfil que começou a espalhar o vídeo, beleza? Me liga se conseguir. — desligou e largou o telefone sobre a mesa. — Foi bonito lá dentro, hein?

Verena soltou um riso amargo, sem olhar pra ela.

— É. Bonito é o nome que tão dando no Twitter também. Com um gif meu e o nome da deputada Marina escrito “cheque-mate” embaixo.

— Você acha que a Marina tá por trás disso?

— Eu acho que isso foi orquestrado, Rafa. O vídeo, o dossiê, o vazamento tudo ao mesmo tempo? — Ela enfim levantou o olhar, olhos vermelhos. — A gente tá sendo cercada. Alguém tá mexendo as peças, e a gente tá sempre um passo atrás.

Rafaela ficou em silêncio. Sentou-se de frente pra ela.

— O que a gente sabe até agora é que o vídeo saiu primeiro em um perfil anônimo, mas depois se espalhou por páginas que vivem plantando coisa contra político da esquerda. E o dossiê…

— O dossiê chegou com meu nome grifado, Rafa. — interrompeu Verena. — Com data de contratos, com valor, com insinuação de desvio. Mas ainda não tem nada concreto. Só que é questão de tempo até alguém fazer a conexão com a ONG.

— Eu tô atrás de quem entregou. A portaria não tem registro, câmeras tão fora do ar por “manutenção”. Coincidência?

— Coincidência é o caralh*! — esmurrou a mesa. — Essa gente tá dentro! Dentro, Rafa. Tão jogando sujo e eu tô aqui brincando de discurso bonito enquanto preparam a forca.

Rafaela se aproximou um pouco, tensa.

— Será que foi mesmo alguém daqui?

Verena fechou os olhos. Um segundo de pausa.

— Eu não sei. Mas… — a voz vacilou — eu me perdi. Eu me distraí. Eu sabia que não podia dar espaço, mas dei. E agora todo mundo sabe que eu tô vulnerável.

— Você não tá. A gente ainda tem saída. — disse Rafaela, num tom mais brando. — Mas tem que decidir: ou joga o jogo pra valer ou vai ser engolida.

— Se eu jogar o jogo pra valer… — murmurou Verena — eu viro o que mais detesto. E perco o que ainda me faz aguentar isso tudo.

Rafaela não respondeu. Só olhou pra amiga com pena, mas sem demonstrar. Sabia que Verena estava se referindo à Valentina.

Um silêncio pesado pairou entre elas. Até que Verena se levantou de súbito, andando até a janela.

— O que mais tem no dossiê?

— Só insinuação. Não tem prova. Mas tem detalhes demais pra ser chute. Alguém tá de olho há muito tempo. Alguém que sabe como você opera.

Verena virou de costas, apoiando as mãos na parede, cabeça baixa.

— Eles querem que eu caia antes de 2026. Querem me tirar do páreo.

— E vão conseguir se você continuar indo pra guerra com o peito aberto.

Verena respirou fundo. Virou-se devagar, os olhos frios de novo, como se colocasse uma armadura.

— Então a gente vai pro tudo ou nada, Rafa. Você cuida do rastreamento. Eu cuido da imprensa. E… do resto.

Verena baixou o olhar de novo, mas dessa vez, havia algo de duro, de decidido em sua expressão. Como se por dentro ela estivesse segurando uma represa inteira prestes a estourar.

— Não vou cair. — disse, mais pra si do que pra Rafaela. — Nem agora. Nem por ninguém.

Mas mesmo enquanto falava, a imagem de Valentina veio à mente. O bilhete. O toque no corredor. O quase-beijo. E por um segundo — só um segundo — a certeza de que estava no controle estremeceu por dentro.

Casa da Valentina – Início da noite

A televisão da sala estava ligada, mas Valentina não prestava atenção. O sofá afundava sob o peso do seu corpo curvado, as pernas encolhidas, uma almofada apertada contra o peito. As imagens na tela passavam como um borrão. Nem sabia o que estava passando — alguma novela, talvez. Mas o som das vozes na cozinha cortava sua concentração como facas invisíveis.

Ana Paula mexia as panelas no fogão. O cheiro de alho e cebola refogados preenchia o ar. Isadora ajudava como sempre, lavando folhas de alface, feliz por estar “cozinhando” com a mãe. Na mesa, Carlos descansava os braços sobre o tampo, conversando em voz alta:

— Tô dizendo, Ana... isso aí é uma pouca vergonha. Não é porque a mulher é deputada que pode sair se agarrando por aí, em festa. E alguém ainda teve a coragem de filmar aquilo... cruzes!

Valentina sentiu o estômago revirar. O garfo caiu da mão do personagem na TV, mas ela nem percebeu. Todo o sangue pareceu correr pro rosto.

— E outra... nossa filha tá estagiando lá! — continuou Carlos. — Você acha mesmo que é ambiente pra uma menina de dezesseis anos?

Ana Paula deu uma pausa no que fazia, ponderando em voz calma, sem levantar o tom:

— Os valores tão todos invertidos mesmo, não vou discordar. A verdade é essa. Mas a gente também não pode criar as meninas no cabresto, Carlos. Não é porque tem podridão no mundo que elas vão se contaminar. A Valentina e a Isadora estão sendo  bem criadas. Têm juízo. Sabem o que é certo.

— Juízo todo jovem acha que tem — ele resmungou. — Até cair numa dessas armadilhas. Hoje é estagiária, amanhã tá envolvida em coisa que nem sabe.

Valentina sentiu o coração martelar no peito. A mão suava em volta do controle remoto. A almofada apertada contra o peito parecia pesar dez quilos. Tentou respirar fundo, mas o ar não entrava direito.

“Até cair numa dessas armadilhas…”

A frase ecoava.

Ela pensava em Verena. Pensava no vídeo. Na forma como o nome da deputada saiu da boca do pai como se fosse sujeira. Pensava em como, dias atrás, ela mesma havia escondido o rosto no travesseiro, pensando no quase-beijo que ainda sentia na pele.

Fechou os olhos. Engoliu seco.

Ela não sabe. Eles não sabem. Mas eu sei. E tá me matando.

Isadora riu de algo que a mãe disse e correu pela cozinha. A cena parecia tão normal, tão tranquila. Valentina sentia vontade de gritar. De sair correndo. Mas ficou ali, imóvel, como quem tenta não afundar num pântano de lama.

Na TV, um repórter agora falava sobre ética na política. A palavra “deputada” apareceu mais uma vez.

Valentina apertou o botão de desligar.

Silêncio.

Só o barulho da panela de pressão na cozinha. E o zumbido constante de uma angústia que não tinha nome — só peso.

Gabinete de Verena – Final da Tarde

A luz do fim de tarde atravessava as persianas do gabinete, lançando faixas douradas sobre o tapete. O ar condicionado zumbia baixo, abafando os sons do corredor. Verena estava sozinha, finalmente. Rafaela tinha saído para uma reunião e a equipe já estava quase toda fora.

Sentada à mesa, a deputada encarava a tela do computador, mas seus olhos estavam perdidos. A cabeça latej*v*. O corpo inteiro parecia doer. Desde o vídeo, do dossiê, da discussão com Silvia e da briga com Rafaela... tudo vinha se acumulando como um terremoto prestes a estourar.

Então, o celular vibrou.

Ela pegou sem pensar. Tela bloqueada. Uma mensagem no WhatsApp.

Número desconhecido. Sem foto. Sem nome.

Ela franziu a testa. Deslizou o dedo.

📸 (imagem)

Verena levou alguns segundos para entender o que estava vendo.

Uma foto. Tirada de longe. Mas nítida o suficiente.

Valentina.

Estava saindo da escola. Mochila nos ombros, fones de ouvido, olhando pro celular. Sozinha.

O chão pareceu sumir sob os pés de Verena. O coração deu um solavanco no peito.

Abaixo da imagem, apenas uma frase:

“Você anda se distraindo demais, deputada.”

Por um instante, tudo parou. O ruído do ar condicionado desapareceu. O sol, o gabinete, o mundo lá fora… tudo ficou em silêncio. Só o som do próprio sangue nos ouvidos.

Ela leu de novo. Uma. Duas. Três vezes.

"Você anda se distraindo demais."

A mão apertou o celular com força. A mandíbula se contraiu.

— Filho da puta… — murmurou, quase sem voz.

Ela se levantou num rompante, a cadeira girando atrás dela. Passou a andar de um lado pro outro, como um animal em jaula. Tentava entender: quem tinha mandado? Como sabiam? Por que Valentina?

A paranoia rugiu como um trovão dentro dela.

Será que estão vigiando a Valentina? Será que ela tá em perigo? Será que isso é por minha causa?
E pior: será que isso tem a ver com o bilhete?

Verena passou a mão no rosto, sentindo o suor frio. O celular ainda tremia na mão.

Ela quase ligou pra Rafaela. Quase.
Mas algo a segurou.

Não. Não posso mostrar isso agora. Nem ela sabe do bilhete. Nem de nada.

Voltou a encarar a imagem. A menina parecia tão inocente. Tão alheia ao que estava acontecendo. Um alvo fácil. Uma brecha.

Ela fechou os olhos. Respirou fundo.

Depois abriu novamente o aplicativo de mensagem. Tirou um print da conversa.

E, sem pensar muito, mandou uma mensagem pra um contato salvo apenas como "Segurança Pessoal":

"Preciso que monitore discretamente essa menina. Nome: Valentina Moraes. 16 anos. Endereço eu envio depois. Alguém a fotografou. Eu quero saber quem."

Enter.

Mas assim que mandou, se arrependeu. O peito doía. O estômago revirava.

— O que eu tô fazendo…? — sussurrou.

A imagem da Valentina, sozinha na rua, voltou à cabeça.

E de repente, tudo ficou pessoal demais.

Apartamento de Verena e Silvia – Noite 21h45

A porta se abriu com um clique seco. Verena entrou em silêncio, carregando o peso de mais um dia infernal nas costas. A expressão era de puro cansaço, o blazer já pendurado no braço, e os olhos... fundos, sem vida.

Ela foi direto pro quarto de hóspedes. O "seu" novo quarto. Um espaço improvisado, com uma cama arrumada demais e nenhum traço de afeto. Jogou a bolsa sobre a cadeira, tirou os sapatos com os pés mesmo e foi até a cômoda procurar algo pra dormir.

Nada. Gaveta vazia.

Abriu o armário.

Duas camisetas dobradas. Uma calça. Nenhuma peça íntima.

Verena ficou parada por alguns segundos, olhando pro nada.

Então lembrou.

As roupas estavam no cesto, no banheiro do corredor. Onde sempre deixava. Onde sempre eram lavadas, dobradas e colocadas de volta no armário.

Respirou fundo, como se engolisse a frustração.

Caminhou até o banheiro. Abriu a porta. Lá estavam elas: as roupas sujas. No mesmo lugar. Da mesma forma. Dias ali. Intocadas.

Verena fechou a porta devagar.

Ficou parada no corredor. O maxilar tenso. A respiração curta. A cabeça latejando.

Foi até o antigo quarto.

A maçaneta não girou.

Ela tentou de novo. Trancada.

— Ah, tá de brincadeira...

Deu dois passos pra trás e bateu.

— Silvia?

Nada.

— Silvia, eu preciso pegar roupa. Tá tudo aí dentro.

Silêncio.

Verena bateu de novo. Mais forte.

— Silvia, abre essa porta!

Do outro lado, a água do chuveiro se desligava. Passos. E então a voz dela, seca, abafada, veio da porta:

— Eu vou arrumar uma mala e te entrego.

Verena cerrou os olhos.

— Como é que é?

— Disse que vou separar suas coisas. Amanhã mesmo te entrego.

— Não. Eu vou pegar. Minhas roupas, Silvia. Eu só quero uma camiseta, uma calcinha limpa, por Deus.

— A porta vai continuar trancada.

— Abre essa merd*, Silvia! — a voz subiu. — Essa casa também é minha. Esse quarto também é meu. Eu não saí, você que me empurrou pra fora!

— Eu só quero paz, Verena. Você não entende isso? — a voz veio mais alta. — Um pingo de paz.

Verena bateu de novo, com a mão espalmada.

— Me deixa entrar. Eu não tô pedindo. Eu tô mandando. Abre essa porta!

Silvia do outro lado, com o roupão ainda úmido, encostada na parede, gritou:

— Pra quê? Pra dormir aqui pensando na outra? Pra procurar o cheiro dela nas minhas roupas?

Silêncio. Verena gelou.

— Silvia... Amor. Eu não falei nome de ninguém, você entendeu errado. Chega disso, abre vai. — A voz saiu mais baixa, rouca.

— Eu sei o que eu ouvi! Eu posso ser otária Verena, mas não sou burra. E nem surda! Eu ouvi! Na minha cama. No meu corpo. Enquanto você me tocava como se estivesse em outro lugar.

Verena apertou os olhos, como se aquilo a atravessasse.

— Eu tava bêbada! Cansada! Tava sobrecarregada, caralh*!

— E eu não? Eu tava o quê? Relaxando? No spa? Esperando você lembrar que tinha uma esposa em casa?

— Você tá distorcendo tudo.

— Eu só tô devolvendo na mesma moeda. Uma partezinha só. Você não aguentou nem isso, olha aí.

Verena perdeu o controle. Deu um soco na porta com o punho fechado.

— Para de me testar, Silvia. Para com essa provocação infantil. Eu tô no meu limite, você não entende?

Silvia respondeu fria:

— Finalmente. Bem-vinda ao inferno que você me jogou sozinha.

Verena ficou ali. Mão doendo. Olhos vermelhos. O peito subindo e descendo, como se cada respiração fosse uma batalha. Do outro lado da porta, Silvia desabou na cama. Silenciosamente. Sem mais gritos. Só lágrimas.

Gabinete de Verena – ALESP 10h12 da manhã

O som das pastas batendo na mesa foi seco, ríspido, como uma chicotada em pleno ar-condicionado. Rafaela levantou os olhos do computador, assustada.

Verena jogou a bolsa na cadeira, abriu o armário, procurou algo que nem ela sabia o quê. Movimentos bruscos. Boca cerrada. Aquela energia sufocante que fazia o ar da sala pesar.

— Bom dia, né? — Rafaela arriscou, com leve ironia.

— Sabe que horas a Valentina chega hoje? — Verena perguntou sem encarar.

— Bom dia pra você também.

— Rafaela... — o tom era tenso. — Sabe ou não?

— Não. Não sei, talvez umas 14h. Mas... por quê?

Verena parou. Ficou ali em pé, uma mão na cintura, a outra fechada num punho. Como se estivesse tentando controlar um vulcão por dentro.

— Me avisa quando ela aparecer. Quero falar com ela.

Rafaela arqueou as sobrancelhas, fechou o notebook devagar.

— Vai me explicar por que você tá agindo como se a menina fosse a chave de algum código secreto?

Rafaela franziu a testa.

— Você tá bem?

— Não. — Verena respondeu, honesta. — Mas quando foi que eu estive?

Ela deu um sorriso irônico e se jogou na cadeira, encarando o teto por alguns segundos. Rafaela fechou o notebook devagar, com atenção.

— Tá... Mas o que foi dessa vez? A Silvia de novo?

Verena riu pelo nariz, um som curto e amargo.

— Silvia, o vídeo, o dossiê, os olhares no plenário, os cochichos no elevador, o assessor do Brandão me olhando torto como se eu tivesse matado alguém... escolhe aí.

— Ou seja, terça-feira. — Rafaela tentou aliviar, mas o clima continuava pesado.

Verena parecia em outro planeta. Mexia no celular como se procurasse algo. Um gesto automático. Mas os olhos estavam vidrados. Focados demais.

— Você tá... estranha hoje. — Rafaela comentou. — Quer dizer, mais do que o normal. Tá com uma vibe de "prestes a morder alguém".

— Vai trabalhar, Rafaela.

— Olha só quem tá carinhosa. — Rafa respondeu, mas com um olhar mais atento agora. Ela conhecia aquela amiga. E conhecia bem demais quando Verena escondia alguma coisa.

Silêncio.

Verena se levantou, foi até o frigobar, pegou uma água e voltou pra mesa. Estava inquieta. O celular em cima da mesa vibrava de vez em quando. Notificações que ela nem lia mais. A mente rodava em círculos.

Rafaela suspirou. Pensou em insistir, mas soltou:

— Tá bom. Não quer falar, não fala. Mas se quiser explodir, me avisa pra eu sair da sala antes.

Verena não respondeu. Só levantou os olhos por um segundo. Culpada. Paranoica. Confusa. Ela só sabia de uma coisa: não podia contar a ninguém daquela foto. Nem mesmo Rafaela. Não agora.

Gabinete de Verena – ALESP 14h12 da tarde

Um toque suave na porta interrompeu o silêncio da sala.

Era a recepcionista.

— Deputada... a estagiária Valentina acabou de chegar. Está na sala de apoio.

Verena congelou por um instante. O nome dela tinha um peso diferente agora.

Ela ajeitou a postura e respondeu com frieza disfarçada:

— Peça que venha até aqui, por favor.

A recepcionista assentiu e saiu. Rafaela observava Verena em silêncio. Os olhos semicerrados.

— Sério Verena?! Você pediu pra recepção vigiar a hora que a menina chega? Pra que esse caos todo?

Verena pegou a pasta mais próxima e começou a folhear, como se fosse qualquer coisa de rotina.

— Um relatório mal organizado. Precisa ser resolvido.

— Claro que é isso. — Rafaela disse, cética. — Porque agora tudo gira em torno de relatório.

Verena manteve o olhar fixo no papel, tentando ignorar. Fingindo. Só que ela não conseguia enganar Rafaela por muito tempo. Mas, por enquanto... ninguém fazia ideia do que estava prestes a acontecer.

Sala da Deputada Verena – ALESP 14h30 da manhã

O som da porta se fechando atrás de si deixou Valentina ainda mais nervosa. Ela já tinha sentido o clima estranho ao chegar quando foi informada já na recepção do seu andar que deveria ir direto à sala da deputada. Mal entrou na sala e Rafaela a recebeu com um aceno contido, e logo disse, com os olhos mais sérios do que o normal:

— A deputada quer falar com você. Agora.

A menina engoliu seco. Ajeitou a roupa e o cabelo e bateu na porta com dois toques leves.

Agora, lá dentro, só o silêncio. Verena estava de costas, fingindo folhear alguns papéis. O cabelo solto escondia parte do rosto, mas a rigidez no corpo denunciava que algo não estava bem. Ela não olhou de imediato. Parecia escolher o momento certo.

Valentina deu um passo à frente, ajeitando a mochila no ombro.

— A senhora me chamou? — perguntou com cautela.

Verena ergueu os olhos devagar, repousando o olhar sobre ela. Um olhar intenso, como se procurasse algo escondido por trás da postura inocente da menina.

— Chamei, sim. Pode se sentar.

Valentina obedeceu, desconfortável. Olhava para as mãos sobre o colo, tentando evitar contato visual. Ainda carregava o peso do último encontro, o bilhete, o quase surto da deputada. Desde então, evitar o gabinete parecia a única estratégia de sobrevivência.

Verena cruzou os braços sobre a mesa. A voz saiu firme, porém serena.

— Precisei revisar alguns relatórios do começo da semana... e encontrei mais um com anexo desorganizado. Achei melhor conversar com você diretamente.

Valentina assentiu, mesmo sem saber ao certo do que ela estava falando.

— Desculpa se eu... errei alguma coisa. Eu posso arrumar, se a senhora quiser.

— Não é só sobre o relatório. — Verena disse, com calma, mas com os olhos fixos nela. — Eu queria entender um pouco da sua rotina. Como você tem equilibrado os estudos com o estágio, por exemplo.

Valentina arqueou as sobrancelhas, confusa. Não era comum a deputada querer esse tipo de conversa. Ainda mais depois de tanto tempo com interações estritamente profissionais.

— Ah, então... eu venho direto pra cá depois da aula, normalmente. Saio do colégio e pego o metrô. Às vezes venho de ônibus, dependendo do horário.

Verena assentiu levemente. Como se aquilo fosse só mais uma informação burocrática. Mas por dentro, o alerta acendia: “Ela anda sozinha... todos os dias.”

— E seus pais ficam tranquilos com isso? — Verena continuou, com uma suavidade ensaiada. — Digo, São Paulo não é exatamente o lugar mais seguro...

Valentina deu de ombros.

— Minha mãe às vezes reclama. Mas a gente não tem carro, então... tô acostumada.

Verena respirou fundo, segurando o impulso de aprofundar. Queria perguntar quem costuma estar por perto. Se alguém a segue. Se alguém estranho já tentou falar com ela. Mas tudo isso pareceria completamente fora do normal.

Ela não podia assustá-la. Precisava protegê-la sem que ela soubesse que estava sendo protegida.

— Entendo. — disse, mudando o tom. — Não estou dizendo que há algum problema... é só que, com tudo que está acontecendo, é importante estarmos atentos. Ainda mais com quem trabalha aqui dentro.

Valentina soltou um sorriso sem graça.

— É... tá bem tenso mesmo. As pessoas comentam muita coisa...

Verena a interrompeu com um olhar súbito.

— O que você ouviu?

A pergunta saiu mais direta do que gostaria. A tensão cresceu. Valentina arregalou os olhos, assustada.

— N-nada demais. Só... sobre o vídeo, essas coisas. É impossível não ouvir quando a gente tá no corredor ou no refeitório.

Verena recuou, se recompôs. Baixou os olhos para os papéis.

— Claro. Esquece. É só excesso de zelo meu.

Silêncio.

A menina não sabia se estava sendo chamada para um alerta, um puxão de orelha ou algo mais. Só sabia que os olhos da deputada a analisavam como se cada resposta sua fosse um enigma.

Verena então se levantou devagar, caminhou até a janela, de costas para Valentina.

— Eu também pedi que você viesse aqui porque... talvez eu tenha me excedido da última vez que conversamos. — falou com uma calma calculada. — Se fui dura demais, peço desculpas.

Valentina piscou, surpresa. Não esperava aquilo.

— Tá tudo bem... de verdade.

Verena virou-se de volta, os olhos mais suaves agora, mas ainda com aquele brilho intenso.

— Quero que saiba que pode confiar em mim. Se algo estranho acontecer... se sentir que alguém está te incomodando, ou se qualquer coisa parecer fora do lugar — ela deu uma pausa —, me avise. Tudo bem?

Valentina assentiu devagar. O coração acelerado, sem entender o que exatamente estava acontecendo. Mas mesmo assim, havia um nó se formando na garganta.

— Tudo bem.

Verena abriu um leve sorriso. Um que não chegava aos olhos.

— Pode voltar. E se puder, revise os relatórios do dia 2 ao dia 4. Só pra garantir.

Valentina levantou. Antes de sair, lançou um último olhar para a deputada. Aquilo tudo ainda parecia um quebra-cabeça sem imagem. Ao sair, cruzou o olhar com Rafaela, que parecia mostrar algo em uma planilha para outro estagiário, mas claramente observava tudo com atenção.

Dentro da sala, Verena voltou para a janela. O vidro refletia o próprio rosto. Cansado, tenso, em guerra. Ela não sabia quem estava jogando com ela. Mas sabia de uma coisa:
ninguém ia tocar em Valentina.

Restaurante em Pinheiros – 14h50 da tarde

A mesa ficava num cantinho reservado do restaurante italiano, bem decorado com luz natural entrando pelas grandes janelas e um pianista ao fundo executando algo leve, quase imperceptível. Silvia mexia a taça de vinho branco esperando pela amiga. Usava uma blusa de linho cru, discreta, o cabelo preso num coque improvisado. A beleza clássica dela contrastava com o ar visivelmente abatido.

Mariana chegou, tirando os óculos escuros e acomodando a bolsa com elegância.

— Você tá linda, mesmo com essa cara de quem não dorme faz três dias — disse, soltando um sorriso cúmplice enquanto puxava a cadeira.

Silvia respondeu com um meio sorriso, cansado.

— É porque não durmo mesmo. Mas obrigada pelo elogio.

Alguns minutos iniciais se seguiram com amenidades em discussão, incluindo a escolha dos pratos. Mal tinham feito os pedidos quando Mariana foi direto ao ponto:

— E então? — disse elegantemente sentada à frente dela. — Vai me contar por que me trouxe aqui com tanta urgência? A confusão com o vídeo?

Silvia soltou um suspiro e girou a taça de vinho branco com leveza antes de responder.

— Não... ou melhor, não só isso.

Mariana ergueu as sobrancelhas, surpresa.

— Não? Ué, depois daquele vídeo de vocês na festa da Luana, eu achei que a crise fosse essa. Achei que fosse tua mãe ligando apavorada, tua tia rezando o terço, essas coisas. E a Verena, claro, enlouquecida com o escândalo.

Silvia soltou um risinho curto e irônico.

— A Verena enlouquecida... sim, ela tá. Mas não com o vídeo.

Mariana ergueu uma sobrancelha.

— Verena de novo?

Silvia deu um riso sem graça e bebeu um gole do vinho antes de responder.

— Sempre ela, né?

A mulher a frente se inclinou um pouco, com um ar de quem já sabia, mas queria ouvir a confirmação.

— O que ela fez agora?

Silvia olhou pela janela, demorando pra organizar os pensamentos.

— É pior do que fazer algo. É o que ela não faz. — virou-se de volta pra amiga. — Ela não conversa. Não explica. Simplesmente me trata como se eu fosse uma inquilina inconveniente... ou pior, uma ameaça. Estamos dormindo em quartos separados. Na verdade dormindo é uma palavra otimista. Eu me deito. Viro de um lado pro outro. Tento não pensar que ela tá no quarto ao lado e tento não ceder. Eu quero que ela sinta pelo menos um pouco do que eu tô sentindo Mari. — A voz saiu carregada de angústia.

Mariana balançou a cabeça, respirando fundo.

— Sil... você não merece isso.

Silvia apoiou os cotovelos na mesa, aproximando-se.

— Eu sei. E mesmo assim... eu ainda amo ela. — sua voz falhou por um segundo. — Me sinto uma idiota.

— Você não é idiota. É só... humana. — Mariana tocou a mão da amiga com delicadeza. — Mas você sabe que a Verena não vai mudar, né?

Silêncio.

Silvia abaixou os olhos, sentindo o peso da frase.

— Eu só... às vezes acho que talvez se ela entendesse, de verdade, como me destrói com esse jeito... — balançou a cabeça. — Mas é como se ela nem se desse conta. Como se a dor que eu sinto fosse invisível.

Mariana se recostou na cadeira, sem perder a ternura no olhar. Os pratos chegaram e começaram a ser servidos com cautela pelo garçom.

— Ninguém muda ninguém, Sil. A gente pode inspirar, influenciar... mas mudar? Isso tem que vir de dentro. E a Verena... bom, você conhece melhor do que ninguém.

Silvia assentiu, olhando pra taça como se buscasse coragem dentro do vinho. Mariana a observava em silêncio, até perceber o leve tremor no queixo da amiga.

— Tem mais coisa, não tem?

Silvia hesitou. Quase falou. Quase recuou. Mas o coração ferido pressionava o peito como uma âncora.

— A gente... teve uma noite. A primeira em semanas.

— E? — Mariana perguntou, com cuidado.

— E... no meio daquilo tudo, no meio de mim tentando acreditar que ainda tinha um "nós"... ela chamou outro nome. — Silvia mordeu o lábio inferior, tentando conter a emoção. — Ela sussurrou... Valentina.

O silêncio que se seguiu foi mais ensurdecedor que qualquer música do pianista. Mariana arregalou os olhos.

— Valentina? Ela disse o nome de outra mulher no meio do sex*?

Silvia apenas assentiu. Mariana largou os talheres sobre o prato, boquiaberta.

— Sil, pelo amor de Deus... como você não pediu o divórcio na hora?

Silvia soltou um sorriso triste. Aquele que carrega anos de tentativas, esperança e vergonha.

— Porque eu sou burra, provavelmente. Ou... porque no fundo eu ainda tenho esperança. Eu não sei.

Mariana suspirou, pegando o guardanapo e passando nos lábios antes de perguntar, cautelosa:

— Você sabe quem é? Alguém do trabalho dela? Alguma cliente do seu escritório?

Silvia pensou. A verdade era que nunca tinha ouvido aquele nome de forma significativa na rotina de Verena. Mas então, como um relâmpago maldito, a lembrança veio.

— A única Valentina que conheço... é uma prima minha de segundo grau.

— Prima?

— Que tá estagiando no gabinete dela. Mas pelo amor de Deus, Mari. Ela tem... sei lá, 16 anos? Isso é completamente absurdo.

Mariana piscou algumas vezes, tentando assimilar.

— Você acha mesmo que não tem nada?

— Eu acho que... — Silvia parou. O que ela achava? O que era pior: cogitar essa hipótese ou admitir que algo tão bizarro pudesse ter um pingo de verdade?

— Não tem como. — Repetiu, num tom mais firme, quase implorando para si mesma acreditar.

— Mas o nome saiu, Sil. E isso não acontece por acaso.

— Eu sei. — Silvia baixou os olhos, mais uma vez. — E é isso que tá me matando.

As duas permaneceram em silêncio por um tempo. O garçom se aproximou, oferecendo mais vinho, mas Silvia recusou com um aceno leve. Estava farta. Do vinho. Da vida. Das perguntas sem respostas.

Mariana, apesar da expressão séria, tocou de novo a mão da amiga.

— Seja qual for a verdade, você precisa se proteger. Não só como mulher. Mas como ser humano. Porque essa história... tá te arrastando pra um lugar que você não merece estar.

Silvia assentiu, com os olhos marejados.

— Eu queria parar de amar ela, Mari. Mas não consigo.

E Mariana, mesmo firme, apertou a mão da amiga de novo.

— Então pelo menos ame a si mesma mais um pouco. Senão essa história vai te engolir inteira.

Gabinete de Verena – Final da tarde

O relógio marcava quase seis. A luz do sol filtrava pelas persianas, criando faixas douradas no chão de madeira do gabinete. A sala estava silenciosa, mas a tensão ali dentro era quase audível. Verena estava sentada à mesa, de blazer escuro sobre a blusa de gola alta, os cabelos soltos caindo em ondas tensas sobre os ombros.

O celular vibrava em cima da mesa. Ela não se mexeu por um segundo. Só ficou olhando a tela.

Contato: "Segurança Pessoal"
Mensagem:
“Tem certeza de que quer mesmo que eu vá fundo nessa? Já consegui rastrear o número da mensagem com a foto. É coisa grande, Verena.”

Ela mordeu o lábio inferior, hesitou. Mas logo pegou o aparelho e respondeu com os dedos firmes:

— "Já passamos da fase do 'ter certeza'. Continue. Me diga tudo que puder. Quem é. Como conseguiu. E por quê.”

Mal apertou o enviar e o telefone tocou.

Verena atendeu na mesma hora, a voz baixa, mas cortante:

— Fala.

A voz do outro lado era masculina, mas discreta. Profissional.

— O número que mandou a foto da menina pertence a uma linha que foi ativada com CPF falso. Chip pré-pago. Mas rastreado. O último ping veio de um prédio na Bela Vista. Escritório pequeno. Comercial. Fui até lá. Nada mais funciona ali há meses. Mas encontrei sinais de movimentação recente.

— Quer dizer o quê? — ela apertou os olhos, encostando-se na cadeira.

— Que não foi uma brincadeira de adolescente. Foi profissional. Pensado. Montado pra parecer descuido, mas com precisão demais. Você foi marcada.

Verena engoliu seco.

— E sobre a menina? Valentina Moraes?

— Nada demais ainda. Estuda em escola pública na Zona Sul. Histórico limpo. Família discreta. Mas... — ele hesitou — tem algo que você precisa saber.

Verena ficou em silêncio.

— A foto enviada pra você... não era de hoje. Nem de ontem. Foi tirada há pelo menos três semanas. A câmera usada tem metadados que consegui puxar. A data bate com o dia em que ela saiu mais tarde da Alesp.

Verena fechou os olhos por um segundo. O coração disparou.

“Naquele dia... o assalto... foi quando tudo começou a sair do controle.”

— Continue observando. Mas com discrição máxima. Se alguém levantar qualquer suspeita, isso vira escândalo. Ela é menor de idade. E... — a voz embargou levemente — Eu não quero exposição dela... entendeu?

— Entendido.

Verena desligou, jogando o celular na mesa com força. Levantou-se e foi até a janela. Olhou São Paulo fervendo lá fora. A cidade parecia indiferente ao caos que corria por suas veias.

Atrás dela, a porta do gabinete se abriu com um leve estalo.

— Verena?

Era Rafaela. Com a voz suave, quase preocupada. Ela observava a amiga de costas, os ombros tensos, os dedos apertando o parapeito da janela como se pudesse segurar o mundo ali.

— Tá tudo bem? Você não almoçou. Não atendeu minhas mensagens.

Verena respirou fundo e virou devagar, vestindo de novo sua armadura política. Sorriso contido. Olhar firme.

— Tudo certo. Só estou... pensando.

Rafaela franziu a testa. Não acreditava, mas não insistiu. Ainda não.

— Ok... Mas fica esperta. Tem gente nova do comitê querendo fuçar a papelada do gabinete. Aquele dossiê ainda não foi esquecido.

Verena apenas assentiu. Mas por dentro, era um furacão.

“Alguém está mexendo as peças. E a Valentina... está bem no centro disso.”

Escola Estadual – Sala de aula / 9h10 da manhã

A professora de geografia falava sobre urbanização, mas ninguém estava prestando muita atenção. O calor abafado, os ventiladores barulhentos e o quadro cheio de anotações transformavam a aula numa espécie de tortura lenta. Valentina, sentada ao lado de Carol na penúltima fileira, rabiscava o canto do caderno. Entre as anotações tortas, um coração quase imperceptível. Ela logo apagou, com culpa.

— Pronto, tô vendo — murmurou Carol, apoiando o rosto na mão e sem tirar os olhos do quadro. — Lá vem você de novo desenhar “V” no caderno.

Valentina soltou uma risadinha abafada, empurrando o ombro da amiga.

— Besta... Nem era isso.

— Uhum. Tá com essa cara aí desde que chegou. Vai, desembucha. Vai faltar aula amanhã por quê mesmo? Vi que entregou bilhetinho pra professora na entrada.

— Vai ter uma programação especial na Alesp essa semana. Tipo uma semana de formação pros estagiários. Vários workshops, palestras... E eu me inscrevi pra um que vai ser amanhã de manhã.

Carol arqueou uma sobrancelha com um sorriso debochado se formando.

— Workshop, sei. Deixa eu adivinhar... a tal da deputada também vai falar?

Valentina olhou pro caderno como se tivesse encontrado ali o segredo da vida.

— Ela vai sim, mas não é por isso. É que... parece interessante. Vai ter gente de outros estados, temas legais. Eu pedi autorização pra minha mãe, ela deixou. Ficou toda empolgada até.

Carol cruzou os braços com um olhar malicioso.

— Tua mãe deixou você faltar aula pra ver palestra de político? Esse programa social tem é superpoderes, hein. Ou será que é o “interesse cívico” da minha amiga que cresceu de repente?

Valentina riu baixo, sem graça.

— Aff, não é isso... — Ela empurrou Carol com o ombro. — Você também implica com tudo.

— Eu só observo, miga. Observadora que sou, né? — Ela fez pose de quem vai entregar o segredo do universo. — E eu observo que, toda vez que fala da deputada, você fica com essa cara aí. Meio boba, meio nervosa. E tentando parecer que tá tudo normal. Spoiler: não tá.

Valentina bufou, tentando disfarçar o sorriso.

— Você vê coisa onde não tem.

— Tá. Então amanhã você vai toda bonitinha, maquiadinha, de roupa social e perfuminho... pra ver uma palestra “super importante”. Nada a ver com ninguém, claro.

— Ai, Carol! — Valentina cobriu o rosto com as mãos, rindo. — Você é insuportável.

A amiga deu um risinho vitorioso e voltou a encostar no encosto da cadeira.

— Só tô dizendo que se o nome da deputada for mencionado mais duas vezes, você desmaia aqui mesmo.

Valentina balançou a cabeça, mas o sorriso bobo ainda escapava. E lá no fundo, ela sabia: não era só a palestra que a deixava nervosa.

Gabinete de Verena – 7h15 da manhã

O som das pastas se chocando sobre a mesa quebrou o silêncio da sala. Verena, de blazer preto e calça social de alfaiataria, encarava o laptop com uma expressão de puro desgosto.

— Quem foi o gênio que achou uma boa ideia colocar político pra falar de esperança às sete da manhã?

Ela bateu os dedos na mesa, irritada, como se a resposta estivesse ali, escondida entre o mouse e o copo de café pela metade.

Rafaela entrou encostando a porta com o quadril, um copo térmico colorido na mão e os cachos ainda úmidos de banho. Jogou a bolsa sobre a cadeira e olhou pra amiga com o típico ar debochado.

— Bom dia pra você também, sol da minha vida. Dormiu com o quê, com espinho no colchão?

Verena não respondeu. Estava ocupada tentando conectar o notebook ao projetor portátil, claramente sem sucesso. Rafaela se aproximou, puxando uma das cadeiras com a perna.

— Você já tá com essa cara antes mesmo do povo começar a bocejar na sua palestra? — Ela fez uma careta. — Que que foi agora? Não me diga que tá surtando de novo com a estagiária. Porque se for, eu pego minha bolsa e vou embora antes de você me mandar comprar câmera de segurança pro prédio da menina.

— Cala a boca, Rafaela.

— Bom dia pra você também, amor da minha vida — ela respondeu com ironia, apoiando o cotovelo na mesa. — É impressão minha ou você surtou com a Valentina de novo?

Verena suspirou, finalmente conseguindo abrir o arquivo da apresentação. Passou uma mão pelo cabelo solto, já levemente ondulado na ponta da franja.

— Eu não surtei. Eu fui... preventiva.

Rafaela soltou uma gargalhada escancarada.

— “Preventiva”? Você chamou a menina na sala, mandou eu sair como se fosse segurança do Dória e ficou fazendo interrogatório com cara de serial killer educada. Isso é o quê? A nova definição de pedagógica?

— Eu só perguntei algumas coisas. Queria entender o que ela sabe, se tá segura... se tem alguém estranho rondando.

— E você acha mesmo que ela ia falar qualquer coisa olhando pra você com aquela sua cara de política possuída? — Rafaela ergueu a sobrancelha. — Olha... Eu tô falando na boa. Se você não me contar o que tá acontecendo de verdade, eu vou começar a inventar. E você sabe que minha criatividade é péssima.

Verena ignorou, focando nos slides.

— O tema é “Entre o Voto e a Voz: Como a Juventude Pode Redesenhar a Política”. Você tem ideia do quão hipócrita é isso vindo de mim hoje? Eu tô completamente desequilibrada, com um dossiê misterioso nas costas, um vídeo vazado, minha esposa me odiando e a única pessoa que me faz perder o juízo é uma adolescente. E aí eu vou lá bancar a inspiração?

— Ué. Faz igual todos os outros. Ensaia o discurso bonito, sorri na hora certa e finge que sua vida tá no Pinterest.

Verena a encarou com um olhar de puro cansaço.

— Não sei se consigo.

Rafaela se calou por um instante. A provocação ainda dançava na ponta da língua, mas ela percebeu que o desabafo era mais sério do que parecia.

— Olha... sem zoeira agora. Você tem duas opções: ou surta agora e cancela tudo, manda um assessor fingir dor de estômago e sumir com a sua programação... ou você sobe naquele palco, respira fundo, e pelo menos finge que ainda acredita no que faz.

Verena franziu a testa.

— Eu ainda acredito. Só... não sei se acredito em mim.

— Ótimo, então acredita neles. Nos moleques que vão ouvir você hoje. Talvez algum deles precise disso. Mesmo que seja só uma menina perdida, tentando achar um lugar no mundo.

Verena virou o rosto rapidamente, como se esse comentário tivesse acertado mais fundo do que deveria. Levantou-se da cadeira e pegou o pendrive com os slides.

— Vamos logo. Se eu demorar mais cinco minutos aqui, vou acabar deletando essa apresentação inteira e substituindo por um "boa sorte, se virem".

Rafaela pegou a bolsa com um sorriso discreto.

— Essa é a Verena que eu conheço. A sargento moral que odeia palestras, mas faz todo mundo querer virar deputado depois de ouvir ela falar.

— Você exagera demais.

— E você subestima demais. Bora, deputada.

Auditório da Alesp – 8h12 da manhã

O som do ar-condicionado preenchia os espaços entre as vozes. Jovens de diferentes idades e estilos ocupavam lentamente as fileiras do auditório, rindo, cochichando, testando o Wi-Fi e se ajeitando nas cadeiras forradas de azul escuro. O ambiente tinha aquele cheiro típico de lugar fechado com carpetes e café passado há pouco, e os refletores já estavam posicionados para iluminar o palco assim que a primeira palestra começasse.

No telão central, a imagem parada de uma apresentação já projetava o título em letras elegantes:

“Entre o Voto e a Voz: Como a Juventude Pode Redesenhar a Política”
Deputada Estadual Verena Castilho

Um dos assessores técnicos ajeitava o ângulo do projetor com cuidado, enquanto outro dispunha uma jarra de água e um copo de vidro sobre a mesa de apoio, no canto do palco.

No meio da movimentação, Valentina entrou pela lateral do auditório, cabelos bem presos num coque simples, mas bonito, brincos discretos, calça jeans escura impecável e uma camisa branca com gola, levemente social. Carregava uma mochila pequena nos ombros e um casaco leve dobrado no braço.

Ela havia se arrumado mais do que gostaria de admitir.

— “É só uma palestra... é só uma palestra” — repetia mentalmente, tentando convencer o coração a desacelerar.

Mas era mentira. Ela sabia. Não era só uma palestra. Era Verena.

A mulher que ela tinha visto apenas uma ou duas vezes de perto naquele ambiente, em momentos sérios e breves no gabinete. A mulher que a intimidava, que a confundia, que a fascinava. A mesma que aparecia em seus pensamentos nos momentos mais inconvenientes — como no banho ou nas madrugadas em que rolava na cama sem conseguir dormir.

Valentina caminhou com cuidado entre as cadeiras já parcialmente ocupadas. O coração acelerado, os olhos atentos.

Mas Verena ainda não estava ali.

Suspirou aliviada e, ao mesmo tempo, frustrada. Sentou-se na fileira intermediária, mais ao fundo do que deveria, mas próxima o suficiente para ver cada detalhe do palco. E, com sorte, o rosto da deputada.

Se ajeitou, cruzou os braços, depois descruzou. Ajeitou a gola da blusa, passou a mão na calça, respirou fundo. Disfarçou o nervosismo olhando ao redor.

— “Tá tudo certo... Só mais uma palestra” — mentiu outra vez.

E então, ela entrou.

Verena surgiu pela lateral do palco com uma pasta fina nas mãos, acompanhada de Rafaela, que usava uma calça de alfaiataria verde-oliva e camiseta preta, rindo de algo que havia acabado de dizer.

Mas Valentina não viu Rafaela. Nem viu mais ninguém.

Seus olhos grudaram em Verena. E por um instante, o som ao redor pareceu desaparecer.

Ela vinha com a postura impecável, os cabelos soltos caindo nos ombros com leve ondulação, a blusa de botão em tom creme com o blazer elegante e bem alinhado, combinando com a calça preta de marcava sua silhueta com perfeição cruel. Um salto discreto, porém, elegante, completava o conjunto.

Verena estava deslumbrante.

E parecia saber disso. Ou talvez fosse apenas natural. O jeito como andava, como cumprimentava brevemente os assessores, como olhava para o palco antes de subir — tudo nela era presença.

Valentina sentiu o rosto esquentar, o estômago revirar e o coração bater tão forte que precisou cruzar os braços no peito para conter a ansiedade. Tentou desviar o olhar. Não conseguiu.

Estava babando. E nem conseguia disfarçar direito.

Verena nem olhou para o público ainda. Estava concentrada demais no que Rafaela dizia, e de costas para os jovens. Mas Valentina a observava como quem assiste à cena de um filme. Aquela mulher não podia ser real.

— “Finge normalidade, pelo amor de Deus...” — pensou, tentando parecer focada no celular.

Mas a tela tremia em sua mão.

A voz dela ainda nem tinha começado. E Valentina já estava completamente rendida.

Auditório da Alesp – 8h27 da manhã

As luzes diminuíram suavemente e o burburinho foi silenciado com a entrada de uma das mediadoras do evento.

— Bom dia a todos! — disse a mulher ao microfone, com um sorriso treinado. — É com grande prazer que abrimos oficialmente a Semana de Integração dos Estagiários da Alesp. Um evento pensado especialmente para vocês, jovens do nosso estado, que são o futuro — e, por que não, o presente da nossa política.

Alguns aplausos, discretos. Valentina batia palmas mecanicamente, sentindo o coração se preparar para o verdadeiro motivo de sua presença.

— E para começar com o pé direito, convido ao palco a deputada estadual Verena Castilho, que trará uma fala com o tema: “Entre o Voto e a Voz: Como a Juventude Pode Redesenhar a Política.”

Aplausos mais fortes agora.

Verena subiu ao palco com passos firmes. O salto ecoava suave no piso de madeira. Ela carregava uma elegância natural, dessas que não exigem esforço. Um carisma magnético. Parou ao centro, ajeitou o microfone, deu um leve sorriso — o tipo de sorriso que prende atenção sem parecer forçado.

— Bom dia. — sua voz soou segura, envolvente, cheia de presença. — Antes de qualquer coisa, obrigada por estarem aqui tão cedo. Eu mesma tive que brigar com meu despertador e fazer um acordo de paz com o café pra estar aqui agora, então... respeito absoluto a quem veio por vontade própria — ou sob ameaça do professor orientador, o que também é válido.

Risadas tímidas no auditório. Valentina sorriu, mordendo o canto do lábio. Aquela voz... aquele tom quase rouco, ritmado... o coração dava sinais claros de que ia falhar.

Verena olhou rapidamente para a tela onde estava projetado o título da palestra, e voltou a falar, com aquele domínio típico de quem sabe exatamente como conduzir uma plateia:

— O título dessa palestra é um convite, mas também uma provocação. Entre o voto e a voz. Porque, vejam... o voto é o que o sistema espera de vocês. Um número a mais, a cada eleição. Mas a voz… a voz é o que ele teme.

Alguns jovens se endireitaram nas cadeiras. O tom havia mudado.

— Durante muito tempo, disseram que política era assunto de gente grande. De gente rica. De gente branca. De homens, principalmente. O que nunca disseram é que isso é uma escolha. Uma construção. Que esse cenário, essa cara da política, não é natural. É cultivada. E se algo é cultivado... pode ser replantado.

Mais aplausos. Valentina segurava os dedos entre as pernas pra não tremer. A mulher à frente dela não parecia feita da mesma matéria que o resto do mundo. Cada palavra era uma flecha certeira.

Verena caminhou lentamente pelo palco, mantendo o olhar entre o público, os slides, o copo de água. Estava imersa.

Até que viu.

Uma garota, sentada algumas fileiras atrás. Cabelo preso num coque simples. Olhos grandes e atentos demais. Postura firme, mas tensa.

Valentina.

Por um segundo, Verena perdeu o fio do pensamento. A frase seguinte morreu na garganta. Sentiu o estômago gelar, o suor subir pela nuca.

Não era só ver. Era ser vista.

Disfarçou com uma pequena pausa dramática — que usaria de qualquer jeito, pensou. Pegou o copo d’água, levou à boca e sorriu, como se estivesse prestes a fazer uma piada.

— Bom, eu prometi que não ia transformar isso aqui num monólogo acadêmico... Mas já que estão prestando atenção, acho que posso fingir que tô com tudo sob controle.

Risadas leves no auditório. Um alívio.

Mas não dentro de Valentina.

Ela ficou estática. O rosto quente.

Ela viu. Ela olhou pra mim. Foi só impressão? Ela estava olhando mesmo? Aquela pausa... foi por causa de mim?

Sentiu o sangue todo correr para o rosto. Abaixou o olhar, fingindo arrumar a blusa, depois olhou de novo — Verena já voltava a falar. Mas não era mais a mesma.

— O que quero dizer com tudo isso — continuou a deputada, agora um pouco mais pausada — é que nenhuma mudança começa com um cargo. Começa com presença. E isso vocês já têm. Só precisam entender o tamanho que ela pode alcançar.

Valentina mal escutava agora. O coração batia na garganta. Sabia que aquela mulher tinha o poder de mover multidões. Mas não estava preparada pra ser parte da multidão que se sentia... tocada.

— A política não pode continuar sendo um clube fechado. Não pode continuar espelhando só uma parte do Brasil. Vocês são o resto. E o resto é maioria. Se vocês decidirem falar, juntos, ninguém cala.

Aplausos fortes agora. A fala pegava. Era impossível não ser afetado.

Mas Valentina só conseguia pensar no momento em que os olhos de Verena tocaram os seus. Nem sabia o que tinha doído mais: a intensidade ou a dúvida se tudo era coisa da sua cabeça.

E Verena, no palco, tentou manter a compostura. Mas algo dentro dela já estava bagunçado. De novo.

Auditório da Alesp – Final da Palestra | 9h20

O som dos aplausos invadiu o auditório. Sinceros. Contagiados. Muitos jovens se levantaram para aplaudir de pé, alguns gravando vídeos, outros apenas tentando absorver tudo o que haviam ouvido.

Valentina não sabia onde enfiar as mãos. Aplaudia devagar, como se qualquer movimento mais brusco fosse denunciá-la. Tinha os olhos úmidos — de emoção, de nervosismo, de algo que nem sabia nomear.

A voz de Verena ainda reverberava dentro dela.

No palco, a mediadora se aproximou mais uma vez.

— Deputada Verena, antes de encerrarmos, temos tempo para algumas perguntas da plateia, se a senhora concordar?

Verena sorriu, elegante. Pegou o microfone.

— Claro. Prometi que ouviria vocês, e promessas são coisas sérias. Pode abrir.

Algumas mãos se ergueram de imediato. Jovens empolgados, perguntas sobre representatividade, descrença no sistema, futuro da democracia. Verena respondia com paciência, mesclando firmeza e acolhimento.

— Eu também já fui estagiária. Também me senti pequena num espaço dominado por gente mais velha, mais influente... mais arrogante, pra ser sincera. E o que aprendi é que ninguém vai abrir espaço por boa vontade. A gente precisa tomar. Tomar com coragem, com preparo, e com responsabilidade. Isso vale pra qualquer área. Inclusive pra política.

Valentina engoliu seco. Cada palavra parecia feita pra ela.

Mais uma pergunta. Um menino do interior que queria saber como lidar com o preconceito de professores que o desencorajavam de “pensar grande”.

— Não é o seu sonho que é grande demais — respondeu Verena. — É o mundo deles que é pequeno demais pra te acompanhar.

Valentina teve vontade de aplaudir de novo. Ou chorar. Ou correr até ela.

Mas ficou.

Ali, no fundo.

Enquanto Verena seguia respondendo mais duas perguntas, ela pensava em mil formas de chegar até a deputada depois. Talvez um "Oi, eu queria te parabenizar", ou "Sua fala me emocionou muito"... ou talvez "Você é a mulher mais linda que eu já vi ao vivo", mas esse último ela engoliu antes que escapasse em voz alta.

Verena encerrou, agradeceu o convite, mais aplausos, e então o movimento de dispersão começou.

Saguão do auditório – 9h45

Ali, do lado de fora, um grupo de jovens já se formava ao redor dela.

Verena estava em seu habitat natural. Carismática, eloquente, autêntica. Mas por dentro? Uma bagunça. Ela respondia os agradecimentos com um sorriso no rosto, mas olhava por cima dos ombros, entre os rostos, procurando alguém.

— Deputada, posso tirar uma foto?
— Claro. Aqui, desse lado que a luz é melhor, senão vão dizer que sou malvada até na sombra — disse, rindo.

Click.

— Deputada, você acredita que existe espaço real pra quem vem de escola pública?
— Acredito e exijo. E se não houver, a gente cria. Do nosso jeito.

Valentina ainda estava perto do auditório, fingindo mexer no celular, mas o olhar… era só pra ela. O blazer escuro, o batom vermelho, os gestos elegantes… Ela não parecia humana.

Queria ir. Dizer algo. Qualquer coisa. Um elogio. Um sorriso. Um “obrigada”. Mas as pernas pareciam coladas ao chão. E por mais que o coração gritasse “vai”, a razão sussurrava “pra quê?” — e, como sempre, ela congelava.

Ela permanecia ali, ao lado de uma pilastra, os braços cruzados, o coração aos pulos e o olhar cravado naquela mulher no centro de tudo. Verena agora falava com menos gente, alguns assessores já começavam a organizar as coisas para sair.

Era o momento perfeito.

Mas Valentina não se mexia.

— Olha ela aí! — Disse uma voz atrás dela.

Valentina levou um susto e virou-se rápido.

— Léo!?

— Você acha que eu ia perder sua primeira vez vendo a musa da sua vida ao vivo? — ele piscou, debochado. — Só me atrasei um pouquinho porque tava dando aula de matemática básica pra uma deputada perdida lá no terceiro andar.

Ela riu, nervosa, e abraçou o amigo, sentindo um certo alívio por não estar mais sozinha naquela batalha interna.

— Tá... Você é ridículo. E eu não tenho “musa da vida” nenhuma.

Léo olhou diretamente nos olhos dela, ergueu uma sobrancelha e depois mirou no meio da multidão, onde Verena Castilho ainda estava, agora com apenas duas pessoas ao redor.

— Ah, não tem? Engraçado. Porque a cada 7 segundos você olha pra ela como quem quer casar, ter três filhos e morrer no mesmo dia só pra não viver um segundo sem essa mulher.

— Idiota — murmurou, abaixando a cabeça.

— E ela já percebeu, viu? — completou, agora sério.

— O quê? — a voz dela saiu esganiçada.

— Aquela olhada dela pra você. Você acha que eu sou cego?

Léo olhou para Verena e depois de volta para a amiga.

— Anda. Vai lá. A mulher tá quase sozinha agora. Vai falar com ela.

— Tá louco? Eu vou comer alguma coisa e ir pra casa, já deu.

Mas ela não conseguiu concluir a frase.

Porque Léo já tinha segurado no braço dela e começado a puxar.

— Léo! Não! — ela sussurrou, desesperada, travando os pés.

— Anda, garota. Foi pra isso que você veio! Você não vai embora com esse arrependimento na alma. Vai lá e agradece. Tira uma foto. Diz que ela salvou sua fé na política, ou sei lá... que o batom dela é a oitava maravilha do mundo.

Valentina queria sumir. O coração batia tão rápido que parecia que alguém tinha dado replay interno nele. Mas antes que pudesse se soltar, ela estava a poucos metros de Verena.

A deputada, ainda sorrindo após posar para uma selfie com um estudante, virou o rosto em direção ao movimento... e viu.

Valentina.

Sendo puxada, quase arrastada.

O coração de Verena errou o ritmo. A boca dela se abriu num gesto instintivo de surpresa e encantamento.

Por um segundo, ficou muda.

E então a menina parou, parada ali, corada, sem saber onde colocar os olhos.

Verena pigarreou, disfarçando o caos interno, e sorriu.

— Bom dia de novo. — Começou Verena, com um sorriso sutil. — Confesso que não esperava te ver tão cedo.

Valentina sorriu, sem saber o que fazer com as mãos.

— É... eu me inscrevi assim que vi o tema. Eu... Gostei bastante.

Verena ergueu uma sobrancelha, intrigada, mas sem demonstrar demais.

— Que bom saber disso. — respondeu, com um tom que oscilava entre o profissional e o gentil. — Vai ficar por aqui ainda? Ou já tá indo embora?

— Acho que vou comer alguma coisa antes de ir. — Respondeu, rindo nervosa.

Verena a observava com olhos atentos, como se cada gesto da menina tivesse uma frequência própria.

Foi quando Léo resolveu agir de novo:

— A gente pode tirar uma foto com você? Ela não vai ter coragem de pedir, mas vai se arrepender a vida toda se não fizer isso.

Valentina arregalou os olhos, sem saber onde enfiar a cara. Verena hesitou. Um leve susto interno. Mas respondeu com a elegância habitual:

— Claro. Vai ser um prazer.

Léo se posicionou do lado dela primeiro. Valentina, ainda travada, pegou o celular.

— Pronto. Um, dois, três... — click.

Depois, ele pedou o celular de volta, animado.

— Agora vocês duas. Vai lá, Val.

Valentina paralisou.

— Eu? Não... — murmurou, mas Verena já dava um passo à frente.

— Vamos, é só uma foto. — disse, com um leve sorriso. O tom gentil, mas algo nos olhos dela parecia vibrar de tensão.

As duas se posicionaram. Valentina tremia. Literalmente. E foi nesse momento que Verena passou o braço pela cintura da menina. Com firmeza. Mais do que o necessário. Valentina sentiu. Todo o corpo reagiu. As mãos geladas. A respiração presa. O estômago revirando.

Léo segurava o celular, pronto.

— Sorrindo, hein? — avisou.

Click.

Mas antes do clique, Verena apertou discretamente a cintura de Valentina.

E ali, tudo desmoronou.

Valentina cambaleou um pouco pra trás, quase perdendo o equilíbrio.

— Ei! — Léo segurou no braço dela, assustado. — Tá tudo bem?

Verena, sem pensar, passou o outro braço pelas costas da menina.

— Você tá gelada... alguém, traz água, por favor! Agora.

Valentina ficou pálida. As mãos tremiam.

— Acho que é só a pressão... — tentou justificar, mas a voz era um sussurro fraco.

Verena nem discutiu.

— Vem. Tem uma poltrona ali. Vamos devagar.

Ela a conduziu com calma, mas sem largar. Como se tivesse medo de que a menina desabasse no chão. Chegaram até uma das poltronas do lado do auditório. Valentina se sentou, apoiando os braços no encosto. O rosto branco como papel.

Verena ajoelhou à frente dela, ignorando qualquer olhar externo. E haviam muitos.

— Respira fundo. Devagar. — disse, com os olhos fixos nos dela. — Você comeu alguma coisa hoje?

Valentina fez que sim, mas os olhos estavam marejados.

Léo apareceu com um copo d’água.

— Aqui. — Entregou à Verena, que levou até as mãos da menina com cuidado.

— Devagar... isso.

Enquanto ela bebia, Verena olhou de soslaio para Léo.

— Ela já teve isso antes?

— Às vezes quando tá muito nervosa... ou quando esquece de comer. — respondeu, tentando não soar culpado.

Verena assentiu, olhando de volta para Valentina. E naquele instante, o mundo parou de novo. Por um segundo, ninguém mais existia no saguão.

Só as duas. E um toque na cintura que nenhuma das duas jamais esqueceria.

Saguão do Auditório – 10h08

Valentina continuava pálida, ainda sentada na poltrona do saguão, respirando com dificuldade. A pequena confusão ao redor já tinha diminuído. Léo permanecia ao lado dela, com a mochila nas costas e um olhar de culpa no rosto. A água ajudara um pouco, mas a menina mal conseguia reagir.

Verena olhou para os lados, impaciente.

— Essa equipe da segurança do trabalho demora uma eternidade. — murmurou, mais para si. E então, encarou Valentina, decidida. — Levanta devagar. Eu vou te levar pra minha sala.

— Deputada, não precisa... eu só... — tentou dizer Valentina, mas a voz ainda saía fraca.

— Eu sei o que estou fazendo. Vem.

Sem dar espaço pra objeção, passou novamente o braço pelas costas da menina, oferecendo apoio. Ajudou-a a se levantar devagar e caminhou com ela pelos corredores da Alesp, ainda cheios por causa do evento.

Alguns olhares curiosos seguiram as duas, mas Verena nem olhou pra trás.

Chegaram ao gabinete.

Verena abriu a porta com uma das mãos, guiando Valentina para dentro.

— Senta aqui, por favor. — apontou para uma das cadeiras mais confortáveis, do lado do sofá.

Valentina se acomodou, tentando controlar o próprio corpo. O ar-condicionado no gabinete era mais suave, e o cheiro de perfume amadeirado e café recém-passado dava um ar acolhedor, mas a presença de Verena ali — tão perto — só aumentava o colapso interno.

— Eu tenho um medidor de pressão aqui. — disse Verena, já abrindo uma das portas do armário lateral com pressa.

Valentina arregalou os olhos, mas não teve coragem de recusar.

— Léo... vai até o refeitório, por favor. Pede alguma coisa leve pra ela comer. Um pão de queijo, uma fruta, o que tiver mais fácil. E traz um suco também.

Léo assentiu e saiu quase correndo, como se aquilo fosse uma missão militar. Verena voltou-se para Valentina com o aparelho nas mãos. A menina mal piscava.

— Vai ficar tudo bem. — disse, com uma suavidade que só deixava tudo pior para quem já estava prestes a desmaiar de novo.

A deputada se abaixou um pouco e apoiou o aparelho sobre a mesinha.

— Posso? — Perguntou, indicando as mangas da blusa de Valentina.

— P-pode... — Respondeu, engolindo seco.

Verena então levantou com cuidado as mangas da camisa social dela. Seus dedos encostaram suavemente na pele da menina, revelando os braços finos, gelados, arrepiados. A jovem estremeceu.

Verena fingiu que não percebeu.

Mas percebeu.

Tudo.

E continuou com um profissionalismo quase cruel.

— Relaxa o braço. — Disse, posicionando a braçadeira com habilidade.

Valentina queria sumir.

— Tem gente que já tem pressão baixa por natureza, sabia? — comentou Verena, tentando soar leve, enquanto ajustava o aparelho. — Mas hoje você bateu recorde.

Valentina deu uma risadinha fraca. Ela nem ouvia direito o que Verena falava — estava concentrada em não desmaiar só de ver aquelas mãos habilidosas apertando a braçadeira.

Verena ligou o medidor.

— Só um segundinho...

O aparelho apitou.

— 10 por 7... — ela leu, franzindo a testa. — Não tá perigoso, mas é por isso que tá com essa cara de fantasminha.

Valentina desviou o olhar, envergonhada.

Verena então soltou devagar a braçadeira, mas demorou alguns segundos a mais do que o necessário para soltar o braço da menina. Depois se levantou, indo até a cafeteira, pegou um copo descartável e voltou com mais água.

— Toma mais um pouco. Vai ajudar até o Léo voltar.

Valentina bebeu em silêncio.

A única coisa que martelava em sua cabeça era o calor daquelas mãos, o perfume da Verena tão próximo, e a noção absurda de que estava sendo cuidada por ela. Na sala dela. Como se fosse importante.

Verena pegou uma almofada e ajeitou na poltrona.

— Encosta um pouco. Você não precisa correr pra lugar nenhum agora. — disse, sentando na cadeira da frente. Os olhos fixos nela. — Eu me assustei, sabia?

Valentina a olhou, surpresa.

— Comigo?

— É. — Respondeu, encarando-a. — Quando você ficou pálida... me assustei de verdade.

Valentina engoliu seco. Não sabia o que responder. Foi salva pelo barulho da porta se abrindo. Léo entrou, um pouco ofegante, com uma bandeja na mão.

— Trouxe pão de queijo, suco de laranja e... uma banana. Foi o que consegui.

— Perfeito. — Verena se levantou e pegou a bandeja das mãos dele. — Obrigada. Fecha a porta, por favor.

Léo obedeceu e sentou no sofá, observando a amiga em silêncio. Verena se aproximou novamente da menina, oferecendo o suco primeiro.

— Vai devagar.

Enquanto Valentina comia aos poucos, ainda com a mão trêmula, Verena pegou o medidor de volta, sem dizer nada, e começou a guardar. Mas antes de fechar o armário, olhou mais uma vez para ela.

Longo demais.

E então se virou. Sem perceber que Léo, no canto da sala, observava cada gesto dela com um olhar cheio de certezas.

Gabinete de Verena – 10h30

A porta se fechou suavemente atrás da deputada, que atendeu uma ligação com um olhar mais sério. Valentina e Léo ficaram sozinhos na sala. O silêncio parecia ainda mais presente do que antes, preenchido apenas pelo som do ar-condicionado e de um suco sendo mexido vagarosamente no copo de plástico.

Léo cruzou as pernas, encostado no sofá, e olhou para a amiga.

— Amiga… — disse num tom mais baixo que o habitual, quase contido. — Quem devia estar pálido sou eu agora. Tô com a alma na boca.

Valentina, que segurava um pedaço do pão de queijo com as duas mãos trêmulas, o encarou com um olhar de censura imediata. Séria.

— Léo... pelo amor de Deus... — sussurrou, quase implorando.

— Eu sei, eu sei. — Ele levantou as mãos, rendido. — Mas, me desculpa... eu tô chocado. Porque assim... eu achava que você tava na dela... mas pelo visto, ela tá na sua também.

Ela desviou os olhos imediatamente, como se aquilo fosse uma provocação perigosa demais pra ser ouvida. Sentiu o estômago revirar. O pão de queijo pesava como um tijolo.

— Para. — Repetiu, mais firme. — Imagina se ela entra e escuta. Ela é casada Léo. Isso é falta de respeito.

— Mas você viu? Você viu a cara dela te olhando naquela hora da palestra? — sussurrou Léo, abaixando ainda mais o tom. — Eu fiquei com medo de ela te pedir em casamento no palco.

Valentina fechou os olhos por um segundo. Respirou fundo. O coração ainda batia fora do compasso. A voz dele fazia sentido demais e, por isso mesmo, doía.

— Isso não é brincadeira. — disse ela, baixinho.

Léo suspirou e se calou. Os dois ficaram em silêncio. Valentina deu mais um gole no suco, tentando controlar a tontura. Ainda se sentia estranha, mas agora era menos físico e mais emocional. Tudo parecia confuso demais pra processar.

Alguns minutos depois, a porta se abriu devagar.

Verena voltou, com o celular ainda na mão e um semblante um pouco tenso, mas assim que viu os dois, relaxou o rosto.

— Como você tá? — perguntou, olhando diretamente para Valentina.

— Melhor... acho. — respondeu ela, evitando o olhar direto por mais de dois segundos.

— Tá com outra carinha mesmo, mas ainda tá branquinha. — disse, com um leve sorriso, que logo deu lugar a um olhar prático. — Vamos ver se a pressão melhorou?

Valentina assentiu, e Verena já estava pegando novamente o medidor, ligando-o com destreza, como se tivesse feito isso mil vezes.

— Agora vai dar 12 por 8, hein? — disse, tentando manter o clima leve.

Léo se afastou discretamente, fingindo mexer no celular, mas ficava de olho em tudo. Como Verena se ajoelhava devagar ao lado da poltrona. Como levantava novamente a manga da blusa da colega com delicadeza. Como segurava o braço dela como se fosse feito de porcelana.

Valentina olhava para a parede.

A pele da nuca dela formigava.

— Relaxa... — sussurrou Verena, olhando pra o visor digital. — Respira fundo.

O aparelho apitou.

— 11 por 7. Melhorou um pouco. — Disse a deputada, com um meio sorriso. — Vai continuar comendo devagar e descansando mais uns minutinhos, ok?

Valentina assentiu, sem conseguir dizer nada. Só conseguia pensar que a mulher por quem estava completamente apaixonada acabava de medir sua pressão pela segunda vez em menos de meia hora. E que talvez não fosse só ela que estivesse descompensada naquela sala.

Léo disfarçava um sorriso no canto da boca.

Verena então se levantou, guardando o aparelho com calma, como se aquela pausa entre eventos fosse exatamente o que ela precisava. Seus olhos voltaram mais uma vez para Valentina, demorando um pouco demais.

— Não precisa correr pra ir embora, tá? Fica o tempo que quiser. O gabinete é mais tranquilo agora.

Valentina quis sorrir. Mas o coração não deixou.

Porque ele ainda estava batendo descompassado, e não tinha nenhum aparelho no mundo que conseguisse medir isso.

Gabinete de Verena – 10h43

O silêncio ainda pairava, reconfortante e estranho, quando a porta se abriu de repente.

— Opa. — disse Rafaela, já com aquele sorrisinho sacana de quem chegou no momento exato.

Léo imediatamente endireitou a postura no sofá. Valentina levou o copo de suco à boca como quem buscava um disfarce, e Verena, ajoelhada ao lado do armário, guardava o medidor de pressão com movimentos tão meticulosos que pareciam ensaiados.

Rafaela ergueu uma sobrancelha, a mão ainda segurando a maçaneta.

— Um minutinho, Vê? — disse com um tom casual demais pra quem tinha os olhos em chamas.

Verena respirou fundo. Sabia exatamente o que vinha.

— Claro. — respondeu, firme, mas tentando manter o sorriso institucional.

As duas saíram do gabinete, fechando a porta atrás de si. O corredor estava praticamente vazio naquele momento. Silêncio, carpete abafando os passos, luz fria. Assim que ficaram a sós, Rafaela girou nos calcanhares e se virou pra amiga.

— Que porr* você tá fazendo, Verena?

A voz saiu baixa, mas carregada. Como se ela tivesse segurado aquilo há tempo demais.

Verena cruzou os braços, já de saco cheio do sermão antes mesmo de começar.

— A menina passou mal, Rafa. Tava pálida, pressão baixíssima. Queria que eu fizesse o quê? Esperasse o corpo mole no chão?

— Você sabe muito bem que não é disso que eu tô falando. — Rebateu Rafa, firme. — Você não se dá conta, né? Ou pior, se dá conta sim, e continua mesmo assim.

Verena soltou um suspiro carregado, desviando o olhar como quem procura paciência onde não tem.

— Eu só medi a pressão dela e dei alguma coisa pra comer. Acabou. — respondeu entre os dentes. — Quer me punir por isso também?

Rafaela deu um passo mais perto. Os olhos agora não estavam mais irônicos. Estavam feridos.

— Verena... — disse mais baixo. — Será que já não tá acontecendo merd* demais? Será que você não consegue parar de cavar o próprio buraco? Não vê que isso não é só mais uma distração?

Verena cerrou os olhos, as palavras martelando dentro da cabeça. Por um instante, pensou em se calar. Respirar fundo. Contar até dez.

Mas não conseguiu.

— Chega, Rafa. — Disse, com a voz firme, sem elevar o tom. — Eu tô cansada de ser tratada como uma adolescente inconsequente. Eu sou adulta. Deputada. Casada. Sei exatamente onde tô me metendo. E se tiver que lidar com as consequências, vou lidar.

Rafaela ficou imóvel por um segundo, o olhar se transformando. Não era mais de amiga. Era o olhar profissional. A linha que separava o pessoal do institucional sendo traçada ali, no corredor.

— Beleza, deputada. — Disse, seca, o sorriso voltando só pra disfarçar o baque. — Boa sorte. Vai precisar.

E virou as costas. Passos duros no carpete. Sem olhar pra trás. Verena ficou ali, sozinha no corredor. O coração aos pulos, o rosto impassível, os punhos cerrados. Por dentro, uma confusão ensurdecedora.

Ela só queria voltar pra sala. Voltar pra menina pálida com cheiro de flor e olhos assustados. A única coisa que, naquele momento, ainda fazia sentido.

Gabinete de Verena – 11h11

Valentina ainda segurava o copo de suco, os dedos levemente trêmulos, quando a porta se abriu.

Verena entrou com passos firmes, os olhos demorando um segundo a mais do que o necessário pra se fixar na menina sentada na poltrona. Seu rosto já estava recomposto, mas quem prestasse atenção veria o músculo do maxilar contraído, a tensão ainda ali.

Léo, que estava casualmente recostado no braço do sofá enquanto falava com Valentina, deu um pulo disfarçado. Ajeitou a postura como se estivesse num quartel, passando a mão pelos cabelos e tentando parecer natural — o que só piorava a tentativa.

— Como você tá agora? — perguntou Verena, parando ao lado da mesa.

Valentina baixou o olhar e forçou um meio sorriso.

— Melhor. Já terminei o suco. O pão também ajudou...

— Ótimo. — interrompeu Verena, já abrindo a porta lateral do armário, pegando a bolsa. — Vou procurar alguém da segurança pra te acompanhar até em casa.

A frase caiu na sala como um trovão. Valentina arregalou levemente os olhos e, num rompante de coragem impulsiva, soltou:

— Não precisa. Juro. Já tô bem, consigo ir sozinha...

Verena a encarou por um segundo longo demais. Não era um olhar duro. Era intenso. Incômodo. Quase possessivo.

— Não foi uma sugestão, Valentina.

A voz era calma, mas carregada de uma firmeza que não deixava espaço pra discussão.

Valentina engoliu em seco.

Léo, ao lado, ergueu as sobrancelhas com um sorrisinho sutil, claramente tentando não explodir ali mesmo.

— Uau, amiga... — murmurou quase sem som, como quem falava só pros próprios ouvidos, mas Valentina sentiu todo o sangue parar em suas bochechas.

Ela tentou ignorar.

— Eu posso... só preciso respirar mais um pouco, aí...

Verena respirou fundo, como quem recalculava a rota. Aproximou-se da poltrona, ajoelhou-se ao lado da jovem mais uma vez e, com um cuidado desconcertante, falou:

— Eu prefiro que não vá sozinha. Só por hoje, tá?

Valentina assentiu devagar, incapaz de sustentar o olhar por mais de dois segundos. A voz dela falhava nas respostas, mas por dentro a cabeça gritava que estava derretendo por completo.

Léo se afastou, meio sem saber onde colocar as mãos, e começou a mexer no próprio celular pra não atrapalhar.

Verena pegou o telefone da mesa e discou.

— Fábio? Consegue subir aqui? Preciso que leve dois estagiários em casa. Sim, agora. Obrigada.

Ao desligar, Verena ainda ficou ali, de cócoras ao lado da poltrona, observando a menina que mal conseguia esconder o rubor.

— Ele chega em dois minutos. — disse, com um tom de voz mais suave agora, quase doce. — Depois me avisa se continuar sentindo qualquer coisa, ok?

Valentina assentiu de novo, quase sem conseguir respirar. Ela sentia que aquele pequeno gesto de cuidado... tinha atravessado todas as suas defesas.

Casa da Valentina – Quarto | 15h32

O lençol estava levemente amarrotado, o ventilador fazia um ruído contínuo, e o sol da tarde atravessava as frestas da janela, riscando de laranja as paredes do quarto.

Valentina estava deitada de lado, os joelhos recolhidos, o celular apoiado no travesseiro à sua frente.

Na tela, a foto.

Ela e Verena.

A imagem estava um pouco tremida, porque Léo tremia de rir enquanto batia. Mas era perfeita mesmo assim. A mão da deputada pousada na sua cintura, o sorriso menos protocolar do que qualquer um já tinha visto vindo dela.

Valentina aumentou o brilho da tela. Tinha feito isso incontáveis vezes desde que chegou em casa. Tirou os tênis assim que entrou, subiu direto pro quarto e ficou ali, como quem repousava depois de correr uma maratona.

Não contou nada pra mãe. Disse que o evento tinha sido legal, que a palestra foi boa e que a chefe era “simpática”. Ana Paula nem desconfiou. Estava ocupada lavando roupa no tanque do quintal. A irmã, Isadora, estava na escola. O pai, trabalhando. A casa inteira parecia distante demais. E ela… presa em um silêncio ensurdecedor.

Sentia de novo o calor das mãos da deputada. A maneira como ela a olhou. Como falou firme, mas com um carinho que ninguém mais via.

Valentina apertou a tela do celular. A imagem tremulou um segundo, e ela bloqueou o aparelho. Mas segundos depois, desbloqueou de novo. Era um vício.

“Ela me abraçou.”

Era só isso que ela conseguia pensar. Isso e o coração batendo rápido, como se estivesse prestes a cometer um crime. Porque pensar naquilo... já era quase um crime dentro dela.

A verdade é que não queria admitir. Não podia. Mas tinha algo ali. Algo real. Talvez só da sua parte. Talvez uma projeção maluca, influenciada pelo carinho que tinha, pela admiração.

Mas não parecia só isso.
Não com aquele olhar.
Não com aquela mão firme, quase protetora, na sua cintura.
Não com aquela voz que a chamava pelo nome como se significasse mais.

Estava enlouquecendo.

Sentou-se na cama de uma vez, com o coração explodindo no peito, a respiração descompassada. Pegou o celular com mais firmeza, abriu o WhatsApp e foi direto no contato da amiga.

Valen
“Carol, você tá em casa?”
“Preciso falar com você. Mas tipo... falar mesmo.”
“Pode vir aqui?”

Três segundos. A mensagem foi visualizada em três segundos.

Carol
“Oi? Eu tô! Que foi? Claro que posso. Tô indo.”

Valentina soltou o celular no colchão e levou as mãos ao rosto. Suava. Tinha vergonha, medo e… alívio. Pela primeira vez, estava disposta a dizer em voz alta.

A admitir o que vinha tentando esconder até de si mesma.

Casa da Valentina – Quarto | 16h12

A campainha tocou uma única vez. Valentina já esperava. Correu até a porta antes mesmo da mãe gritar do quintal:

— Vê quem é aí, Valen!

— Já tô indo, mãe!

Ela destravou a porta com as mãos suadas, o coração saltando. Carol estava lá, de mochila nas costas, rabo de cavalo meio torto e uma bolacha na mão.

— Oiê — falou com a boca meio cheia. — Trouxe lanche porque você falou com uma urgência que eu achei que tivesse matado alguém.

— Entra logo — Valentina respondeu, puxando a amiga pela mão antes de alguém escutar qualquer coisa. – É a Carol mãe!

Foram direto pro quarto. A casa cheirava a sabão em pó. No fundo, o som da água do tanque batia ritmado. Assim que entrou, Carol largou a mochila no chão e encarou Valentina com um olhar que, mesmo carregado de ironia, já tinha um quê de alerta:

— Tá. Fala. O que você fez?
— Eu... nada. Ainda.

— Valentina... — Carol cruzou os braços e sentou de perna cruzada no canto da cama. — Quando você manda “preciso falar com você, mas tipo... falar mesmo”, ou é gravidez, ou é a deputada.

Valentina bufou, caminhando em círculos pelo quarto. Parou em frente ao guarda-roupa, depois voltou, depois suspirou de novo e finalmente sentou-se no chão, encostando as costas na cama.

— Foi a deputada, né?

— Carol... — ela olhou pra cima, com os olhos já marejados. — Eu não sei o que tá acontecendo comigo.

A amiga engoliu em seco, mas não disse nada. Só jogou a bolacha num canto ali perto e se inclinou na direção dela.

— Aconteceu alguma coisa? Ela fez alguma coisa?

— Não! Não, de jeito nenhum. Ela... ela foi incrível. Tipo... a palestra, o jeito que ela falava. Eu fiquei... sei lá, paralisada.

Carol franziu o cenho. Deu a volta e sentou no chão também, ficando de frente.

— Amiga… você tá tremendo.

— Eu me senti mal. Passei mal de verdade. Pressão caiu. Ela me levou pra uma sala, cuidou de mim. Mandou o Léo buscar comida. Mediu minha pressão. Mediu, Carol. Ela levantou a manga da minha blusa, colocou aquele negócio no meu braço. Eu achei que fosse desmaiar de novo.

Carol arregalou os olhos.

— Que novela mexicana é essa???

Valentina cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça.

— Não é engraçado. Você sabe o que isso significa? Sabe o que eu tô querendo dizer?

Carol se calou por um segundo.

— Eu acho que já entendi faz tempo, Valen. Mas… preciso ouvir de você.

Valentina abaixou as mãos devagar. Os olhos estavam vermelhos, mas o tom era firme. Pela primeira vez, sem rodeios.

— Eu acho que tô gostando dela.

Um silêncio se instalou. Denso. Incontestável. Carol mordeu o lábio inferior, tentando não reagir de forma exagerada.

— Tá. Uhum. Isso é... forte. Você tem certeza?

— Não. Eu só… eu não paro de pensar nela. Desde que eu entrei naquele lugar, ela mexe comigo. A voz, o jeito. E hoje, Carol… hoje eu achei que ia morrer quando ela me abraçou. Quando ela encostou em mim. E o pior... é que eu acho que ela também sentiu.

Carol arregalou os olhos, tirou os cabelos do rosto com um tapa dramático e falou como se tivesse apanhado:

— Amiga, quem deve tá pálida sou eu agora. Meu Deus.

Valentina até riu, sem querer.

— Eu sou louca, né?

— Não. Você é uma adolescente em crise existencial, cercada de adultas perigosamente charmosas. Acontece. Só que... você acha mesmo que ela sente alguma coisa?

Valentina hesitou. Pegou o celular e mostrou a foto. Carol olhou. Fez zoom. Deu zoom no rosto da Verena. Nas mãos na cintura da amiga

— Amiga... Olha, não dá pra falar assim só pela foto. Olhando assim, não vi nada demais. Tirando sua cara de quem vai cair.

Valentina deu um tapa no ombro dela, que riu sem querer.

— Ai Carol, então eu acho que tô ficando maluca.

Valentina puxou o celular de volta.

— E agora?

— Agora... você respira. E não faz nada. Porque isso é sério. É perigoso. E também... é bonito. Mas perigoso. Se tiver alguma chance, vai ser no tempo certo. E se não tiver… você vai sobreviver. Eu tô aqui.

Valentina não respondeu. Só deitou a cabeça no ombro da amiga. Por um instante, permitiu-se apenas sentir. Mesmo que soubesse que estava cultivando uma ilusão.

Sentir que estava viva. Confusa, mas viva.

E talvez… amando.

Casa da Valentina – Quarto | 16h34

Carol ainda estava com o queixo caído depois de ouvir o “acho que tô gostando dela”. Ficou ali quieta, processando, respirando fundo… até que Valentina, ainda com os olhos perdidos, soltou num tom mais baixo, como quem quase se arrepende antes de falar:

— E não foi só hoje...

Carol virou o rosto devagar, desconfiada:

— Como assim...?

Valentina engoliu seco. Evitou o olhar da amiga.  Carol se endireitou no colchão, já em modo alerta.

— Fala. Agora. Sem pular partes.

Valentina respirou fundo. Sentiu a garganta secar.

— Teve um outro dia. Eu sai mais tarde, porque agarrei num relatório. Perdi o ônibus que eu pego e tava armando um chuvão. Aí ela passou no ponto e me deu uma carona – Valentina preferiu omitir a tentativa de assalto.

— Tá. Continua — Carol falou, já completamente atenta, inclinada pra frente. Sabia que vinha bomba.

— A gente foi no carro dela. E foi no carro... — Valentina pausou, o olhar mais distante do que nunca — que quase aconteceu.

— O quê, Valentina?

— Eu tava com frio, nervosa. Ela parecia tão... diferente. Preocupada. Séria. Aí teve um momento em que ela parou o carro um pouquinho mais pra baixo do portão aqui de casa, mas não desligou. A gente ficou ali, num silêncio estranho. Tava escuro porque o poste tinha queimado aqui da rua. Mas deu pra ver Carol. Ela olhou pra mim e... Teve uma hora... — Valentina mordeu o lábio, os dedos se entrelaçando sem parar. — Ela chegou mais perto. Tipo, bem mais. Eu não sei nem como explicar... parecia que ia... sei lá. Ia acontecer alguma coisa.

— Amiga fala, você vai me matar!

— Eu achei que ela fosse me beijar. — Disse de uma vez, se arrependendo em seguida. Escondeu o rosto entre os braços cruzados acima dos joelhos.

 

 

Carol piscou, depois arregalou os olhos. Se levantou como se tivesse levado um choque.

— COMO ASSIM, VALENTINA? VOCÊ ACHOU?! — Carol deu um passo pra trás, rindo nervosa. — Você tá de brincadeira comigo?! Um quase beijo?! E você nunca me contou isso??

Valentina encolheu os ombros, desesperada.

— Eu fiquei com vergonha! Eu não sabia o que tinha acontecido! Nem sei se aconteceu mesmo. Foi só um segundo. E logo depois o telefone tocou e ela ficou séria, estranha, logo depois. E eu achei que fosse coisa da minha cabeça...

— COISA DA SUA CABEÇA?! — Carol se jogou na cama, tapando o rosto com um travesseiro. — Meus Deus do céu, eu tô vivendo um spin-off de Grey’s Anatomy versão Brasília.

Valentina tentou conter a risada, mas tava tremendo de ansiedade e riso nervoso também.

— Carol…

— Não! — ela se sentou de novo, apontando um dedo dramático. — Você ainda tem coragem de dizer que não tem certeza?! Amiga... essa mulher QUERIA te beijar. Tá na cara. Tá na respiração dela, no suquinho com glicose! Tá em tudo!

— Mas ela é casada…

— E você é menor de idade. Eu sei! Tá tudo errado. Mas que tá rolando, tá. Eu não tô dizendo que vai acontecer, ou que deve acontecer, mas que existe um troço aí, existe. E você tem que parar de fingir que não sente, porque esse tipo de coisa não desaparece com oração nem com trabalho voluntário.

Valentina deixou a cabeça cair no colo da amiga, abafando um riso.

— Eu tô com medo. Muito medo.

— Eu sei — Carol respondeu mais suave, passando a mão no cabelo dela. — E você devia mesmo estar. Mas também devia se permitir sentir. Nem que seja só pra entender o que tá acontecendo dentro de você. Porque, sinceramente? Se ela não tivesse sentido também… você já teria esquecido.

Valentina fechou os olhos. Lá estava de novo o rosto de Verena. O toque, o cheiro, o tom de voz dizendo que aquilo não era uma sugestão. A mão apertando sua cintura. O abraço mais longo do que devia. O quase-beijo.

Talvez ela nunca soubesse com certeza.

Ou talvez… soubesse sim.

E só não quisesse admitir.

Gabinete de Verena | 11h02 – Dois dias depois

Verena estava sentada à sua mesa, lendo um parecer com cara de quem não dormia direito há dias. Os dedos tamborilavam nervosos no tampo de madeira. A cabeça ainda latej*v* com a imagem da Valentina pálida, sentada na poltrona, tentando sorrir mesmo sem força. E ela ali, tentando manter a pose, o controle… tentando não sentir.

Uma batida na porta interrompeu os pensamentos.

— Pode entrar — disse, sem tirar os olhos do papel.

A porta se abriu devagar. Era Camila, a chefe do setor de recursos humanos.

— Oi, deputada. Tem um minutinho?

— Claro. Pode falar.

Camila entrou, carregando uma pasta fina. Sentou-se.

— Vim só confirmar que o pedido de movimentação da estagiária Valentina Moraes foi autorizado. Ela será realocada pra Comunicação Institucional a partir da próxima segunda.

Verena ergueu os olhos lentamente.

— Perdão? — A voz saiu baixa, seca.

— O pedido foi feito há algumas semanas, mas só agora houve vaga no setor. A orientação é que os jovens aprendizes possam conhecer outras áreas da casa, lembra? O programa propõe uma rotatividade mínima entre os núcleos.

Verena permaneceu em silêncio por três segundos muito longos. Então se recostou na cadeira.

— Quem assinou esse pedido?

Camila hesitou.

— Rafaela. Ela é responsável pelos estagiários do seu gabinete, então...

Verena fechou os olhos por um segundo. Quando abriu, estavam cheios de um fogo contido.

— Obrigada, Camila. Pode deixar os papéis comigo.

A mulher assentiu, um pouco desconfortável, e saiu da sala.

Assim que a porta se fechou, Verena empurrou a cadeira pra trás e ficou de pé num movimento brusco. Foi até a outra sala, onde Rafaela teclava furiosamente no computador, fone em um dos ouvidos. Estava tão distraída que se assustou ao vê-la na porta.

— Eita. Oi?

— Você tem dois minutos.

Rafaela tirou o fone, confusa.

— Aconteceu alguma coi...

— Agora, Rafaela.

Rafa bufou e levantou. Seguiu a amiga pelo corredor em silêncio. As duas entraram numa sala de reuniões pequena, usada pra conversas rápidas entre equipes.

Verena fechou a porta com calma, depois cruzou os braços.

— Você pediu a movimentação da Valentina?

Rafaela hesitou um segundo.

— Pedi.

— Sem me consultar?

— Eu sou responsável pelos estagiários. E ela tá no programa de rodízio. Achei que...

— Achou? — Verena deu um riso seco. — Você achou o caralh*, Rafaela.

A ruiva arqueou a sobrancelha.

— Peraí. Não grita comigo. Eu fiz o que achei melhor pra menina.

— Pra ela? — A voz de Verena oscilou. — Você fez isso pra me proteger. De mim mesma.

— É. Fiz. Porque você não tá enxergando um palmo à frente do seu próprio desejo, Verena! Você tá envolvida e não quer admitir. Eu vi aquela cena na sua sala. Eu vi você carregando ela como se fosse...

— Como se fosse o quê?

— Como se fosse tua.

O silêncio que caiu parecia deixar o ar pesado. Verena mordeu o lábio inferior, as mãos trêmulas.

— Ela não é minha. Mas também não é sua. E você não tinha o direito de fazer isso.

— Tô tentando impedir que você destrua a própria carreira. E pior, que você machuque aquela menina que não faz a menor ideia do que tá rolando! Que parte você não entendeu?

Verena se aproximou um passo. O olhar era afiado, quase ferido.

— Você não confia em mim, é isso?

— Eu não confio no que você vira perto dela. Porque você deixa de ser você, Verena.

A deputada suspirou fundo. A dor em seu rosto era óbvia.

— E se for a única coisa que me faz sentir viva ultimamente?

Rafaela não esperava ouvir aquilo. Seu rosto se suavizou. Por um instante, ela viu a amiga ali. A mulher cheia de contradições. De vontades e culpas.

Mas não cedeu.

— Então sente. Sente até virar um buraco. Mas não arrasta a menina com você. Porque ela tá no início de tudo. E você… você já devia saber o que esse mundo faz com gente como a gente.

Verena baixou os olhos.

— Cancela essa transferência.

— Não posso.

— Cancela, Rafa.

— Eu não vou.

Verena respirou fundo. A raiva deu lugar a uma tristeza imensa.

— Então eu vou.

— Vai fazer o quê?

— Eu mesma vou no RH. Hoje.

As duas se encaram por um instante. Um abismo entre elas. Rafaela apenas assentiu, sem dizer mais nada. E saiu da sala sem olhar pra trás.

Departamento de Recursos Humanos da Alesp | 13h12

A sala era clara, organizada e silenciosa. Duas funcionárias revisavam documentos em seus computadores quando Verena entrou. O salto firme no chão encerrou qualquer outra atividade em andamento. Ambas olharam.

— Boa tarde. — A voz saiu firme, educada. Mas sem espaço pra informalidade.

Camila, a mesma que estivera no gabinete mais cedo, levantou-se rapidamente.

— Deputada... tudo certo?

— Preciso conversar com você. Agora. Em particular.

Camila engoliu seco e assentiu, guiando Verena até uma salinha anexa, com divisórias de vidro jateado e uma mesa redonda. Assim que a porta se fechou, Verena foi direto ao ponto:

— Quero que cancelem o pedido de movimentação da estagiária Valentina Moraes.

Camila franziu a testa.

— Deputada, veja bem, como eu disse... o pedido foi feito pela gestora do setor, com base na proposta pedagógica do programa de estágio. Os jovens devem passar por ao menos dois núcleos diferentes durante o contrato.

— Eu conheço o programa. Ajudei a aprovar o modelo que vocês usam. — Verena cruzou os braços. — E também sei que nenhuma movimentação é obrigatória se houver justificativas técnicas e pedagógicas contrárias.

— Sim, mas nesse caso...

— Nesse caso, a Valentina está desenvolvendo um projeto comigo. Em andamento. — Verena mentia com naturalidade agora, os olhos firmes. — O acompanhamento exige continuidade. A saída dela nesse momento compromete o andamento do material.

Camila hesitou.

— Não tinha essa informação...

— Pois agora tem. — Verena se inclinou levemente sobre a mesa. — Além disso, a movimentação não foi discutida comigo. E como supervisora direta dela em atividades específicas, isso me tira a autonomia sobre um estágio que envolve meu mandato.

— Entendo, deputada, mas isso não é comum. E foi solicitado por uma colega sua de gabinete.

— E essa colega não está com plenos poderes de coordenação. Eu ainda assino a folha de atividades. E ainda sou a responsável legal pelo vínculo da estagiária. Se quiser, eu peço agora uma reavaliação por parte da presidência da Casa.

Camila arregalou discretamente os olhos.

— Não é necessário chegar a esse ponto. Só precisamos formalizar a permanência então.

— Ótimo. Quero o termo de manutenção no setor ainda hoje. E quero ser avisada de qualquer nova tentativa de movimentação sem minha ciência prévia.

Camila assentiu rapidamente.

— Vai ser feito.

Verena se endireitou, o maxilar travado.

— Obrigada pela atenção.

E saiu.

No corredor, os passos voltaram a ecoar com força. Mas agora, misturavam-se com um coração que batia descompassado. Ela não sabia mais separar o instinto de proteção do instinto de posse. Só sabia que não queria perder Valentina. E não ia.

Fim do capítulo


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Comentários para 18 - Ela Me Viu:
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Em: 21/05/2025

Os olhos não mentem

E quem consegue "ler" um olhar

Consegue vê a aurea, a alma, o espírito e a carne

 

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Em: 20/05/2025

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Zanja45

Zanja45 Em: 20/05/2025
Oi, boa tarde quando você for abrir a página do site, abra uma aba nova, pois todas as vezes em que for acessar vai ficar replicando a mensagem.


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Em: 20/05/2025

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Zanja45
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Em: 19/05/2025

Quem tem uma amiga como carol não precisa de outra. A forma como ela acolheu as confissões de Valen foi sem igual. - Ela abriu os olhos dela sobre os riscos de amar uma mulher como verena, pois além dela ser adulta ainda por cima casada. Mas também, não criticou ou fez pouco caso dos sentimentos dela, apenas ouviu sem fazer julgamentos. - Se prontificou a ser o porto seguro, se por acaso ela se decepcionar com todas essas descobertas iniciais dela. - Muito bacana esse tipo de amizade.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Carol até agora, perfeita. Nada a comentar dela. Ainda.


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Zanja45
Zanja45

Em: 19/05/2025

"não foi uma sugestão, Valentina". - Essa mulher está acostumada a ser obedecida, nem pense em fazer desfeita aos cuidados dela. Porque ela está demonstrando que ela é capaz de tudo para te proteger. -E bem que você gostou Valentina. Mas que mulher não se sentiria envaidecida com toda essa dedicação?


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Ela gosta rsrs, a gente sabe. E convenhamos, a Verena não é qualquer mulher né.


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Em: 19/05/2025

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Zanja45
Zanja45

Em: 19/05/2025

Os diálogos de Carlos, pai da Valentina, sempre de cunho preconceituoso, por ele não é capaz de enxergar e conceber o relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo, por isso o ataque constante, o repúdio as ações divulgadas pela mídia como algo negativo. A preocupação dele quanto a inversão dos valores e que isso possa influenciar sua filha Valentina, já que ela trabalha diretamente com a deputada . O que se pode inferir disso tudo, é que as pessoas se ligam tanto na vida do outro- em apontar o que é certo o que é errado - que se esquecem de perceber que esses discursos não trazem nada de relevante, machuca as pessoas.

Como sempre, Ana Paula, mãe de Valentina, muito coerente em suas falas, quando concorda que os valores estão invertidos, mas que isso não quer dizer que ela manterá as filhas em rédeas curtas, porque ela procura passar os ensinamentos corretos para elas, porém se elas forem por caminhos opostos aos que preconizado por eles. Não quer dizer que foi porque eles não interviram quando necessário, mas por opção de cada qual. - Os meios influenciam nas decisões é claro, todavia o medo dele, é que ela se envolva com uma mulher - que não é o ambiente que define, mas sim, algo que já vem de dentro das pessoas 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Você foi cirúrgica nesse comentário. O Carlos já dá pra imaginar como vai ser a reação dele quando souber. Ainda bem que a Ana Paula parece ser mais centrada, porque sem o apoio dos pais, a situação fica muito mais complicada.


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Em: 19/05/2025

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Zanja45
Zanja45

Em: 18/05/2025

Esse menosprezo que Silvia está dando em Verena. - Está deixando Verena em apuros, até às roupas íntimas estão sobre o poder da esposa. Se vingança é um prato que se como frio, Silvia está comendo quente, pois Verena não está mais sendo cuidada do jeito de antes. 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Pois é. Não tira a razão da Silvia de estar com raiva. Não sei se concordo também com essa atitude de não dar nem as roupas, afinal, teoricamente o quarto é das duas né. Mas a gente já sabe quem manda em casa, então... Verena que se vire.


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Zanja45
Zanja45

Em: 18/05/2025

Que aperto na cintura de Valentina foi esse? - Não esperava por isso! Verena gosta de viver perigosamente - aproveitou bem a oportunidade. -  Fiquei em suspense.-  Se com essa pressaozinha na cintura ela quase desmaia, imagina quando acontecer o beijo. - Minha nossa, essa deputada, não brinca em serviço. 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Nem eu esperava rsrs. Depois fica se perguntando como as coisas vazam do gabinete. Ela dá muito na cara rssr. E a Valentina tadinha... Verena vai ter que ficar próxima a um hospital já rssrs


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Em: 18/05/2025

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Zanja45
Zanja45

Em: 18/05/2025

Verena arrasou na tribuna, calou a boca da outra deputada como quem sabe do que está falando . -  Engraçado ela falar de rachadinhas, desvio de verbas - uma hipocrisia mesmo. - Sendo que ela está envolvida em desvios. Mas, ela mandou ver na forma de falar, foi tão convicente no discurso, que não tem como não aplaudir ela. - Os adversários políticos que tentaram desmoralizar ela, ficaram com a cara mexendo, pois o que eles trouxeram para debate fora rebatido com propriedade.-  


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Ela arrasa demais. Tirando a hipocrisia de sempre né rsrs, que infelizmente é comum lá dentro, Mas nesse discurso ela só falou verdades. Merece aplauso mesmo.


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Zanja45
Zanja45

Em: 18/05/2025

Adriel, a autora não está demorando de postar, ela que nos acostumou mal, postando todos os dias. - porque três ou quatro dias é pouco a demora.- Mas convenhamos, os capítulos dela são muitos extensos, pois passa de 10.000 palavras. -  Esses pequenos atrasos" são compensados com mais palavras e boa escrita. - Não vou mentir, meus níveis de ansiedade subiram bastante a espera de mais um capítulo.

Concordo contigo com o quesito de você falar que é a melhor história , pois estou gostando muito da escrita de anônimo2405. 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Menina, quem é esse Adriel? Foi algum comentário aqui? Confesso que eu fiquei procurando mas não achei rssr.
Mas tenho que te agradecer por ter saído em minha defesa rs. S2

De fato, no começo eu postava capítulos menores, todo dia. S[o que eu gosto de capítulos longos e as cenas forma ficando maiores e eu não achava legal cortar no meio. Então optei por dar esse espaço entre uma postagem e outra, com capítulos maiores. Mas sabia que isso ia ser sentido por quem tá acompanhando. Então fica meu pedidos de desculpas.

E, me perdoa também por te deixar ansiosa esperando rs. Vou tentar não demorar muito! E ficou muito feliz que esteja gostando da leitura. Tento sempre trazer de uma forma que fique prazeroso pra ler.



Zanja45

Zanja45 Em: 21/05/2025
Kkkk! Adriel comentou através do Facebook. - Só que os comentários de lá não se incorporam aos do Lettera. - Não sei ao certo os motivos, possa ser por conta de algum Plugin, porém podem ser visualizados abaixo dos comentários.



Zanja45

Zanja45 Em: 21/05/2025
Abra a parte de comentários e vá até o final para ver se aparece no seu perfil, pois no meu é visível na página do Facebook. Bem no rodapé.



Zanja45

Zanja45 Em: 21/05/2025
Abra a parte de comentários e vá até o final para ver se aparece no seu perfil, pois no meu é visível na página do Facebook. Bem no rodapé.



anonimo2405

anonimo2405 Em: 22/05/2025 Autora da história
Ahhhhhhhhh. Se eu te falar que olhei duas vezes lá e não achei kkk. Aí depois que você falou, tava lá. Mas não tava antes, não é possível rsrs. Obrigada!



Zanja45

Zanja45 Em: 27/05/2025
Rsrsrs!


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Zanja45
Zanja45

Em: 18/05/2025

Até achei muito suspeito aquela conversa de Silvia com Mariana, mas fora isso não creio que ela chegue ao nível de trair Verena de uma forma tão leviana, pois ela ama muito a esposa, é uma pessoa muito leal, apesar de constatar que Verena já não a ama mais. 

Não acredito que Silvia esteja sobrando na história. - ela está dando uma movimentada boa nas cenas .  -  O relacionamento dela mais Verena é que está em declínio. Fora isso, ela está fazendo o papel da mulher que ama a esposa e fazendo de tudo para resgatar, porém está surtindo efeito contrário, porque Verena está muito perdida, tentando se encontrar em todas as áreas, mas está impossível, pois ela não age mais com a razão e sim com o coração. - Por isso está difícil haver um resgate da mulher que ela pensou ser um dia. - Porque ao que tudo indica, que agora que ela está se encontrando, apesar de ser um forma totalmente errada.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Eu também não consigo desconfiar da Silvia. Olha se ela aprontar alguma, vai ser um choque, porque eu realmente não consigo imaginar ela fazendo alguma coisa errada, ainda mais contra a Verena. Eu sinto um pouco pena dela, porque é visível que ela tá tentando até a última gota de esperança. E acho que a Verena acaba de aproveitando, sabendo que no fundo é só fazer um charme a mais e pronto. Muito complicada a situação desse casamento. Vamos esperar pra ver no que vai dar.


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N@ty
N@ty

Em: 18/05/2025

Os olhos não mentem

E quem consegue "ler" um olhar

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anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Nossa, que profundo. E verdadeiro.


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N@ty
N@ty

Em: 18/05/2025

Eu amo o fato de cada capítulo ser longo

Além de bem escrito e desenvolvido, a gente parece que não termina... E isso maravilhoso!

Estou desconfiada desse Léo, ele está observando demais a relação que Valentina tem com Verena, mesmo que profissional ele consegue captar nas entrelinhas.

A Rafaela também me parece suspeita

Ela é a Verana são amigas, mas me parece que apenas na calmaria

Porque se a guerra acontecer ela está pronta pra pular fora. Mas não julgo. Ainda mais no mundo da política. 

Até desconfiei da própria Silvia.

Sua história tem muito ainda que nos proporcionar

Gostaria de acompanhar a construção dessa relação para além de anos, visto que a Valentina tem apenas 16 anos. Mas estamos só começando e você consegue nos prender, nos deixando ansiosos e ansiando pelo beijo, pelo Q a mais que virá.

A Silvia agora está sobrando

De amor da vida da outra para estranha

Uma hora a Verena vai ter que enfrentar a avalanche que se desenrola em sua direção 

E realmente, a gente pode mentir pra todo mundo

A gente até tenta abafar nossas próprias verdades mentais

Só que enganar a nós 

É como enganar um espelho

E por mais que o reflexo não consiga ecoar nossas vozes

O barulho do caos dos pensamentos

Parece gritar em voz alta

Dói!

 

 

 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Seus comentários sempre poéticos e reflexivos. :)
Eu também gosto de capítulos maiores. Comecei com alguns menores, mas tem hora que fica ruim dividir em dois. Eu tento não deixar muito grande pra não demorar a atualizar aqui rssr. Mas fico feliz que esteja gostando, espero que continue coma gente.

E reforço o que eu disse no comentário da Zanja. Todo mundo parece legal, mas.... Tenho um pé a trás com todos. Menos com a Valentina rsrs. E até com a Silvia, não consigo achar que ela seria capaz de fazer nada errado.

E concordo com você, não conseguimos mentir pra nós mesmos.


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Zanja45
Zanja45

Em: 18/05/2025

Léo é um amigo de verdade de Valentina ou a aproximação dele foi planejada? Eu achei estranho ele notar o interesse de Valentina pela Chefa- muito observador por sinal - Porém, ele está dando o maior incentivo a Valentina em relação a Verena. - Possa ser que ele não seja um mero estagiário. - Pode ter sido plantado para ficar de olho nas movimentações pelo gabinete da deputada. Todavia a ajuda dele pode ser até genuína, no entanto, ainda tenho dúvidas em relação a ele. - Pois possa ser que agora que descobriu o segredo dela( Valentina) possa usar ela como arma política para derrubar Verena. - o intuito possa ser antecipar a queda dela mais facilmente, já que descobriu um ponto fraco dela.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Ahhh o Léo rsrssr. Eu também ainda não tenho uma opinião formada sobre ele. A primeira vista parece ser gente boa mesmo, mas aí é que tá a questão, todo mundo parece ser gente boa, então... Isso não é muito parâmetro. Vou ter que observar melhor o rapaz pra ver como vai ser. Mas olha, se sou eu ali sendo arrastada no lugar da Valentina, acabou a amizade rsrsrs.


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Hanna28
Hanna28

Em: 17/05/2025

Autora... a partir de ontem já viciei nesta relíquia literária abrangente e bem escrita na sua forma mais crua e humana.

Já tens uma super fã! 

Sucessos na sua vida wink


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Ahhh, :) Nossa, impossível não sorrir com um comentário como esse! Obrigada por dar uma chance de conhecer a história. Darei sempre meu máximo.

Muito sucesso pra você também! :)


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Hanna28
Hanna28

Em: 17/05/2025

Gente...está história tá uma obra extremamente engajada! Pqp... se tivesse a mesma no wattapad eu também já irai correr para ler e viver cada emoção imposta nesta maravilha em forma de romance proibido.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Olha, sem palavras pra descrever como ler isso me deixou feliz. Não vou mentir que pensei em colocar no Wattpad também ,mas mantive minha ideia inicial de publicar aqui primeiro. E eu fico muito feliz que esteja gostando. Por conter assuntos mais polêmicos pensei que iam ter muitos feedbacks negativos. E que são válidos também.


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Zanja45
Zanja45

Em: 17/05/2025

Verena não demora a explodir, com tantas preocupações no juízo. - O vídeo, o dossiê, a pressão da mídia. Eu creio que o que coloca ela nos eixos é a esbarrada em Valentina. - ou leva ela mais a perdição. Kkkk!


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
kkkkkkkkkk, aposto mais na segunda opção.


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Zanja45
Zanja45

Em: 17/05/2025

As relações de amizades entre Rafa e Verena estão um pouco estremecidas. - Depois das investigações de desvio de verbas na merenda escolar e o medo que acabem descobrindo as ongs inexistentes. Desde o capítulo anterior que já havia um estranhamente entre as duas, será que Rafaella vai abandonar o barco, está traindo Verena? Já estou com uma leve desconfiança nela.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Essa relação delas parece uma montanha russa. Eu não acho que ela trairia a Verena, mas... Não coloco minha mão no fogo.


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Zanja45
Zanja45

Em: 17/05/2025

Estou curiosa para saber quem mandou a foto de Valentina para Verena. - Então aquela tentativa de assalto foi planejada? Verena já estava a tempo no olho do furacão e não sabia?


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Muita coincidência né rs. Mas a Verena dá muita bandeira. Obvio que alguém ia perceber. Só torcer pra não dar errado, porque com o tanto de problema que ela vai atrás. Se um der errado, vai ser efeito dominó.


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Zanja45
Zanja45

Em: 17/05/2025

Verena está ultrapassando todos os limites possíveis quando o assunto é Valentina. -  Se tornou uma obsessão.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 21/05/2025 Autora da história
Pois é. E no ambiente que ela vive, o risco é ainda maior.


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