O Peso do Azul por asuna
Capítulo 18
Sábado chegou com uma névoa suave e uma ansiedade palpável. Em frente ao espelho, mudei de roupa uma dúzia de vezes, insatisfeita. Nada parecia suficiente, nada parecia certo. Queria sentir-me confiante, mas o meu armário parecia constituído por peças demasiado largas, demasiado infantis, demasiado eu.
Por fim, resignada, optei por uma camisa branca simples e uns jeans mais justos do que normalmente usaria. Observei-me uma última vez, passando os dedos pelos cabelos, decidindo libertá-los do habitual elástico que os mantinha domesticados. No espelho, uma versão ligeiramente diferente devolveu-me o olhar, não completamente transformada, contudo com os primeiros lampejos de algo a despertar.
A viagem até ao Doug Jennings Park foi um borrão de nervos e expectativa. Quando finalmente cheguei acenei a Amanda em agradecimento, o ar fresco da manhã fez pouco para acalmar a pulsação frenética no meu peito.
Procurei por rostos familiares, colegas de turma, mas sobretudo por ela. Cada segundo sem a ver era uma contração no estômago. Ouvi vagamente o professor a dar instruções, explicar a dinâmica do dia, contudo as palavras escorregavam sem deixar marca, como água sobre pedra polida.
E então, como se invocada pelo meu desespero silencioso, ela apareceu.
Chloe caminhava na minha direção com passos lentos e propositados, como se tivesse todo o tempo do mundo. Calças jeans rasgadas nas coxas e um casaco de couro que lhe assentava nos ombros como uma segunda pele. A máquina fotográfica pendurada ao pescoço completava o visual, dando-lhe um ar de artista despreocupada que era pura sedução. Observei-a a aproximar-se e perguntei-me se era assim que Eva se sentira ao contemplar o fruto proibido, não com medo, mas com uma fome que transcendia qualquer noção de certo ou errado.
Engoli em seco quando parou à minha frente, o meio sorriso a brincar-lhe nos lábios.
— Contem o desespero, já estou aqui. — Murmurou, inclinando-se para mim como se fosse contar um segredo. — Não iria perder a oportunidade. Temos muito para explorar hoje.
O seu hálito roçando no meu pescoço, trazendo consigo um aroma subtil de menta e algo mais profundo, vagamente doce, único.
O rubor queimou as faces. Ela sorriu, satisfeita com o efeito que tinha sobre mim, e a noção de que me podia ler tão facilmente só intensificou a sensação vertiginosa que percorria o meu corpo.
— Vamos ver se a tua confiança em mim é justificada — respondi, tentando disfarçar o tremor na voz.
As minhas mãos tremiam ligeiramente quando Chloe me guiou para uma clareira afastada, onde a luz brincava entre as árvores, lançando sombras ousadas sobre a relva. O sangue precipitava-se nas veias, não só pela antecipação das fotografias, mas pelo simples facto de estar a sós com ela, longe dos olhos curiosos dos outros.
Esta aproximou-se lentamente, o seu perfume envolvendo-me como uma névoa quente e sensual. O seu olhar percorreu-me de alto a baixo, demorando-se propositadamente em cada detalhe, como se me saboreasse antes mesmo de me tocar.
— Hoje nós não queremos só imagens. Queremos histórias. Primeira regra — começou, sem rodeios — não apontes a lente como se estivesses à espera que algo aconteça. Se não correres atrás do que te provoca, não irás capturar nada. – piscou-me o olho, e algo estremeceu por dentro, como corda de violino dedilhada.
Abaixou-se suavemente, pousou a mochila no chão, retirou a máquina do pescoço e estendeu-ma. Segurei-a, sentindo o frio do metal contra as palmas das mãos, o peso sólido do objeto a ancorar-me à realidade quando tudo o resto parecia dissolver-se em sensações abstratas.
— Para explorar o tema o importante não é o foco técnico. É o foco emocional. Usar o contraste para realçar a textura, o relevo, a sensação. Pontos de contacto. A luz a tocar onde não há palavras.
— Posso? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada, mesmo sabendo que podia.
Pegou na minha mão e guiou-a até à máquina, ajustando suavemente os meus dedos nos botões certos. O toque era simultaneamente instrutivo e íntimo, enviando faíscas de eletricidade pelo meu braço.
— A pele é um terreno rico — continuou, o sopro quente roçando-me a orelha. — Cada poro, cada imperfeição, conta uma história. O teu trabalho é captar essa narrativa, traduzir o tátil em visual. Fazer com que quem olhe para a foto possa quase sentir a pele sob os dedos.
Assenti, tentando absorver as suas palavras, evitando com que a proximidade do seu corpo me distraísse. Fez uma pausa, passou a língua devagar pelo lábio inferior, num gesto quase inconsciente que fez o meu estômago contrair-se como se tivesse engolido uma pedra. Segui o movimento, hipnotizada
— Se tremes, a imagem sai desfocada. E, Maya, não há nada mais óbvio do que uma fotografia que revela medo.
O peito apertou-se com um nó invisível. Afastei-me um pouco, ajustei a lente, tentei controlar a respiração que ameaçava descompassar.
— Onde queres que te posicione? — perguntei, odiando a vulnerabilidade da minha própria voz.
Chloe recuou dois passos. Com um gesto fluido e intencional, afastou o cabelo e retirou lentamente o casaco, revelando uma regata branca que lhe acentuava as curvas subtis. Deixou a peça cair ao lado, deliberadamente.
— Aqui está ótimo. Quero que captes a sensação do vento a tocar-me. A pele arrepia, o sangue corre mais rápido. Isso deve ser transmitido na imagem.
Ajustei o foco. A lente tremeu como se tivesse vida própria. Ela notou.
— Estás a pensar demais. — declarou, constatando o óbvio.
Fez um gesto simples, afastando o cabelo deixando a superfície quente do pescoço exposta, um convite silencioso. Observou-me, mantendo o contacto fixo, um desafio mudo na profundidade turquesa do seu olhar.
— Vai. Tenta.
A garganta secou num instante, os pulmões pareciam incapazes de reter ar suficiente, como se o espaço entre nós tivesse sido esvaziado de oxigénio.
Levantei a câmera, as mãos tremulosas, comecei a fotografar. No início, os cliques eram indecisos, quase tímidos. Mas à medida que Chloe se movia, expondo cada vez mais de si, cada curva, cada ângulo, cada sombra convidativa, algo em mim desbloqueou.
Esqueci do parque, do mundo além da nossa bolha. Existia apenas ela, a sua delicadeza translúcida sob a luz filtrada, o modo como o seu corpo criava sombras e relevos, como uma paisagem sagrada a ser venerada. Fotografei-a como se a devorasse, cada clique mais urgente, mais íntimo, mais faminto que o anterior.
E Chloe, ela entregava-se como se fosse um amante, sem pudor, sem reservas. O olhar semicerrado, os lábios entreabertos, o corpo arqueado em poses que eram pura provocação líquida. Esta se oferecia não apenas à câmera, mas a mim, um convite silencioso para que eu a tomasse, a possuísse, a conhecesse de todas as formas possíveis.
Fotografei os limites. Ou o que eu achava que eram.
— Sabes o que é mais difícil de capturar? — ouvi-a perguntar, com a voz baixa e rouca, enquanto mudava subtilmente de posição, o tecido da regata a subir ligeiramente, revelando um pedaço da sua textura abaixo do umbigo. — A sensação de querer tocar e não poder.
A lente tremeu. Eu também. E a imagem seguinte saiu desfocada, uma confissão visual da minha perda de controlo.
Vi-a sorrir, lenta e deliberadamente, como quem reconhece uma vitória silenciosa. Levou as mãos à bainha da regata e, num movimento fluido, puxou-a sobre a cabeça. A peça deslizou pelos seus contornos como água a deslizar sobre mármore, revelando a parte de cima do bikini preto que contrastava com a palidez cremosa da sua pele. Deixou-a cair no chão, o rosto fixo em mim, um convite e um desafio.
O corpo incendiou-se com uma febre repentina, a boca ressequida como areia do deserto, e senti um clarão de reconhecimento percorrer-me, não como memória, porém como um incêndio súbito, primordial. Uma vertigem de sensações entrelaçadas, dor e prazer tão fundidos que já não sabiam os seus próprios limites. A fronteira entre o que é corpo e o que é delírio desvanecia-se perante os meus olhos.
— Continua — murmurou, a voz pesada com algo que eu não ousava nomear, embora sentisse o seu eco dentro de mim. — Quero ver-te a tentar controlar a respiração enquanto me capturas.
Mordi o lábio com força, tentando ancorar-me na dor física para não me perder completamente nela. Ergui novamente a máquina, as mãos agora firmes com uma determinação que eu não sabia possuir, contudo que ao mesmo tempo reconhecia ligeiramente.
Fotografei-a como se a minha vida dependesse disso. Como se cada clique pudesse, de alguma forma, aproximar-me mais dela, da sua essência. Captei a curva suave da sua cintura, a sombra subtil das suas clavículas, o brilho quase etéreo da sua pele sob a luz filtrada pelas árvores.
Chloe não vacilou. Deixou-me ver, deixou-me capturar, cada detalhe, cada sombra, cada poro. Ofereceu-se à lente como uma deusa pagã, crua e inteira, sem medo de ser devorada.
E eu, eu fotografei-a como se estivesse a venerar um altar, cada clique uma prece silenciosa, uma confissão muda do desejo que me consumia.
Quando finalmente baixei a máquina, a respiração acelerada, as palmas suadas, ela sorriu. Um sorriso lento, lânguido, que prometia o mundo e exigia a alma. Aproximou-se de mim com passos felinos, parte do corpo ainda exposto, vulnerável e poderoso ao mesmo tempo.
— Acho que começaste a captar a essência - sussurrou, a voz rouca como seda.
O silêncio era quase palpável, pontuado apenas pelas nossas respirações e pelo som distante dos pássaros. Estudei-a, tentando ler a sua expressão, descodificar os pequeníssimos sinais no seu rosto que pudessem revelar o que ela pensava, o que sentia.
Antes que alguma de nós pudesse acrescentar alguma coisa, o céu explodiu num trovão que fez estremecer o chão sob os meus pés. Um segundo depois, a chuva desabou, fria, pesada, impiedosa, ensopando-nos num instante.
Os meus olhos permaneceram fixos nela. Chloe.
O seu cabelo colava-se ao rosto, o olhar selvagem preso no meu, a respiração rápida como se a tempestade tivesse irrompido dentro do peito dela.
Vi-a recuar, pegando os seus pertences, vestindo o casaco num movimento abrupto. Senti a sua mão agarrar-me o pulso, quente, firme, decidida, enviando uma corrente elétrica pelo meu braço.
— Vem comigo. — Segredou, puxando-me com ela.
Quase tropecei atrás dela enquanto corríamos, as sua botas batendo forte na terra molhada, arrastando-me sem me dar tempo de pensar. O mundo reduziu-se ao som do nosso fôlego ofegante, ao rugido do temporal, ao calor do seu contato. Quando dei por mim, estávamos à sombra da torre do salva-vidas. Chloe enfiou a mão no bolso, tirou uma pequena chave, destrancou a porta enferrujada e empurrou-me para dentro.
A madeira do abrigo rangia, o cheiro a sal misturava-se com o perfume dela, a chuva batia forte no telhado, abafando todo o resto. Eu arfava, tentando recuperar o fôlego, sentindo a camisa branca colada à pele como uma segunda camada translúcida, revelando mais do que escondia.
Ela fechou a porta atrás de nós, encostou-se nela por um segundo, os seus olhos pousaram em mim. Aquela íris de mar agitado percorreu-me lentamente, demoradamente, como se estivesse a memorizar cada curva subtil visível sob o tecido molhado. Senti-me exposta, vulnerável, ao mesmo tempo poderosa, desejada. O calor subiu ao rosto, ao peito, concentrando-se entre as pernas numa pulsação insistente.
Eu devia ter cruzado os braços, devia ter-me virado, coberto, feito qualquer coisa. Mas fiquei ali, congelada, presa no fogo líquido daquele olhar. Quase sem querer, a minha atenção desceu pelo seu corpo, seguindo as gotas de água que deslizavam suavemente pela sua pele exposta debaixo do casaco aberto, desaparecendo sob o cós das calças jeans. Subitamente, aquele lugar ficou pequeno demais, o ar denso demais, carregado com a eletricidade da antecipação.
Deu um passo em frente. Depois outro. O espaço entre nós diminuía, no entanto, a tensão aumentava, vibrando como uma corda esticada prestes a partir. Eu mal conseguia respirar, mal conseguia pensar para além da necessidade crua de a tocar, de ser tocada.
Chloe ergueu a mão lentamente, os dedos a tremer. Por um momento, pareceu que ia tocar-me, traçar a linha da minha mandíbula, descer pela lateral do pescoço. Mas então, tão subitamente como se tinha aproximado, ela recuou. Foi um movimento pequeno, quase impercetível, mas eu senti-o como um golpe físico.
Encarei-a, confusa, o desejo misturando-se com uma pontada de mágoa. O seu olhar cravou-se no meu, e por um instante, por um breve segundo suspenso no tempo, vi algo mais para além da provocação habitual, da confiança inabalável. Vi vulnerabilidade. Vi medo.
Com um movimento abrupto, desviou-se de mim. Atravessou a pequena torre até à janela, ficando de costas, os ombros tensos formando uma barreira impermeável. Permaneceu assim, imóvel como uma estátua, contemplando a cortina densa da chuva que nos isolava do resto do mundo.
Olhei em volta procurando um local para sentar, subitamente consciente do frio que me penetrava os ossos, a roupa encharcada colada ao corpo como uma segunda pele gelada. Estremeci violentamente, os dentes a baterem contra a minha vontade.
Ela virou-se, alertada pelo som involuntário. A sua atenção percorreu-me com uma intensidade clínica, registando cada tremor. Sem uma palavra, dirigiu-se a um armário antigo escondido num canto, abrindo-o com familiaridade inquietante. Extraiu de lá um casaco azul-escuro, gasto pelo tempo, estendeu-mo com um gesto que não permitia recusa.
— Toma — ordenou, num tom baixo que não reconheci.
— Não — resisti, teimosa até no desconforto, cruzando os braços num gesto infantil de proteção. — Estou bem.
O bater desenfreado dos meus dentes desmentiu-me imediatamente. Chloe revirou os olhos, exasperada.
— Por favor, isto é simplesmente ridículo —a voz subitamente mais suave.
Antes que pudesse processar o que estava a acontecer, sentou-se do meu lado, o corpo emanando uma vibração morna que me atraía como imãs opostos, envolveu-me com o braço, puxando-me para ela sem cerimónias. O casaco descansava sobre os nossos ombros como uma asa protetora. O contato do seu corpo com o meu, ombro contra ombro, quadril contra quadril, mesmo com tecido entre nós, enviou ondas de choque pela minha coluna. A sua fragrância invadiu-me, dominando o pequeno espaço que ainda restava entre nós, embriagando-me até à tontura.
Virei o rosto, observando-a de perfil, a mandíbula cinzelada em sombras e luz, o nariz perfeitamente definido, os cílios molhados emoldurando as lagoas turquesa que fixavam um ponto indefinido na parede oposta. Tão perto que podia sentir a brisa suave da sua respiração. Tão longe que poderia estar noutro universo.
A ausência de som desdobrou-se entre nós como um manto pesado. Cada suspiro dela transportava-me inevitavelmente para aquele momento, para o fogo líquido da sua boca, bastaria que a sua cabeça se movesse ligeiramente para ficar no mesmo nível, humedeci os lábios com esse pensamento.
Um relâmpago cortou o céu, iluminando o interior da torre por um segundo fugaz.
— Não costumo fazer isto — ouvi-a de repente, a voz tão baixa que quase se perdia no ruído da chuva.
— O quê? Abrigar-te de tempestades?
Inclinou a cabeça, um meio sorriso tocou-lhe o rosto, contudo desapareceu quase de imediato.
— Para ser sincera eu não sei o que estou a fazer contigo — confessou inesperadamente, tão baixo que quase perdi as palavras no meio da tempestade, a voz áspera como se cada sílaba arranhasse a garganta ao sair. — E isso aterroriza-me.
O reconhecimento atravessou-me como um raio, abrindo-me em dois. Ela continuou, o olhar fixo nas sombras que dançavam na parede oposta, como se fosse mais fácil falar sem me encarar.
— Já deves ter ouvido comentários sobre mim. — Não era uma pergunta, era uma constatação seca.
A chuva diminuiu ligeiramente de intensidade, porém o vento continuava a fustigar as paredes da torre.
— Não acredito em tudo o que ouço — respondi sem dar tempo para mergulhar no silêncio.
Um sorriso triste, quase inexistente, formou-se no canto dos seus lábios.
— Talvez devesses. Provavelmente a maioria é verdade. Não nego. Nunca fingi ser algo que não sou. — Fez uma pausa, ajustando o casaco sobre nós. — Ou talvez, não devesses.
Senti-a inspirar fundo, como quem se prepara para submergir em águas demasiado profundas.
— As histórias raramente captam as nuances. — Prosseguiu num sussurro. — É mais fácil falar sobre quem vai para casa com quem, sobre beijos em festas e corações partidos. O que ninguém menciona é o depois. Os silêncios. As explicações. As verdades incómodas.
Virou-se ligeiramente na minha direção, não o suficiente para me olhar de frente, apenas o bastante para que sentisse a mudança no ar entre nós.
— Não sou tão descuidada como gostam de pensar. — A vulnerabilidade na sua voz apanhou-me desprevenida. — Nunca deixo ninguém sem explicação. Nunca prometo o que não posso dar.
Um novo trovão, mais próximo agora, ecoou nas paredes. Através da janela embaciada, as luzes da cidade pareciam manchas desfocadas.
— É difícil para as pessoas ouvirem que não são o que procuras — continuou, após um momento. — Mais fácil transformar-me na vilã. A insensível. A que brinca com sentimentos.
Senti a sua mão tremer ligeiramente contra o meu ombro.
— Sabes por que me afastei naquele dia? No quarto? — questionou abruptamente, a voz agora tão baixa que tive de me inclinar para a ouvir.
A intensidade entre nós. O sabor daquele momento ainda persistia em mim, um fantasma de desejo não concretizado que me assombrava nas noites mais silenciosas.
— Porque não era real — respondeu ela, sem esperar a minha resposta. — Ou melhor, era real demais, mas pelos motivos errados. Já vi o suficiente de impulsos nascidos da mágoa para os reconhecer quando os vejo.
Afastou-se um centímetro, criando uma minúscula, porém dolorosa distância entre nós.
— A minha mãe viveu assim durante anos. Ela passou por coisas, coisas que uma criança não devia testemunhar, não devia compreender. Movida pelo desespero. Pela raiva. Pelo medo de ficar sozinha. — A sua voz perdeu firmeza por um instante. — Vi o que isso faz a uma pessoa. Como a corrói por dentro.
Outro relâmpago. Outro vislumbre do seu rosto. Uma expressão que provavelmente jamais esqueceria.
— Prometi a mim mesma que nunca deixaria que me tocassem assim. Em desespero. Em fuga. E prometi que nunca tocaria noutra pessoa desse mesmo modo.
Aquelas palavras penetraram a minha pele como água gelada. Reconheci-me nelas, na forma como me tinha lançado sobre ela, não por desejo puro, mas por uma mistura tóxica de frustração, raiva, ciúmes e confusão. Senti uma vergonha nova, não pela natureza do meu desejo, mas pela forma como o tinha expressado.
— Já desiludimos pessoas suficientes sem intenção — continuou, agora fixa nas próprias mãos. — As que magoamos porque não conseguimos evitar, porque somos humanos e tropeçamos uns nos outros. Mas escolher conscientemente magoar alguém? Ou deixar que alguém me use para se magoar? — Abanou a cabeça. — Isso é uma escolha. Uma que me recuso a fazer.
O seu braço ajustou-se à volta do meu ombro, não para me afastar, mas como se precisasse daquele toque tanto quanto eu. Este movimento aproximou-nos novamente, devolvendo o calor que a distância momentânea tinha levado. A sua fragrância intensificou-se, e eu inspirei profundamente, querendo guardar aquele aroma na memória sensorial.
— Os outros veem o que querem ver. A provocadora. A confiante. A garota que não se importa. — Riu-se, um som amargo que me atingiu como um soco. — É mais fácil assim. Mais seguro.
A chuva abrandava lentamente. O rufar constante das gotas no telhado transformou-se num murmúrio rítmico, quase hipnótico.
— No voluntariado, vejo-te com as crianças — sussurrei, encorajada pela sua vulnerabilidade sem precedentes. — Tão presente, tão verdadeira. Tão diferente da Chloe que todos pensam conhecer.
Um sorriso frágil apareceu-lhe nos lábios.
— Elas veem mais de mim do que a maioria jamais verá — confessou, a voz agora mais calma, quase resignada. — É mais fácil ser real com quem não tem expectativas, com quem não tem julgamentos prontos. As crianças só querem que estejas lá. Completamente.
— Como a Mia — observei, lembrando-me da pequena que corria para os seus braços como se encontrasse ali um porto seguro.
Assentiu, os olhos subitamente brilhantes com algo que poderia ser humidade ou memória.
— Ela faz-me lembrar como o Jayden era — admitiu, num sussurro. — A necessidade desesperada de ser vista. De ser ouvida. E um pouco de como eu era. De querer pertencer a algum lugar onde ninguém te magoe.
A confissão atingiu-me como uma onda, inundando-me os sentidos. Nesse momento, vi alguém com cicatrizes tão profundas quanto as minhas, apenas manifestadas de forma diferente.
— Porque não contas a ninguém sobre o voluntariado? — questionei, a curiosidade queimando mais forte que o receio.
Encolheu os ombros, um gesto raro de incerteza que me pareceu quase obsceno na sua vulnerabilidade.
— Eu acho que já respondi a essa pergunta. Não quero que seja mais uma coisa pela qual me definam — admitiu, o olhar novamente preso ao meu, tão cru e honesto que quase doía. — Naquele lugar, sou apenas eu. Sem etiquetas, sem expectativas.
Senti-me subitamente privilegiada, contemplando uma verdade raramente partilhada. O meu peito expandiu-se com um sentimento inominável, demasiado grande para conter, demasiado perigoso para examinar de perto.
— Por quê agora? Por que estás a contar-me tudo isto? — perguntei, a voz trémula de emoção contida.
Ela virou-se completamente para mim. As águas de mar revolto do seu olhar encontraram os meus com uma intensidade que me roubou o fôlego.
— Porque quando estou contigo, a segurança deixa de fazer sentido. — Confessou, a voz mal audível sobre o ruído da chuva. — Tu desarmas-me sem sequer tentar. Como se estivesses sempre à procura de algo em mim que nem eu sei se existe.
A minha respiração tornou-se superficial. Cada centímetro da minha pele parecia hipersensível, viva, pulsante. Um calor que nada tinha a ver com o casaco partilhado espalhou-se pelo meu corpo, concentrando-se em pontos específicos, o baixo-ventre, os lábios, a ponta dos dedos que formigavam com o desejo de a tocar.
— E às vezes, em momentos como este — prosseguiu, transmitindo algo incrivelmente vulnerável — tenho a esperança absurda de que, se deixar que me vejas realmente, talvez encontres algo que valha a pena.
A tempestade passava, mas alguma coisa mais potente nascia entre nós.
— O que eu quero dizer é — Hesitou, como se ponderasse no que dizer. — Não me afastei porque não te queria. Afastei-me porque te queria demasiado. Demasiado para aceitar menos do que aquilo que mereces.
— Desde aquela noite. Naqueles dias que fiquei afastada. Não me arrependo do que disse. — A firmeza na sua voz contrastava com a fragilidade do momento. — Mas talvez não tenha sido completamente justa, contigo ou comigo. Quando disse que te queria inteira — Fez uma pausa, respirou fundo. — Nunca tinha pedido isso a ninguém antes. Não sou assim —as palavras saindo-lhe agora em torrente, como se uma barragem interna tivesse cedido sob pressão demasiada. — Não fico obcecada com alguém. Não perco o sono. Nunca deixo que vejam mais do que estou disposta a mostrar.
Ela ajustou o casaco sobre os nossos ombros, um gesto que parecia mais uma desculpa para ganhar tempo do que uma necessidade real. O roçar acidental dos seus dedos no meu pescoço enviou um arrepio pela minha coluna, senti os pelos dos braços eriçarem-se em resposta.
— Esta semana, tenho-me perguntado o que estava realmente a pedir-te naquela noite. Porque pedir-te para seres inteira quando estás comigo é pedir algo que nunca permiti a mim mesma com mais ninguém.
Aquela confissão atingiu-me como uma onda. A ideia de que Chloe, sempre tão autoconfiante e desapegada, pudesse sentir-se vulnerável comigo parecia quase impossível de acreditar.
— Mas não é só isso. — Continuou, a voz ganhando uma nova seriedade. — Também tenho pensado se é justo pedir isso, considerando tudo.
— Tudo?
Ela vacilou, como se pisasse terreno perigoso.
— A tua criação. A tua fé. Toda a estrutura que te moldou até aqui. — As palavras vinham medidas, cuidadosas. — Não é uma coisa simples, é? Querer alguém quando tudo o que te ensinaram diz que esse querer é — Deixou a frase incompleta.
Errado. Pecado. Abominação. As palavras não ditas pairaram no ar entre nós.
Por um instante, senti o familiar aperto da culpa, o eco da voz do meu pai, dos sermões de domingo, das passagens bíblicas que durante anos tinham sido a minha bússola moral. Contudo agora, essas vozes pareciam mais distantes, menos definidoras. No seu lugar, surgiram outras. Vozes mais suaves. Que transmitiam conforto.
— Eu me pergunto se realmente sabes o que queres, Maya. — A suavidade na sua voz contrastava com a dureza daquela verdade. — Ou se estás apenas a lutar contra o que te ensinaram a temer.
Um novo trovão, mais distante agora.
— E se eu não souber? — A pergunta escapou-me antes que pudesse contê-la.
Algo suavizou no seu tom de azul, uma ternura que nunca tinha visto ali antes.
— Então é essa a resposta mais honesta que poderias dar. — Respondeu, a mão ajustando-se novamente no meu ombro. — E eu respeitaria isso.
Ficámos em silêncio por um momento, absorvendo o peso daquela conversa. O cheiro a madeira molhada intensificou-se, misturando-se com o leve odor de sal que impregnava o casaco velho.
Enquanto assimilava o significado daquelas palavras, observei o seu rosto, aquele olhar que sempre me parecera tão desafiador, agora transmitindo uma vulnerabilidade que me tocava de uma forma que eu não sabia explicar.
Um oferecimento tão simples, porém, tão profundo. Uma porta aberta, sem exigências, sem pressões. Apenas a liberdade de ser quem eu era, de sentir o que sentia, sem medo de julgamento ou rejeição.
E foi nesse instante, nessa pequena fresta de honestidade crua, que algo dentro de mim se moveu. Como blocos soltos de um muro que já tinha começado a desmoronar-se nas semanas anteriores. As novas perspetivas, os encontros com uma fé mais inclusiva, a conversa com Amanda, o espaço para questionar sem vergonha, tudo isto tinha preparado o terreno para este momento. Para a coragem de dar um passo em frente, para a possibilidade de me permitir sentir sem imediatamente punir-me por isso.
Relembrei a conversa com a Piper e com a Pastora Collins.
Recordei-me das palavras falando sobre como Deus era maior que qualquer caixa onde tentássemos colocá-lo, maior que qualquer doutrina, maior que qualquer interpretação humana.
Um impulso, uma necessidade que crescia há muito tempo, finalmente encontrava espaço para respirar. Não era apenas sobre Chloe, ou sobre o desejo que sentia por ela. Era sobre mim. Sobre permitir-me ser inteira. Sobre reconhecer que o amor, em todas as suas formas, podia ser parte do meu caminho, não um desvio dele.
Lentamente, ergui a mão e toquei-lhe o rosto. A pele estava fria da chuva, contudo parecia queimar sob os meus dedos. Senti-a prender a respiração, a sua íris de mar revolto fixa na minha, um mundo de perguntas não ditas pairando entre nós. O seu hálito tinha um ligeiro sabor a menta e a algo mais, algo que era só dela, uma essência que eu ansiava por provar mais diretamente.
— E se eu soubesse? — A minha voz saiu rouca, quase irreconhecível aos meus próprios ouvidos. — E se, apesar de tudo, apesar de todos os medos e dúvidas, eu soubesse que isto — fiz um gesto entre nós — é a única coisa que faz sentido agora?
As minhas pernas, inicialmente dormentes com o frio, agora formigavam com uma sensação de antecipação quase insuportável. O roçar subtil do seu joelho contra o meu era mais elétrico do que qualquer outro toque que já tinha experimentado.
— Maya — começou, mas eu interrompi-a, pressionando o polegar suavemente contra os seus lábios. O toque era tímido, porém deliberado, senti a maciez da sua textura sob o meu dedo como uma nova e embriagante descoberta.
— Deixa-me terminar. Por favor. — O pedido saiu superficialmente entrecortado, como se cada sílaba tivesse de lutar para existir. — Toda a minha vida, fui ensinada a ter medo do que sinto. A esconder, a reprimir, a negar. E talvez uma parte de mim, uma parte de mim ainda esteja em guerra com isso, ainda esteja a tentar encontrar um equilíbrio entre o que me disseram que era certo e o que o meu coração realmente…
Fiz uma pausa, respirando fundo, procurando as palavras certas no meio do turbilhão de emoções.
— Aqui, agora, contigo. Pela primeira vez, sinto que posso ser eu mesma. Que posso querer, posso sentir, sem medo de ser julgada ou condenada. — A minha voz tremia, mas não de incerteza. — E talvez eu não saiba exatamente, não saiba o que isso significa, ou onde nos vai levar, mas sei que não quero mais fugir. Não quero mais negar o que sinto quando estou contigo.
A intensidade no seu olhar oceânico roubou-me o fôlego. Lentamente, quase como se temesse quebrar o momento, ela levou a mão à minha, entrelaçando os nossos dedos.
Esta não era a história que me tinham contado, onde o desejo era sempre suspeito, onde a atração entre duas mulheres era vista como algo a ser corrigido ou escondido. Era uma nova narrativa, uma que eu estava a escrever com cada respiração, com cada escolha consciente de não recuar. Um novo texto sagrado feito não de julgamento, mas de aceitação. Não de medo, mas de coragem.
Apertei a sua mão, sentindo o calor espalhar-se pelos meus contornos.
— Então talvez — hesitei, a voz embargada — talvez possamos descobrir isto juntas. — O coração descompassava no peito, tão forte que ela decerto podia ouvi-lo. — Sem pressa, sem expectativas. Apenas explorando o que quer que seja isto entre nós.
Um sorriso surgiu nos lábios dela, genuíno e vulnerável.
— Eu gostaria disso. — Sussurrou, levando a minha mão aos lábios e depositando um beijo suave nas costas dela.
Ficámos assim por um momento, mãos entrelaçadas, olhos perdidos uma na outra. Senti como se algo tivesse mudado irrevogavelmente entre nós, como se tivéssemos atravessado uma fronteira invisível para um território desconhecido e excitante.
Clareei a garganta, puxando-nos de volta à realidade.
— Agora fiquei curiosa, como tens a chave daqui? — perguntei, ainda levemente desnorteada.
Vi-a despertar também daquela hipnose partilhada. Um brilho familiar regressou ao azul-turquesa, como se o mar tivesse despertado após uma longa calmaria. O sorriso que nasceu nos seus lábios já não carregava a vulnerabilidade crua de momentos antes, mas recuperara algo daquela confiança característica dela.
— Sou socorrista voluntária nas praias. — Respondeu, balançando a chave entre os dedos. — Faço parte do programa juvenil de salva-vidas.
Ergui as sobrancelhas, genuinamente surpreendida.
— Não me olhes assim. — Disse, revirando os olhos, embora o sorriso teimasse em permanecer, como se fosse impossível, naquele momento, esconder qualquer emoção. — É útil para o currículo. Ótimo para passar o tempo.
— E deixam-te ficar com a chave? — Questionei, incrédula.
Ela soltou uma gargalhada, e o som encheu aquele espaço com leveza. Os seus ombros relaxaram.
— Claro que não, oficialmente. — Admitiu, os olhos a brilharem com uma certa faísca travessa. — O Martin, o coordenador sénior, confia em mim para verificar os equipamentos ao final do dia. E às vezes, eu esqueço de devolver a chave. Além disso, tenho um acordo com ele. Eu não conto à supervisão que às vezes ele dorme durante o turno, e ele não diz nada sobre as chaves "emprestadas".
Uma pergunta formou-se dentro de mim, crescendo até que não pude contê-la mais. Mordi o interior da bochecha, hesitando apenas por um segundo.
— Costumas trazer as tuas "amigas" a este lugar? — A pergunta escapou-me, e algo na forma como pronunciei "amigas" traiu a inquietação que me consumia por dentro.
Observei o seu rosto mudar subtilmente. Uma sombra divertida passou pela sua expressão, seguida daquele sorriso provocador que eu conhecia tão bem.
— Amigas? — repetiu, como quem prova a palavra devagar. — Gosto dessa escolha inocente de vocabulário. Muito tua.
Ela aproximou-se, com aquela lentidão calculada que usava para me desestabilizar, até o aroma da sua pele invadir os sentidos como uma sedução química.
— Ciúmes, Maya Andrade? — sussurrou com um sorriso que me roçou a pele mais do que os lábios.
O meu sobrenome soou diferente na sua boca, moldado pelo sotaque australiano arrastado, vogais alongadas, sem pressa, pronunciado com uma intimidade que me fez estremecer.
— Isso é uma evolução interessante.
O meu rosto ardeu, traindo-me. Tentei desviar o olhar, mas os seus olhos prenderam-me como âncoras.
— Acho que deu para perceber na conversa anterior que os meus mistérios são como fotografias por revelar — continuou, a voz baixa, perigosamente melodiosa. — Nem toda a gente merece vê-los a se desenvolverem. — Inclinou-se ainda mais, os lábios roçando quase no meu ouvido. — Mas estou a gostar de ver a tua curiosidade a crescer. É surpreendentemente irresistível.
Lá fora, a tempestade que nos fizera buscar refúgio naquela pequena torre de vigia passara, deixando apenas um véu prateado de neblina que pairava sobre a praia.
Chloe levantou-se, estendendo-me a mão. A luz difusa do fim de tarde atravessava a janela pequena, criando um halo dourado à sua volta, transformando-a numa aparição quase etérea.
— Eu acompanho-te até casa.
A minha mão encontrou a dela como se tivesse vontade própria. Os nossos dedos entrelaçaram-se com uma naturalidade que me assustou e confortou de forma igualmente medida.
Antes de sairmos, notei-a hesitar. O seu corpo voltou-se na minha direção num movimento lento, preciso. Por um instante fugaz, pensei que me fosse beijar, e o meu coração disparou em antecipação, o sangue a pulsar-me nos ouvidos, nos lábios, nos pulsos, em todo o lado onde a vida se fazia sentir.
Em vez disso, ela tocou-me o rosto. Apenas isso. Um toque tão suave que quase não existiu, mas que me atravessou como uma corrente elétrica. Um gesto de reverência que me desarmou mais que qualquer beijo poderia.
—Sem pressa, lembras-te? — Murmurou, com uma promessa naquelas palavras, uma certeza de que haveria tempo.
Assenti, reconhecendo a sabedoria por trás da sua contenção.
Ela sorriu, e desta vez, não havia nada de oculto naquele sorriso. Era puro, real, talvez o primeiro verdadeiramente sincero que eu alguma vez vira nos seus lábios.
Porém, como se não conseguisse resistir a deixar uma última centelha no ar, ergueu uma sobrancelha.
— Embora, se quiseres praticar — começou, num tom baixo, quase inocente, que contrastava com o fogo que lhe dançava nas íris — posso sacrificar-me e deixar que me beijes. Só para treinares o autocontrolo, claro. Mas aviso já — inclinou-se ligeiramente, os olhos cravados nos meus — sou uma distração péssima para quem tenta manter a fé inabalável.
Revirei os olhos, apesar do rubor que sentia subir as faces. O riso escapou antes que o conseguisse conter, solto, leve, como se aquele momento não carregasse mais culpa. Algo novo nasceu dentro de mim, uma espécie de força que eu desconhecia. Uma vontade de participar daquela dança sem me deixar dominar pelo receio. De responder àquele desafio não como alguém que foge, mas como alguém que avança conscientemente.
— Talvez quando dominares o conceito de "sem pressa", possamos conversar sobre isso. — Disparei, surpreendendo-me com a firmeza brincalhona da minha própria voz.
Ela arqueou ainda mais a sobrancelha, claramente deliciada com a resposta. Contudo, ao invés de contra-atacar, limitou-se a sorrir, genuinamente, como se tivesse acabado de assistir a algo que esperava há muito tempo.
— Olha só, estás a aprender. — Murmurou. — Isto promete.
E, de alguma forma, essa pequena troca, a leveza, o sarcasmo contido, o sorriso partilhado, pareceu tão íntima quanto qualquer beijo que eu pudesse ter desejado.
Nesse momento, soube que o caminho não seria fácil, que haveria ainda dúvidas, recuos, dias em que o peso do passado pareceria demasiado para carregar. No entanto haveria também isto, a sensação de estar inteira, de ser reconhecida, de poder finalmente respirar sem medo.
Fim do capítulo
A partir daqui, deixo de escrever apenas como quem recorda.
Espero que tenham gostado deste momento.
Vemo-nos no próximo capítulo. ***
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