Capitulo 39 - Reencontro
Camila
Dias depois
Estou a meia hora fitando a tela do computador. Entre as lembranças do fim de semana ao lado de Helen e a ansiedade pela minha viagem para o aniversário de Lívia. Ainda não sei o que esperar ao encontrar Mariana. Sei que ela parou de me ligar, mas isso não quer dizer que não possa tentar nada caso me veja na festa. Meu medo nem é encontrá-la, é simplesmente cair em suas graças.
Helen não merece isso. Mesmo que nossa amizade colorida não seja algo definido, não posso enganá-la. Às vezes é quase inevitável não comparar o que temos com o que vivi com Mariana. Suspiro girando na cadeira. Apesar de não ser uma comparação justa. Afinal, namorei por quase sete meses com Mariana. Enquanto com Helen, bom, estamos trans*do sempre que temos chance, o que é basicamente todos os dias. Nossa química é maravilhosa, tanto nos negócios como na cama.
Decido encerrar meu dia. Recolho minhas coisas. Helen não está, teve algumas audiências e ficou de me deixar na rodoviária a noite. Despeço-me de Beto, sigo para casa a pé. Aproveito para colocar a cabeça no lugar. Nem percebo quando estou diante da entrada.
Entro, como algo rápido enquanto termino de arrumar minhas coisas. Não pretendo ficar mais do que dois dias. No domingo à noite quero voltar para casa. Apesar de ter morado tanto tempo com Diana em Nova Esperança, não consigo mais ver o apartamento como minha casa. Pouco depois das seis Helen chega.
- Mila, cheguei. Está pronta? – Escuto sua voz na sala.
- Sim! Estou descendo.
Aprendi a admirar Helen de um jeito que talvez nunca tenha admirado antes. Ela é linda, em todos e quaisquer ângulos e posições. Noto que usa a mesma roupa de mais cedo, me indicando que ainda nem foi em casa.
- Ainda com essa roupa?
- Sim. Uma das audiências atrasou. – Ela conta enquanto caminha até mim. Me dá um leve beijo. – Podemos ir?
- Se você estiver cansada posso pedir para o meu pai me levar.
- De jeito nenhum. Quero aproveitar o tempinho que tenho com você. Afinal só te vejo daqui a três dias. – Fez drama.
- Dois dias, se eu não acabar voltando mais cedo.
- Por mim nem iria. Porém, eu entendo. – Toca meu nariz. – Mas irei morrer de saudades. – Toma minha boca em um beijo mais demorado. – Acho melhor irmos, ou farei você perder o ônibus. – Gargalha.
Quando o carro para em frente à rodoviária ela vira para mim. Fita-me como se quisesse decorar cada detalhe do meu rosto. Ficamos assim por longos minutos apenas olhando uma para a outra. Sua mão busca a minha.
- Espero que faça uma boa viagem. E volte logo para casa. – Sorri. – Aqui é sua casa, não é? – Seus olhos estão nebulosos, sei que ela entende a grande probabilidade de que eu possa encontrar Mariana.
- Sim. Nunca me senti tão em casa. – Afirmo. – Prometo voltar o mais rápido possível para você. – Beijo sua mão.
- Estarei esperando, ansiosamente. – Nos despedimos com um beijo. – Quando chegar me avisa.
- Aviso.
A viagem é tranquila. Quando chego ao meu destino final meu humor muda. Consigo sentir o peso da dor que senti quando saí daqui há alguns dias e vi Mariana na cama com Charlotte. Sacudo a cabeça tentando afastar a lembrança. Pego minhas coisas, consigo um táxi e vou para o apartamento.
Ainda tenho a chave. Pelo horário acreditei que todos estariam dormindo. Maldito pensamento. Assim que abri a porta vi ninguém mais ninguém menos que Romero no sofá, com Diana em seu colo, minha amiga estava sem blusa.
- Camilaa! – Diana grita.
- Eu não vi nada. Estou indo para o quarto. – Sigo para o meu antigo quarto.
As coisas de Samuel estão espalhadas por todo lugar, roupas na cama, posso jurar que estão sujas, entretanto não arrisquei conferir. Resto de comida na mesinha de cabeceira. Jogo tudo para o chão e me deito. Com o celular em mãos ligo para Helen.
- Oi! Te acordei?
- Não! Estava estudando.
- Vai mesmo continuar com essa ideia de concurso para promotora? – Questiono.
- Sim. E você vai tirar a ideia de ser juíza do mundo dos sonhos e trazer para a realidade. Imagina só que casal foda seríamos. – Ela ri.
- Verdade. – Concordo. Há um breve momento de silêncio, acho que essa é a primeira vez que falamos sobre a possibilidade de sermos um casal.
- Fez boa viagem? – Muda de assunto percebendo que talvez tenha ido longe demais.
- Sim. E peguei Diana no maior amasso no sofá.
- Mentira! Ela tá namorando?
- Aparentemente sim.
- E quem é? – Fico em silêncio. Não teria como explicar quem era sem contar que ele é pai de Mariana.
- É Romero, o pai de Mariana.
- Uau! Não sabia que Diana gostava de velhos. – Brinca. – E muito menos que ela gostava do pai da sua ex. Como vai ser esse encontro?
- Romero é uma boa pessoa. O que aconteceu entre Mariana e eu não tem nada a ver com ele.
- Quais as chances de ela ir para a festa? – Pergunta sem rodeios.
- Acredito que muitas. Lívia é louca pela Manu, sobrinha dela.
- Perfeito. – Diz com deboche. – Se eu soubesse que ia ver sua ex-namorada, teria ido junto ao menos para fazer ciúmes. – Tenta brincar, mas sinto o tom de verdade escondido em suas palavras.
- Mariana não significa nada para mim. E não tenho motivos para provocar ciúmes nela.
Agradeço quando ela resolve mudar de assunto. Dormimos na ligação. Acordo na manhã seguinte tendo meu corpo esmagado por Samuel e Diana.
- Acorda. – Estão em cima de mim.
- Eu preciso de ar. – Reclamo.
- Saudades de você, maninha. – Abraça-me apertado. – Pensei que não viria. Já que a festa vai ser na casa da Mariana. – Conta.
Fujo de seus olhos direto para fitar a cara de culpada de Diana.
- Ih! Você não sabia? – Questiona meu irmão. Nego com a cabeça. Ele fica de pé. – Melhor eu ir atender a porta.
- Vou te matar, seu linguarudo. – Minha amiga arremessa uma almofada nele, o objeto acerta a porta.
- Então, você vai dar a festa da sua filha na casa de Mariana?
- Amiga, ela ofereceu. O espaço é maior, não tive como recusar.
- Deveria ter me contado.
- Sabia que se eu dissesse você arrumaria uma desculpa para não vir. Você fugiu para o meio do nada. Nem deu uma chance de ela se explicar.
- Desde quando traição tem explicação? Eu peguei as duas nuas na cama. Charlotte dizendo que eu não precisaria saber. O que espera que ela me explique? – Digo irritada.
- As coisas nem sempre são como parecem. E você conseguiu perdoar a Helen, qual a dificuldade em fazer o mesmo com Mariana?
- Não namorei com Helen.
- Claro. Ela só inventou para todo mundo na escola que você gostava de meninas e fez da sua vida um inferno. – Eu fito a janela.
- Ela não inventou. Só disse a verdade.
- Espera! Quer dizer que você sempre gostou de meninas?
- Não é que eu sempre tenha gostado de meninas, mas Helen e eu, nós éramos mais que apenas amigas.
- Pior. Ela contou seu segredo, fez da sua vida um inferno. E agora vocês estão todas amiguinhas de novo. – Faz uma pausa. Posso ouvir as engrenagens de seu cérebro funcionando. – A não ser que vocês não sejam apenas isso. – Eu coro. - É isso, você está se envolvendo com ela?
- Sim. Estamos.
- Mais um motivo para você deixar o que aconteceu com a Mariana no passado. Já que você está namorando de novo.
- Não estou namorando. Estamos apenas ficando.
- Camila, me poupe. Desde quando sapatão fica? No mínimo no segundo dia já está deixando uma gaveta para roupas na casa da outra. Ai meu deus! Você já deu uma gaveta sua? – Eu começo a rir.
- Duas. – Confesso.
- Que dia é o casamento? – Diana ri, sentando-se ao meu lado. – Você conseguiu esquecer Mariana? – Nego com a cabeça.
- Não a esqueço, nem o que ela fez. Mas me manter longe dela e próxima a Helen tem me feito bem. – Sorrio lembrando das nossas horas juntas.
- Dá para ver nesse sorriso. – Aponta para mim.
- E você e o coroa, estão namorando?
- Sim. – Ela sorri. – Ele é maravilhoso.
- Fico feliz por você. Você merece. – Nos abraçamos. – Preciso ir ao shopping. Não comprei nada para Lívia. Alguma dica?
- Roupas.
- Brinquedos. Criança gosta disso.
- Então, não me pede opinião. – Reclama.
Alguns minutos depois estou saindo de casa. Consigo comprar o presente para Lívia. Quando passo em uma loja de lingerie vejo uma que ficaria perfeita em Helen. Sorrio com malícia imaginando o quanto seria perfeito vê-la usando. Peço a moça para separar.
- Olha só quem eu vejo. – Escuto a voz no mesmo instante prendo a respiração.
- Como vai Charlotte? – Forço um sorriso.
- Melhor agora. Não sabia que tinha voltado.
- Não voltei. Vim apenas para o aniversário de Lívia. – Explico.
- Ah! Claro. Será na casa de Mari. Ela me avisou que não poderemos nos ver hoje. – Sorri. Fazendo minha raiva aumentar. – Resolvi fazer umas comprinhas. Sabe como é, noites quentes precisam de ótimas peças íntimas.
- Não acho, quando se tem tesão, a roupa é o de menos. Mas boa sorte com a lingerie afrodisíaca. – Falo próximo ao seu ouvido. Ela me impede de sair.
- Mariana é minha. E é melhor você se manter longe dela. Volta para aquele fim de mundo que resolveu ir se esconder. – Afirma.
- Faça bom proveito. Não tenho intenção nenhuma em me aproximar dela. Mas aproveita e diz para ela parar de me ligar. – Pisco e saio da loja.
Consigo me acalmar quando estou longe dela. Até respirar o mesmo ar dessa mulher me deixa mal. Com todos os presentes comprados e a roupa que eu usarei saio do shopping. Fiz cabelo, unhas e maquiagem. O lado bom de se ganhar dinheiro é isso. Começo a experimentar a sensação de ter grana sobrando depois de custear minhas despesas. Quando chego em casa todos estão prontos, esperando apenas por mim.
Tomo um banho rápido, com cuidado para não me borrar inteira. Visto minhas roupas e seguimos para a casa de Mariana. Lívia é a mais animada. Insiste para que eu conte qual o presente que comprei. Vai durante todo o percurso sentada no meu colo, conversando.
Quando o carro para em frente à casa já conhecida por mim percebo que estou prestes a entrar no lugar que me levou do paraíso ao inferno em questão de meses. Samuel parece ler meus pensamentos. Aperta minha mão me encorajando a sair.
A decoração estava linda. O tema era de unicórnio. Segundo Lívia, esse era seu bicho preferido. Apesar de ser mitológico, ninguém ousa corrigi-la. Assim que Manuela avista a amiguinha, corre em sua direção. As duas se abraçam, depois a menina me fita.
- Tia Cam, que saudade! – Abraça-me apertado.
- Oi! Manu, também senti sua falta. – Abraço a menina.
- A tia Mari vai adorar te ver. – Sorri. – Ela ficou triste desde que você foi embora. – Contou inocente. Eu fiquei quieta. Não fazia ideia do que responder. - Vamos procurá-la? – Segura minha mão.
- Manu, acho melhor você ir brincar com Lívia. O que me diz? – Samuel intervém. Agradeço com um aceno quando ela se afasta. - Toma. Acho que você vai precisar. – Ele me entrega uma taça com uma bebida que eu nem me importei em saber o que era. Tomei tudo de uma vez só. Mal cheguei e o arrependimento já me domina.
Para completar, a cereja do bolo acaba de entrar. Mariana usa um terninho preto, alinhado, feito sob medida. O cropped por baixo exibe sem pudor sua barriga. Ela está mais magra, a aparência mais cansada, entretanto continua linda.
- Droga! – Digo bebendo mais uma taça. Dessa vez era champanhe.
- Seu inferno chegou. – Samuel toca meu braço.
Ela anda no meio das pessoas como se conhecesse todos que estavam ali. Sinto raiva por ter roubado parte da minha família. Para piorar, Lívia quando a vê corre em sua direção, as duas se abraçam forte. Lívia diz algo em seu ouvido, em segredo. Então o encontro acontece, nossos olhares se cruzam. Pois sei que Lívia contou que eu estava ali. Claro que Mariana sorriu ao me avistar. E aquele sorriso me desmonta inteira. Como detesto essa mulher. Bebo mais alguma coisa que passa na minha frente. A noite será difícil de aturar.
Fim do capítulo
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