Capitulo 34 – Recomeços
Um mês depois
- Pronta para ir? – Helen me pergunta.
Ela carrega a última caixa para o carro. Quando decidi que iria me mudar ela fez questão de me buscar pessoalmente. Alegando que já estaria na cidade para uma audiência. Aceitei sua oferta, seria melhor pegar a estrada de carro, levaríamos menos tempo e seria menos cansativo.
- Prontíssima. – Digo empolgada.
Escolhi um horário em que ninguém estaria em casa. Não quis me despedir deles. Afinal estaria apenas há algumas horas de distância. Mas Diana continuava achando que isso tudo era uma loucura. Entrei no carro, antes que Helen saísse o carro de Mariana tomou nossa frente.
- O que é isso? Assalto?
- Não. É pior, é a Mariana. – Por mais que eu odeio dizer, senti meu coração acelerar.
Mariana saiu do carro apressada, seus cabelos em desalinho. Ela está uma bagunça, suas roupas, tudo parece fora do normal. Em questão de segundos estava abrindo a porta do carro.
- Você não pode ir embora. – Fala com desespero.
- Claro que posso. Não me lembro de ter que dar satisfação ou pedir permissão para fazer algo.
- Camila, isso é loucura. Você me ama. Eu sei disso. – Dou uma risada forçada.
- Mariana. Chega. Já superamos isso. Já passou mais de um mês. Você sabe que não vou perdoar o que aconteceu. Nunca vou esquecer. Então, por favor me deixe ir.
- Amor, por favor. Não vai. – Ela me segura.
- Não me chame de amor. Eu não amo você. Eu odeio você. E isso não vai mudar.
Mariana chora. Se afasta de mim derrotada, seus braços me soltam vagarosamente. Eu entro no carro. Peço a Helen para seguir, ela me obedece e seguimos caminho. O que eu mais amo em minhas amizades é o fato de todas respeitarem meu silêncio. Durante as horas que se seguiram em momento nenhum ela tentou saber o que havia acontecido.
Quando paramos em frente à minha nova residência eu consigo ver que vou sofrer para mobiliar tudo. A casa fica a duas ruas da casa de Helen e dos meus pais. Ela me ajudou a encontrar. O lugar é agradável, típica casa de interior. Será a primeira vez que moro sozinha.
- Assustada? – Ela pergunta quando levamos a última caixa para dentro.
Na sala há apenas um sofá de dois lugares e uma TV. A casa tem dois quartos, sala, banheiro social, cozinha e sala de jantar. Na cozinha apenas o básico, geladeira, fogão e alguns armários. No meu quarto apenas a cama.
- Medo de quanto vou gastar para mobiliar essa mansão. – Ela gargalha.
- Bobagem. Não dou um mês para você conseguir. Mas se estiver com medo, posso dormir com você.
- Olha que eu aceito. Podemos dividir a cama. Seria como nos velhos tempos.
- Está falando sério? – Ela indaga surpresa.
- Sim. Posso fazer um macarrão. Mas para isso precisamos ir ao mercado.
- Posso ir em casa buscar algumas roupas, passo no mercado no caminho. É o tempo que você toma seu banho.
- Eu aceito. Vou te dar o dinheiro.
- Imagina. Hoje é por minha conta. – Ela sorri. Beija meu rosto e sai.
Vou para o banho. Alguns minutos depois ouço a porta ser aberta. Ainda estou de toalha quando escuto a voz de Helen.
- Mudanças de planos, nada de macarrão. Vamos comer ... – Hellen para me olhando da porta.
Seus olhos vão de minhas pernas ao meu rosto. Meu cabelo está preso na toalha. Ela continua parada me olhando.
- O que vamos comer?
- É... Pizza. Vamos comer pizza. Vou te esperar na sala. – Saiu quase correndo.
Eu começo a rir de seu desespero. Visto algo confortável, depois vou para a sala. Helen já preparou nossa mesa improvisada. Escolhemos algo para assistir na TV enquanto dividimos a pizza. Consigo me distrair na companhia dela. Estamos quase acabando de comer quando meu celular toca.
- Mila, seu telefone. – Ela diz apontando para o aparelho.
Pego o aparelho. A foto de Mariana aparece na tela. Suspiro virando o aparelho.
- Mila, o que ela fez? Só precisa contar se quiser.
- Ela me traiu. Peguei ela com a outra no dia que cheguei de viagem daqui.
- Nossa! Eu sinto muito. – Toca minha perna com carinho.
- Já sofri o que precisava sofrer. Agora é bola para frente.
- Assim que se fala.
Seguimos assistindo a série. Acabamos adormecendo no tapete. Hellen estava deitada em meu braço, seus cabelos espalhados deixavam um aroma delicioso de frutas. Levantei para pegar cobertas, já que pelo visto dormiríamos ali mesmo.
Na manhã seguinte acordei com um cheiro delicioso vindo da cozinha. Passei os dedos pelos olhos tentando me situar de onde estava, meus cabelos em desalinho indicavam a boa noite de sono. A manhã estava chuvosa. Olhei pela janela a grama completamente submersa em água. Enrolei-me na coberta, o cheiro de Helen estava impregnado no lençol. Sorrio aspirando o cheiro adocicado.
- Bom dia! – Digo atravessando a porta.
Ela está linda. Os cabelos presos no topo da cabeça. Usa apenas um top preto curto. O que me faz ver parte de uma tatuagem que ela tem entre os seios. Nesse exato momento minha mente me traiu. Cheguei a imaginar onde essa tatuagem começava, e a simples ideia me fez sentir um calor que com certeza me deixou enrubescida.
- Bom dia! Não devia ter saído da cama agora.
- Cama? Nós dormimos no tapete e você me babou inteira. – Brinco.
- Você ronca. – Afirma.
- Mentirosa.
- Eu não babei você. – Afirma. – Senta, estou preparando um bolo delicioso.
- Esse cheiro eu conheço bem. É o bolo de laranja que a mamãe faz.
- Exatamente. Ela me deu a receita. Na verdade, de tanto que vi ela fazendo aprendi.
- Você vai lá em casa mesmo depois de eu não estar mais lá?
- Claro. Sua mãe é uma ótima amiga. Achava que você era meu único interesse naquela casa?
- Para falar a verdade, sim.
- Convencida. – Diz rindo. Ela deixa o pano de prato no ombro. Eu desço meus olhos por seu abdômen definido.
Meu Deus! Essa menina mora na academia? Ela tem tantos gominhos na barriga que cheguei a prender a respiração para não mostrar minha barriguinha saliente.
- Malho todos os dias. Vou te levar comigo. – Diz percebendo meu olhar.
- Que horas?
- Cinco e meia.
- Da tarde?
- Da manhã.
- Nem a pau. Se você vier aqui nessa hora eu chamo a polícia. – Ela gargalha.
A manhã segue leve. Não pensei em Marina em nenhum momento. Simplesmente fiquei imersa no mundo novo que estou construindo. Era final de tarde quando Hellen disse que precisava ir para casa. Já havia ficado tempo demais longe de sua mãe.
- Obrigada pela companhia. Você torna tudo mais leve. – Confesso enquanto a levo até a porta.
- É bom saber disso. – Ela sorri. Se inclina e beija meu rosto demoradamente. – Até mais tarde. Qualquer coisa me liga.
- Pode deixar.
Fecho a porta, me atiro no sofá. Fito as caixas que ainda faltam desembalar, mas então decidi fazer isso depois. Pego o celular e ligo para Diana.
- Amiga, que saudade.
- Estou a um dia longe. – Respondo rindo.
- Para mim parece uma eternidade. – Ela se atira na cama. – Como foi a primeira noite na casa nova?
- Legal. Helen ficou aqui, acabamos comendo pizza e dormindo no tapete. – Sorrio lembrando.
- Nossa! Que sorrisinho é esse?
- Nada. – Mudo de assunto.
- Nada? Você está com aquela cara de quem vai recair.
- Não tem nada de recair. As coisas com Helen estão no passado. Mas ela tem sido uma ótima amiga, apenas isso.
- Vai dizer que não quis beijá-la?
- Não. Mas digamos que ela é muito linda. E eu não sou cega. – Diana gargalha. – Você acredita que Mariana teve a cara de pau de ir me ver quando estávamos de saída?
- Sei. Ela me contou. Na verdade, saiu daqui agora a pouco. Ela está sofrendo. - A compaixão de Diana me irrita.
- Eu também sofri, mas superei. Ela deveria aproveitar que o caminho está livre e ficar com aquela tal de Charlotte.
- Tudo bem. Não vou falar sobre isso. Tenho algo para te dizer.
- Então diz.
- Romero se separou.
- Ótimo, agora o caminho está livre para vocês.
Diana contou toda empolgada sobre os planos para ela e Romero. De fato, eles estavam apaixonados e não desejam mais esconder isso. Estão dispostos a viver o que sentem. Conversei por longos minutos com minha amiga. Até que decidi que deveria ir até a casa dos meus pais. Eles não faziam ideia de que eu já havia chegado.
A sorte de morar no interior é que tudo é perto e você pode simplesmente ir a todos os lugares ou a quase todos a pé. Vesti algo confortável e saí. Levei apenas alguns minutos até chegar ao meu destino. O carro do meu pai ainda não estava na garagem, o que significava que a mamãe estava sozinha. Bati e esperei que a porta fosse aberta.
- Filha, não sabia que já havia chegado.
- Oi! Mamãe. Cheguei ontem. Posso entrar?
- Claro. – Deu passagem. – Estou feliz que tenha voltado, mas triste por não ter vindo para sua casa.
- Mamãe, já moro há tanto tempo sem vocês, não acredito que eu conseguiria ter os dois me controlando. – Ela sorri, beija minha cabeça.
- Eu imagino. Só fico preocupada com seu irmão sozinho.
- Ele não está sozinho. Está morando com Diana. Eu vou ajudar com as despesas. Não precisa se preocupar.
- Você sempre foi um anjo.
- A senhora está bem?
- Sim. Apenas cansaço de gente velha. – Brinca. – Viu Healen hoje?
- Sim. Ela dormiu lá em casa. – Minha mãe me fita curiosa. Sei que ela quer perguntar algo, mas evita. – O papai?
- Na oficina.
Fico boa parte da tarde jogando conversa fora com ela. Só percebi o quanto sentia falta das nossas conversas hoje, quando ficamos rindo e nem vi a hora passar. Já era quase noite quando decido ir para casa.
- Assim que eu estiver com tudo pronto, farei um jantar lá em casa. – Digo enquanto a abraço.
Nos despedimos na porta. Viro-me em direção à rua. Encaro a casa de Helen, as luzes estão acesas. Sinto um ímpeto de ir até lá, mas desisto. Não posso fazer com que ela sinta que por eu ter mudado, sou uma responsabilidade sua. Sigo pela calçada. A noite está um pouco fria. Cruzo os braços enquanto caminho.
Faço algo leve para comer e decido ir para a cama cedo. Na manhã seguinte, às cinco da manhã, escuto alguém me chamar na porta. Vou resmungando até que diante de mim vejo Helen em um micro short de malha, tênis de corrida, e um top parecido com o que ela usou aqui em casa. Dou as costas para ela.
- Eii! Aonde vai? – Questiona confusa.
- Eu disse que se aparecesse aqui de madrugada eu chamaria a polícia. – Digo com o celular nas mãos.
- Você não pode fazer isso, vai estragar nossa reputação. Fora que o dia está lindo.
- Dia? Você precisa de óculos ou algo assim? Ainda está escuro, para mim é noite.
- O sol já vai sair. Vamos correr comigo? Por favor. Você vai ver como vai se sentir melhor.
- Tudo bem. Me dá dois minutos.
Nem acredito que ela conseguiu me convencer a fazer isso. Em pleno domingo estou procurando um tênis para correr com a maluca que eu resolvi fazer sociedade.
Fim do capítulo
E agora?? O que o destino reserva para nova fase de Camila?
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