• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Entre Votos e Silencios
  • O Beijo

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Conexão
    Conexão
    Por Beeba
  • Fotografias em Preto e Branco
    Fotografias em Preto e Branco
    Por GLeonard

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Entre Votos e Silencios por anonimo2405

Ver comentários: 15

Ver lista de capítulos

Palavras: 12014
Acessos: 897   |  Postado em: 10/05/2025

O Beijo

Quarta-feira à noite – Apartamento de Verena e Silvia

A chave girou na fechadura com um clique seco. Verena entrou no apartamento silencioso, o som dos próprios passos ecoando na sala. Tirou os sapatos ali mesmo, sem acender as luzes. O dia tinha sido longo, cansativo — como todos os outros — e ela não estava preparada para mais cobranças, mais olhares duros, mais silêncio desconfortável.

Mas então, ouviu um barulho abafado vindo do quarto. Um farfalhar de tecidos, como se alguém revirasse gavetas ou arrastasse cabides.

Franziu a testa e foi até lá, ainda descalça, o piso frio tocando a pele cansada.

Ao empurrar a porta do quarto, parou na entrada, surpresa.

A cama estava tomada por roupas. Vestidos, saias, blusas, sapatos encostados na lateral. Peças espalhadas, algumas ainda nos cabides, outras formando montes irregulares sobre os lençóis. O guarda-roupa escancarado como se tivesse sido saqueado por dentro.

O estômago de Verena deu um nó.
Por um segundo, um único segundo, ela achou que Silvia estivesse fazendo as malas.

Olhou ao redor, buscando desesperadamente uma mala aberta no chão, uma mochila jogada, um sinal mais concreto. Mas não havia nada.

A esposa estava ali, encostada no batente do armário. Usava uma camiseta larga e um short velho. Braços cruzados, olhar cansado.

Ficaram em silêncio por alguns instantes, até que Verena, num fio de voz, perguntou:

— O que tá fazendo?

Silvia manteve os olhos fixos nas roupas, como se ainda avaliasse alguma combinação. Depois respondeu, seca, como quem já esperava ter que justificar algo:

— Domingo é o aniversário da bisa. Vai ser naquele sítio do meu tio, lembra? Tô vendo o que vou usar. Gosto de decidir antes. Diferente de você, que pega qualquer coisa em cima da hora e acha que tá tudo bem.

A voz dela não era agressiva. Mas doía.
Era um comentário simples, até trivial, mas repleto da ironia amarga que vinha sendo parte do tom entre as duas nas últimas semanas.

Verena assentiu devagar com a cabeça, os ombros caídos, sem ter o que responder. De fato, não lembrava.

— Você me falou disso? — arriscou, num tom baixo.

Silvia soltou uma risada seca, sem humor. Ainda sem olhar diretamente para a esposa.

— Falei. Semana passada. Mas você devia estar respondendo alguma mensagem no meio da conversa. Ou pensando em alguma pauta. Ou sei lá em quem.

Verena engoliu em seco. Sentiu aquela culpa familiar roçar a pele, como um cobertor áspero. Queria se justificar, mas também sabia que não adiantaria. Sabia que, na maioria das vezes, Silvia estava certa.

Tentou se aproximar um pouco, pisando com cuidado entre os calçados jogados no chão.

— Vai sozinha? — perguntou, tentando parecer neutra.

Silvia deu de ombros.

— Claro, né? Você vai estar ocupada... como sempre. Nem precisa fingir que vai.

Verena abaixou o olhar, a garganta apertada. Não sabia o que era pior: o silêncio ou essas frases que cortavam com tanta precisão. Silvia tinha o dom de ferir com frases ditas quase como se fossem banais. Mas não eram. Nunca eram.

A deputada se encostou no armário, ao lado da esposa, tentando quebrar o abismo entre as duas.

— Eu posso ir... se você quiser.

Silvia finalmente a encarou. Os olhos estavam mais tristes do que duros.

— Eu queria que você quisesse ir por você. Não por mim. Nem por culpa. Nem pra tentar apagar nada.

Verena não respondeu. Só ficou ali, sentindo o cheiro do perfume de Silvia misturado ao amaciante das roupas recém-passadas. Aquele cheiro familiar que parecia vir de uma vida que já não era delas.

A tensão não explodia. Ela apenas existia. Como algo que já não precisava ser dito.
As duas sabiam que algo ali estava desmoronando há muito tempo. E talvez só estivessem evitando olhar para os escombros.

Silenciosa, Verena deu a volta pela cama. Não disse mais nada. Apenas abriu a porta do guarda-roupa do lado que lhe pertencia, mexendo entre as peças com a mesma hesitação de quem procura um gesto — e não uma roupa.

Separou uma camisa social azul clara, de tecido leve, quase esportiva, e uma calça bege de algodão. Pegou também um sapato que usava mais dentro de casa, de couro macio, confortável, mas elegante o suficiente.

Fez um espaço entre os vestidos ainda dobrados na cama de Silvia e cuidadosamente montou o visual sobre a colcha. Ajeitou a gola da camisa, alinhou a calça e deu um passo para trás, como quem observa uma obra.

— Não ficou tão ruim — murmurou. Depois, com um meio sorriso, completou: — Você gosta dessa camisa.

Silvia observava em silêncio. Por fora, mantinha-se impassível, mas por dentro... algo cedeu. Ela conhecia Verena. Conhecia os raros momentos em que a esposa deixava a arrogância de lado e apenas tentava. Momentos em que o jeito desajeitado escondia um coração querendo acertar.

E era nesses momentos que o coração de Silvia traía sua razão.

Porque ainda amava aquela mulher.

Verena virou-se e foi até o armário dela. Pegou um vestido azul claro, fluido, de alcinhas finas — um dos preferidos de Silvia — e colocou-o com cuidado ao lado de seu próprio conjunto, permitindo que as barras dos tecidos se tocassem.

Por cima, repousou uma sandália de tiras finas, discreta, mas elegante. Tudo isso sem dizer uma palavra.

Quando terminou, olhou para a cama com os dois looks lado a lado e falou, como se não fosse nada demais:

— O casal perfeito da festa. — E, com um tom ácido que beirava a ironia, completou: — Uma pitada de afronta, claro. Já que sua tia Clotilde provavelmente vai tentar fingir que somos apenas amigas muito íntimas.

Silvia tentou se conter. Tentou manter o semblante sério. Mas o canto da boca cedeu. Um leve sorriso escapou antes que ela pudesse controlar. Um reflexo rápido, quase involuntário. Mas Verena viu.

E aquilo bastou.

Bastou pra dissolver um pouco da névoa espessa que pairava entre elas há dias. Bastou pra que Verena sentisse, pela primeira vez naquela semana, que talvez... ainda houvesse alguma chance.

Silvia passou uma das mãos pelos cabelos, como quem tenta se recompor, voltando ao seu lugar no batente da porta. Ainda não se mexeu, mas o olhar estava diferente. Menos armado.

Verena, por sua vez, pegou a camisa e pendurou com cuidado num dos ganchos da parede, voltando a olhar para Silvia com um pequeno aceno de cabeça, como quem diz "Eu vou tentar".

E no fundo, ela estava mesmo tentando.
Tinha mais uma sessão com Rodrigo antes do domingo. Ainda estava longe de estar bem, longe de entender tudo. Mas queria fazer aquilo funcionar. Pela Silvia que sorria sem querer. Pela mulher que ainda a olhava como no começo, mesmo por segundos.

 

Gabinete de Verena – Início da tarde

Verena entrou com passos decididos, mas o semblante carregado entregava o turbilhão que fervia por dentro. O cabelo solto balançava sutilmente a cada movimento; desde que começara a terapia, havia deixado de lado o coque impecável que usava como uma armadura. Agora, os fios livres pareciam um reflexo do esforço que fazia para reencontrar alguma versão mais humana de si mesma — ainda que estivesse metida até o pescoço em algo muito, muito sujo.

Jogou a bolsa sobre a mesa, retirou os óculos escuros e esfregou o rosto com ambas as mãos. Respirou fundo. Estava tudo no limite.

— O Rafael já mandou a planilha atualizada? — perguntou em voz alta, sem nem olhar na direção da porta.

— Mandou — respondeu Rafaela, que apareceu logo em seguida, encostando-se no batente da porta com um café na mão e o cabelo ruivo preso no alto. — Mas você não vai gostar.

Verena ergueu os olhos, as sobrancelhas franzidas.

— O que foi agora?

Rafaela entrou, jogando uma folha sobre a mesa. Tinha anotações em caneta vermelha.

— Um dos repasses que a gente encobriu com nota fria foi solicitado pra verificação. Auditoria espontânea. Um dos gabinetes que tava na lista de contratos cruzados levantou suspeita. Coincidência demais.

Verena fechou os olhos por um segundo. Um arrepio subiu pela espinha.

— Isso não pode vazar. Se a Controladoria puxar esse fio…

— Eu sei — disse Rafaela, sentando na cadeira à frente da mesa, agora séria. — Mas calma. Ainda não foi nada oficial. Só um pedido interno. Podemos dizer que é padrão, revisar notas dos últimos contratos firmados. Só precisamos reformatar o que der e redirecionar o restante.

Verena passou a mão pelos cabelos, visivelmente tensa.

— Eu não posso ser presa, Rafa. Você entende isso, né? Não posso. Não agora.

— Ninguém vai ser presa. — Rafaela falou firme. — A gente sabe o que tá fazendo. Você não é nenhuma amadora, e eu muito menos. Você tem uma reputação, aliados fortes, articulação política. Isso é uma rachadura, não um desabamento. Mas precisamos manter a frieza, não é hora de surtar.

Verena levantou-se, andou até a janela de vidro que dava vista pra avenida lá embaixo. Braços cruzados, respiração pesada. Sentia o peito apertar. Desde que se metera mais fundo naquele esquema, tudo parecia prestes a ruir. E o pior: ela sabia que tinha culpa. Sabia que tinha cruzado uma linha da qual talvez não conseguisse mais voltar.

— O que mais falta pra gente encobrir?

— As movimentações dos assessores “laranjas”. Os nomes estão quase todos batendo, mas um deles, o da Luciana, lembra? Teve movimentação incomum. O banco não bateu com o valor declarado.

— Droga. — Verena esfregou a testa. — Isso vai dar problema.

— Pode dar. Ou a gente resolve antes. — Rafaela bebeu o café e se levantou. — Vou preparar uma nova documentação. Preciso que você valide com o jurídico amanhã.

Verena assentiu, mas não disse nada. O olhar ainda fixo na avenida, como se tentando prever quando e onde tudo desabaria.

Rafaela parou na porta, já quase saindo, e soltou sem virar:

— Você sempre foi brilhante, Verena. Mas tá na hora de decidir se quer continuar sendo a política estratégica… ou a mulher que perdeu tudo tentando manter algo que já nem faz sentido.

Verena fechou os olhos. O silêncio do gabinete parecia rugir ao redor dela.

Ela ainda tinha tempo? Ainda dava pra se salvar?

Ou só restava correr até onde o abismo permitisse?

Apartamento de Verena e Silvia – Noite

A porta se abriu com um rangido abafado. Verena entrou em casa com a chave ainda na mão, como se hesitasse em fechá-la atrás de si. O salto fino foi retirado logo na entrada, substituído por passos arrastados no chão frio. O cabelo solto, antes tão simbólico de sua tentativa de mudança, agora parecia desarrumado, sem cuidado.

O cheiro do jantar ainda recente pairava no ar, mas a mesa estava vazia. Apenas um prato coberto com papel alumínio sobre a superfície — um gesto silencioso e repetido de Silvia nos últimos tempos.

Verena passou os olhos pela sala. A televisão estava ligada, baixo, em algum jornal noturno. Silvia estava deitada no sofá, uma manta sobre as pernas, o controle no colo, olhando o noticiário sem prestar atenção.

A deputada respirou fundo. Passou a mão pelo rosto mais uma vez e soltou, num tom mais baixo do que o normal:

— Boa noite.

Silvia ergueu os olhos, sem sorriso, mas com um aceno sutil de cabeça.

— Tem comida ali — murmurou.

— Eu vi. Obrigada.

Verena pegou o prato e caminhou até a cozinha em silêncio. Aquecê-lo parecia um esforço absurdo, mas ela o fez, como quem precisa se agarrar a algum ritual para não despencar.

Ao sentar-se na ponta da mesa, comeu mecanicamente. O barulho do garfo batendo no prato parecia ecoar mais do que deveria. Silvia não falou mais nada. E aquilo foi pior do que qualquer discussão. A ausência de cobrança era como um sinal de rendição.

Mais tarde, já no quarto, Verena entrou devagar. Silvia estava sentada na cama, mexendo no celular. Quando viu a esposa, guardou o aparelho no criado-mudo, evitando qualquer contato visual.

Verena se aproximou devagar, sentando-se à beira da cama, com os ombros tensos e os olhos vermelhos de cansaço.

— Tive um dia péssimo — disse ela, com a voz cansada, tirando os óculos e esfregando os olhos. — E tudo o que eu queria agora era poder deitar e fingir que o mundo lá fora não existe.

Silvia ficou em silêncio por alguns segundos. Depois respondeu, calma, mas firme:

— Você pode deitar. Fingir. Mas o mundo não vai parar de cobrar, Verena. Nem eu.

A deputada olhou para o chão. Sentiu o golpe. Não foi duro no tom, mas foi afiado nas palavras.

— Eu tô tentando. Você sabe que eu tô.

— Eu sei que você diz isso — respondeu Silvia, agora olhando nos olhos da esposa. — Mas eu não consigo mais sentir. E sinceramente? Não sei mais se quero tentar junto.

Verena sentiu o ar sumir dos pulmões. A frase a atingiu como um soco, mesmo sendo dita sem raiva.

— Por favor, Silvia… eu sei que não sou fácil, mas eu…

— Você mente. Você esconde. Você some em si mesma. — Silvia interrompeu, com um tom mais embargado. — E quando volta, quer que a gente continue como se nada tivesse quebrado. Mas tem muita coisa quebrada aqui, Verena.

O silêncio se instalou de novo. A deputada mordeu o lábio, tentando conter as lágrimas que teimavam em vir. Não podia quebrar ali. Não depois de tudo.

— Eu te amo — disse, baixinho.

Silvia suspirou, cansada.

— Eu sei. Mas às vezes, amor não é suficiente.

Verena deitou-se na cama, de lado, virada pra parede. Silvia apagou a luz e deitou também, cada uma voltada para um lado.

No escuro, Verena fechou os olhos com força. O peso do dia, da culpa, do medo, da perda… tudo parecia empilhado sobre o peito.

E, pela primeira vez em muito tempo, ela teve medo de acordar e descobrir que realmente perdeu tudo.

Dias que não passaram – Segunda a quinta-feira

A semana se arrastou como se os ponteiros do relógio estivessem pesando toneladas.

Verena, entre os corredores da Alesp e os encontros estratégicos com Rafaela, tentava manter a postura firme de deputada experiente. Mas por dentro, era como uma represa trincada: cada nova informação sobre o desvio, cada pequena inconsistência nos documentos falsificados, cada dúvida lançada por um assessor mais atento... tudo a deixava um pouco mais perto do colapso.

Rafaela, por sua vez, mantinha o cinismo afiado, mas seus olhos não conseguiam mais disfarçar o receio. Quando a porta se fechava atrás de si e o gabinete ficava só entre elas duas, o tom mudava. Era menos piada e mais tensão. O jogo estava em andamento e qualquer erro seria fatal.

Em casa, Silvia mantinha a mesma frieza cortante, a mesma ausência barulhenta que fazia Verena se sentir uma estranha sob o próprio teto. Havia pequenas interações — o prato deixado sobre a mesa, a camisa passada na cama, o “boa noite” quase sussurrado. Mas carinho, presença, afeto? Nada.

Já Valentina seguiu sua rotina escolar e de estágio sem grandes desvios — mas tudo nela estava diferente. Os olhares perdidos, o sorriso mais tímido, os silêncios. Carol notou. Até um professor comentou seu ar distraído. Ela tentava agir como sempre, mas dentro dela uma pergunta martelava: Por que eu não consigo parar de pensar nela?

Na quarta-feira à tarde, quando Verena cruzou por ela no corredor, Valentina desviou o olhar. Mas viu — e sentiu — que a deputada, mesmo sem encará-la, hesitou um segundo a mais ao passar por ela.

Nada foi dito. Mas foi um dos momentos mais gritantes da semana.

Clínica Rodrigo Lemos – Sexta-feira, 17h10

Verena estacionou o carro em frente ao prédio discreto da clínica. Respirou fundo, os dedos ainda trêmulos no volante. Estava com o mesmo blazer escuro de sempre, mas havia tirado os brincos e afrouxado os botões da blusa. O cabelo, solto como vinha usando, estava mais desalinhado do que o normal.

Ela entrou no prédio como quem invade um lugar proibido. A recepcionista sorriu com delicadeza, sem fazer perguntas. Rodrigo a aguardava com a porta entreaberta, como da última vez.

— Verena — disse ele, gentil, abrindo mais espaço para que ela entrasse.

— Oi.

O ambiente da sala permanecia o mesmo. Poltronas confortáveis, luz suave, um difusor com cheiro de lavanda, o som distante de uma playlist instrumental que não chamava atenção. A mesa lateral com o mesmo bloquinho, a mesma caneca de café. Tudo calmo. Tudo seguro.

Ela se sentou, cruzando as pernas, os olhos vasculhando o ambiente como se quisessem fugir do que sentia.

— Como foi sua semana? — Rodrigo perguntou, já se acomodando à sua frente.

— Uma merd* — respondeu ela, direta, sem filtro.

Ele assentiu com um breve sorriso empático.

— Quer me contar o que torna ela “uma merd*”?

Verena respirou fundo, passou a mão no cabelo.

— É como se tudo estivesse prestes a desmoronar. No trabalho, em casa… em mim. E eu tento segurar tudo. Mas não tem mais espaço pra empilhar tanta coisa.

Rodrigo inclinou levemente o corpo pra frente, atento.

— O que você sente que está prestes a desmoronar?

—Um... projeto. — Quase se deixou levar, mas corrigiu a tempo, como se fosse possível disfarçar. — Algo que eu ajudei a construir. Que eu dependo que funcione. Mas… tá falhando. E se der errado, eu perco tudo.

Rodrigo não fez careta. Não julgou. Apenas deixou o silêncio existir, como um convite.

— Tudo? — ele repetiu, calmo.

Verena assentiu, tensa.

— Minha carreira. Minha... reputação. — “Minha liberdade”, pensou — E talvez meu casamento. E talvez até... — a voz falhou —... talvez até o pouco que restou de mim.

Ele aguardou. Não interrompeu.

Ela continuou, o olhar perdido num ponto qualquer da parede.

— Eu acordo com um aperto no peito que não passa o dia inteiro. E quando passa, é porque eu tô ocupada demais tentando parecer forte. Mas é só cena. Quando chego em casa, eu desmorono em silêncio. E às vezes nem sei se quero mais fingir.

Rodrigo pegou uma caneta. Anotou algo breve.

— E você sente que está fingindo há muito tempo?

— Desde que aprendi a andar de salto — ironizou. — Talvez antes.

Silêncio.

— Na última sessão, você disse que sentia culpa. Que sentia que se perdeu no meio do caminho. Isso ainda está presente?

Ela engoliu seco. Olhou pra ele, os olhos marejando, mas firmes.

— Está. E agora, com medo por cima... é como um peso constante. E o pior é que... eu não sei mais quem sou sem esse medo.

Rodrigo deixou o silêncio agir de novo, com gentileza.

— Verena... e se a gente tentasse imaginar quem você seria... se não estivesse mais fugindo de tudo isso?

Ela sorriu com tristeza.

— Eu não sei. Eu só sei que... talvez fosse alguém que merecesse ser amada de novo.

Ele não anotou dessa vez. Apenas olhou para ela com sinceridade.

— Você já merece. A diferença está em se permitir. E eu vejo, nitidamente, que você quer. Isso é força. Não fraqueza.

Verena abaixou os olhos. O lábio inferior tremeu um pouco.

— E se eu falhar? De novo?

— Vai falhar. Em algum momento, vai. Porque somos humanos. Mas isso não apaga sua tentativa. Não anula o seu caminho.

Ela respirou fundo. Os olhos vermelhos agora sem defesa.

— Eu tô cansada, Rodrigo. Muito cansada.

— Então a gente vai andar mais devagar. Mas sem parar.

Ele sorriu, sereno.

— Podemos fazer isso juntos. Um passo por vez.

Verena assentiu. Pela primeira vez, sem tentar parecer firme.

Ela não sabia o que vinha depois.

Mas pela primeira vez... aceitou que talvez, só talvez, não precisasse mais fingir tanto.

Apartamento de Verena e Silvia – Sexta-feira à noite

O relógio da cozinha marcava quase onze da noite. A casa estava silenciosa, à exceção do barulho leve da chuva fina batendo nas janelas da sala. Verena passou o dedo distraidamente sobre a borda da taça de vinho que já havia servido, mas sequer tocado. Tinha acabado de sair do banho, vestia apenas uma camiseta grande e confortável. Os cabelos soltos ainda úmidos, caindo de qualquer jeito pelos ombros. Andava descalça, inquieta. Estava exausta, com os ombros pesados de tensão acumulada, mas o sono não vinha. Nem viria. Não naquela noite.

Silvia já estava no quarto, deitada de lado, com o celular nas mãos e o abajur aceso lançando uma luz suave sobre o rosto cansado. Usava uma camisola azul-clara, simples, linda nela. Verena ficou parada na porta por um instante, observando. O coração batendo tão forte que doía. Precisava daquilo. Da presença da mulher que amava. De um carinho, um abrigo, um sinal.

Foi até a cama, se aproximando com passos lentos. Silvia continuou mexendo no celular, mas percebeu a aproximação. Verena sentou-se devagar à beira da cama, deixando uma das mãos repousar sobre a coberta.

— Tá tudo bem? — perguntou Silvia, sem olhar diretamente, com a voz baixa.

— Não sei. — Verena tentou sorrir, mas saiu torto. — Acho que não.

Silvia apenas assentiu, mas não disse nada. Verena então deslizou a mão devagar até tocar a perna da esposa por cima da coberta. A carícia era leve, cuidadosa, quase um pedido mudo. Silvia levantou os olhos. E ali estava Verena — olhos suplicantes, os lábios entreabertos, querendo dizer algo que não conseguia. Ela se aproximou mais, com um gesto hesitante, buscando um beijo. Não era apenas desejo. Era carência, era desespero. Era amor precisando ser correspondido.

Silvia recuou devagar. Colocou a mão sobre o ombro da esposa e a afastou com delicadeza, mas firmeza.

— Verena... Não agora. Por favor.

Verena sentiu o golpe como um soco no estômago. O rosto dela murchou na hora, como uma flor cortada do caule.

— É que... eu só queria você, Sil. Só um pouco de você.

Silvia suspirou, sentando-se na cama, agora frente a frente com a esposa. Os olhos estavam vermelhos, cansados.

— Eu sei. E eu... eu queria conseguir te dar isso, de verdade. Mas tá difícil, Verena. Muito difícil.

— Você não me ama mais?

— Eu te amo. — Silvia disse de forma simples. — Mas o amor, sozinho, não segura tudo. Eu não consigo mais me entregar como antes. Você se perdeu de mim, e eu... me perdi tentando te encontrar de novo. E agora eu não sei se dá pra voltar.

Verena baixou os olhos, mordendo os lábios. Uma lágrima escorreu sem permissão. A decepção consigo mesma parecia queimar a pele.

— Eu tô tentando. Juro. Tô indo na terapia, tô me segurando pra não afundar de vez... Mas eu... eu preciso de você, Sil. Você é a única coisa que ainda me puxa de volta.

Silvia se levantou, respirando fundo. Foi até o armário, pegou uma manta fina e voltou, entregando-a nas mãos de Verena.

— Dorme no outro quarto hoje. Por favor. Eu só preciso de um pouco de espaço.

Verena nem tentou insistir. Pegou a manta, como se fosse uma punição. Seus pés arrastavam pelo chão enquanto saía do quarto. Ao fechar a porta, Silvia ainda ouviu o som abafado de um choro contido.

E naquele silêncio cortante, Verena sentou-se no sofá escuro, abraçada à manta, completamente só.

Por dentro, tudo se despedaçava.

Apartamento de Verena e Silvia – Domingo, 07h40 da manhã

O céu ainda estava nublado, típico das manhãs frias de outono na capital. A casa estava silenciosa, com o cheiro suave de café recém-passado ainda pairando no ar. Silvia caminhava descalça pelo quarto, ajeitando os últimos detalhes da roupa diante do espelho. Tinha colocado o vestido azul-claro que Verena escolhera dias antes e, por cima, um casaquinho branco de tecido leve. Prendeu metade do cabelo para trás com uma presilha delicada, como sempre fazia em ocasiões mais familiares, e borrifou o perfume favorito no pescoço.

Respirou fundo. Pensava no que tinha feito dias atrás — mandar Verena dormir no quarto de visitas. Doeu. Ainda doía. A esposa vinha claramente à beira de um colapso, carregando algo que Silvia não sabia nomear. Ela não estava mais apenas distante... estava se desfazendo aos poucos, sumindo dentro dela mesma. Silvia não sabia como puxá-la de volta, mas naquela manhã, resolveu tentar ao menos oferecer uma trégua. Sentia falta de ter sua esposa por perto. De verdade.

Ao se virar, viu Verena sentada na ponta da cama, abaixada, calçando os sapatos. Usava a camisa social azul clara que Silvia adorava nela, com uma calça clara e um relógio de couro no pulso que ajeitava com precisão. O cabelo solto, como nos últimos dias de trabalho, emoldurava o rosto sério e cansado. Silvia a observou em silêncio por alguns segundos. Ainda era linda. Ainda era a mulher por quem se apaixonara. Apesar de tudo.

Verena notou o olhar e levantou os olhos.

— Tá feio? —Levantou, franzindo o cenho, como se desconfiasse de alguma mancada no visual.

Silvia apenas sorriu. Não respondeu. Caminhou até ela e, sem dizer uma palavra, a abraçou.

O gesto pegou Verena completamente de surpresa. O corpo dela ficou tenso no início, como se não soubesse se podia aceitar aquilo. Mas o perfume conhecido, o calor do toque, os braços firmes ao seu redor... Verena cedeu. Apertou Silvia contra si com força, quase desesperada, respirando fundo no pescoço dela, como quem volta à tona depois de dias afundada. Fechou os olhos.

Ficaram assim por longos segundos. O tempo parecia suspenso.

Ao se afastarem um pouco, Silvia ergueu a mão, tocando o rosto da esposa. Verena a olhou como se estivesse à beira de se desmontar outra vez.

Silvia, um pouco mais baixa, ergue-se sobre os pés e selou os lábios da mulher com um beijo calmo, demorado, que se transformou em uma sequência de selinhos. Os olhos de Verena fecharam de novo. Suspirou no final, como se aquilo curasse uma parte do dia que ainda nem começara.

— Tá pronta? — perguntou Silvia, ajeitando os óculos da esposa com os dedos, sem conseguir esconder o pequeno sorriso.

Verena assentiu, engolindo seco, e apenas murmurou:

— Agora tô.

Verena pegou as chaves do carro enquanto Silvia checava a bolsa e a sacola com o presente. O relógio marcava quase oito. Tinham pouco mais de quarenta minutos até o sítio da festa. Enquanto fechavam a porta do apartamento, Verena lançou um último olhar para trás. E, pela primeira vez em muitos dias, sentiu que talvez... só talvez... ainda houvesse algum caminho de volta.

Casa da Família Moraes – Domingo, 07h15 da manhã

O sol ainda se espreguiçava atrás das nuvens pesadas, quando o alarme velho do celular de Ana Paula tocou pela terceira vez. No pequeno quarto de paredes descascadas e cortina improvisada, ela se levantou com cuidado, tentando não acordar o marido, que tinha trabalhado até tarde num frete extra na noite anterior. O corpo doía, mas o coração estava leve: domingo era dia de família reunida. E isso bastava.

Na cozinha, o som da chaleira fervendo era abafado pelo rádio baixo, que tocava um sertanejo antigo. Ana Paula arrumava a mesa com o que dava — pão francês de ontem, requentado na chapa com manteiga, café preto passado no coador de pano, e um pouco de banana amassada com aveia pra quem quisesse algo mais “nutritivo”. Abriu um sorriso ao ouvir o arrastar de chinelos no corredor.

Valentina surgiu com os olhos inchados de sono e o cabelo ainda preso no coque torto que usava pra dormir.

— Bom dia, filha. — disse Ana, puxando uma caneca já cheia — Come logo que a gente precisa sair cedo, lembra? Seu tio quer evitar o trânsito da estrada.

— Bom dia… — murmurou Valentina, sentando-se devagar.

O rádio, o cheiro de café, o barulho da mãe cortando o pão com faca cega… tudo era parte da sua rotina. Mas naquele dia, havia algo diferente. O vestido simples de algodão que tinha separado estava pendurado na cadeira. Um presente da madrinha no Natal passado. Liso, cor de lavanda. Tinha passado a noite pensando se estava bom o suficiente. Queria estar bonita… não sabia bem por quê. Ou sabia, mas não queria admitir.

Poucos minutos depois, na sala apertada, o pai surgiu ajeitando a bermuda jeans "de sair" e a camisa polo azul clara, já com o pente no bolso. Espreguiçou-se, pegou um pedaço de pão direto da frigideira e deu um beijo apressado na testa da filha.

— Bora, meu povo. Daqui a pouco seu tio chega todo apressado. — disse, com a voz grave e bem-humorada.

Valentina levantou e foi até o quarto, onde a mochila simples de sua irmã mais nova estava jogada no chão, aberta. Ajudou a pequena a fechar, com um sorrisinho enquanto a irmã perguntava se o sítio tinha piscina.

— Não sei, Isa. Mas leva seu biquini. Vai que tem.

Minutos depois, a família se apertava no carro do tio que passara para buscá-los. Era um Uno vermelho antigo, limpíssimo por dentro, com cheiro de lavanda artificial e som alto tocando pagode dos anos 90. Valentina foi no banco do meio, entre a irmã e a mãe. O pai foi na frente com o tio.

Durante o trajeto, o vidro meio aberto batia no rosto de Valentina, misturando vento e cheiro de estrada. As árvores passavam rápido pelas janelas. Sua mãe falava algo com o tio, mas ela não ouvia direito. Os pensamentos já estavam longe. Segurou firme o próprio vestido no colo. Era só um domingo. Só uma festa de família. Mas o coração dela não acreditava nisso nem por um segundo.

Sítio da família – Domingo, 10h40 da manhã

O Audi A4 preto brilhava sob o sol forte da manhã quando finalmente encostou na parte frontal da grande sede do sítio. Entre os carros populares estacionados ao redor — alguns com marcas de barro, outros com bagageiros improvisados amarrados com corda — aquele modelo alemão parecia um animal de raça solto entre vira-latas. Janelas fechadas, película escura, faróis afilados e silencioso como uma ameaça elegante.

Do lado do motorista, Verena desligou o carro com um suspiro. Olhou de relance para Silvia, que parecia mais leve naquela manhã, apesar do silêncio que mantinham desde que saíram de casa. Silvia ajeitou os óculos escuros e, como quem sabe que todos estarão olhando, sorriu de canto, deslizando os dedos nos cabelos e se certificando de que o batom ainda estava intacto.

— Pronta? — perguntou ela, já puxando a alça da bolsa.

— Desde ontem — respondeu Verena, com um meio sorriso sem mostrar os dentes.

Desceram do carro. Silvia ajeitou o vestido azul claro que Verena havia separado no início da semana, agora parcialmente coberto por um casaco leve de linho cru. Ela foi a primeira a fechar a porta e, sem cerimônias, estendeu a mão discretamente para Verena, que ainda se ajeitava — passando as mãos no cós da calça e no colarinho da camisa. Silvia deu uma olhada e assentiu, quase satisfeita. Mesmo de costas, dava pra ver que se derretia um pouco com a imagem da esposa bem vestida e contida, como se cada movimento dela carregasse um passado cheio de mágoa e desejo.

De mãos dadas, atravessaram o pequeno trecho de grama até a entrada da casa grande. Alguns parentes que estavam sentados à sombra das árvores ou encostados nas janelas já cochichavam. Um ou outro sorriu, mais por formalidade. A maioria preferia fingir naturalidade, como se a presença das duas ali — juntas, impecáveis, alinhadas — não acendesse incômodos antigos.

Tias, primos e agregados voltaram os olhos discretamente — ou nem tanto. Um tio de boné virou de costas, fingindo procurar algo no cooler. Uma senhora de cabelos grisalhos e pele enrugada no banco de madeira apertou o terço entre os dedos com mais força. Um dos primos sussurrou algo no ouvido da irmã, que soltou um riso abafado e desnecessário.

— Mas é um carrão, hein… — sussurrou uma tia-avó para a prima ao lado.
— Silvia tá bem de vida, né? Essa moça aí não brinca em serviço — respondeu a outra, com aquele tom carregado de admiração e veneno disfarçado.
— Deus sabe o que faz… — completou a senhora, com uma risadinha sem som.

Verena ouviu parte da conversa e fingiu não ouvir. Continuou andando com postura firme, o cabelo solto balançando suavemente com o vento, os óculos escuros refletindo a luz e escondendo a tensão. Quando chegaram à varanda, Silvia soltou sua mão discretamente e puxou uma pequena caixa retangular de dentro da bolsa.

— Peguei ontem à tarde. O padre da matriz lá perto de casa garantiu que veio direto de Aparecida — disse ela para Verena, num tom mais baixo, quase orgulhoso.

— Claro que sim — murmurou Verena, apenas observando.

Entraram.

A sala estava cheia de parentes mais velhos, quadros antigos nas paredes — alguns em preto e branco, outros já amarelados — e móveis pesados que cheiravam a naftalina. No centro, sentada em uma poltrona almofadada com um cobertor nos pés, estava a matriarca centenária: Dona Marta, vestida com um longo vestido de florzinhas lilás, cabelo preso num coque baixo, olhos pequenos e vivos. Era a primeira vez que Verena a via tão frágil.

— Tia Silvia! — disse uma voz feminina de algum canto da sala.
— Bom dia! — respondeu Silvia, caminhando até a bisa com o presente nas mãos. Verena a seguiu alguns passos atrás, como se o espaço exigisse respeito.

— Mas olha só como ela tá bonita gente! Parabéns, vó. Cem anos... é uma vida inteira de bençãos — disse Silvia, se abaixando um pouco ao lado da senhora. — Eu e Verena trouxemos um presente. Espero que goste.

A bisa abriu o sorriso banguela com esforço, enquanto Silvia abria a caixinha.

Dentro, uma Bíblia de capa dura, bordada em dourado, com páginas finas e marcadores de cetim, acompanhada de um rosário banhado a ouro, de contas brilhantes e pequenos detalhes de madrepérola. O brilho do presente chamou atenção de todos os presentes. Teve um "ohhh" coletivo sussurrado, seguido por mais olhares enviesados.

— É lindo... — disse uma das primas, tocando as contas com os dedos. — Que delicadeza...

— É de Aparecida — reforçou Silvia, sorrindo educadamente, sabendo muito bem o que aquele presente representava.

Verena ficou em pé ao lado, discreta. Assistiu à cena toda como quem participa de um teatro já ensaiado, mas algo dentro dela se aqueceu por ver Silvia sorrindo. Mesmo que fosse só por fachada, era bom vê-la assim — inteira, bonita, pertencente àquele mundo que antes a rejeitava.

Silvia, por sua vez, lançou um olhar rápido para a esposa. Um sorriso contido. Talvez, só talvez, estivesse tentando mostrar que ainda valia a pena continuar tentando.

E mesmo que Verena não soubesse o que viria naquele dia, sentiu que, por mais breve que fosse, aquele gesto já era uma vitória.

Entrada do sítio – Domingo, 11h15 da manhã

O som do motor do carro velho se misturava ao barulho do mato sendo esmagado pelos pneus. O velho Uno, com a pintura já um pouco queimada pelo sol, subia devagar a pequena estrada de terra que levava à sede do sítio. Lá dentro, apertados, mas de bom humor, vinham Luiz dirigindo, Carlos ao seu lado, Ana Paula, Isadora e Valentina no banco de trás.

— Prontinho, chegamos! — disse Luiz, forçando uma empolgação alegre enquanto ajeitava os óculos de grau tortos.

Valentina soltou uma risadinha fraca, olhando pela janela. Tinha tentado aproveitar aquele momento em família, mas o aperto no peito não a deixava. Desde que acordou, estava estranha. E agora, ali dentro daquele carro pequeno, cercada de carinho e simplicidade, sentia-se desconectada.

Foi quando, ao fazer a curva final que revelava a casa grande, ela viu o carro.

O Audi preto.

Imóvel, brilhante, reluzente sob o sol, como se tivesse saído direto de um comercial. Ela conhecia aquele carro. Tinha visto de perto. Estado dentro dele.  Sentado naquele banco estava o cheiro da Verena. O volante tinha sido tocado pelas mãos dela. E agora ele estava ali. Naquele lugar.

O estômago de Valentina se revirou como se tivesse engolido uma pedra. Um calor súbito subiu pelas suas costas, depois pescoço, até a nuca. Sentiu as mãos suarem, a garganta secar. A aflição misturada com uma excitação incômoda. Era como se o mundo inteiro tivesse gritado "ela está aqui!" no seu ouvido.

— Ô, filha, tudo bem? — perguntou Carlos, notando a expressão dela.

— Tô... — respondeu Valentina, engolindo em seco. — Só me deu um calor.

— É esse forno ambulante que seu tio chama de carro — completou o pai, rindo. — Não tem jeito, só o vento mesmo pra refrescar.

Param logo atrás de um Palio antigo, e mesmo ali, à distância, o contraste era gritante. As famílias estavam começando a se amontoar em grupos no quintal e na varanda. Do lado do Audi, Valentina viu uma das tias segurando um copo com gelo, rindo com outra que usava um vestido que lhe marcava mais do que gostaria provavelmente. O cheiro de perfumes misturados parecia invadir até a alma.

Ana Paula saiu do carro com o presente simples: uma caixinha retangular de plástico, bem embalada com papel celofane e fita rosa. Lá dentro, um terço artesanal feito de contas de madeira crua, comprado numa feirinha religiosa do bairro. Um detalhe carinhoso, mas humilde.

— Segura aqui filha? — disse ela, entregando o pacote pra Valentina segurar enquanto ajeitava a blusa.

— Mãe, você que devia entregar — respondeu Valentina, a voz mais baixa do que o normal.

— Eu entrego. Mas você ajuda. A bisa te adora.

Subiram a pequena escadinha da entrada. Os sapatos do marido faziam barulho no piso de madeira e Isadora estava encantada com a decoração antiga da casa. Os olhos dela brilhavam com os retratos em preto e branco, com as paredes que não encostavam totalmente no teto de madeira, com os móveis rústicos cheios de histórias.

Valentina, no entanto, estava absorvida pela presença invisível de Verena ali. Era como se sentisse o perfume dela misturado com o ar. Seus olhos percorriam cada canto com medo e desejo. Uma parte dela torcia pra não vê-la logo — a outra queria.

Quando entraram, foram recebidos com sorrisos sinceros, apertos de mão e abraços calorosos. Apesar da condição mais modesta, a família de Valentina tinha algo que nenhuma marca de roupa, carro importado ou rosário banhado em ouro poderia comprar: afetividade descomplicada. Todos sabiam da vida dura uns dos outros, e mesmo assim, celebravam.

— Ô dona Marta! Olha quem chegou, hein! — gritou Luiz, apontando para Ana Paula e Carlos. — É a família do Carlos, o sobrinho da dona Teresa!

Valentina se abaixou até a bisa, que a olhou com carinho.

— Minha bonequinha cresceu tanto... — disse a senhora com dificuldade, tocando o rosto da menina com mãos trêmulas.

Valentina sorriu, mas os olhos continuavam inquietos, como quem sabia que a qualquer momento, ela apareceria.

E o coração já batia mais rápido só de imaginar o momento em que seus olhos se cruzariam novamente.

Quintal do sítio – 11h45 da manhã

O sol já começava a esquentar o chão de terra batida, enquanto o quintal se enchia de vozes, risadas e copos de suco ou refrigerante gelado passando de mão em mão. A grama bem cortada estava parcialmente coberta por sombras das árvores e das tendas improvisadas que haviam montado para acomodar os convidados.

Verena estava ali, em pé, com as mãos nos bolsos da calça. Os cabelos soltos caíam pelas costas, levemente bagunçados pelo vento suave que passava por ali. Tentava se conectar com aquela realidade da esposa. Queria fazer as coisas certas.

À frente, Silvia conversava animadamente com uma prima, rindo de alguma história antiga. O pai dela, ao lado, também parecia entrar na conversa, apontando para o cachorro da casa que corria atrás de um frango solto no quintal.

Verena apenas ouvia de longe, o olhar perdido em um canto qualquer do jardim, o coração batendo lento. Aquilo tudo parecia deslocado. Mesmo tendo sorrido para todos, distribuído abraços e entregado o presente caro para a aniversariante, ela se sentia... fora do corpo. As mãos, enfiadas no fundo do bolso, apertavam o tecido com força.

— Olha só quem chegou... — disse uma voz feminina rouca, próxima, com tom quase musical, nostálgico.

Verena virou o rosto, distraída, sem pensar. Só pra saber de quem falava.

E ali estava ela.

Valentina.

Descendo o pequeno degrau da varanda com o cabelo preso num rabo simples, vestida com um vestido modesto, florido, que lembrava alguma coisa dos anos 90. A mãe estava ao lado, segurando a outra filha pela mão. O pai mais à frente, guiando o caminho. Isadora olhava tudo com curiosidade.

Mas Verena não viu mais ninguém.

Seu corpo congelou. O queixo travou. A respiração falhou por um segundo.

Valentina também a viu. O choque foi mútuo.

Ela parou no terceiro passo. O mundo inteiro pareceu afundar e acelerar ao mesmo tempo. Os olhos se arregalaram de leve, como quem esperava por aquilo, mas ainda assim foi pega desprevenida. O corpo dela reagiu antes da mente. O coração disparou, o rosto aqueceu, as mãos começaram a suar.

Por um instante — só um — elas estavam sozinhas ali, em meio à multidão barulhenta. Como se todo o resto tivesse sido engolido por um silêncio absoluto.

Verena manteve o olhar. Não conseguia desviar. Algo entre angústia, desejo e culpa a prendia ali, feito imã. O peito subia e descia mais rápido, e um tremor leve percorreu sua mandíbula.

Silvia, ainda rindo com a prima, virou-se para pegar a mão da esposa e chamar sua atenção para outra coisa. Tocou o braço de Verena.

— Amor?

Ela parou no meio da frase. Viu o olhar da esposa. Seguiu a direção.

— Ah olha só. Nossa quanto tempo que eu não vejo a Ana Paula. Como tá grande a irmã da Valentina — murmurou, baixinho.

Valentina desviou o olhar primeiro, pressionando os lábios. Seu corpo agora estava tenso, quase como se fosse recuar. Mas seguiu o pai, mesmo com os joelhos instáveis.

Verena passou a mão na nuca, tentando se recompor, engolindo a emoção crua. Silvia, que conhecia os pequenos detalhes da mulher percebeu a inquietação.

— Tá passando mal meu bem? — disse em voz baixa, tocando de leve a nuca da esposa, afastando alguns fios grudados, deixando o ar fresco aliviar o calor — Essa calça é bonita mas é quente, devia ter vindo de shorts.

Verena negou com um movimento quase imperceptível da cabeça, ainda olhando de canto. Era como se o chão tivesse sumido debaixo dos seus pés.

A mulher que comentou a chegada, alheia aquele pequeni momento de tensão, comentava orgulhosa com os parentes ali próximos.

— A minha neta, Valentina, menina doce, estagia numa repartição do governo agora... olha que orgulho.

Silvia apenas sorriu de canto. Verena não respondeu. Não conseguia.

O caos agora era interno. E o resto do dia mal tinha começado.

Quintal do sítio – 13h00

O cheiro de comida caseira já tomava conta do ar. Arroz soltinho, feijão temperado com alho e louro, farofa com calabresa, frango assado, macarronada e maionese: o banquete típico das festas de família. A mesa de madeira improvisada servia como buffet, e a fila se formava aos poucos, à medida que os convidados se ajeitavam para almoçar.

Um forró antigo tocava ao fundo, vindo de uma caixa de som grande perto da varanda. A voz de Dominguinhos cantava “Eu só quero um xodó”, enquanto algumas tias mais animadas já se balançavam levemente no ritmo, com copos na mão e risadas escandalosas.

Silvia estava ao lado da mesa, concentrada em montar dois pratos. Pegou primeiro o da Verena, como fazia há anos. Escolheu o frango que ela gostava, evitou a maionese, colocou pouca farofa. Fez com naturalidade, mas com aquele carinho discreto que só quem ainda ama percebe nos gestos pequenos. Quando terminou, caminhou até a sombra da tenda e entregou o prato à esposa.

— Aqui, já peguei o que você gosta. Só faltou refrigerante, vou buscar. — disse, tocando levemente no braço dela.

Verena a agradeceu com um sorriso breve, cansado, mas genuíno. Estavam sentadas juntas em uma mesa de canto, perto dos pais de Silvia, onde ela se sentia mais à vontade.

Mas por dentro, nada estava no lugar.

Com o prato sobre a mesa e o som alegre preenchendo o ambiente, Verena mal sentia o gosto da comida. Mastigava devagar, olhando em volta com cautela. Aquilo era novo — novo e perigoso. Ver Valentina ali, com roupas simples, sentada no outro extremo do quintal, cercada da própria família... era como vê-la em outra vida. Uma vida real. Longe dos corredores austeros da Alesp, dos relatórios, dos sapatos fechados e do batom discreto.

E mesmo assim, ela era mais bonita ali. Mais viva.

Do outro lado, Valentina também sentia o peito espremido. Estava ao lado dos pais, Isadora ao seu lado reclamando que não gostava da farofa. O pai  brincava que o tio podia doar o carro velho para ele, pelo menos pra parar de andar apertado. Ana Paula ria alto, fazendo todo mundo ao redor rir também.

Mas ela? Só empurrava o arroz com o garfo.

De vez em quando, seus olhos se desviavam discretamente — e lá estava Verena. De cabelos soltos, sentada naquela mesa simples, comendo a mesma comida que ela, elegante até demais pra aquele cenário. Uma mulher bonita, de feições sérias, com uma tristeza silenciosa desenhada nos olhos.

Valentina a encarava por segundos curtos, como se o mundo fosse desabar se alguém percebesse. Verena fazia o mesmo.

Verem-se fora do trabalho, em um contexto completamente pessoal, parecia... proibido. E íntimo demais. Como se aquele espaço familiar quebrasse as barreiras que o gabinete impunha. Ali, eram só duas mulheres em lados opostos de um campo minado — uma de camisa social clara, outra com vestido florido. Uma de Audi A4, outra de carro emprestado do tio. Uma com os pais da esposa, outra com os próprios pais. Ambas presas.

Silvia voltou com os refrigerantes. Sentou ao lado da esposa, ajeitando a barra do vestido. Percebeu que ela estava distante.

— Tá tudo bem mesmo amor?

Verena assentiu, mais com a cabeça do que com o coração.
— Só cansada.

Silvia olhou sorriu com ternura, ajeitando o próprio prato, finalmente começando a comer.

A música mudou. Agora era “Esperando na Janela”.

Verena fechou os olhos por um segundo. E era como se aquela letra a atravessasse.

Quintal do sítio – 14h20

A festa seguia em seu auge. A música agora era mais animada, algum forró eletrônico que dividia opiniões. As mesas estavam cheias, as crianças corriam pelo quintal de chão batido, um cachorro vira-lata tentava pegar um pedaço de frango esquecido perto da mesa, e alguém ria alto a cada cinco minutos, como manda o figurino.

Verena estava surpreendentemente à vontade, sentada numa roda que envolvia o sogro, um tio distante de Silvia e mais dois agregados, todos já com copos nas mãos e discursos inflamados. O tema? Política, claro. E quando um deles comentou que o país precisava de “mais gente com pulso firme”, Verena soltou uma daquelas risadas sinceras, a primeira do dia.

— Pulso firme não é gritar em rede social, é saber onde pisar sem afundar a bota. — disse ela, com um sorriso de canto, fazendo os homens balançarem a cabeça em concordância.

Foi nesse momento que Silvia apareceu com um bebê gordinho nos braços, de no máximo nove meses. O menino tinha os cabelos cacheados, bagunçados, uma camisa de botão que já estava metade aberta e um babador manchado de suco.

— Olha só quem veio participar da conversa também— disse Silvia, sorridente.

Verena virou-se imediatamente e soltou um sorriso singelo ao ver a esposa com o pequeno no colo.

— Mas olha isso! Parece um pãozinho. – Comentou o pai de Silvia

— Né? E pesa igual também. — Respondeu Silvia, ajeitando o bebê nos braços. — E onde vocês arrumaram cerveja hein? — O olhar direcionado para a latinha de Itaipava na mão da esposa, fazendo Verena, dar um gole, tentando esconder a culpa por estar bebendo.

— O Luiz — o sogro comentou, rindo. — Aquele lá se não tiver uma cerveja a festa tá incompleta. Mas vamos combinar que uma gelada cai bem né.

Todos riram, inclusive Silvia, mas lançou um olhar teatralmente reprovador para o pai.  Tocou no ombro da esposa.

— Vamos lá em cima comigo? Vou trocar a fralda dele e quero que você veja. Vai que um dia você se anima...

— Com fralda ou com bebê? — rebateu Verena, fingindo preguiça.

— Com os dois. E nem tem discussão, anda. — Silvia puxou a esposa pelo braço, o bebê já dando gritinhos aleatórios e tentando puxar os óculos da deputada, que seguiu acompanhando a mulher, entre um gole e outro.

Casa – Cozinha – Minutos depois

Ao entrarem pela porta dos fundos, o clima da casa era outro. Menos barulhento, mais abafado. As paredes amarelas já descascavam em alguns pontos, e a cozinha exalava um leve cheiro de alho frito com arroz velho. Passaram pelo balcão onde alguns copos estavam largados, e quando viraram o corredor…

Valentina.

Voltava da sala com um prato vazio, os cabelos presos de qualquer jeito e a expressão de quem não dormia direito há dias. Ao vê-las, hesitou por um segundo — mas manteve a postura.

Verena também não esperava. Estacou, rápida, depois deu um leve sorriso contido, protocolar. Acenou com a cabeça.

Valentina respondeu com um aceno discreto, os olhos caindo rapidamente.

Mas o perfume...

O perfume dela invadiu o ar, adocicado, intenso — e com ele, o cheiro mais discreto da colônia amadeirada de Verena. Um segundo. Foi só isso. Um segundo.

Mas Valentina sentiu como se estivesse mergulhada num rio quente. O estômago se revirou, o coração disparou. A mente, barulhenta como a festa lá fora, ficou em silêncio. E Verena sentiu o mesmo. Uma vertigem breve. Como se o mundo à sua volta diminuísse de tamanho.

— Vamos? — Silvia chamou, já subindo as escadas com o bebê, distraída.

Verena apenas assentiu e seguiu.

Quarto de cima –Improvisado de trocador

O bebê estava deitado em cima de uma colcha florida, gargalhando sozinho, brincado com a caixa da pomada pra assaduras, enquanto Silvia tirava a fralda com toda paciência do mundo.

— Que pecado gente, todo sujo de cocô meu anjinho — Silvia dizia com a voz mais angelical que possuía.

Verena assistia da porta, entre desconfiada, curiosa. E encantada pela cena.

— Isso aí é treinamento básico de mãe?

— Claro. Vem aqui, ajuda a segurar ele. E aprende, vai que um dia a gente precisa.

— "A gente"? — Verena arqueou uma sobrancelha, provocativa.

Silvia deu um sorriso sem olhar pra ela.

— Vai ver eu tava falando com o bebê.

Verena se aproximou, relutante, e segurou o menino pelas perninhas. Ele soltou uma risada tão gostosa que até ela não resistiu e riu também, com aquele brilho meio escondido no olhar.

O pequeno assim que notou a presença dela, pareceu ter esquecido da pomada. Os olhinhos abertos e fixos podiam ser refletidos pelas lentes da mulher. Verena, sem saber o que fazer, apenas olhava de volta, como se ambos estivessem em um assunto muito interessante.

— Ih gente, mas essa moça eu não conheço não hein. Quem é essa moça bonita que tá me olhando assim hein? — A voz infantilizada de Silvia arrancou uma risada verdadeira de Verena, que observa a esposa levantar a criança, já trocada, apoiada sobre o colchão. Os olhinhos ainda vidrados nela. Até que soltou uma risadinha, escondendo o rosto no ombro de Silvia, que o apertou carinhosamente, fazendo carinho nos cachinhos bagunçados. Verena agora sorria com ternura, um sorriso raro, mas que as vezes aparecia.

E Por alguns minutos, eram só os três ali, um bebê cheio de vida e duas mulheres que, apesar de todas as rachaduras, ainda tinham algo de muito vivo entre elas.

Cozinha da casa — Por volta das 16h10

Valentina estava sozinha na cozinha, a mão suada tentando, em vão, abrir a garrafa de dois litros de refrigerante. A tampa estava mais dura do que parecia e, por mais que tentasse envolver com o pano de prato, escorregava toda vez. Resmungou algo baixo e frustrado, até que ouviu passos atrás de si.

Verena entrou pelo batente da porta, ainda ajeitando o cabelo solto que o calor fazia colar na nuca. Parou ao vê-la ali, em pé, franzindo o rosto, o pano já torto entre os dedos.

— Tá difícil? — perguntou, com um tom quase cúmplice.

Valentina virou devagar, um pouco surpresa, rindo de leve com um suspiro de cansaço.

— Tá. Parece que passaram super bonder na tampa.

Verena caminhou até ela sem dizer nada.
Parou perto demais.

— Me dá aqui — disse, estendendo a mão.

Valentina entregou a garrafa, hesitante. Os dedos das duas se encostaram por um segundo. Longo o suficiente para as duas sentirem aquele calor estranho subindo pelos braços.

Verena segurou firme a garrafa e, num movimento seco, girou a tampa com facilidade.
Um cloc baixo ecoou na cozinha.

Assim que a tampa saiu o refrigerante espirrou com força, subindo em jatos e vazando pelo gargalo.
Pegou bem na barra da camisa e na calça clara de Verena, na região da coxa.

— Ai, meu Deus! — Valentina se desesperou. — Ai, desculpa! Nossa, desculpa, foi sem querer! Eu não sabia que tava assim!

Num impulso, como quem age antes de pensar, ela pegou o pano de prato e começou a tentar secar a calça da deputada, ali, agachada e nervosa, tocando com cuidado, pressionando o tecido molhado.

— Eu limpo, eu limpo, foi culpa minha...

Verena congelou por dois segundos.

Sentiu o toque da mão de Valentina, o calor dos dedos, o tecido úmido, a respiração dela apressada logo ali... e sentiu o controle escorregar, como a garrafa de antes.

Levantou sutilmente a mão, tocando no ombro dela. A voz saiu suave, forçada a manter o equilíbrio.

— Ei... — disse baixo. — Não precisa. Tá tudo bem.

Valentina parou. Os olhos encontraram os dela.

— Mas sujou sua calça... e eu...

— Não tem problema — interrompeu Verena, num tom baixo demais, como quem suplica pra ela parar antes que fosse longe demais.

As duas ficaram em silêncio por um instante.

Verena olhou pra ela como se não soubesse onde estava. Valentina ainda segurava o pano. O som do refrigerante borbulhando foi a única coisa que existia por uns segundos.

Aí veio o barulho de passos se aproximando.

Verena recuou um passo. Engoliu seco. Forçou um sorriso.

— Vai lá... Pode deixar que eu dou um jeito aqui.

Valentina riu sem graça, tentando respirar. O rosto corado, as mãos trêmulas.

— Me desculpa mesmo. Não sabia que ia estourar assim.

Verena a encarou por um segundo.

Respondeu um “Não se preocupa” com um gesto de cabeça e observou a menina saindo, ficando ali, com a calça úmida, os batimentos acelerados e um pensamento só: "Isso ainda vai me matar."

Sítio da festa – Varanda e área da tenda | Por volta das 17h40

O sol já se punha por trás das árvores baixas ao redor do terreno, deixando o céu numa mistura de laranja e lilás, típico de fim de tarde no interior. Uma brisa leve começava a soprar, e com ela vinham os primeiros arrepios da noite. A bisa Marta já tinha sido levada pra varanda coberta, enrolada numa manta, sentada em sua cadeira de vime. O rosto enrugado e sereno encarava o horizonte como quem esperava que o tempo voltasse atrás só por alguns instantes.

Valentina estava de novo ao lado dos pais, sentada num dos bancos de madeira compridos, rodeada por gente que mal se lembrava de ter visto antes. A mãe ria com uma prima distante, e o pai conversava animado com um senhor barrigudo sobre a crise no preço dos combustíveis. A menina, no entanto, não ouvia nada. Estava presente em corpo, mas a cabeça girava em outra frequência.

Ela ainda sentia o perfume de Verena, preso no ar, e mais do que isso, sentia o calor do toque — do olhar, da voz baixa, quase um sussurro, dizendo “tá tudo bem”.
Mas não tava nada bem.

Olhou sem querer.
Do outro lado da tenda, sob a lona que agora já ganhava pequenas luzes acesas penduradas por barbantes, Verena estava sentada. Os cabelos soltos, brilhando sob o tom dourado da luz do entardecer. Tinha os braços jogados por trás da cadeira de Silvia, que ria da calça molhada da esposa. Verena também sorria, de leve, como quem tenta fingir normalidade.

Desviou o olhar rápido.

“É errado”, pensou. “Para com isso, Valentina. Isso não tá certo.”
Mas sentia o rosto arder, o estômago bagunçado, uma vontade absurda de olhar de novo.

O forró que tocava no fundo era animado, um clássico de Luiz Gonzaga. Casais mais velhos já arrastavam os pés pela terra batida improvisada como pista de dança. Um senhor e sua esposa mais jovem rodavam pelo espaço como se fosse a festa de casamento deles.
Então, a música mudou. Um forrozinho romântico, daqueles que pareciam desacelerar o tempo.

Valentina abraçou os próprios braços, nervosa. Não sabia por quê, mas aquela música a deixava mais sensível. Olhou de novo. E viu.

Verena também havia olhado.

Foi rápido. Um segundo, talvez menos. Mas o suficiente. Seus olhos se encontraram.
E o mundo pareceu se calar. Até o forró ficou longe. A menina baixou o olhar, desesperada com o próprio coração descompassado. Voltou os olhos pra bisa. Pro chão. Pra qualquer lugar... que não fosse Verena.

Mas já era tarde. Algo dentro dela estava despertando — algo que nenhuma oração conseguia acalmar.

Sítio – Parte externa, perto do pasto | Por volta das 18h45

A festa já se esvaziava. Algumas vozes ecoavam ao longe, vindo da tenda onde os mais resistentes ainda se agarravam às últimas músicas no radinho pendurado por um fio improvisado. Os pais de Silvia já tinham se despedido, mas o casal resolveu ficar mais um pouco. O ar fresco do campo parecia aliviar o peso da semana.

Afastadas do agito, Verena e Silvia estavam próximas à cerca de madeira que delimitava a parte de trás do terreno. O pasto ali adiante se estendia numa imensidão calma, com meia dúzia de vacas mastigando preguiçosas a grama baixa. A noite caía, e o céu já era um degradê entre azul escuro e preto, pincelado de estrelas tímidas.

Verena mantinha um braço em volta da cintura da esposa, segurando firme por conta do friozinho que já batia. Silvia, com as bochechas um pouco mais coradas pela brisa gelada do fim de tarde na roça, falava sobre a infância naquele lugar, sobre como corria descalça e levava bronca da avó. Ria mais solta, leve — e um pouco melosa, o que arrancava sorrisos divertidos de Verena.

Uma rajada de vento fez Silvia se encolher um pouco. Verena aproveitou pra puxá-la mais pra perto, ajeitando o abraço com um leve toque no queixo dela.

— Gosta disso, né? — murmurou. — Senti falta de ficar assim com você.

— E você gosta de fingir que não bebeu — Silvia respondeu, sorrindo. — Mas tá com aquele olhar.

— Qual?

— O olhar de quem vai dizer besteira a qualquer momento.

Verena sorriu com charme, encostando a cabeça no ombro da esposa, a voz baixa, rouca, mas firme:

— Besteira, não… eu só tava aqui pensando… que se eu não tivesse te conhecido, talvez até hoje eu achasse que amor era só discurso político bonito. Que sorte a minha, hein?

Silvia suspirou, tentando não se render. Mas era difícil. Principalmente com aquele tom.

— Você fica filosófica depois de quatro latinhas de cerveja?

— Não foram quatro. Foram três e meia. E uma delas tava quente — rebateu, com um sorriso de canto. — Mas a sua risada compensa qualquer coisa. Inclusive a vergonha que eu fiquei de ter ficado com a calça molhada de refrigerante.

— Você mereceu! — Silvia deu uma risadinha, olhando a mancha discreta no tecido. — Quem manda não sair da cozinha.

Verena soltou uma risada baixa e, como num impulso, segurou o queixo da esposa com delicadeza.

— Posso te contar um segredo?

— Melhor não… — Silvia já sentia o perigo se aproximar.

— Tô com vontade de te beijar desde a hora que você desceu daquele carro, ajeitando o vestido, com aquele sorrisinho que só eu entendo.

Antes que Silvia pudesse reagir, Verena se inclinou e roubou um beijo. Um beijo quente, lento e profundo, mas rápido o suficiente pra parecer casual a quem visse de longe. Ainda assim, carregado de desejo acumulado. A boca dela sabia o que fazia. E Silvia, mesmo tentando manter o controle, perdeu por alguns segundos a força nas pernas.

— Verena… — Silvia murmurou, tentando disfarçar o riso e olhando atentamente para os lados. — E se alguém aparece aqui?

— O que tem? Foi só um beijinho. — Sussurrou Verena, encostando a testa na dela.

Silvia mordeu o lábio, balançando a cabeça.

— Você é um problema.

— E você ama esse problema.

Riram juntas.

Mas a risada não foi compartilhada por todos.

Poucos metros dali, entre a lateral da casa e a varanda apagada, Valentina parou. Tinha dito à família que iria ao banheiro antes da viagem de volta. Mas a verdade era outra: queria ver Verena uma última vez. Um último olhar, uma última palavra, qualquer coisa que a alimentasse por mais uma semana.

E o que viu a dilacerou.

Paralisada, encarou as duas encostadas na cerca. Viu o beijo. O jeito como Verena segurava a esposa pela cintura, o sorriso leve depois da troca. Viu a intimidade. A conexão. E sentiu o chão sumir.

Os olhos encheram antes mesmo que percebesse. Sentiu o rosto queimar, e o peito apertar como se tivesse levado um soco. Engoliu o choro, porque não podia chorar ali. Porque não tinha o direito. Porque, teoricamente, não havia nada demais naquilo.
Mas doía.
Doía como se tivesse.

Deu um passo pra trás, tropeçando levemente na terra fofa. Limpou as lágrimas rápido com as costas da mão, tentando se recompor antes que alguém notasse.

— Valen? Tá tudo bem? — era a voz do tio, chamando de longe.

Ela respirou fundo, uma, duas vezes.

— Tô indo — respondeu, com a voz embargada que tentou disfarçar.

E então, se virou, caminhando de volta como quem foge.
Porque a festa… a festa já tinha acabado pra ela há muito tempo.

No carro, estrada de terra | Noite adentro, cerca de 20h30

O carro velho sacolejava a cada buraco da estrada mal iluminada. Lá fora, o céu já era um manto escuro pontilhado de estrelas, enquanto a poeira vermelha do chão levantava atrás do veículo, como se quisesse apagar os rastros da festa.

Isadora dormia no banco de trás, meio deitada no colo da mãe, exausta depois de correr o dia inteiro atrás das outras crianças. O cabelo embaraçado caía pelo rosto, e Ana Paula, com paciência, ia tirando as mexas da frente dos olhos da filha, com o carinho de quem conhece cada milímetro de um corpo pequeno que viu crescer.

No banco do passageiro Carlos observava a escurdão do lado de fora, Luiz dirigia com a tranquilidade de quem já fez aquele caminho muitas vezes, enquanto conversava com o cunhado. Falavam sobre o tempo, sobre o campo bonito, sobre o arroz que estava bom.

Valentina estava no banco de trás, encostada na janela, o rosto virado para o lado, como se estivesse apenas observando a paisagem. Mas seus olhos estavam fixos no nada. As luzes da festa ainda dançavam dentro dela, misturadas com a imagem daquele beijo que não era dela — nunca foi, e provavelmente nunca seria.

A garganta ardia. O peito pesava. O coração estava em pedaços, mas tudo o que podia fazer era morder o lábio por dentro e segurar. Segurar até onde desse.

— Você viu rapaz? — disse Luiz de repente, com o tom que tentava parecer leve, num tom de voz mais baixo, mas trazia um peso difícil de ignorar. — A Silvia… casada com mulher. Coisa que a gente não via antes. Mas hoje em dia é isso aí mesmo, né? Cada um com sua escolha…

Ana Paula observava, atenta e pronta pra intervir se necessário. Não gostava daquele tipo de assunto perto das filhas. Olhou pra caçula menor dormindo no seu colo, ajeitou a coberta improvisada com a própria blusa, e apenas murmurou um:

— É… cada um com sua vida.

Carlos bufou de leve.

— A gente acaba tendo que aceitar de um jeito ou de outro né? Se falar alguma coisa ainda dá problema. A mulher parece direita… mas sei lá. O povo muda quando tem dinheiro também. Vai saber.

Valentina fechou os olhos com força. A mão apertou a coxa por instinto, como se fosse possível controlar o que doía por dentro com um gesto físico. Era como se tudo estivesse desmoronando silenciosamente — o autocontrole, a fé, a esperança.

Ela queria sumir.

"Como é que eu vim parar nisso?", pensava. "Como é que eu me deixei levar assim?"

Queria gritar, correr, se esconder. Mas tudo que podia fazer era respirar fundo, se calar, e seguir. Ser a menina boa. A filha certa. A que abaixa a cabeça e diz "amém".

Do lado de fora, os grilos cantavam. O barulho do motor seguia constante. Isadora respirava com tranquilidade. Ana Paula apenas olhava pela janela, pensativa. E Luiz seguia dirigindo, como se tudo estivesse em paz.

Mas dentro de Valentina, não havia mais festa. Só ruído. E dor.

Sítio | Já noite, pouco depois da despedida de alguns parentes

Verena escorava os braços sobre a cerca de madeira, os dedos entrelaçados como se quisesse prender o mundo ali. O cheiro de capim molhado e terra fresca era forte. Algumas vacas, mais adiante, ruminavam devagar sob a luz tímida da lua. Silvia se encostava no ombro dela, de vez em quando soltando uma frase boba. Verena sorria, mas só com a boca.

Silvia, que agora se divertia tentando encostar o nariz gelado no pescoço da esposa, nem imaginava o que se passava ali dentro. Mas para Verena não havia espaço pra perder aquela luta, não ali, naquele momento. Amava a mulher ao seu lado. Amava do seu jeito. A parceria, a história. A forma como Silvia ria das piadas ruins, como a defendia nas rodas políticas, como cuidava dela quando tudo desabava. Mas aquele amor… já tinha outro sabor.

Era mais memória do que impulso. Mais carinho do que desejo.

E o que ela sentia por Valentina, ainda que mal conseguisse admitir com todas as letras, era outra coisa. Ardente. Viva. Dolorosa.

Silvia a puxou de leve pela mão, entrelaçando os dedos, sorrindo:

— Vamos voltar lá? Já tá ficando friozinho e você acha que eu não tô te vendo segurar o frio. — Verena esboçou um sorriso. Encarou o campo à frente uma última vez, dando um sorriso mais nítido para a esposa. E saíram de mãos dadas.

Mas o coração dividido, a mente pulsando em confusão.

E pela primeira vez naquela noite, permitiu-se ceder aos seus pensamentos...

E pensar só nela.

No sorriso tímido.

Na vergonha doce.

Nas mãos pequenas que tocaram sua calça molhada, sem malícia — mas com tudo que bastava para desarmá-la.

Valentina.

...

As luzes penduradas nas tendas ainda brilhavam suavemente enquanto os últimos convidados iam se dispersando. O som da música já havia diminuído; agora era só um forrozinho instrumental, baixinho, quase como trilha sonora de despedida. O campo ao redor já exibia o breu da noite e seus sons da natureza noturna. O ar começava a ficar mais frio, fazendo os mais prevenidos puxarem os casacos.

Foram se despedir da bisavó de Silvia, que agora estava sentada novamente na sala, enrolada numa manta de lã azul, tomando chá quente numa xícara delicada.

Silvia se abaixou até ela, sorrindo com carinho, enquanto Verena ficou de pé, mais ao lado, respeitando aquele espaço silencioso que o tempo parece impor entre gerações.

— Foi tudo muito especial, vó… — disse Silvia, com a voz mais doce. — Obrigada por estar com a gente.

A senhora ergueu os olhos devagar, demorando um segundo pra reconhecer bem quem era. Depois sorriu, aquele sorriso que mistura ternura e memória.

— Você que é especial, minha filha. Já vai embora?

— Já… amanhã a gente acorda cedo pra trabalhar — respondeu Silvia.

A bisa assentiu com um movimento leve da cabeça, antes de voltar o olhar para Verena. A postura da deputada era firme, respeitosa, as mãos cruzadas à frente do corpo. Sorriu com delicadeza.

— Boa noite, dona Marta. Obrigada por receber a gente.

A senhora a encarou por um instante, como quem mede a alma pela expressão, e então respondeu num tom sereno:

— Boa noite, moça. Deus acompanhe vocês no caminho.

Verena apenas assentiu, inclinando levemente a cabeça.

— Amém.

Não houve abraço. Não houve toque. Mas houve um respeito mútuo, silencioso. Silvia se despediu com um beijo na testa da bisa e se levantou, ajeitando o próprio casaco. Quando as duas se afastaram dali, lado a lado, Silvia respirou fundo, como quem entendia que certos limites não eram quebra de afeto, mas prova de sabedoria.

Estacionamento improvisado, a poucos metros dali

Silvia puxava Verena pelo braço, quase grudada nela, o casaco balançando com o vento. O cabelo preso de Silvia já estava mais bagunçado, e o rosto corado por conta do frio.

Elas caminharam lado a lado pelo gramado, indo em direção ao carro estacionado embaixo de uma árvore. O chão úmido fazia pequenos estalos sob os sapatos. Verena, mais quieta, mantinha os olhos no horizonte, distraída. Silvia, sempre atenta aos sinais, reparou no silêncio repentino da esposa — tão diferente de minutos atrás, quando riu, brincou, até a beijou escondido como uma adolescente atrevida.

— Tá geladinha amor. Eu falei pra trazer um casaco, mas a deputada aqui prefere bancar a estilosa, né?

Verena soltou uma risada abafada, mantendo as mãos nos bolsos.

— Estilosa, sempre. Prevenida, às vezes.

— É, só se for às vezes mesmo… — Silvia brincou, dando um beliscão leve na cintura dela. — Mas a verdade é que quem é casada com você tem que ser o casaco, né?

— Você serve bem de cobertor também — respondeu Verena, com um sorrisinho enviesado, mas o olhar ainda distante.

Silvia percebeu. Observou a esposa de relance, enquanto caminhavam na direção do carro.

— Ei… — cutucou — Você bebeu nem bebeu tanto e tá com essa cara de quem acabou de fazer um discurso na CPI. Tá bêbada, amor?

Verena piscou devagar, tentando sorrir.

— Não tô bêbada — respondeu, com a voz mais baixa. — Tô só... respirando o ar puro.

— Aham — Silvia estreitou os olhos, divertida. — Você tá meio aérea, isso sim. Aposto que tá calculando a rota do retorno e o plano de governo 2026 na cabeça.

Verena tentou rir, mas não foi muito convincente. Já estavam ao lado do carro.

— Eu dirijo — disse, esticando a mão para pegar a chave no bolso.

Silvia foi mais rápida e ergueu a chave, balançando.

— Já pro banco do passageiro, deputada. Sem discussão.

Verena ergueu as mãos em rendição, o meio sorriso aparecendo, mesmo que ainda preso entre pensamentos.

— Sim, senhora.

Entraram no carro. O vidro embaçado mostrava a diferença da temperatura lá fora. Verena encostou a cabeça no banco, o olhar perdido no para-brisa por alguns segundos. Silvia ligou o carro e sorriu de lado, dando uma última olhada no campo escurecendo ao fundo.

— Foi uma boa festa, né? — comentou.

Verena demorou um pouco, mas respondeu.

— Foi sim...

Mas em sua cabeça, o que realmente não saía era o rastro de uma presença que já tinha ido embora.

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 15 - O Beijo:
Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 13/05/2025

O beijo não foi da deputada e da Valentina, porém quando ser eu confesso

Que meu estômago vai parecer borboleta.

Eu gosto de histórias que aparentam ser proibidas 

A verdade é que o ser humano se limite muito nos seus preconceitos.

Até o próximo capítulo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 12/05/2025

N@te, também está a espera que fosse o beijo de Valentina e Verena. Kkkkk! 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Rsrssrs. Espero que não tenham brigado muito comigo, prometo compensar.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 12/05/2025

Valentina já está sentindo o peso do preconceito, mesmo antes de revelar para o mundo do que de fato gosta. - Já deu pra sentir que vai muito complicado em relação ao pai dela. -  pois o homem além de ser homofóbico, tem os pensamentos norteados por crenças limitantes. - ,  que não o deixa enxergar para além do que está posto.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Olha, se tem uma coisa que não vai ser é fácil. É um mundo totalmente novo. Gostar de alguém pela primeira vez e ainda ir contra tudo o que aprendeu. Tadinha da Valentina.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 12/05/2025

Estou gostando muito dos posicionamentos de Ana Paula, principalmente no que diz respeito aos comentários homofóbicos proferidos tanto por Carlos, o marido, quanto o cunhado, Luiz. - Ela, apesar de ser evangélica, se mostra bastante consciênciente quando o assunto é o preconceito e o desrespeito as opções das pessoas. - Seus cortes são bem cirúrgicos. - E o marido está medindo mais as palavras, mesmo a contragosto na frente dela.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Concordo totalmente. Ela tem um lado mais sensível, apesar das crenças que tem, diferente do pai, que é mais fechado. Curiosa pra saber como ela vai reagir quando descobrir, se é que ela já não desconfia e a Valentina cada vez tendo mais dificuldade de esconder. Mas com o pai, parece que é certo que ter conflito.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 12/05/2025

O beijo não foi da deputada e da Valentina, porém quando ser eu confesso

Que meu estômago vai parecer borboleta.

Eu gosto de histórias que aparentam ser proibidas 

A verdade é que o ser humano se limite muito nos seus preconceitos.

Até o próximo capítulo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 12/05/2025

O beijo não foi da deputada e da Valentina, porém quando ser eu confesso

Que meu estômago vai parecer borboleta.

Eu gosto de histórias que aparentam ser proibidas 

A verdade é que o ser humano se limite muito nos seus preconceitos.

Até o próximo capítulo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 12/05/2025

O beijo não foi da deputada e da Valentina, porém quando ser eu confesso

Que meu estômago vai parecer borboleta.

Eu gosto de histórias que aparentam ser proibidas 

A verdade é que o ser humano se limite muito nos seus preconceitos.

Até o próximo capítulo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 11/05/2025

O beijo não foi da deputada e da Valentina, porém quando ser eu confesso

Que meu estômago vai parecer borboleta.

Eu gosto de histórias que aparentam ser proibidas 

A verdade é que o ser humano se limite muito nos seus preconceitos.

Até o próximo capítulo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

N@ty
N@ty

Em: 11/05/2025

O beijo não foi da deputada e da Valentina, porém quando ser eu confesso

Que meu estômago vai parecer borboleta.

Eu gosto de histórias que aparentam ser proibidas 

A verdade é que o ser humano se limite muito nos seus preconceitos.

Até o próximo capítulo!


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Rsrssrs, consigo te entender. Elas tem uma química, que dá frio na barriga mesmo rsrs. É um assunto polêmico, mas que dá pra retratar vários pontos de vistas, vários dilemas. Fico muito feliz que esteja gostando. Vou dar meu máximo pra que continue aqui.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

N@ty
N@ty

Em: 11/05/2025

Quando eu li o título do capítulo abri com euforia

Imaginando a cena do beijo das duas.

Estou esperando ansiosa por cada capítulo 

Por favor! Continue nos presentiando com sua linda escrita e criatividade.

Estou amando os personagens.

Não vejo a hora da Verena se render

Ao mesmo tempo a personagem da Silvia me intriga.

Realmente nossa deputada está numa encruzilhada das braba.

E a Valentina? O primeiro amor é sempre assim, ainda mais quando ele parece ser platônico 

Só que ela não imagina de fato que a causa da quentura no peito tá louca por ela.

É uma história que está muito bem construída 

E você sabe muito bem nos prender com seus dilemas e poemas.

Se quiser postar todo dia não me importo, tá?

Obrigadaa!!!


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Ahh, é realmente maravilhoso saber que está gostando. Agradeço muito pelos elogios e fico muito feliz em continuar proporcionando sensações boas. Confesso que o título foi pensado com essa intenção mesmo rsrs. Espero compensar nos próximo capítulo rsrs.

Não vou mentir, gosto da Silvia, mas não sei se eu teria a mesma paciência que ela. E a Verena, é... Nem precisa dizer muito rsrs. Valentina, tadinha, sem saber das confusões que já causou pra sua chefe em casa rs.

A ideia é postar todo dia. Espero conseguir! ;)

O agradecimento é todo meu. Obrigada por ter dado uma chance a história.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 10/05/2025

Esse final de festa quebrou um pouco as expectativas de Valentina em relação a Verena, ao presenciar a troca de carinho entre ela e Silvia. - Foi bem frustrantepara ela.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 10/05/2025

Esse final de festa quebrou um pouco as expectativas de Valentina em relação a Verena, ao presenciar a troca de carinho entre ela e Silvia. - Foi bem frustrantepara ela.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Imagino que tenha sido bem difícil mesmo. Deve ter doido bastante.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 10/05/2025

O encontro silencioso da Ve com Val foi bem potente, falaram -se através de olhares e sensasões. - Criando uma linguagem apenas delas. - E a cena de valentina ajuelhado tentando enxugar o refrigerante derramado, deixou Verena fora de órbitas. - Por um triz nao ocorreu algo entre as duas. - Está ficando insustentável a tensão que está no ar.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Exatamente. Acho difícil terem conseguido esconder. E um triz ainda foi muito srrs. Situação complicada.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 10/05/2025

Quando Valentina foi para o encontro em familia, ela, meio que "inconsciente" ou já sabia que poderia encontrar Verena, por isso se arrumou com mais afinco?


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Talvez ela tenha sentido vontade de ficar mais bonita, talvez lembrando da Silvia, talvez até querendo ser como ela. Ou pode ter tido um pressentimento mesmo rssr, de quem mais estaria lá também.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zanja45
Zanja45

Em: 10/05/2025

O cerco está se fechando para Verena. - Será que esse desvio de verbas vai dar errado para ela? - Amei, a Silvia colocando ela para dormir no sofá. 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 12/05/2025 Autora da história
Rsrsrsrs, confesso que fiquei com pena, apesar dela ter tido várias chances de acertar.
Esse desvio é uma bomba relógio, só torcendo pra não dar nada errado.


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web