Capitulo 23 - Sexta à noite.
Mariana
Depois de deixar Camila fui direto para casa. Tomei um longo e demorado banho, depois ajudei a Manu com a lição. Fomos deitar já passava das dez e meia da noite. Não sei o que deu da Manuela em querer dormir comigo quase todas as noites.
- Tia, você acha que a mamãe iria gostar de mim? – Questionou agarrada a mim, embaixo das cobertas.
- Que pergunta é essa Manu? Claro que sua mãe gostava de você. Gostava tanto que quis que você tivesse vida, pois acredito que para ela seria bem mais difícil se tivesse que seguir sem você na vida dela.
- E o meu pai?
- O que tem ele?
- Por que será que ele nunca me procurou?
Era tudo o que eu precisava para fechar minha noite. Quase onze horas e a Manu resolve ter uma crise existencial aos oito anos de idade. Pior de tudo era que eu não fazia a menor ideia de quem era o pai.
- Manu, eu juro que não sei por qual motivo ele nunca te procurou, mas sabe de uma coisa – Ela me encarou. – Sou grata por nunca o ter feito assim eu pude cuidar de você.
- Você me ama de verdade, né? Tipo como se eu fosse sua filha?
- Claro que sim, meu amor, você é meu maior tesouro. – Beijei sua testa e ela suspirou.
Não demorou e acabamos adormecendo. Acordei na manhã seguinte com uma baita dor no pescoço. Emanuela ocupava quase toda a cama. Com dificuldade eu fiz com que ela fosse para o banho. Fiz minha higiene e desci para tomar café.
- Bom dia! Filha.
- Bom dia! Papai. Estava mesmo precisando falar com o senhor. Lembra daquela minha amiga Charlotte?
- Sim, me recordo.
- Ela voltou a morar aqui. Será que não teria como o senhor contratá-la para trabalhar no hospital?
- Sem dúvidas, ela tem nome no meio médico. Isso atrairia novos pacientes.
- Então posso mandar que ela te procure no hospital?
- Sim. Amanhã é um bom dia, hoje não estarei lá.
- O senhor sem ir trabalhar? – Estranhei, pois mesmo que ele estivesse de folga sempre arrumava algo para fazer por lá.
- Sim. Algum problema?
- Não, nenhum.
- Vamos, tia, estamos atrasadas. – Manuela desceu as escadas correndo.
- Ainda nem comi, Manu. – Reclamei.
- Posso leva-la.
- Sério? – Se animou.
- Seríssimo, minha princesa. Vamos?
Saíram conversando alguma coisa aleatória, pois se existia uma coisa que não faltava para a Manu era assunto. Peguei o celular e disquei o número de Charlotte. No segundo toque ela atendeu.
- Charlotte?
- Só um segundo. É para você.
- Fala que eu te escuto minha bananex.
- Bom dia, quem era esse ser?
- Boa pergunta. Qual o seu nome mesmo? – Ouvi ela perguntar a moça. – Angélica, segundo ela posso chamar de Angel, porém o que ela me fez ontem não foi nada angelical. – Sorriu.
- Não é possível, você chegou tem menos de uma semana, já arrumou uma trans* e nem ao menos lembra o nome da coitada? Se fosse eu no lugar dela nunca mais olhava na tua cara.
- Ihh, Mari. Qual é, se fosse você eu lembraria. – Senti meu rosto corar.
- Olha! Te liguei para dizer que meu pai pediu para você ir até o hospital amanhã.
- Jura? Então ele vai me contratar?
- Lógico, melhor do que te mandar para a concorrência.
- Eu já disse que te amo?
- Hoje não.
- Eu te amo um milhão de vezes.
- Sei. Eu preciso ir, alguém tem que trabalhar.
- Quem disse que não vou trabalhar agora? Saiba que minha língua não para.
- Tchau, Charlotte.
Desliguei o celular e fui para o carro. O trânsito estava tranquilo, não demorou e eu cheguei à empresa. Como de costume Andreia passou toda minha agenda. Meu dia foi cheio e eu acabei nem almoçando.
O decorrer da semana foi exatamente a mesma coisa, trabalhei, encontrei Camilla algumas vezes. Mas ela sempre evitando que eu fosse até sua casa, o que me fez perceber que ela não queria que o irmão soubesse da minha existência. Depois de uma discussão que tivemos no carro em plena sexta-feira, aqui estou eu em casa com meu bom e velho uísque a tiracolo. Meu celular tocou e por um instante cheguei a pensar que era Camila. Mas na tela aparecia o nome de Charlotte.
- Alô.
- Olha quais são seus planos para hoje?
- Ficar em casa.
- Como assim Bananex, hoje é sexta. Você não deveria estar com sua namorada?
- Disse bem, deveria.
- Ihhhh! Azedou o doce? Então vamos fazer assim, se arruma que eu passo aí em uma hora para gente sair e tomar uns drinks, se quiser pode chamar a sua funcionária.
- Ela tem nome. – Muito bonito por sinal. – Acho que ela não vai aceitar ir.
- Quem vai sair perdendo é ela. Beijo até já.
Nem tive tempo de dizer que aquilo não era uma boa ideia. Ponderei em ligar ou não. Por fim, meu coração venceu e eu acabei ligando.
- Oi! Amor. – Odiava isso na Camilla, ela adorava parecer que nada havia acontecido depois de uma discussão.
- Oi. – O silêncio se instalou. – Então, te liguei por que a Charlotte convidou a gente para ir tomar uns drinks. Está afim? – Escutei ela suspirando, podia até ver aqueles olhos virados em enfado.
- Tudo bem.
- Perfeito, então. Passamos para te pegar.
- Ótimo. Beijo.
Fiz a capricho me produzi toda. Arrumei o cabelo, coloquei um vestido vermelho com um decote avantajado. Sorri adorando o resultado. Escutei a buzina do lado de fora, peguei minha bolsa e sai.
- Nossa, tudo isso é para mim? – Essa forma conquistadora de Charlotte me deixava sem graça, ainda mais agora que sei que já tivemos algo.
- Nem vem, fiz isso para provocar a Camila.
- Mesmo assim adorei a visão.
- Cala a boca Charlotte. Vamos, vou te guiar até a casa dela.
Paramos o carro em frente ao prédio e Charlotte soltou o seguinte comentário:
- Amiga, você tem mesmo um pé na baixa renda. – Olhei-a séria, não aceitaria esse tipo de comentário a respeito de Camila. – Quê? Não lembra aquele Jorge que você namorou na faculdade?
- Se comporta, Charlotte. Aí vem a Camila.
Eu achei que iria provocá-la, mas quem precisava de um babador era eu. Camilla estava linda, usava uma calça jeans rasgada, com uma camiseta preta, nunca tinha a visto tão despojada daquele jeito, nos pés usava um tênis, completando o look.
- Prefiro essa visão, que bom gosto amiga. – Charlotte comentou maravilhada.
- Boa noite.
- Boa noite, podemos ir? – Perguntei assim que ela sentou, seu perfume me embriagou, por alguns segundos me senti alcoolizada por aquela maravilhosa fragrância.
Chegamos ao barzinho que segundo Charlotte havia sido indicação de uma enfermeira. Até imagino em que situação essa informação foi passada. O lugar era agradável, pelo lado de fora já pude perceber que ali era atendido todos os tipos de públicos.
- Vamos descer?
- Sim. – Falamos juntas.
Saímos do carro e caminhamos em direção ao local, e pelo caminho já pude notar alguns olhares nada discretos em direção a Camilla. Não demonstraria que estava com ciúmes, afinal ela parecia estar se divertindo vendo os olhares voltados em sua direção. O que posso fazer se a mulher é simplesmente linda?
- Acho que essa mesa está ótima. – Charlotte sentou-se já observando a mesa à nossa frente.
Havia uma turma de cinco pessoas. A maioria mulheres, e não disfarçaram os olhares quando nos viram entrar. Uma coisa era fato, Charlotte estava pronta para caçar. Camila sentou-se à minha frente, minha amiga ao seu lado. A primeira rodada de bebidas chegou e assim começamos a relaxar.
- Olha! Eu já desisti do amor. – Charlotte contou sua aventura romântica internacional.
- Isso por que traiu seu noivo com a irmã dele, o que você esperava?
- Você fez isso?
- Minha cara, Camila, quando o desejo bate a gente só apanha. – E com essa conclusão acabamos caindo na risada.
Segunda rodada, terceira rodada, quarta. E Charlotte não parava de contar suas aventuras, e eu morrendo de medo que ela falasse sobre nossa aventura na faculdade. Agradeci quando em dado momento Camilla foi ao banheiro.
- Relaxa, não vou falar sobre sua noite do esquecimento. – Sorriu piscando.
- Obrigada.
- Aquela mulher não tira o olho de você. – Apontou com a cabeça.
Virei discretamente na direção que ela me mostrou e de fato a mulher me encarava fixamente. Era ruiva, deveria ter quase a minha idade, cabelos longos em cachos bem delineados. Sorriu e eu educadamente retribui.
- Tá afim?
- Claro que não. Você sabe que eu namoro.
- Pois não deveria ter retribuído o sorriso, aí vem a ruiva fatal.
Bastou ela fechar a boca e senti a mão da estranha em minhas costas.
- Boa noite.
- Acabou de ficar melhor. – Charlotte comentou e eu a repreendi com o olhar.
- Boa noite.
- Sabia que desde que você entrou aqui eu não consigo tirar os olhos de você?
Que desgraça era aquela? A mulher falou se inclinando em minha direção, deixando a boca a poucos centímetros de distância da minha. Meus olhos me traíram e foram até seu decote, pude reparar até mesmo as sardas em sua pele branca.
- Que palhaçada é essa? - Escutei a voz de Camilla.
- Como diz o Tropa de Elite: “Agora o bicho vai pegar”. – Charlotte comentou tomando um longo gole de seu drink.
- Amor, não é nada disso. – Tratei de me explicar.
- O que não é nada disso? Essa ruiva de farmácia quase te beijando ou você de olhos nesse silicone de clínica clandestina? – Era nítida a raiva de Camila, mas adorei vê-la com ciúmes de mim.
- Escuta aqui pirralha, meu ruivo é natural...
- Assim como teu silicone? – Tinha as mãos na cintura desafiadora, a mulher era duas vezes maior que ela.
- Melhor eu voltar para minha mesa. – A mulher saiu constrangida.
Camila deu espaço para a estranha passar. Me encarou com os olhos cheios de raiva, depois desviou o olhar para a rua e saiu sem dizer nada uma única palavra.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
cris05
Em: 04/05/2025
Vixe...Camila saiu muito brava e com toda razão. Mariana vai ralar pra amansar a fera rsrs.
Tô amando a relação delas, autora. Mas já me preparando porque a mãegera não vai deixar barato. Oremos!
maktube
Em: 06/05/2025
Autora da história
Fico feliz que esteja gostando. Oremosss
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