Capitulo 19 – Paz em casa
Mariana
Não tenho nem palavras para definir o que foi a minha noite com Camilla, nem nos meus melhores sonhos eu pensei que fosse ser tudo tão perfeito como foi. As trocas de olhares, o encaixe perfeito dos nossos corpos nus. E de repente eu que nunca me imaginei pensando em casamento, já tinha a certeza de que ela seria a mulher da minha vida.
Sei que precisaria ir com calma, afinal ainda é tudo muito recente, tanto para ela como para mim. Mas eu não teria pressa, deixarei as coisas seguirem seu curso e nesse meio tempo tomarei todo o cuidado do mundo com dona Lindalva. Sei que em algum momento ela vai tentar aprontar alguma coisa.
Levantei-me da cama, sorri vendo o corpo de Camilla meio descoberto. Fiz minha higiene e desci, pedi para minha auxiliar preparar um café da manhã reforçado para a gente e voltei para acordar minha namorada dorminhoca.
-Acorda dorminhoca. – Beijei seus ombros.
- Amor, me deixa dormir mais dois minutinhos. – Resmungou com a voz rouca.
- Até deixaria, mas tem um café delicioso lá embaixo esperando pela gente.
Bastou falar em comida para que ela despertasse. Sentou-se na cama ainda de olhos fechados, os cabelos bagunçados.
- É só falar de comida que você acorda né?
- Não tenho culpa se comer é a segunda melhor coisa do mundo.
- E o que seria a primeira? – Nem disfarcei minha curiosidade.
- Também é comer, mas não me refiro a comida. – Sorriu safada.
- Camilla, Camilla, a senhora está bem assanhadinha, não é?
- Não tenho culpa se você fez a fera despertar. – Com uma rapidez que eu até desconhecia ela ficou próxima a mim, segurou minha cintura.
- Você não tem força nem de ficar em pé, não começa o que você não vai aguentar terminar. – Sorri vitoriosa. – Te espero na mesa do café. – Dei lhe um selinho e sai do quarto.
- Que mulher! – Escutei ela suspirar.
Sentei-me a mesa de café, enquanto esperava por minha doce namorada resolvi ler o jornal.
- Quem ainda lê jornal? – Indagou sentando-se ao meu lado.
- Aparentemente eu leio. Sou antiga, o jornal por exemplo sempre prefiro o de papel ao digital.
- Você é mesmo uma caixa de surpresas.
- Você tem a chave para abrir todas elas, basta querer. – Joguei meu charme e ela sorriu.
- E esse café, você quem fez?
- Não, estava na cama com você. A moça que vai trabalhar para mim que preparou.
- Moça? – A cara que ela fez me deu até vontade de rir.
- Sim, acha que iria morar aqui sem ninguém para me ajudar?
- Claro que não imaginei, afinal essa casa é imensa.
- Então qual a surpresa de ter alguém para me ajudar? – A muito custo eu consegui segurar o riso.
- Mariana eu não vou dizer que tenho ciúmes, se é isso que você espera. – Resmungou e eu não me contive mais.
- Amor você é muito engraçada, só o fato de dizer que não vai falar que está com ciúmes, você já está o fazendo. Mas não precisa se preocupar, a moça é filha da Geralda, casada e mãe. E mesmo que não fosse, você sabe que eu só tenho olhos para você. – Puxei-a para mim, fazendo com que ela sentasse em meu colo.
- É bom mesmo dona Mariana, pois se não for você não terá olhos para mais nada.
- Você fica linda com ciúmes.
- Eu te amo. Promete que nunca vai deixar nada separar a gente?
- Eu também te amo, e nada nem ninguém vai separar a gente. Eu te prometo. – Nos beijamos e voltamos a tomar café.
- Amor, você já parou para pensar se sua mãe vai de fato vender a empresa?
- Acredito que ela não irá vender. E caso isso aconteça eu volto a fazer o que sempre amei e fui obrigada a deixar de lado. – Ainda sentia muita falta de exercer minha verdadeira profissão e no fundo eu até torcia para que minha mãe de fato resolvesse vender a empresa.
- E por qual motivo você não volta? O que te impede?
- Aquele patrimônio também é da Manu, não posso deixar minha mãe estragar tudo. Esse é o único motivo.
- O que seu pai acha?
- Por um tempo eu até tentei conciliar as duas coisas, mas não tinha descanso. Cheguei a passar quase nove horas em cirurgias, dormir pouco mais de duas horas e depois ir para a empresa.
- Como você conseguia?
- Acho que tentava me enganar, para mim a medicina sempre foi o que me definiu, era a única coisa que me importava, então veio a Manu, passei a viver em função dela, depois tudo foi consequência da morte da Marina.
- Você faria qualquer por ela, não é?
- Sim, eu faria. – Algo me dizia que seria exatamente aí que minha mãe iria jogar sujo comigo.
Depois que terminamos o café eu resolvi ir buscar a Manu. Afinal ela já havia alugado Diana na noite anterior. Chegando ao prédio de Camilla, vi que o carro do meu pai estava estacionado do outro lado da rua.
- Esse não é o carro do seu pai?
- Será que...? – Indaguei receosa.
- Claro que não, as meninas estão aí, não é possível que eles fariam alguma coisa.
Com muita cautela, Camilla abriu a porta do apartamento. No sofá os dois dormiam serenos, aparentemente não havia acontecido nada. Diana descansava a cabeça no ombro do meu pai. Na mesinha de centro vi duas garrafas de vinho vazias, isso explica o motivo de ele não ter ido embora na noite anterior.
- A gente deve acordá-los? – Sussurrei.
- Claro que não, vamos olhar as meninas.
Abrimos a porta sem fazer barulho e as duas dormem tranquilas. Decidimos ir para o quarto assistir alguma coisa. Já passava das nove horas quando eu acordei e precisei ir tomar água. Antes de sair do quarto meu celular tocou. Era a megera.
- Oi mamãe? – Atendi na varanda.
- Você tem notícias do seu pai? Sei que ele não dormiu em casa, e não está no hospital.
- Não, não sei dele. – Menti, odeio mentir, mas não poderia dizer que ele estava na casa de Camilla, ainda mais possivelmente se envolvendo com a colega de quarto dela, isso só pioraria a situação.
- Deve ter passado a noite com algum rabo de saia, mas se ele pensa que darei o divórcio para ele ir correr atrás de meninas que tem idade para ser filha dele, ele está redondamente enganado.
- Mamãe, você se escuta? Não são nem nove horas da manhã, a senhora já está mal-humorada. O que adianta viver em um casamento desse jeito? Meu pai não te ama mais, e claramente sabemos bem que a senhora não o ama também.
- Você é petulante Mariana, como ousa se meter no meu casamento desse jeito?
- Eu estava dormindo, me acordou para reclamar, então terá que escutar a verdade.
- Não vou ficar ouvindo sermão seu. Passar bem.
Desligou o celular na minha cara. Que mulher difícil, suspirei segurando as grades da varanda. Não entendia essa necessidade que ela tem de tentar prender meu pai no casamento medíocre que os dois vivem.
- Bom dia, filha.
- Bom dia papai. – Respondi e ele estava claramente envergonhado. – Está indo embora?
- Sim, não quero que a Manu saiba que dormir aqui.
- É melhor mesmo.
- Só quero te explicar que nada aconteceu, nós apenas conversamos.
- Papai, não precisa me dar satisfação. Mas a mamãe já sabe que você não dormiu em casa, você precisa resolver essa situação com ela antes de se envolver com outra pessoa.
- Você tem razão, assim que ela retornar dessa viagem os papéis do divórcio já estarão prontos. Eu preciso ir, ainda tenho que passar no hospital. – Beijou meu rosto e saiu.
Caminhei para sala junto dele. Diana estava embaraçada, os dois se despediram na porta. Ele saiu e ela se virou para mim:
- Mariana, não aconteceu nada.
- Não precisa se preocupar, vocês são adultos, ele está passando por um processo de divórcio, só peço que vocês esperem ao menos os papéis estarem assinados. – Sorri.
- Tudo bem.
- Tia, já veio me buscar? – Manu caminhava em nossa direção esfregando os olhos.
- Claro, senhorita, não acha que já incomodou demais? A Lívia deve ir para casa do pai dela hoje.
- Ela não incomodou de forma alguma, e o Luan está viajando.
- Então, tia, podemos passar o restante do dia aqui?
- Infelizmente não, eu tenho algumas coisas para organizar. E você precisa descansar para conseguir acordar cedo amanhã. E nem adianta fazer esse bico.
Muito a contra gosto, consegui convencê-la que precisávamos mesmo ir para casa. Camilla dormia e eu optei por não a acordar, depois ligaria para saber como ela estava. Chegamos em casa e a Manu foi fazer as lições, eu fiquei no escritório resolvendo umas papeladas da empresa. Terminei já era hora do almoço.
- A Manu já comeu? – Questionei Geralda.
- Ainda não, acho que ela dormiu, nem ao menos desceu para bolinar nas minhas panelas.
- Vou tomar um banho e já desço.
Passei no quarto e Manu de fato dormia tranquilamente. Fui para o banho e quando estava secando meus cabelos escutei o celular tocando, na tela aparecia o número de Camilla.
- Estava pensando em você.
- Quanta mentira, me largou aqui e foi sei lá para onde. – Fez drama.
- Amor, precisava analisar uns relatórios.
- Sei, eles são mais importantes que eu?
- Amor, nada é mais importante que você.
- Vou fingir que acredito, dona Mariana.
- Você acordou agora?
- Sim, digamos que gastei muita energia ontem à noite. - Sorria com malícia.
- Então sua noite foi animada?
- Não, ela foi maravilhosa.
- Se eu soubesse que para te deixar mais carinhosa bastava te levar para cama eu teria feito a mais tempo. – Brinquei.
- Pronto, acabou de cortar o clima. Vou tomar banho e almoçar, a gente se fala depois. Te amo.
- Beijo, te amo.
Desliguei com um sorriso no rosto, aquela menina conseguia tirar o melhor de mim em todos os aspectos. Vesti um short e uma camiseta, Manu já me esperava na mesa conversando animadamente com papai.
- Vô, a casa delas é pequeninha, mas eu posso sentir o amor que tem lá. – Com certeza ela falava da casa de Camilla.
- Eu sei, Manu, elas são pessoas muito boas. Oi filha.
- Oi, vamos comer?
Foi a primeira vez em anos que tivemos um almoço de domingo tão gostoso, cheio de risadas. A Manu estava solta, sem precisar ficar acuada no canto sobre o olhar acusador de dona Lindalva, pena que bastaria que ela voltasse para que a paz da casa se dissipasse.
Fim do capítulo
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