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Entre Votos e Silencios por anonimo2405

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Palavras: 8970
Acessos: 949   |  Postado em: 30/04/2025

Quando o Coração Fala mais Alto

O fim de semana parecia ter deixado rastros demais — no corpo, na cabeça e nas entrelinhas das conversas que Verena evitava desde a manhã de segunda-feira. Naquela terça a, a luz amarelada da tarde entrava suave pelas grandes janelas do apartamento dela, onde Rafaela largou a bolsa no encosto do sofá e cruzou os braços com um olhar cético.

— E aí, Silvia tá em casa? — perguntou casualmente, como quem puxa papo.

— Não. Ainda no trabalho, eu acho — respondeu Verena, indo até a cozinha para pegar uma garrafa de água.

— Melhor assim. Porque eu vim pra falar tudo que eu tô engolindo desde a semana passada.

Verena soltou um suspiro. Era como se já soubesse o que vinha.

— Rafa, não hoje, por favor.

— Ah, vai ser hoje sim. Senta aí — ela apontou para o sofá. — Ou vai querer que eu fale com você no chão?

Verena riu de leve, mas se deixou cair na poltrona. Rafaela não brincava em serviço, mesmo quando começava com uma piada.

— Amiga, você tá perdendo o controle. E olha que eu sou a última pessoa a dizer isso. Mas você precisa de ajuda. Terapia, alguma coisa. Porque esse lance com a Valentina... Isso tá te consumindo.

— Eu já disse que vou procurar ajuda.

— Ótimo. Mas ajuda mesmo, não uma desculpa pra continuar alimentando um sentimento que você sabe que não devia estar alimentando. A garota é menor de idade, Verena. Isso é sério. Isso não é “só atração” ou “confusão”. Isso tem nome. E pode destruir sua vida — ela falou com um tom firme, mas o olhar cheio de carinho.

Verena abaixou os olhos, as palavras atingindo como tapas leves, mas necessários.

— Eu sei... Eu sei, Rafa. E eu não quero que seja assim. Eu tô tentando.

— Então tenta de verdade. Porque não é só sobre você. É sobre ela também. Você acha mesmo que vai sair alguém ileso dessa história?

O silêncio que se seguiu não era incômodo. Era necessário. Duro, como tudo que precisava ser dito e, finalmente, foi. Verena passou a mão pelos cabelos e assentiu lentamente.

— Obrigada por estar aqui. Mesmo quando eu sou um desastre.

Rafaela riu, sentando-se ao lado da amiga.

— Eu sou ruiva, meu amor. É meu dever moral salvar as morenas dramáticas da própria tragédia.

As duas riram, e o peso do momento pareceu aliviar por alguns instantes. Foi quando a chave girou na porta. Silvia entrou com a bolsa no ombro e um sorriso cansado no rosto.

— Boa noite, gente.

Verena se levantou num impulso. O coração ainda batendo acelerado pelas palavras de Rafaela. Silvia percebeu algo no ar, mas não perguntou. Só beijou o rosto da esposa com delicadeza e foi guardar as coisas no quarto.

Rafaela se levantou também.

— Bom, missão cumprida por hoje. A ruiva se retira.

— Você é insuportável. Mas eu te amo — disse Verena, puxando-a para um abraço rápido.

— Eu também, morena trágica. Cuida do seu coração.

Quando a porta se fechou atrás de Rafaela, Verena ficou ali, por um momento, parada no meio da sala, como se as palavras da amiga ainda ecoassem nas paredes. Respirou fundo. Precisava mesmo cuidar do coração. Antes que ele levasse tudo junto.

Silvia saiu do quarto vestindo uma blusa larga de algodão e os cabelos presos num coque desalinhado. Encontrou Verena sentada no tapete da sala, de costas para o sofá, com uma xícara fumegante nas mãos e a cabeça encostada no encosto. A TV estava ligada num volume quase inaudível, e a iluminação suave da luminária lateral deixava o ambiente aconchegante.

— Fiz chá de camomila — disse Verena sem virar, como se soubesse que Silvia viria. — Tá na cozinha, se quiser.

Silvia hesitou por um segundo. Depois caminhou até lá, pegou uma xícara e voltou, sentando-se ao lado da esposa no chão. Ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo o som abafado do noticiário.

— Você parece mais... centrada hoje — disse Silvia, por fim.

— É. Rafaela passou aqui e me deu um puxão de orelha digno de terapeuta.

— E funcionou?

Verena sorriu com um canto da boca, ainda sem olhar diretamente para Silvia.

— Acho que sim. Ou pelo menos me fez lembrar quem eu sou. E o quanto eu odeio decepcionar você.

Silvia suspirou e recostou a cabeça no ombro da esposa. O contato foi leve, mas carregado de significado. Ela não disse nada. Às vezes o silêncio dizia mais que qualquer resposta.

— Eu queria poder apagar tudo que fiz de errado nas últimas semanas — continuou Verena, virando-se um pouco para encará-la. — Mas não posso. Então só posso prometer que vou tentar fazer melhor. De verdade.

Silvia virou o rosto devagar e encarou os olhos escuros da esposa. Havia uma sinceridade ali que ela reconhecia. Uma chama, ainda que trêmula.

— Eu não quero que você me prometa nada agora. Só quero que seja honesta comigo. Mesmo que doa.

— Eu consigo isso.

Silvia estendeu a mão e tocou o rosto de Verena, com um carinho que só o tempo constrói. Um gesto simples, mas que desarmou qualquer muro entre elas. Verena fechou os olhos por um momento, como se absorvesse aquele toque, como se dissesse obrigada sem precisar de palavras.

— Vem, vamos pra cama — disse Silvia, puxando-a suavemente. — A gente precisa dormir. Amanhã é outro dia.

Verena se deixou levar. Levantaram-se juntas, caminharam de mãos dadas até o quarto e, ao se deitarem, foi Verena quem puxou Silvia para mais perto, como quem reconhece o valor de um porto seguro.

E, naquele abraço silencioso, as palavras ficaram para depois. Porque, por ora, bastava o calor da presença. Bastava o amor quieto, ainda que cambaleante, que insistia em ficar.

...

O dia amanheceu tímido, escondido atrás de nuvens espessas. A luz que entrava pelas frestas da cortina era fria e discreta, como se o próprio céu respeitasse o silêncio que envolvia o quarto.

Verena acordou primeiro. Ainda sentia o corpo pesado, mas havia uma leveza nova na mente — não exatamente paz, mas uma pausa. Ficou ali por alguns minutos, observando Silvia dormir com o rosto meio escondido entre o travesseiro e o lençol. Uma mecha solta de cabelo caía sobre a testa, e Verena resistiu à vontade de ajeitá-la, apenas para não interromper o descanso da esposa.

Levantou com cuidado, pegou o roupão e saiu do quarto descalça. Foi até a cozinha e, pela primeira vez em dias, preparou o café com calma. Colocou água para ferver, cortou frutas, separou as torradas e até passou geleia com mais capricho do que o habitual.

Quando Silvia apareceu, já vestida para o trabalho, o cheirinho de café fresco enchia o ambiente.

— Isso é um café da manhã ou um pedido de desculpas disfarçado? — ela perguntou com um sorriso contido, os olhos ainda meio sonolentos.

Verena ergueu uma caneca como se brindasse.

— Talvez os dois. Mas não precisa responder agora.

Silvia se aproximou, pegou uma fatia de manga já cortada e mordeu, enquanto encarava a esposa de cima a baixo.

— Dormiu bem?

— Melhor do que eu esperava — Verena respondeu. — E você?

Silvia assentiu. Não precisavam dizer muito. Havia algo diferente no ar. Um cuidado que retornava, ainda frágil, mas presente.

Sentaram-se à mesa. Entre mordidas, sorrisos curtos e olhares cúmplices, pareciam duas mulheres reencontrando o chão sob os próprios pés.

E quando Silvia saiu para o trabalho, com um beijo leve no canto da boca de Verena, a deputada ficou ali parada por um instante, os dedos ainda tocando os lábios. Respirou fundo, pegou a caneca de café e caminhou até a varanda.

Na cabeça, mil coisas ainda pulsavam. Mas, naquele instante, escolheu ouvir o som da cidade acordando. E só.

...

O gabinete estava em sua rotina tranquila da tarde, com o som dos teclados preenchendo os espaços entre uma conversa e outra. Valentina já havia voltado na semana anterior, totalmente recuperada da gripe forte que a deixou de cama. Ainda assim, Verena não conseguia evitar os olhares sutis em sua direção — como se esperasse vê-la fraquejar a qualquer momento.

Rafaela percebeu, claro. Sentada na poltrona de sempre, fingia revisar um relatório enquanto observava a amiga com um sorriso malicioso no canto dos lábios.

— Você vai acabar furando um buraco na testa dela se continuar olhando assim — comentou em voz baixa, sem desviar os olhos da folha.

Verena nem tentou disfarçar o incômodo.

— Ela ficou muito mal, Rafa. Febre alta, dor de garganta... Foi sério.

— Isso foi na semana passada. Ela tá ali, viva, saudável, digitando com mais energia que você depois do segundo café. — Rafaela cruzou as pernas. — A não ser que esteja esperando uma recaída dramática no meio do expediente.

Verena não respondeu. Apenas ajeitou os óculos e virou-se para a tela do computador, tentando se distrair com e-mails que não tinha vontade nenhuma de ler.

— Sabe o que mais preocupa? — Rafa continuou, impiedosa. — Você age como se estivesse cuidando de um passarinho ferido. Mas ela tem dezesseis, não seis anos.

Verena suspirou.

— Eu sei. Já falei que tô resolvendo isso.

— Falou. Mas, honestamente, não parece. — Rafaela fechou o relatório com um estalo suave. — E olha que eu nem mencionei a bebedeira da semana passada. Você ainda me deve detalhes daquela manhã trágica.

Verena lançou um olhar de aviso.

— Tá, tá. Vou pegar um café — Rafa riu, se levantando. — Mas se você colapsar de novo por causa de uma espirradinha da menina, juro que te arrasto pra terapia à força.

Verena ficou sozinha por um momento, o som dos passos da amiga desaparecendo no corredor. Seus olhos, involuntariamente, voltaram a pousar em Valentina, que digitava concentrada do outro lado da sala.

Algo dentro dela se apertava sem motivo claro. E isso era o que mais a assustava.

O som da porta sendo aberta com força interrompeu a breve tranquilidade no gabinete. Um dos assessores mais antigos de Verena entrou visivelmente alterado, com uma pasta em mãos e a testa franzida.

— Valentina! — chamou, a voz ríspida como um estalo. — Você entregou esses documentos para o gabinete da comissão de educação?

A garota levantou o olhar, surpresa com a abordagem.

— Sim... o senhor havia mencionado que—

— Eu disse comissão de finanças, pelo amor de Deus! — interrompeu, batendo com a pasta sobre a mesa dela. — Isso aqui não é brincadeira, garota. Não é feira, não é escola. Você acabou de ferrar a tramitação de um projeto urgente!

O gabinete silenciou. Todos pararam, atentos. Valentina arregalou os olhos, tentando entender onde tinha errado.

— Eu... eu entendi errado, me desculpa...

O assessor bufou e jogou as mãos para o alto, como se a paciência lhe escapasse.

— É por isso que esse programa de estágio não serve pra nada. Ficam mandando criança analfabeta pra trabalhar com documento sigiloso. Quem teve essa ideia devia repensar o que é competência mínima.

Valentina ficou imóvel. O rosto corado pela vergonha, os olhos marejando enquanto tentava se manter firme, engolindo o nó na garganta.

Rafaela, que voltava com o pequeno de café na mão já estava pronta pra intervir, mas foi Verena quem o fez primeiro. Ela empurrou a cadeira para trás e se levantou com um movimento firme, o maxilar travado e os olhos faiscando, com passos largos chegou a sala de apoio, onde o ar estava parado.

— Sai da minha sala — disse com a voz baixa, mas com uma força que fez o ar gelar.

O assessor se virou pra ela, confuso.

— Com todo o respeito, deputada, essa menina—

— Eu disse sai. Agora. — Verena cruzou os braços, o tom não permitindo réplica. — Você não grita com ninguém aqui. E se tiver qualquer reclamação, vai direto comigo. Não com uma estagiária. E muito menos da forma como acabou de fazer.

A tensão era palpável. O homem hesitou, encarou Valentina por mais um segundo — como se ainda quisesse provar um ponto — e saiu sem dizer mais nada.

O silêncio que ficou foi quase sufocante.

Valentina tentou controlar a respiração, mas as lágrimas já se acumulavam nos olhos. Ela começou a se levantar.

— Me... me desculpa... eu vou ali no banheiro, só um segundo.

— Valentina — chamou Verena, suavizando a voz.

Mas a garota já saía quase correndo pelo corredor.

Rafaela balançou a cabeça com um suspiro pesado.

— Esse cara é um escroto. Mas você tá se controlando muito melhor do que eu esperava, deputada.

Verena levou a mão à testa, tensa.

— Porque se eu não me controlar, Rafa, eu vou fazer exatamente o que tô com vontade.

Ela não precisou dizer o quê.

O gabinete estava em silêncio. Valentina tinha saído com os olhos marejados e os ombros tensos. Verena ainda olhava para a porta entreaberta, o maxilar travado. Os dedos tamborilavam sobre a mesa com inquietação.

Rafaela, sentada ao lado, largou o tablet sobre a cadeira com mais força do que o necessário.

— Ok. Vamos dar uma volta.

— O quê? — Verena fingiu não entender.

— Levanta. Agora. Você tá a dois segundos de voar no pescoço daquele energúmeno, e eu preciso que você respire antes de fazer algo que vá parar nos jornais. Vem.

Verena hesitou, mas seguiu a amiga pelo corredor até uma das alas menos movimentadas do andar. Uma sala de reuniões vazia, de janelas grandes e luz suave da tarde entrando pelas persianas.

— Eu sei que você tá se segurando pra não ir atrás dela — Rafa disse, direta, encostando-se na mesa.

Verena deu um sorriso sem humor.

— Isso tudo é ridículo.

— O que é ridículo é você fingir que não tá afetada. Achei que depois daquilo tudo, da ressaca moral e da real, você ia começar a colocar limite nisso. Mas tá aqui, pronta pra ir salvar a estagiária da injustiça do mundo.

— Ela não merecia aquilo. Ele foi cruel.

— Ele foi um idiota, sim. Mas você é a chefe. Aí que tá o ponto, Verena. Se importa tanto? Faz alguma coisa como chefe, não como alguém que tá apaixonada feito adolescente.

Verena desviou o olhar. O silêncio pesou por alguns segundos.

— Eu não tô... apaixonada — murmurou, mais pra si mesma do que pra convencer a amiga.

— Tá bom — Rafa cruzou os braços. — Então por que sua mão tá tremendo desde que ela saiu?

Verena respirou fundo, e só então notou o quanto estava tensa. Rafaela deu um passo à frente, mais suave agora.

— Vai lá. Fala com ela. Mas depois… resolve isso com você mesma. Porque isso, Verena, não é só preocupação de chefe. E você sabe.

Verena passou a mão pelos cabelos, como se quisesse reorganizar a própria cabeça.

— Tá. Mas não agora.

— Claro que não agora. Respira. Eu cubro aqui por uns minutos. Só... tenta não se perder nisso de novo, tá?

Verena assentiu, sem prometer nada. A vontade de ir atrás de Valentina era quase física. Mas agora, com o coração ainda pulsando rápido, ela sabia que precisava pensar. Precisava decidir com clareza o que estava fazendo — e por quê.

Voltou para o gabinete com passos firmes, mas o coração ainda pulsando forte no peito. Quando passou pela sala de apoio, viu Rafaela já sentada de volta ao computador, como se nada tivesse acontecido. Elas trocaram um olhar silencioso — uma espécie de trégua entre o impulso e o bom senso.

No seu gabinete, Verena trancou a porta atrás de si. Sentou-se, respirou fundo, e pegou o telefone.

— Cristina? Preciso que você marque uma reunião com o assessor Davi. Agora. Sala reservada, sem interrupções.

A assistente confirmou, e menos de dez minutos depois, Davi entrou, ainda com a mesma pose altiva de sempre. Mal havia fechado a porta, já foi soltando:

— Se for sobre a menina do programa, deputada, eu...

— Cale a boca — Verena disse, sem levantar a voz, mas com os olhos faiscando. — Senta. E escuta.

Ele obedeceu, surpreso com o tom.

— Você acha que pode destratar alguém daquela forma, gritar com uma estagiária na frente de todo mundo e depois insinuar que ela é incapaz porque vem de um projeto social? Quem você pensa que é?

— Eu só...

— Você só mostrou o quanto é pequeno. E deixa eu te lembrar: esse gabinete tem regras. A principal delas é respeito. Se você se sente superior demais pra trabalhar com os estagiários do programa, tá livre pra sair. Ninguém aqui vai te impedir.

Davi não respondeu. A cor no rosto dele alternava entre o vermelho e o pálido.

— Você vai pedir desculpas a ela. Amanhã. Na frente de todos que estavam na sala.

— Mas deputada...

— Não é uma sugestão. É uma ordem.

Ele assentiu, vencido. Saiu da sala cabisbaixo. Verena encostou-se na cadeira e soltou o ar com força.

Por um instante, deixou o profissionalismo de lado. Pegou o celular e abriu a conversa com Valentina, havia pegado o número no currículo dela. Ninguém sabia. Os dedos pairaram sobre o teclado por longos segundos. Apagou uma primeira tentativa, respirou fundo e escreveu:

“Desculpe pelo que aconteceu. Já tomei providências. Espero que você esteja bem.”

Foi só isso. Uma linha objetiva, fria até — mas que escondia uma avalanche por trás.

Não esperava resposta. Só queria que ela soubesse. Que ela se sentisse segura. Que ela entendesse que, de algum modo, Verena ainda estava ali.

Valentina enxugava o rosto com papel toalha, o reflexo no espelho ainda denunciando os olhos vermelhos. A água fria não havia apagado a dor, mas ajudara a conter as lágrimas. Inspirou fundo, várias vezes, tentando convencer a si mesma de que aguentaria o restante do dia.

Saiu do banheiro com passos lentos, como se cada movimento exigisse mais do que tinha para dar. Quando pegou o celular do bolso, a tela acendeu com uma nova notificação.

Era ela.

Verena.

“Desculpe pelo que aconteceu. Já tomei providências. Espero que você esteja bem.”

Valentina ficou parada no meio do corredor vazio, o barulho abafado do gabinete ecoando ao longe. Leu a mensagem uma, duas, três vezes.

As palavras eram simples. Diretas. Mas vieram com um peso inesperado. Um cuidado que ela não sabia se queria, mas que, naquele momento, significou mais do que poderia admitir.

Digitou uma resposta. Apagou. Digitou de novo. Não enviou.

Guardou o celular devagar e respirou fundo mais uma vez, antes de seguir de volta para a sala. Ainda tinha trabalho a fazer.

Mas algo dentro dela — pequeno, silencioso — começava a aquecer de novo.

...

A sala de reuniões no décimo segundo andar da Assembleia Legislativa estava lotada. Entre parlamentares, assessores e representantes de movimentos sociais, o burburinho prévio à sessão formava um ruído constante. Verena chegou pontualmente, como sempre. Vestia um blazer preto impecável sobre uma blusa creme e calça de alfaiataria. O cabelo preso num coque baixo deixava à mostra o semblante sério, quase impenetrável.

Cumprimentou os presentes com acenos contidos e um sorriso calculado. Sentou-se à mesa principal, abriu a pasta com os documentos e organizou suas anotações com precisão. Por fora, inabalável. Por dentro, a imagem de Valentina segurando as lágrimas ainda ecoava.

Rafaela entrou logo depois, sentando-se ao seu lado sem dizer nada. Ela observava a amiga com atenção, captando os microgestos: o leve bater dos dedos sobre a mesa, a forma como ajeitava o colar no pescoço, como os olhos passeavam distraidamente pelos papéis sem lê-los de verdade.

A pauta do dia era sensível — tratava de um novo projeto para ampliar o acesso de jovens da periferia ao ensino técnico. Verena sabia que aquele era o tipo de tema no qual não podia se permitir deslizes.

— Boa tarde a todos. — Sua voz soou firme, e logo o ambiente se aquietou. — Antes de começarmos, quero agradecer a presença de todos os envolvidos. Sabemos que a juventude de São Paulo precisa de mais do que promessas. Precisa de caminhos reais.

Enquanto falava, Rafaela cruzou as pernas devagar, apoiou o queixo na mão e sussurrou entre os dentes, só para Verena ouvir:

— Vai conseguir segurar até o fim ou vai sair voando pra procurar sua estagiária?

Verena não respondeu. Apenas respirou fundo, os olhos fixos em um ponto qualquer da mesa. Um segundo de silêncio que só Rafaela percebeu.

A reunião continuou por quase uma hora, e Verena se manteve no papel. Argumentou, rebateu propostas frágeis, defendeu o projeto com paixão verdadeira — como sempre fazia quando o assunto envolvia justiça social. Era ali que ela se encontrava, onde parecia ser mais ela mesma.

Mas nem mesmo seu desempenho afiado conseguiu convencer Rafaela de que estava tudo bem. Quando o último convidado se retirou, a ruiva ficou para trás, encostada na parede, os braços cruzados.

— Você tá em modo deputada, eu sei. Mas quando isso aqui — apontou de leve para o peito dela — apertar demais, me avisa. Tô aqui. Só tenta não explodir em público, beleza?

Verena assentiu devagar, ajeitando os papéis com as mãos trêmulas.

— Obrigada, Rafa. Eu… vou tentar.

...

O ônibus seguia lentamente pela avenida congestionada, as buzinas formando uma trilha sonora abafada atrás dos vidros embaçados. Valentina olhava pela janela, o queixo apoiado na mão, os fones desligados apenas para ouvir o mundo — como se aquilo a ajudasse a não se perder dentro da própria cabeça.

Repassava cada detalhe da tarde. A forma como o assessor se aproximou com os olhos faiscando, a bronca pública, as palavras duras sobre sua competência e o golpe final — aquela frase venenosa sobre o programa de estágio.

Ela apertou os dedos ao redor da mochila no colo.

Tinha conseguido se controlar, fingir que não se abalou tanto. Mas agora, ali, longe dos olhares e da necessidade de manter a postura, sentia tudo pesar. A garganta, ainda um pouco arranhada do resfriado da semana anterior, apertava junto com o estômago.

A lembrança de Verena, com o maxilar travado, tentando esconder o incômodo, voltava como um alento e uma tortura.

"Ela ouviu tudo. Quis fazer algo. Eu vi."

O celular pesava no bolso da jaqueta fina. Ela já o tinha checado cinco vezes, como se uma notificação não vista fosse aparecer por mágica. Queria escrever. Dizer alguma coisa. Mandar um simples “obrigada” talvez. Ou um “tá tudo bem”.

Mas e se não estivesse?

E se Verena estivesse só fazendo seu papel de chefe, de figura pública preocupada com os estagiários, e nada mais?

Suspirou e tirou o celular do bolso. Abriu a conversa com o nome salvo como “Dra. Castilho”. O campo de mensagem em branco parecia ainda mais vazio naquele momento.

“Não faz isso, Valen.” — pensou. “Se você escrever, vai parecer fraca. Vai mostrar que aquilo te afetou mais do que devia. E você não quer isso.”

Mas queria.

Apertou o botão lateral e bloqueou a tela.

A mãe já a esperava no portão de casa, os braços cruzados e um sorriso leve nos lábios. A irmã mais nova, com a mochila da escola ainda nas costas, correu até ela.

— Val, você demorou! — exclamou, abraçando a perna da irmã.

— O ônibus tava um caos hoje — respondeu, forçando o sorriso.

Mas por dentro, só conseguia pensar na tela em branco da conversa. E na mulher por trás do título que ela ainda não conseguia decifrar.

- Tudo bem meu amor? Tá com uma carinha de cansada. – Ana Paula deu um beijo na cabeça da filha mais velha, enquanto aguardava que as duas entrassem, fechando o portão nem seguida.

— Val… O moço da escola disse que você trabalha num lugar cheio de gente importante. Você viu algum famoso hoje?

Valentina soltou uma risada nasalada e tombou no sofá.

— Não, Isa. Hoje só vi gente chata mesmo.

— Ah… então foi ruim?

— Foi. — A resposta escapou antes que conseguisse filtrar. E então se virou para a irmã, com um sorriso meio torto. — Mas amanhã melhora. Sempre melhora.

Isadora assentiu e foi até a cômoda, pegando um pacote de balas que guardava como tesouro. Abriu e estendeu uma para a irmã.

— Toma. É de morango. Melhora qualquer dia ruim.

Valentina pegou a bala, com o coração apertado e os olhos úmidos. A irmã correu para o quarto e ela ficou ali, sozinha na sala, sentindo o gosto doce invadir a boca como se trouxesse um pouco de paz.

Pegou o celular e, mais uma vez, abriu a conversa com Verena.

Só que dessa vez, escreveu.

"Oi."

Ficou encarando a palavra. Era simples, direta, inocente o suficiente para ser despretensiosa. Mas ela sabia o quanto carregava.

A mão hesitou sobre o botão de enviar.

E então bloqueou a tela de novo.

Guardou o celular na gaveta da mesinha de cabeceira. Deitou. E ficou ali, olhando para o teto, tentando esquecer aquele aperto no peito.

Mas no fundo, torcendo para o celular vibrar.

...

A cozinha estava banhada por uma luz morna do fim de tarde, o aroma de ervas e alho dourado preenchendo o espaço com uma calma caseira. Silvia, de avental por cima de um vestido leve, cortava os legumes com precisão, enquanto Verena se aproximava em silêncio, quase reverente, como quem invade um pequeno ritual.

Ela envolveu a esposa num abraço suave por trás, sem pressa. Seus braços deslizaram pela cintura de Silvia, o queixo repousando no ombro dela, os olhos fechados como se tentasse gravar aquele instante.

— Tô tentando cozinhar, sabia? — disse Silvia, num tom brincalhão, mas não resistindo ao calor do toque.

— E eu tô tentando viver esse momento. Posso ganhar? — murmurou Verena, os lábios roçando de leve a pele exposta.

Silvia soltou uma risada baixa, colocando a faca de lado e virando-se devagar, ficando de frente pra ela. As mãos ainda frias dos legumes foram parar na cintura da Verena, que não hesitou em colar seus corpos.

— Você anda diferente — Silvia comentou, com o olhar meio desconfiado, meio encantado.

— Tô tentando ser melhor — respondeu Verena, simples, antes de se inclinar e beijá-la.

O beijo começou calmo, com lábios que se encontravam como quem já se conhecia há anos, mas logo ganhou profundidade, a intensidade aumentando como se ambos tentassem dizer tudo o que não havia sido dito. As mãos de Verena subiram para o rosto de Silvia, segurando com carinho, com entrega.

No meio do beijo, um brilho discreto cortou o canto do olho de Verena — a tela do celular sobre a bancada acendeu. Era quase imperceptível, mas ela viu.

Tentou ignorar. Tentou manter o foco. Mas algo no seu peito vacilou.

No breve instante em que os lábios se separaram para um suspiro, ela desviou os olhos — e ali estava.

Valentina

“Desculpa não ter respondido antes...”

O mundo pareceu diminuir, ruído e aroma se apagando. A mensagem nem tinha mais do que uma linha, mas bastou. O coração de Verena acelerou, não por desejo, mas por algo mais fundo, mais confuso. Como se sua alma tivesse tropeçado.

Silvia, ainda com os olhos fechados, ia se inclinar de novo, mas parou ao perceber a hesitação.

— Tá tudo bem?

Verena piscou devagar, como quem tenta voltar. Fez um esforço para sorrir, escondendo o redemoinho interno.

— Tá sim... é que... — ela se afastou um pouco, buscando leveza na voz. — Deixa eu só desligar esse celular. Tá me tirando do momento.

Silvia assentiu, desconfiada, mas não insistiu.

Verena desligou a tela, deixou o aparelho virado para baixo — e respirou fundo.

Queria estar inteira ali. Estava tentando com tudo. Mas, às vezes, bastava uma mensagem para lembrar que havia coisas que não se resolviam com esforço.

...

A casa mergulhava num silêncio profundo, cortado apenas pelo zumbido distante da cidade que nunca dormia. Verena estava deitada na cama, de lado, os olhos fixos na luz fraca que entrava pelas frestas da cortina. Silvia dormia ao seu lado, tranquila, respirando em um ritmo suave e regular.

Mas Verena... não conseguia desligar.

O celular estava na mesinha, a tela ainda virada para baixo. Desde o jantar, não teve coragem de mexer. Tentou forçar uma normalidade, manter a conversa leve com Silvia, riram um pouco, tomaram vinho. Mas por dentro, a mensagem de Valentina seguia pulsando, como se fosse uma sirene silenciosa.

Sem fazer barulho, Verena se virou devagar, pegou o celular e deslizou o dedo pela tela. A luz a atingiu em cheio, fazendo-a piscar. Abriu a conversa. Um esforço enorme para resisitir a vontade abrir a foto de perfil. Queria poupar um pouco sua sanidade.

"Desculpa não ter respondido antes..."

Só isso. Simples. Mas carregava um peso que ela não sabia exatamente de onde vinha. Talvez porque ela não esperava mais resposta alguma. Talvez porque, no fundo, tivesse começado a desejar que não viesse. E ainda assim… ali estava.

Verena digitou. Apagou. Digitou de novo. Nada parecia certo.

Ela largou o aparelho ao lado, se sentando com as pernas cruzadas sobre a cama. Passou as mãos pelo rosto, depois pelos cabelos, suspirando como se tivesse corrido uma maratona emocional.

— O que você tá fazendo, Verena… — murmurou pra si mesma, a voz rouca da insônia.

Olhava para o nada. Não era apenas sobre Valentina. Era sobre ela mesma. Sobre como a vida que tentava levar com Silvia já não parecia encaixar direito, como uma roupa bonita que de repente começa a apertar nos lugares errados.

Fechou os olhos, jogando o corpo pra trás no colchão. Silvia murmurou algo no sono e se virou, mas não acordou. Verena ficou ali, imóvel, tentando escutar o próprio coração, tentando entender se era mesmo possível viver dividida assim — entre o que devia sentir e o que, inevitavelmente, sentia.

E no fundo, sabia que mais cedo ou mais tarde, alguma escolha teria que ser feita.

Mas não naquela noite.

Naquela noite, só queria silêncio.

...

Valentina

O calor insistente em seu peito era como um sussurro teimoso, que se recusava a ser silenciado mesmo sob o peso do cobertor. Valentina apertou os olhos, buscando na escuridão a paz que não encontrava dentro de si.

Tentou rezar, como fazia desde pequena. Palavras decoradas, repetidas tantas vezes que quase não tinham mais sabor. Mas, naquela noite, a oração saiu tremida. Sem convicção. Era como se falasse com um céu mudo.

Virou-se novamente na cama, inquieta. A cabeça latej*v* de pensamentos. Por um momento, imaginou como seria se tudo fosse diferente. Se ela pudesse olhar para Verena sem medo, sem essa culpa absurda. Se pudesse rir da forma como o coração batia mais rápido, como as mãos suavam quando ela se aproximava.

Mas logo afastou a ideia com um suspiro frustrado.

“Isso não é certo”, sussurrou para si mesma. Mas nem ela acreditava mais completamente nisso.

Fechou os olhos com força, tentando se obrigar a dormir, a esquecer. Amanhã era outro dia. Teria que acordar cedo, enfrentar o mundo como se nada estivesse acontecendo. Como se fosse apenas mais uma jovem aprendiz no meio de um programa público, lidando com papéis, agendas, ordens.

Nada além disso.

Ainda assim, antes de ceder ao cansaço, seus pensamentos voltaram, uma última vez, ao rosto de Verena, à voz firme e baixa a chamando. Valentina não sabia o que aquilo significava. Mas sabia que não queria esquecer. 

Mesmo que doesse.

Mesmo que a confundisse.

Mesmo que, no fundo, a fizesse se sentir mais viva do que nunca.

Restaurante – 13h20

O restaurante escolhido ficava num sobrado antigo, de fachada discreta, escondido entre outros prédios comerciais no centro da cidade. Nada ali chamava atenção. As janelas altas, os móveis rústicos, o atendimento silencioso. Era o tipo de lugar onde se podia conversar à vontade — e ser esquecido logo depois.

Verena chegou primeiro. Usava óculos escuros, blazer claro e uma expressão de cansaço que nem o corretivo disfarçava direito. O cabelo estava solto, caindo sobre os ombros com uma mecha ondulada destacando-se ao lado do rosto. Puxou o celular para conferir a hora, mas antes que bloqueasse a tela, uma notificação piscou no topo. Ignorou.

— Sempre adiantada pra essas coisas, hein? — Rafaela comentou, puxando a cadeira à frente dela, tirando os óculos escuros e deixando a bolsa cair no banco ao lado. Estava com o rosto limpo de maquiagem, mas o batom vermelho dava o tom de sempre: provocação. — Já fez o pedido?

— Ainda não. Esperei você, olha que milagre.

— Milagre mesmo — respondeu Rafa, sorrindo de canto.

Minutos depois, o terceiro elemento chegou: deputado Júlio Barbosa, um nome antigo na política estadual, daqueles que sabiam muito mais do que diziam. Sentou-se sem cumprimentos calorosos, já abrindo a pasta de couro com alguns documentos que cobriu parcialmente com o cardápio.

— Vamos ser rápidos — disse, direto. — Tenho reunião com o presidente da comissão às 14h30.

Verena assentiu. Passou os olhos pelo menu só por protocolo, antes de deixá-lo de lado. Rafaela serviu-se da água que o garçom deixara e cruzou as pernas com a calma de quem observava o ambiente mais do que prestava atenção nas palavras iniciais de Júlio.

— O novo repasse foi aprovado ontem, no apagar das luzes. Ninguém percebeu que o artigo 14 foi incluído de última hora, do jeitinho que a gente precisava.

— E o fundo social? — perguntou Verena, voz baixa.

— Já tá redirecionado. Metade vai pra ONG do tio da minha assessora. A outra metade, pra aquela associação cultural que vocês sugeriram no interior. Tudo legalzinho, no papel.

Rafaela soltou um riso breve, seco.

— A associação cultural que tem dois violões e um CNPJ, né?

— Exatamente — confirmou Júlio, abrindo um leve sorriso. — Agora só falta manter o projeto na gaveta até a aprovação do orçamento. Nada de exposição desnecessária.

Verena olhou para o copo de água, girando-o devagar entre os dedos. A conversa era simples, técnica, mas ali havia muito mais do que papéis e desvios. Era jogo de poder. Sobrevivência. E ela sabia que, uma vez dado o próximo passo, seria difícil voltar atrás.

— E se alguém puxar esse fio? — ela perguntou, quase num sussurro.

— Ninguém vai puxar — respondeu Júlio. — E se puxar, vai dar em coisa velha. Essa estrutura tá aí faz décadas. Vocês são só mais dois nomes na fila.

O garçom se aproximou com os pratos e a conversa parou por alguns minutos. Almoço servido, cortinas baixas, vozes abafadas pelos talheres.

Rafaela foi quem quebrou o silêncio depois:

— E a sua esposa, como tá? — perguntou, casual. Mas os olhos estavam atentos.

Verena demorou um segundo a responder.

— Trabalhando muito — disse apenas, sem levantar os olhos do prato.

Rafaela não insistiu. Mas sabia ler silêncios. E naquele, havia algo mais do que cansaço.

Assembleia Legislativa de São Paulo – Corredor Principal, 15h10

O fim da sessão havia sido tudo, menos pacífico.

Vozerio. Gritos. Parlamentares discutindo acaloradamente, seguranças tentando conter os mais exaltados. A pauta sobre direitos civis tinha avançado para um debate inflamado sobre o reconhecimento legal de casamentos homoafetivos e no meio da discussão, um deputado do interior, visivelmente exaltado, havia vociferado:

— Isso é contra a natureza! Casamento entre dois homens, entre duas mulheres... é uma aberração, uma afronta às famílias decentes deste país!

A frase explodiu como uma granada em plena sessão.

Verena, que estava sentada à mesa, levantou-se de imediato. Os olhos faiscando, a mandíbula travada. Ela não era conhecida por tolerar esse tipo de discurso — mas mesmo para ela, havia algo de pessoal naquela afronta.

— Aberração é seu preconceito travestido de opinião — rebateu, a voz firme. — O senhor fala de moral, mas esconde as próprias falcatruas atrás de discursos retrógrados. Cuidado com quem chama de aberração. Pode estar descrevendo o espelho.

O ambiente se incendiou. Microfones cortados, presidente da mesa pedindo ordem, seguranças acompanhando alguns dos mais exaltados até o corredor. E Verena, ainda tomada por uma raiva quase física, saiu da sala junto com a multidão.

No corredor, o tumulto continuava. Repórteres tentando captar declarações, câmeras em punho, celulares gravando tudo. Empurrões, gente falando alto, cada um tentando fazer sua indignação mais ouvida que a do outro.

Foi nesse momento que Valentina apareceu.

Ela vinha com uma pasta de documentos nas mãos, apressada, vinda do outro lado. Não sabia da confusão. Não esperava ver aquela massa de pessoas se movendo como um enxame na sua direção.

Tarde demais para recuar.

No susto, tentou desviar — e tropeçou.

A queda foi rápida. A pasta voou, os papéis se espalharam pelo chão polido. Um som seco ecoou quando ela bateu o cotovelo no chão. A dor foi instantânea, mas a vergonha do que vinha em seguida foi ainda pior.

Câmeras a flagraram. Alguns riram. Outros se abaixaram para ajudar. Ela tentou se recompor, o rosto vermelho, o coração disparado.

E então, Verena viu.

Através da multidão, viu Valentina no chão, constrangida, assustada. O olhar perdido em busca de um lugar seguro. Um lugar onde não fosse vista.

Mas Verena a viu. E naquele instante, o barulho ao redor sumiu.

Seu corpo se moveu antes da razão. Abriu caminho entre as pessoas sem pensar, ignorando os assessores, ignorando os olhares.

— Com licença — disse seca, afastando um repórter que tentava filmar de perto. — Já deu.

Se ajoelhou ao lado de Valentina, tocando seu ombro com cuidado.

— Você tá bem? — perguntou baixo, mas firme, como se não fosse uma pergunta, mas um compromisso.

Valentina apenas assentiu, sem conseguir falar. Os olhos marejados, o queixo tremendo.

Verena pegou a pasta, reuniu os papéis com uma pressa gentil, e a ajudou a se levantar.

E por um segundo — apenas um segundo — os olhos das duas se encontraram. E naquele silêncio breve, havia algo mais forte do que qualquer debate ocorrido naquela tarde.

Medo. Vergonha. Confusão. Desejo.

Ambas sentiram.

Ambas souberam.

E mesmo que nenhum gesto ultrapassasse o aceitável, mesmo que a ajuda parecesse apenas institucional, havia algo ali que nenhuma das duas conseguiria esquecer tão cedo.

— Vai pra sala de apoio. Agora. Eu resolvo o resto aqui. — Verena sussurrou, num tom mais íntimo do que pretendia.

Valentina não questionou. Só assentiu, engolindo em seco, e saiu.

E quando se virou, Verena ainda olhava em sua direção. Sabia que a imagem daquela queda ia voltar para ela mais tarde — como um símbolo de tudo que ela também tentava esconder: a vulnerabilidade, o impulso, o instinto de protegê-la mesmo quando não devia.

Ela respirou fundo, ajeitou o cabelo solto com uma mecha ondulada ainda caindo sobre o rosto, e encarou o mar de gente ao redor.

De volta à pose. De volta ao teatro da política.

Mas lá dentro, algo já havia cedido.

O tumulto ainda se desfazia lentamente, como fumaça após um incêndio. Pessoas se dispersavam aos poucos, e os repórteres começavam a revisar o material que haviam captado.

Verena ajeitou o paletó com um gesto quase automático, respirando fundo enquanto buscava com os olhos algum rosto conhecido entre os jornalistas. Encontrou.

Marchou até um grupo de três profissionais — dois com microfones ainda em mãos, uma mulher atrás da câmera, ajustando o foco. Todos tinham visto. Todos tinham registrado.

Ela não sorriu. Não pediu. Chegou imponente, com a postura de quem não estava disposta a negociar.

— Apaga — disse, direto para o cinegrafista.

— Deputada... a senhora está falando da queda da estagiária? Já circula nas redes, tem vídeo subindo no ar. É um fato público agora.

— Eu disse pra apagar — repetiu, com a voz baixa e ameaçadora. — E se esse material for ao ar em qualquer canal, vocês vão se ver comigo. Comigo, com meu jurídico, com todo o peso que eu puder colocar em cima dessa emissora.

— Com todo respeito, deputada, estamos falando de um espaço público. Temos direito de cobrir—

— Não se trata de vocês — interrompeu Verena. — Se trata de uma menor de idade em situação constrangedora. Uma queda. Um momento de fragilidade. Qualquer uso disso como conteúdo é sensacionalismo barato. E eu juro — juro — que se expuserem essa garota, eu derrubo o nome de cada um que trabalhar nessa matéria.

O silêncio entre os repórteres foi imediato. A mulher atrás da câmera abaixou lentamente o equipamento. Ninguém ousou retrucar.

Verena respirou fundo outra vez, como se tentando puxar de volta o autocontrole. Passou a mão nos cabelos, ajeitando a mecha ondulada que insistia em cair sobre a testa. Quando falou de novo, sua voz veio mais contida — mas não menos firme.

— Essa matéria termina aqui. Ponto.

Sem esperar resposta, deu meia-volta. As mãos fechadas, o peito ainda arfando discretamente. Não se importava com o que diriam sobre ela, nem com as interpretações sobre sua reação — não naquele momento.

Tudo o que conseguia pensar era no rosto de Valentina, pálido, assustado, confuso. A forma como seus olhos procuraram instintivamente por ajuda. E como ela, Verena, tinha se sentido como se estivesse sendo puxada por um ímã, como se algo dentro dela tivesse atravessado todas as barreiras em segundos.

Ela não entendia direito aquilo. Mas não podia mais fingir que não sentia.

A cada passo de volta ao gabinete, um pensamento martelava:

Você não devia... Mas quando foi que isso começou a importar?

Assembleia Legislativa de São Paulo – Gabinete da Deputada Verena Castilho, 15h32

A porta se fechou com força atrás dela, fazendo Rafaela levantar o olhar da tela do computador.

— O que houve? — perguntou, com a expressão ainda atenta, sentindo que a amiga chegava em ebulição.

— Quem mandou a Valentina pro plenário? — disparou Verena, sem responder à pergunta, os olhos já vasculhando a pequena sala anexa onde os assessores se dividiam entre ligações e agendas.

Rafaela franziu a testa.

— Como assim?

— Ela estava lá. No meio daquela confusão. Tropeçou, caiu. Por um triz não foi pisoteada. E ninguém... ninguém me avisou!

Ela abriu a porta lateral que dava para a antessala, onde dois assessores conversavam em tom baixo. O mais novo, Darlan, empalideceu ao vê-la.

— Foi você? — perguntou Verena, caminhando até ele, cada palavra saindo como uma faísca prestes a explodir. — Foi você quem mandou a estagiária praquele inferno?

Darlan gaguejou:

— N-não exatamente... eu... achei que seria bom ela observar a votação... ia ser rápido, deputada...

— Você achou? — Ela deu um passo à frente, a raiva transbordando em cada gesto. — Você achou? E em que momento você achou que seria inteligente levar uma menor de idade pra um ambiente lotado, onde você sabia que haveria tensão, imprensa, deputados surtando no microfone?

— Eu... achei que estava sob controle...

— Você sequer me comunicou! — ela cortou, a voz agora subindo. — Como alguém entra ou sai deste gabinete, especialmente alguém sob a minha responsabilidade, sem o meu conhecimento?

O silêncio que se seguiu foi absoluto. Todos pararam. Até mesmo Rafaela, que acompanhava à distância, sabia que havia algo ali que extrapolava o protocolo. Era zelo demais, raiva demais. Um tipo de reação que só acontecia quando o que se tenta proteger... importa mais do que deveria.

Verena respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos soltos, tentando recuperar o controle.

— A partir de hoje — disse, com a voz mais baixa, mas ainda cortante — nenhum estagiário vai a qualquer sessão, reunião ou evento fora deste gabinete sem autorização direta minha. Entendido?

Darlan assentiu, visivelmente constrangido.

— Pode sair. Agora.

Assim que ele deixou a sala, Rafaela cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha.

— Verena... tá ficando difícil fingir que isso é só preocupação profissional, viu?

Verena a olhou por um segundo, como se fosse retrucar. Mas ao invés disso, desviou o olhar e se jogou na cadeira com um suspiro longo.

— Ela podia ter se machucado de verdade, Rafa.

— Eu sei. Mas você também sabe que não é só isso.

Verena fechou os olhos, deixando o silêncio responder por ela.

Verena ainda estava com os olhos fixos no chão quando, de repente, algo lhe ocorreu. O olhar se acendeu com urgência.

— A Valentina… — murmurou, já se levantando. — Eu mandei levá-la pra sala de apoio, com a assistente do gabinete.

Sem esperar qualquer resposta ou refletir no que estava fazendo, Verena abriu a porta da própria sala e saiu pelos corredores da ALESP, pisando firme, o salto ecoando com determinação. Rafaela soltou um suspiro e foi atrás.

— Verena! Espera. Você tá se ouvindo?

A deputada não respondeu. Caminhava como se o resto do mundo não existisse. O batom começava a borrar no canto dos lábios — ela nem tinha notado. O cabelo solto balançava atrás de si, a mecha mais ondulada caindo sobre um dos olhos.

— Verena, caramba — Rafaela acelerou o passo, alcançando-a no corredor lateral, onde ficavam as salas de apoio. — Você nem sabe o que vai dizer! Vai chegar lá como, doida, puxando a menina pelo braço? Vai confessar pro gabinete inteiro que tá se corroendo por dentro?

Verena parou. Não porque tinha se convencido — mas porque as palavras bateram fundo, como um soco seco. Ela virou-se devagar, os olhos firmes nos de Rafaela.

— Ela caiu, Rafa. Se machucou. E ninguém fez nada.

— Você viu um tropeço — rebateu a amiga, baixando o tom para não chamar atenção. — E reagiu como se tivessem enfiado uma faca no peito dela. Verena… você tá perdendo a noção.

Um segundo de silêncio. Verena respirou fundo, como se estivesse tentando manter a dignidade que ainda restava.

— Eu só quero saber se ela está bem — disse enfim, mais calma, mas com aquela intensidade que não disfarçava mais nada.

— Você vai acabar se queimando com isso — Rafaela alertou, num tom mais baixo, mais próximo. — E pior: vai acabar machucando a Valentina também. Você não pode protegê-la do mundo… e muito menos de você.

Verena não respondeu. Apenas virou-se e, dessa vez com passos mais lentos, seguiu até a porta da sala de apoio. Bateu duas vezes, tentando recuperar o controle. A assistente do gabinete atendeu quase de imediato.

— A estagiária... Valentina. Ainda está aqui?

A mulher confirmou com a cabeça.

— Está ali, sentada, tomando um chá. Disse que precisava se acalmar antes de voltar pra casa.

Verena assentiu e respirou fundo. Sabia que, ao cruzar aquela porta, talvez não fosse só a responsabilidade política que estaria em jogo.

— Pode deixar — murmurou. — Eu falo com ela.

E entrou.

Sala de apoio – 15h55

Valentina estava sentada no canto do sofá, segurando a xícara de chá com ambas as mãos. O líquido já esfriava, mas ela não parecia notar. Os olhos estavam baixos, fixos num ponto invisível no carpete, enquanto o som abafado das vozes no corredor ainda ecoava em sua mente.

A porta se abriu devagar.

Ela ergueu o olhar — e prendeu a respiração ao ver Verena entrar.

A deputada estava visivelmente alterada, embora tentasse disfarçar. Os ombros rígidos, os olhos um pouco vermelhos, e aquela expressão que misturava fúria, preocupação e algo mais difícil de definir.

— Você está bem? — Verena perguntou sem rodeios, a voz grave, firme, mas menos dura do que o habitual.

Valentina assentiu devagar, mas sua mão tremia levemente ao pousar a xícara sobre a mesinha ao lado.

— Foi só um susto. Eu… tropecei, só isso.

— Eu vi. — Verena se aproximou dois passos, depois hesitou. — E ouvi o que aquele imbecil disse. Já garanti que ele não vai abrir a boca nos próximos meses sem lembrar quem manda aqui dentro.

Valentina apertou os lábios. Sentia o rosto arder, não sabia se de vergonha ou outra coisa.

— A senhora não precisava fazer isso.

— Precisava, sim.

A resposta veio na hora, seca. E Verena se arrependeu da intensidade assim que viu o susto nos olhos da garota.

— Desculpa — disse, suavizando o tom. — Não foi isso que eu quis dizer. Eu só... você não deveria ter passado por aquilo. Nenhum estagiário deveria estar naquela sala. Ainda mais sem eu saber.

Valentina abaixou a cabeça, sentindo o coração bater alto no peito.

— Eu não sabia que... que era uma reunião restrita. Só me pediram pra entregar uns documentos.

Verena suspirou, ajeitando uma mecha do cabelo solto atrás da orelha. Por um instante, seus olhos percorreram o rosto da jovem, procurando ferimentos invisíveis.

— Eles foram imprudentes. E eu já tomei providências.

Valentina assentiu outra vez, mas ainda havia algo não dito pairando entre elas. O silêncio se alongou, e Rafaela, parada à porta, observava tudo com uma expressão contida. Sabia que sua amiga havia cruzado um limite naquela tarde. E também sabia que Verena, naquele momento, já não controlava mais os próprios impulsos como antes.

— Eu... — Valentina tentou falar, mas a voz falhou.

Verena se aproximou mais um passo, instintivamente. Depois parou. Olhou nos olhos dela com algo entre fúria e ternura.

— Se acontecer de novo — disse, baixo, firme — você me procura. Antes de qualquer um. Entendeu?

Valentina ficou em silêncio. Depois, num fio de voz:

— Entendi.

Por dentro, ela tremia.

Verena também.

Rafaela observava, imóvel, as mãos cruzadas no peito, os olhos atentos. Aquela cena era a confirmação que ela não queria. A amiga não estava apenas se envolvendo... estava se entregando. E, da forma mais perigosa possível: sem perceber que já não era mais só preocupação. Já não era só sobre proteger uma estagiária.

Era pessoal. E inevitável.

Verena respirou fundo e desviou o olhar, como se tivesse que se lembrar de onde estava.

— Eu vou pedir que te levem pra casa. Você não precisa terminar o expediente hoje.

— Eu posso...

— Não é um pedido — ela a interrompeu, com delicadeza, mas sem deixar espaço pra dúvidas.

Valentina apenas assentiu.

Verena deu um último olhar, longo e silencioso, antes de se virar para sair. Ao passar por Rafaela, não disse nada. E também não precisou. O olhar que trocaram falava por si.

E quando a porta se fechou, a sala ficou novamente em silêncio. Mas nada ali era calmo.

Gabinete de Verena – 18h40

As últimas luzes da Assembleia se apagavam aos poucos, e o burburinho dos corredores já havia se dissipado. O gabinete da deputada estava em silêncio. Quase todos os funcionários haviam ido embora, exceto por duas pessoas.

Verena digitava qualquer coisa no computador, sem de fato prestar atenção na tela. A cabeça doía, o corpo doía, mas o que mais pesava era o silêncio de Rafaela.

Ela estava sentada em sua mesa, perto da janela, a caneca de café esquecida há tempos, fria. O sol já tinha ido embora, e a luz fraca do abajur refletia em seu rosto tenso. Parecia que tudo estava sendo guardado ali, atrás daqueles olhos atentos e silenciosos.

Verena soltou o ar devagar.

— Você tá quieta — disse, sem tirar os olhos da tela. Era mais uma constatação do que uma pergunta.

Rafaela não respondeu de imediato. Bebeu um gole do café amargo, fazendo uma careta que ela não tentou disfarçar.

— Tô tentando não explodir — respondeu, por fim, num tom baixo, contido.

Verena girou a cadeira e a encarou. Sabia o que viria. Estava exausta demais para discutir, mas orgulhosa demais para se calar.

— Se for sobre o que aconteceu mais cedo... — começou.

— Não é sobre o que aconteceu mais cedo — Rafaela a cortou. — É sobre tudo. Tudo o que você tem se tornado.

Verena apertou os lábios, a mandíbula dura.

— Eu não tenho que te dar satisfações sobre minha vida pessoal, Rafa.

— Não tem mesmo — ela respondeu, dando de ombros, levantando-se. — Mas quando a sua vida pessoal começa a afetar suas decisões, suas prioridades, sua maneira de olhar pra uma garota de dezesseis anos... então talvez você devesse.

Verena desviou o olhar.

— Eu não fiz nada.

— Ainda. — Rafaela se aproximou. — Mas você vai. E não vai ser porque é má, ou aproveitadora. Vai ser porque você tá quebrada, Verena. Porque tá tentando preencher um buraco com algo que não pode te curar. E isso... isso vai machucar alguém. Talvez você. Talvez ela. Talvez as duas.

Silêncio.

Verena respirava fundo, cada vez mais tensa.

— Não me olha assim — ela murmurou. — Você fala como se eu fosse um monstro.

Rafaela suavizou o rosto por um segundo. Mas só por um.

— Eu falo como quem te conhece. Como quem te ama há anos, mesmo quando você é teimosa, impulsiva e egoísta. E por isso mesmo, eu tenho que dizer: se você ainda tem um pingo de dignidade, termina com a Silvia.

Verena ficou imóvel. O nome da esposa dito daquela forma — com o peso de uma sentença — atingiu em cheio.

— Não fala dela assim — pediu, entre os dentes.

— Não tô falando dela, Verena. Tô falando de você. Do que você tá fazendo com ela. Do que tá fazendo com a Valentina. Comigo. Com você mesma.

O silêncio caiu entre elas de novo. Dessa vez, mais denso.

Rafaela deu um passo para trás, como quem encerra um assunto que não queria sequer começar.

— Boa sorte com isso tudo — disse, com tristeza. — De verdade. Porque eu não sei mais como te ajudar.

Virou-se, pegou a bolsa e caminhou até a porta.

Antes de sair, lançou um último olhar sobre o gabinete — e sobre a mulher sentada no centro dele, poderosa por fora, devastada por dentro.

Verena não se virou. Ficou ali, encarando o nada. Sentindo o vazio da sala. E da alma.

Fim do capítulo


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Comentários para 11 - Quando o Coração Fala mais Alto:
jake
jake

Em: 13/06/2025

Nossa Rafa !!! Não adianta falar nada... Vamos deixar vê o que vai dar pq só vc falar não está adiantando...


anonimo2405

anonimo2405 Em: 17/06/2025 Autora da história
Verena é o tipo de pessoa que não houve muito conselho. Mas deveria né


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Zanja45
Zanja45

Em: 01/05/2025

Essa pressão de Rafa para que Verena resolva primeiramente as coisas com Silvia, antes que ela cometa desatinos e acabe machucando tanto a ela, quanto a própria Valentina. É apenas uma preocupação genuina ou ela nutre algum tipo de sentimentos pela esposa da amiga ?


anonimo2405

anonimo2405 Em: 03/05/2025 Autora da história
Olha, espero que não seja nada. Não sei qual seria a reação da Verena se só cogitasse essa possibilidade. Apesar de que ela também tem pisado muito na bola.


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Zanja45
Zanja45

Em: 01/05/2025

As emoções de Verena estão falando mais forte do que a razão. - E nesse capitulo ficou bem evidente isso. - Porque nem Rafa esta conseguido mais conter os ímpetos dela. 

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Zanja45
Zanja45

Em: 01/05/2025

Quem ousa humilhar Valentina, tendo uma mulher poderosa em sua defesa? Esses assessores estão levando na brincadeira, passando por cima do que pode ou não fazer. - Mas Verena já deixou claro quem é a chefa, portanto está acima deles e eles não podem tomar decisões aleatórias sem consultá - la.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 03/05/2025 Autora da história
Foram mexer justo com quem


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Zanja45
Zanja45

Em: 01/05/2025

Os esforcos de Verena estão indo por agua abaixo, pois o que ela quer abafar estar sempre diante dela. - O que foi aquela mensagem de Valentina bem no momento que se voltava para a conexão com a esposa. - Verena está sendo confrontada sobre os desejos dela o tempo inteiro. kkkk! 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 03/05/2025 Autora da história
Haja força de vontade rsrssr


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Zanja45
Zanja45

Em: 01/05/2025

Rafa vai acabar se tornando uma chata de tanto tentar chamar verena a razão.

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