capitulo oito: despedidas e recomeços
— Doutora Anna, podemos conversar?
Adriana perguntou da porta, com metade do corpo dentro da minha sala e ansiosa por uma resposta. Eu já estava finalizando tudo o que precisava fazer e estava prestes a pegar minha bolsa para ir buscar Cecília na natação.
— Claro, mas vamos demorar com essa conversa? — Perguntei, com um tom formal.
— Não, é que... — Ela parecia estar escolhendo as palavras com cuidado, claramente com algo importante a dizer.
— Não me entenda mal, tenho que pegar Cecília na natação. Caso a conversa se prolongue, preciso avisar Fernanda para que ela a pegue.
— Eu não sei se essa conversa vai demorar, depende de você. Como está o seu tempo?
— Corrido. De qualquer forma, aviso à Fernanda para pegá-la.
Enviei uma mensagem rápida para Fernanda avisando que não conseguiria pegar Cecília. Ela respondeu com um emoji revirando os olhos.
Adriana hesitou por um momento antes de falar novamente, dessa vez com um olhar mais sério.
— Doutora... digo, Anna. — Ela respira fundo — Depois de tudo o que aconteceu com Amanda, eu realmente não vejo mais sentido em continuar trabalhando ao seu lado.
Ah, pronto.
Fiquei em silêncio tentando processar a informação. Eu sabia que algo assim poderia acontecer, pois estávamos mais formais do que nunca uma com a outra, mas eu não esperava que fosse assim... tão rápido. Tem duas semanas que Amanda foi pra São Paulo e o clima entre nós estava tenso, distante, frio. Respirei fundo, tentando controlar a expressão, sem deixar transparecer o quanto aquilo me afetava.
— Adriana... — Comecei, mas parei por um momento, pensando nas palavras certas. — Eu entendo sua posição, mas não posso negar que é uma grande perda. Trabalhamos juntas por tanto tempo, você tem sido uma funcionária valiosa.
— Anna, quando você me contratou... Eu estava em um momento de vulnerabilidade na minha vida e sei que você só fez isso pela Amanda. — Ela olha para cima, os olhos marejados — E nós duas trabalhando acabou dando certo porque... você é uma ótima profissional e eu jamais vou esquecer o que fez por mim e pela minha filha. Aliás, o que você e Fernanda fizeram. — Pontua — Mas eu não consigo continuar... não depois do que aconteceu.
O clima na sala ficou mais pesado, mas sem brigas. Apenas a sensação de um fim inevitável.
Eu olhei para ela, sentindo um aperto no peito, mas mantive a postura.
— Se é isso que você quer, Adriana, eu não vou insistir. Eu não vou forçar uma continuidade que você não deseja.
Ela respirou fundo, aliviada, mas também tensa. Eu percebi que ela não ia voltar atrás.
— Eu só... — ela fez uma pausa, parecendo pesar as palavras. — Eu espero que você entenda. Não sei se é o melhor para mim continuar aqui agora.
Me calei, pois não havia nada para ser dito. A mágoa da nossa vida pessoal estava ali.
— Eu entendo, Adriana. — Respondi, a voz suave. — Vou respeitar sua decisão. Acerte tudo com o RH, diga que vou dispensá-la do aviso prévio.
Ela ergueu uma das sobrancelhas.
— Não quer mesmo que eu cumpra os 30 dias? — Parecia surpresa
Dou um sorriso de canto.
— Arranca logo o curativo de uma vez. — Volto a olhar para tela do computador, não conseguia olhá-la nesse momento.
— Vou embora, doutora. — Ela virou-se para sair, mas parou na porta e olhou para mim uma última vez. — Foi bom trabalhar com você.
Eu nada disse, mas a observei indo embora, o peso da despedida poderia ser maior, se eu não tivesse perturbado a minha psicóloga naquela semana que Amanda foi embora e pedido mais uma hora de sessão extra.
Não era minha culpa.
O fato é que, lembro que demorei a contratar uma secretária, pois não queria ninguém estranho trabalhando para mim. Agora, com novas responsabilidades e dona do escritório, eu precisaria contratar uma com urgência. Mais um processo seletivo ‘mais do mesmo’.
Eu precisava seguir em frente.
Com um suspiro, peguei minha bolsa e mandei uma mensagem para Fernanda, avisando que estava indo direto para casa. Ela respondeu quase imediatamente, perguntando se estava tudo bem. Eu só pude sorrir ao ver o carinho por trás da mensagem. A rotina estava difícil para nós duas, mas o apoio de Fê sempre foi incondicional. Isso era algo que eu valorizava mais do que qualquer coisa que o trabalho poderia oferecer.
Depois de 1h30 de engarrafamento, estacionei o carro na garagem, estranhei meu mini-furacãozinho não vir correndo para me abraçar. Adentrei a cozinha e o cheirinho de coxinhas e asas de frango assadas no forno subiu nas minhas narinas, porém, o som da voz de Fernanda, alta e tensa, chamava mais atenção. Ela estava na cozinha, a bancada cheia de papéis, o pano de prato no ombro, tagarelando ao telefone enquanto mexia em algo no notebook.
— Andressa, eu não acredito que você deixou isso acontecer! — Fernanda estava visivelmente irritada, e seus olhos estavam pegando fogo, como se pudesse queimar a pessoa do outro lado da linha. — A recepcionista foi mexer na nuvem, Andressa! Ela apagou tudo, todos os modelos de petição, todos os dados dos clientes, processos... Sumiu, tudo! Como você deixa um negócio desses passar? Isso é um desastre!
Ela respirou fundo, tentando se acalmar, mas ela não conseguia.
— Eu já liguei para o técnico, para todos os malditos técnicos de informática que conheço. Ninguém pode me atender agora! — Fernanda estava praticamente rosnando, e eu podia perceber a frustração em cada palavra. — Tenho uma audiência importantíssima amanhã! E agora, o que eu faço sem nada disso? Como vou revisar minha defesa sem os documentos certos? Eu tô... eu tô surtando, Andressa!
Eu a observei de longe, entendendo perfeitamente o quão grave a situação estava. Fernanda não era de se desesperar fácil, mas esse problema estava tirando o chão dela.
Eu não sabia se eu falava com ela ou não, se procurava acalmá-la, eu estava com medo de que ela tacasse uma panela em mim só pelo fato de eu respirar perto dela. É, quando a minha esposa ficava nervosa... sai de baixo.
— Eu sei, eu sei — Fernanda respondeu, tentando se acalmar, mas vi que ela ainda estava no desespero, pois elevou sua mão a cabeça, coçando ali. — Não sei, Andressa! Já atualizei... Não posso fazer nada agora... Precisamos de uma solução urgente. Quando você tiver essa solução, me retorna.
Ela desligou o telefone com um gesto brusco, jogando-o em cima da bancada, parecendo aquele vídeo da cantora Anitta quando o microfone não estava funcionando no show, tacando-o longe. Estava claro que ela estava prestes a perder a paciência.
— Fê? — Chamei, me aproximando, tocando seu ombro com suavidade. Ela não parecia perceber que eu estava ali até então.
Ela se virou, forçando um sorriso cansado.
— Você ouviu tudo?
Assenti.
— Você sabe que eu detesto quando isso acontece, né? — ela disse, já se aproximando do forno para retirar as asas de frango. O cheiro estava delicioso, mas o peso da situação ainda a consumia. — E o pior é que não sei nem por onde começar a resolver isso. Como vou fazer minha defesa sem nada disso? Eu paguei por um sistema, com vários modelos de petições, na porr* da nuvem tinha tudo e agora sumiu. SUMIU.
— E a recepcionista? — Perguntei, tentando ser prática, embora soubesse que a raiva de Fernanda estava justificada. — Já conversou com ela?
Fernanda balançou a cabeça, a frustração estampada no rosto.
— Não quero conversar com ela. Vou ser grosseira e não quero isso, mas o que ela pode fazer agora? O que importa é que os documentos desapareceram. O que eu vou fazer?
Ela respirou fundo, tentando se acalmar enquanto se voltava para o fogão. Ela encosta no tabuleiro quente e retira suas mãos em um reflexo rápido.
— Merda!
Termino de tirar as asas de frango do forno, enquanto ela deixa a água abundante cair em sua mão, de forma que alivie a queimadura. Ela se vira pra mim, enquanto seca a mão com o pano de prato:
— Isso é um pesadelo, Anna. Acontece bem quando eu mais preciso estar em controle das coisas. Eu… não sei nem por onde começar a reverter essa situação.
Eu a observei por um momento, tentando entender sua frustração.
— Eu posso te ajudar com o que precisar — disse, mais calmamente, tocando sua mão para transmitir alguma tranquilidade. — A gente resolve, Fê. Mas agora, relaxa um pouco, tá? Eu sei que é urgente, mas você vai achar uma solução.
— Relaxar, Anna? Como vou relaxar? Minha audiência é às 9h. O que eu vou fazer sem os documentos, sem nada? Eu... — ela olhou para as asas de frango, a frustração tomando conta novamente — eu estou sem chão, e o tempo está correndo.
Eu a observei, entendendo que sua frustração ia além do problema com os documentos. Era uma questão de perder o controle, de não saber o que fazer diante de uma situação que parecia fora de suas mãos.
— Deixa que eu termino aqui, amor. Vai tomar um banho para a gente poder jantar, vai. Após o jantar, sentamos e vemos como vamos resolver.
— Como vamos?
— Sim, como vamos. Seu problema é meu também. — Faço um afago no rosto dela — Eu tenho um amigo.
— Ah! Verdade. Aquele amigo... Você pode tentar? Por favor?
— Posso. — Dou um beijo nos seus lábios rapidamente — Agora vai tomar um banho e traga nossa princesa pra jantar. Estou com saudade da minha cria, nem veio me receber hoje — Faço um biquinho e Fernanda abaixa o seu olhar.
— Acho que fui grosseira com ela, Anna. Eu estava atolada de problemas, acho que... — Suspirou — Melhor você falar com Ceci.
— Ei, sabia que nós adultos também podemos pedir desculpas? Se você foi grosseira com ela, se desculpe. Ela vai continuar te amando da mesma forma. E isso nos humaniza para as crianças, tá?
— Anna Florence falando em pedir desculpa? — Ela coloca a mão na boca, fingindo uma indignação
— Ei, só funciona com crianças. — Dou um sorriso — Vai, antes que o jantar esfrie.
O cheiro das asas de frango assadas misturava-se ao aroma de arroz recém-feito e da salada temperada que eu finalizei rapidamente. Era uma coisa comum, Cecília amava asinhas de frango, era a comida favorita dela, mas o clima na cozinha estava pesado. Mandei uma mensagem para o meu amigo hacker e ele prontamente me respondeu, dizendo que teria que ir ao escritório para resolver o problema, marquei com ele após o jantar e fui subir para buscar Cecília, que estava em seu quarto vendo um desenho da Netflix.
— Princesinha? — Digo me aproximando da cama e sentando-me ao seu lado
— Oi, mamãe — Sua voz era meio chorosa, e eu soube na hora que algo estava errado.
— Por que essa carinha? Você não veio me receber quando cheguei, achei que estivesse brincando.
— A mamãe Fê tava brava... muito brava — confessou, sua expressão ficando ainda mais emburrada. — E eu só queria mostrar meu desenho pra ela, mas ela nem olhou…
Ah, Fernanda…
Puxei Cecília para meu colo e a sentei.
— Ah, meu amor, mamãe Fê teve um dia muito difícil no trabalho. Mas não foi sua culpa, tá? Ela tá chateada com um problema, não com você.
— Mas eu queria mostrar pra ela… — Seus olhinhos marejaram. — Ela sempre vê meus desenhos primeiro.
— Sei disso, pequena. E tenho certeza de que, assim que ela sair do banho, vai querer ver tudinho e te encher de beijos.
Cecília brincou com a barra da minha blusa, parecia pensar se acreditava ou não.
— Você acha que sim?
— Eu tenho certeza. — Beijei sua testa. — Agora vem, vamos colocar os pratos na mesa.
Ela concordou e descemos juntas para terminamos de ajeitar tudo. Pouco depois, Fernanda desceu, com o cabelo amarrado em um coque e um moletom confortável, parecendo menos sobrecarregada. Mas quando viu Cecília, parou no meio do caminho, mordeu o lábio e andou direto até ela, abaixando-se para ficar na altura da filha.
— Ei, meu amor… — Sua voz estava suave, cheia de carinho e culpa. — Me desculpa por hoje? Eu estava muito nervosa e nem te ouvi direito… Mas agora eu quero ver seu desenho. Me mostra?
Os olhinhos de Cecília brilharam imediatamente, e ela correu até a sala para pegar o papel. Fernanda olhou para mim por cima do ombro e soltou um suspiro cansado, mas com um leve sorriso de gratidão. Pisquei para ela, em um gesto de “eu disse que ela ia entender”.
Jantamos em família, sem mencionar o ocorrido. Cecília estava tecendo elogios à Fernanda sobre as asinhas de frango, que parecia muito com as que Vovó Débora - mãe de Fê, fazia.
— Mamãe, por que você não come com a mão igual a gente? — Cecília perguntou e Fernanda segurou o riso
— Não gosto de mãos grudentas, filha.
— Assim? — Ela me mostrou as mãozinhas cheias de gordura, aproximando-as da minha boca, automaticamente fiz uma cara de repulsa.
— Não ouse, Cecília. — Digo bem séria pra ela
— Está bem — Ela diz, contrariada
— Sua mãe é patricinha, filha. Até pizza come de garfo e faca — Fernanda não perdia a chance de implicar, então dei o dedo do meio discretamente para ela após sua fala e ela me estirou a língua. Muito adultas sim.
Depois do jantar, colocamos a louça para lavar na lava-louças e Fernanda ficou na sala conosco mexendo no notebook e eu fiquei tentando falar com meu amigo hacker, para que ele pudesse me dar soluções sem que precisasse ir até lá, mas não tinha jeito, ele ia precisar mexer no sistema.
— Cecília, você quer participar de uma aventura agora? — Pergunto entusiasmada pra ela, que rapidamente me olha com curiosidade — Vamos até o trabalho da mainha brincar de advogado, pode ser?
— Mamãe, você vai brincar comigo? — Ela levanta rapidamente e eu assinto que sim, Fernanda olha para mim boquiaberta e balança a cabeça negativamente
— Pega a melhor roupa de advogada que você tiver no seu armário. Vai! - A incentivo e ela sobe as escadas rapidamente. Se tem uma coisa que Cecília amava, era ver a gente trabalhar. Ela vivia pedindo pra ir ao meu escritório e no de Fernanda também.
— Essa vai dar muito trabalho pra gente — Fernanda constata, sorrindo
— Vai colocar uma roupa também, amor. Vamos sair para resolver o seu problema em cinco minutos.
Minutos depois, elas descem. Cecília com o cabelo preso em um coque igual o de Fernanda, com seu blazer preto e maletinha rosa. Era impossível não rir com a cena, realmente Fernanda tem razão: ela ainda ia dar muito trabalho pra gente.
Abro a porta do carro para as razões da minha vida entrarem e dirijo em direção ao escritório de Fernanda, onde Anderson está nos esperando. Minha esposa não parava de rir do jeitinho de Cecília, que fazia perguntas doidas sobre a advocacia a cada minuto. Eu estava rindo da nossa aventura em família, mas preocupada se conseguiríamos recuperar os arquivos de Fê.
Se isso acontecesse na minha firma, haveria um surto coletivo.
Ao chegarmos ao escritório de Fernanda, Anderson já estava nos esperando na entrada. Ele levantou uma sobrancelha ao ver Cecília marchando na frente, segurando sua maletinha rosa com um olhar sério.
Olho para a fachada do escritório da minha esposa. Era menor que o meu, mas tamanho nunca foi sinônimo de competência. Eu nunca conheci uma advogada cível tão perspicaz quanto a Fê. Ela poderia ter seguido uma carreira brilhante na Florence-Baldez, mas escolheu trilhar seu próprio caminho como advogada autônoma – e desde então, tem se saído incrivelmente bem.
O prédio do escritório era de um tom bege discreto, com uma pequena rampa de acesso na entrada e algumas plantas decorativas em vasos, trazendo um toque de acolhimento ao ambiente. À esquerda, uma grande janela com grades horizontais deixava o espaço iluminado, e o calçamento do lado de fora era bem organizado, com faixas de grama intercaladas no piso. Acima da entrada, em um design elegante, destacavam-se os nomes 'Alencar & Vasconcellos - Advogadas Associadas'.
Sempre que venho aqui, sinto um enorme orgulho da minha ruiva. Quando a conheci, ela ainda era uma assistente jurídica insegura com a prova da OAB – e no fim das contas, conseguiu uma nota até melhor que a minha.
Sou interrompida dos meus pensamentos com uma brincadeira de Anderson:
— Bom, pelo menos alguém aqui leva a advocacia a sério — ele brincou, piscando para a pequena.
— Olá, senhor hacker! — Cecília cumprimentou, estendendo a mão para ele de maneira profissional. Anderson segurou o riso e apertou sua mãozinha.
— Olá, senhorita advogada. No que posso ajudá-la?
— Você pode recuperar os arquivos da mamãe Fê? É muito importante! — Ela disse com os olhinhos arregalados, como se fosse uma questão de vida ou morte.
Fernanda suspirou ao lado, cruzando os braços.
— Pelo amor de Deus, Anderson. Diz que você tem uma solução, porque se eu tiver que refazer tudo, vou enlouquecer.
Ele riu, antes de dar um tapinha no ombro dela.
— Calma, doutora. Já vi esse problema antes. A recepcionista apagou os arquivos da nuvem, mas com um pouco de paciência, a gente consegue restaurar.
Fernanda fechou os olhos, visivelmente aliviada, enquanto Cecília olhava para ele como se fosse um super-herói.
— Você é um mago dos computadores? — Ela perguntou, maravilhada.
— Algo assim — ele sorriu, se dirigindo à sala de Fernanda.
Seguimos para dentro do escritório, e enquanto Anderson começava a trabalhar no computador, Cecília escalou a cadeira grande de couro atrás da mesa de Fernanda e se acomodou como se fosse dona do lugar.
— Então, clientes… — ela começou, com um tom sério. — O que posso fazer por vocês hoje?
Fernanda soltou uma gargalhada, passando as mãos pelo rosto.
— Essa menina…
Sentei na poltrona ao lado da mesa, sorrindo.
— Bom, doutora Cecília, estamos com um caso muito difícil. Precisamos recuperar uns documentos importantes.
Ela assentiu, cruzando as mãozinhas sobre a mesa.
— Hum… Vai custar caro.
— Ah, é? E quanto você cobra? — Fernanda entrou na brincadeira.
— Um milk-shake da vaquinha e desenho do Luccas.
Eu nunca vou perdoar Fernanda por ter levado Cecília ao Milky-moo e ter apresentado o melhor milk shake superfaturado do mundo. Sobre o Luccas Neto, prefiro não comentar.
Anderson riu do lado do computador.
— Acho justo.
Fernanda revirou os olhos, mas se inclinou e beijou a testa dela.
— Fechado, advogada.
Enquanto isso, Anderson digitava rapidamente, concentrado na tela.
— Tá quase. Só preciso rodar um programa pra recuperar as versões anteriores dos arquivos. Me deem uns minutinhos.
Fernanda mordeu o lábio, ansiosa. Eu segurei sua mão por baixo da mesa, dando um leve aperto.
— Vai dar certo, amor.
Ela assentiu, apertando de volta.
— Anderson, quer um café? — Fernanda pergunta
— Não, odeio café. Anna me fez odiar isso pra sempre.
Reviro os olhos e ele continua:
— Todos os dias depois do colégio ela queria tomar café. Eu doido por uma coca gelada e essa maluca me levando pra comer bolo mesclado e café na padaria que era perto da escola.
Sorrio com a lembrança.
— Anna, por falar nisso, hmm... queria te perguntar algo há algum tempo, minha mulher também.
— Pode falar.
— Beatriz e Bruna? Sério?
Fê e eu soltamos uma gargalhada ao mesmo tempo.
— Nem me fale, meu amigo! — Digo, colocando as mãos no rosto, segurando a vontade de rir.
— Como isso aconteceu? Só faltavam puxar o cabelo uma da outra na escola.
— Falei para as duas que era tesão acumulado.
Anderson arregalou os olhos e riu alto.
— Agora faz sentido! Mas sério, como isso virou um namoro? Porque, do jeito que eu lembro, elas mal podiam ficar no mesmo ambiente sem sair faísca.
Suspirei, cruzando os braços enquanto lembrava.
— Meses antes do meu casamento com a Fê, a Bia ficou muito mal. Ela não conseguia aceitar que eu ia me casar, estava meio perdida. Acabou enfiada num barzinho, bebendo sozinha, e, por alguma dessas ironias do destino, quem a encontrou lá foi a Bruna.
— Ih, já vi que deu treta... — Anderson murmurou, atento.
— E deu mesmo. — Continuei. — Elas brigaram feio no meio do bar. A Bia já tava completamente fora de si e a Bruna, como sempre, sendo teimosa. Mas, no fim das contas, a Bia estava tão mal que a Bruna acabou levando ela para casa.
Fernanda entrou na conversa, sorrindo de canto.
— E foi aí que tudo começou. Depois daquela noite, elas passaram a conversar mais. Primeiro como amigas, e então, bom... elas foram percebendo o que realmente sentiam uma pela outra.
Anderson balançou a cabeça, ainda absorvendo a informação.
— Então Bruna terminou com a Alessandra por causa disso?
Assenti.
— Sim, mas a verdade é que o relacionamento delas já não estava do jeito que a Bruna queria. A relação estava desgastada, Bruna estava desconfortável... Quando a Bia apareceu daquele jeito, vulnerável, foi como se algo tivesse mudado dentro dela. No fim, Bruna se apaixonou, Bia também, e estão juntas até hoje.
Anderson assobiou baixo, impressionado.
— Eu nunca teria imaginado essas duas juntas. A vida realmente dá voltas. — Ele fez uma pausa, depois olhou para Fernanda. — E você, Fê? Nunca teve ciúmes dessa reaproximação? Afinal, a Bia já teve um passado com a Anna.
Fernanda sorriu com tranquilidade, segurando minha mão sobre a mesa.
— Não. O passado ficou onde devia ficar. Eu confio muito na mulher com quem me casei. A Bia faz parte da nossa história, mas é só isso. O que importa é o que construímos juntas e onde estamos hoje.
Senti meu coração aquecer com a segurança na voz dela. Anderson sorriu.
— Tá vendo, Anna? Você deu sorte. Sua mulher é incrível.
Apertei os dedos de Fernanda, concordando.
— Eu sei. — Respondi, olhando para ela com carinho.
Depois de alguns minutos de silêncio tenso e olhos no computador, Anderson deu um suspiro satisfeito.
— Boa notícia: consegui recuperar a maior parte dos arquivos.
Fernanda arregalou os olhos.
— Conseguiu?!
— Sim, mas não todos. Alguns podem ter sido sobrescritos ou corrompidos, mas o essencial para sua audiência está aqui.
Minha esposa soltou um suspiro aliviado, levando as mãos ao rosto antes de puxar Anderson para um abraço apertado.
— Você salvou meu dia, Anderson.
— Só faço meu trabalho. Mas, olha, sugiro um sistema de backup mais seguro, porque confiar apenas na nuvem pode ser arriscado.
— Vou providenciar isso amanhã mesmo.
Cecília, que acompanhava tudo, ergueu o bloquinho e declarou:
— Caso resolvido!
Fernanda riu e a pegou no colo.
— Sim, minha pequena advogada. Caso resolvido.
Saímos do escritório naquela noite com uma sensação de alívio. O problema de Fernanda estava solucionado, e Cecília estava radiante por ter "ajudado". No caminho de volta para casa, ela adormeceu no banco de trás, exausta da nossa pequena aventura noturna.
Fernanda entrelaçou os dedos nos meus enquanto eu dirigia, seu olhar mais tranquilo.
— Obrigada por tudo, amor.
Sorri para ela.
— Sempre.
Quando chegamos em casa, já eram mais de 01h da manhã. Confesso que eu estava exausta e só precisava de um banho. Deixei que minha esposa se encarregasse da tarefa de levar Cecília no colo até o quarto e fui tomar uma ducha rápida, eu estava no automático de tão cansada.
Acabei o banho e deitei em nossa cama, não demorou muito para Fernanda chegar recém-banhada e aconchegar-se ao meu lado. Ela me abraçou sendo a conchinha maior e eu me deixei levar pelos carinhos dela, que aos poucos, foram ficando um pouquinho mais ousados, ela passava as unhas pela minha coxa e terminava na minha bunda. Seus toques eram lentos, estavam explorando cada pedacinho do meu corpo. Sua respiração na minha nuca me deixava mais arrepiada ainda e mesmo exausta, cada vez que eu sentia o arranhar de suas unhas na minha pele, meu corpo se arrepiava.
Fechei os olhos e soltei um suspiro pesado, pude sentir o sorriso que ela deu nesse momento, mesmo sem observá-la.
— Fê... — murmurei, meio entre o sono e o desejo.
Ela riu baixinho contra a minha nuca, deixando um beijo suave ali antes de murmurar de volta:
— O quê, amor? Tô só te mimando...
A voz dela soou baixa, rouca, me fazendo abrir os olhos, mesmo eu lutando contra o cansaço. Virei um pouco o rosto para encará-la por cima do ombro e me deparei com aquele sorriso lindo dela, cheio de intenção.
— Sei bem o que você tá fazendo... — sussurrei, sentindo os dedos dela subirem um pouco mais pela minha coxa.
Ela se inclinou, roçando os lábios na minha pele, enquanto sua mão direita ainda deslizava pelo meu bumbum.
— E isso é um problema?
Sorri, balançando a cabeça. O problema era que eu estava cansada demais para acompanhar o ritmo dela, mas, ao mesmo tempo, queria aproveitar o momento. Me virei para encará-la de frente, encontrando aqueles olhos azuis brilhando no escuro do quarto.
— Você não se cansa nunca, né? — provoquei, deslizando a mão pelo braço dela.
Fernanda sorriu, me puxando mais para perto até que nossas pernas estivessem entrelaçadas.
— Quando se trata de você? Nunca. Mas sei que você está cansada, então vou ficar aqui agarradinha com você até você dormir.
Ela me abraça e enterra seu rosto na curvatura do meu pescoço, dou um sorriso e fecho os olhos, aproveitando o carinho que ela faz na minha nuca.
— Eu te amo, Anna.
— Eu também te amo, amor.
Fim do capítulo
Esse capítulo parece não ter nada demais, mas começa a marcar o próximo conflito da história. Alguém consegue adivinhar o que é?
Sim, eu amo dar susto em vocês e deixá-las na espectativa rs
Qualquer dúvida: @rodriguesnathh no insta
Beijos!
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Mmila
Em: 01/05/2025
Senta que lá vem BO.
Momentos de ternura antecedem alguma coisa.....
O que você vai aprontar autora?!?!?!?!?
nath.rodriguess
Em: 01/05/2025
Autora da história
Ah, eu vou aprontar com toda certeza! KKKKKKK
Aguardem
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nath.rodriguess Em: 03/05/2025 Autora da história
fiquem calmas ksksks