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  • capitulo sete: onde dói de verdade

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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

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Palavras: 6250
Acessos: 756   |  Postado em: 23/04/2025

capitulo sete: onde dói de verdade

 

 


No dia seguinte, eu estava no Fórum da Leopoldina, na Zona Norte do Rio para uma audiência, meu cliente estava aflito e eu procurava acalmá-lo. Um jovem de 19 anos que ao dirigir alcoolizado, foi pego em flagrante pelos policiais, que perguntaram se ele não tinha um ‘jeitinho’ para não ser preso. Como meu cliente não tinha e ameaçou denunciar os policiais, foi preso em flagrante e ainda colocaram o crime de corrupção ativa para cima do meu cliente, como se ele tivesse oferecido dinheiro aos policiais.  


— Fica tranquilo, Júnior. Nossa defesa é sustentável. 


— Doutora, eu confio na senhora. Mas isso não me deixa menos nervoso...  


— Vai dar certo. Confia. — Pisco pra ele  


Sinto uma presença atrás de mim e ao me virar, meus olhos se arregalam surpresa.  


— Olha só quem eu encontro — disse Andressa, cruzando os braços 


Solto um suspiro discreto e dou um sorriso amarelo, sem saber exatamente como iniciar a conversa. Andressa, porém, não demorou a quebrar o gelo. 


— Eu estou do seu lado, Anna. E estou me separando dela. — Declarou, sem rodeios. 


Oi? 


Confesso que eu estava surpresa, ela sempre me pareceu muito apaixonada. Arqueei uma das minhas sobrancelhas, buscando uma explicação e Andressa não demorou a continuar: 


—  A acusação dela contra você foi a gota d’água. Depois daquilo, tivemos uma briga feia. Mas, sendo bem sincera, já fazia um tempo que eu estava repensando essa relação. Só que dessa vez foi o fim para mim. 


Senti meu peito doer. Não acredito que eu era responsável por isso também. Entretanto, Andressa foi rápida em descartar essa culpa.  


— Não se martiriza, Anna. Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Eu cansei de passar pano para as atitudes da Adriana. Vai entrar em audiência agora?  


Balanço a cabeça afirmativamente.  


— Vou te esperar aqui então, vamos tomar um café.  


O pregão chama o nome do meu cliente e tenho que entrar com ele, mas disse para Andressa que iria aceitar o convite.  


A audiência transcorreu normalmente, fui bem argumentativa com o Juiz na resposta à acusação e o MP ficou com cara de tacho. Meu cliente se mostrou orgulhoso e, em 30 dias, o juiz ia proferir a sentença, mas saímos de lá com gostinho de vitória.  


Antes de sair, o promotor de justiça me cumprimentou com um aperto de mão e sorriu pra mim.  


— Doutora, advocacia é muito pouco pra você. Adoro como ministra seu curso, a acompanho nas redes sociais. Já pensou em se juntar à Promotoria? 


Dou um sorriso, balançando a cabeça negativamente  


— Eu amo a defesa. É desafiador. 


Conversamos mais algumas amenidades e, quando passei pela porta, Andressa já me esperava. 


— Vamos? — Ela diz  


— Vamos. 


Seguimos até uma cafeteria próxima ao Fórum, o ambiente era tranquilo e acolhedor. Tinha um aroma de café recém passado. Andressa pediu um capuccino e eu um expresso. Assim que a atendente trouxe nossas xícaras, Andressa suspirou antes de falar: 


— Adriana e Paola decidiram mandar Amanda pra São Paulo. Ela aceitou a proposta do Corinthians. 


Pisquei, absorvendo a informação. Eu sabia que isso ia acontecer, era bem mais fácil expulsar o problema do que resolvê-lo. Amanda merecia ir para São Paulo, mas esperava que fosse com alegria, não como se ela estivesse sendo expulsa da própria casa, pois era isso que parecia.   


— Quando ela vai? — perguntei, a minha voz mais baixa. 


— Amanhã — respondeu Andressa, mexendo distraidamente o capuccino com a colher. — E, Anna... Ela não tá nada bem. Só fica no quarto. Desde que tudo aconteceu, colocaram ela de castigo severo, não sai nem para jogar bola. Tá completamente perdida. 


Senti um aperto no peito. Antes de tudo isso acontecer, Amanda sempre foi uma pessoa importante para mim.  


— Você deveria ir vê-la — sugeriu Andressa. — Você sempre foi o porto seguro dela. A verdade é que Adriana e Paola sempre foram mães meio negligentes. Elas amam a Amanda, mas não sabem lidar com ela. E, sinceramente? Eu cansei de ser a madrasta compreensiva.  


Fiquei em silêncio por um instante. As palavras dela ecoavam na minha cabeça e por mais que tentasse manter distância de Amanda e dos problemas que vinham com ela, não podia ignorar o que eu estava ouvindo. Ela ia ficar três anos em São Paulo.  


Andressa então me olhou diretamente e perguntou:  


— Como tem sido trabalhar com a Adriana depois de tudo isso? 


Dei de ombros. 


— Normal. Trato ela como qualquer outro funcionário. A amizade acabou, Andressa. E, por mim, não tem mais volta. 


Andressa assentiu, como se já esperasse essa resposta. 


— Então acho que tá na hora de você tomar uma decisão sobre a Amanda também. 


— Minha decisão é deixá-la ir, acho que realmente ela precisa tomar as rédeas da vida dela, mas longe de mim. 


— Não abandona ela, Anna. Querendo ou não, você é a única pessoa sensata na vida dela. — Ela coloca as mãos em cima das minhas, tentando me passar conforto.  


— Eu não sei, Andressa... Não quero que ela se machuque e Fernanda não está feliz com isso, exatamente. E não tiro a razão dela. — Suspiro — Agora me fala de você: como você está com a separação? Fernanda não me falou nada sobre você querer se separar. 


— Eu não contei pra Fê. Lá no escritório não dá para a gente conversar muito, é sempre muito trabalho o tempo todo e ela está atolada com um monte de coisa. Acho que ela virou você: “work, work, work, work, work” — Ela diz, imitando uma música da Rihanna.  


Sempre palhaça, mas ainda assim continua: 


— Anna, eu de certa forma, estou aliviada. Eu já queria sair dessa relação há algum tempo, acho que não temos mais a química que tínhamos, o amor foi se acabando na rotina, sabe? E com essa situação de Amanda, eu não gostei de Paola estar sempre presente e principalmente por Adriana estar dando razão à ela. — Me remexo na cadeira nesse momento, desconfortável — Eu acho que... Tá rolando alguma coisa ali e, claro, o corno é sempre o último a saber.  


Ela dá um sorriso amargo. 


— Você tem certeza disso? — Pergunto, bebendo mais um gole da xícara de café.  


— Amiga, eu preferi terminar a relação antes de ter certeza. — Ela sorri amarelo e abaixa o olhar. 


— E agora? O que você pretende fazer? — perguntei, tentando suavizar um pouco o peso da conversa. 


Ela deu de ombros. 


— Seguir minha vida. Focar no meu trabalho, talvez viajar um pouco. Preciso de um tempo só pra mim. Eu saí da casa dela ontem mesmo. O que ela fez com você e principalmente, com Amanda, não tem perdão. Não tinha motivos para bater na menina daquele jeito.  


Assenti, compreendendo. 


— Você merece ser feliz, amiga.  


Ela sorriu de lado, mas seu olhar voltou a ficar sério. 


— Mas, e você? Vai ver a Amanda antes dela ir? 


Mordi o lábio inferior, hesitando. 


— Não sei... Acho que não. 


— Anna... — O tom dela era meio repreensivo, meio suplicante. — Eu sei que você quer manter distância, mas você também sabe que isso vai machucar a Amanda mais do que qualquer outra coisa. 


Suspirei, desviando o olhar para a rua através do vidro da cafeteria. Era difícil admitir, mas Andressa tinha razão. 


— Vou pensar. 


Ela apenas assentiu, sem pressionar mais. 


Conversamos mais algumas amenidades, coisas que advogados falam quando se juntam. Ao sairmos, nos despedimos com um abraço rápido. 


— Se cuida, Anna. 


— Você também, Andressa.  


Caminhei de volta ao escritório sentindo um peso estranho no peito. A ideia de ver Amanda uma última vez antes da viagem me atormentava mais do que eu gostaria de admitir. 


Mas, no fundo, eu sabia que acabaria indo. 


De volta à Florence-Baldez, Adriana me passou alguns recados e eu respondi de forma cordial, diferente do que éramos. A amizade já não existia mais. Agora, éramos apenas colegas de trabalho e, para mim, estava tudo bem assim. 


Passei o restante do dia resolvendo pendências do escritório, revisando petições e coordenando os associados sob minha supervisão. Mantive a mente ocupada, tentando ignorar a inquietação que Andressa tinha plantado em mim. Mas, conforme as horas passavam, aquela conversa na cafeteria voltava à minha cabeça. 


Amanda ia embora no dia seguinte. 


Eu podia simplesmente ignorar, seguir minha vida como se isso não fosse nada demais. Mas eu sabia que era. E sabia que, se não fosse até ela agora, provavelmente me arrependeria depois. 


Antes do expediente acabar, pedi que Adriana fizesse algumas coisas depois do horário só para que eu pudesse ir ver Amanda, não queria que ninguém escutasse a nossa conversa. Peguei minhas coisas e saí do escritório sem pensar muito. Meu carro seguiu quase no piloto automático até a casa de Adriana. 


Ao chegar, hesitei diante da porta. Toquei a campainha, mas ninguém me atendeu. Se o que Andressa me disse for mesmo verdade, ela não ia querer atender ninguém mesmo. Tentei abrir a porta da sala, mas estava trancada. Resolvi ligar para o seu telefone, mas chamava e ninguém atendia. Peguei algumas britas que estavam na calçada da obra do vizinho e joguei em sua janela.  


Alguns segundos depois, vejo a janela abrir e ela olhar surpresa ao me ver. Ela fez um sinal com a mão para que eu aguardasse e eu fui em direção à porta.  


A porta se abriu devagar, e Amanda apareceu. Ela parecia cansada, abatida. Os olhos estavam vermelhos, aquilo já parecia ser natural dela ultimamente e isso me deixava mal. 


Ela me encarou por um momento, como se estivesse tentando entender se eu era real ou não. 


— Você veio... 


— Eu vim. 


Amanda deu um passo para trás, abrindo mais a porta. 


— Entra. 


Passei por ela e entrei em sua casa. O ambiente estava escuro, as cortinas fechadas. Ela se sentou no braço do sofá, me olhando como se esperasse que eu dissesse alguma coisa. 


Mas, por um instante, tudo que fiz foi observá-la. 


— Como você está? — perguntei, finalmente. 


Ela soltou uma risada sem humor. 


— Como você acha? Você me abandonou ontem. 


Suspirei, sentando-me ao lado dela. 


 — Amanda... Entenda uma coisa, eu não tive como lhe defender. Suas mães acham que eu alimentei algo em você, mas eu não me recordo de ter te prometido algo.  


Amanda cruzou os braços e me encarou, o maxilar travado, os olhos vermelhos não só de choro, mas de raiva. Uma raiva contida, prestes a explodir. 


— Sabe o que mais me fode nessa história toda, Anna? É que você sabia. Sabia exatamente o que eu vivia naquela casa. Sabia como elas são. Sabia que eu me sentia sozinha o tempo inteiro. E mesmo assim, você foi embora. 


Fiquei em silêncio, mas ela não queria silêncio. Ela queria gritar. E gritou. 


— Você foi embora, porr*! Me deixou lá! Sozinha com aquelas duas loucas! Me diz, que tipo de pessoa faz isso? Depois de tudo o que a gente viveu, depois de tudo o que você construiu comigo... você simplesmente virou as costas! 


Ela andava pela sala, com as mãos na cabeça. A voz dela estava embargada, mas ela não chorava. Só cuspia a dor como dava. 


— Eu sei que você nunca me prometeu nada. Nunca disse que me amava como mulher, nunca disse que ia ficar comigo. Mas você sabe que amor não se promete, Anna. Amor se demonstra. E você demonstrou, caralh*! Todo santo dia! 


Ela me olhou como se esperasse que eu a contradissesse, mas eu só ouvia.  


— O jeito como você falava comigo... o jeito que você se preocupava... os conselhos, o cuidado, o olhar. Aquilo era amor pra mim. E não era uma ilusão barata, não! Eu fui me apaixonando por você pelo jeito, não por uma ideia. Porque você era tudo o que eu nunca tive. Porque você tava ali quando ninguém mais tava. 


A voz dela começou a falhar, mas ela não parou. 


— Meus amigos? Já cansaram de mim. Meus namoros? Nunca deram certo, ninguém me aguenta. E aí vem você... com seu olhar de quem entende, com seu colo, sua calma, sua porr* de estabilidade... me deixa completamente apaixonada e depois faz o quê? Vai embora. Me deixa com duas mulheres que mal sabem me abraçar. 


Ela deu uma risada seca. 


— E você ainda quer me dizer que “não teve como me defender”? Que “não é minha salvação”? Ah, me poupa, Anna. Eu não sou mais criança. Eu entendo o que eu sinto. E entendo que você não sente o mesmo. Mas o mínimo que você devia ter feito era ficar. Pelo menos por mim. Até eu conseguir ir embora com dignidade. Mas não. Você saiu de fininho, de mãos dadas com a Fernanda, como se eu fosse um problema que não te pertence. 


Ela parou, respirando fundo. Me olhou com os olhos cheios de raiva. 


— E agora quer vir aqui fazer o quê? Dizer que vai sentir saudade? Dizer que torce por mim? Guarda essa merd* pra você. Porque o que eu precisava... era que você tivesse ficado. Me defendido. Só isso. 


Eu me levantei rapidamente, meu rosto estava todo tenso, minhas mãos trêmulas, minha voz embargou, mas eu não deixei as lágrimas caírem, tentei segurá-las ao máximo para falar de igual para igual com ela. 


— O problema não é o que você sente, Amanda! O problema é ser inconsequente! Você age como se o mundo devesse entender você o tempo todo, como se tudo girasse em torno do que você quer, do que você sente... mas não é assim que funciona! 


Respirei fundo, me aproximando dela, mas ficando duas vezes maior para indicar autoridade. 


— Sair, beber, fumar, ser presa! Isso tudo é o reflexo de uma dor que você se recusa a tratar. E sabe o que dói mais? É ver que nada do que eu fiz por você te impediu de se afundar. Eu tentei! Eu tentei tanto, Amanda! Eu te tratei como se fosse minha filha. Eu te ensinei valores, te ensinei a lutar, a respirar fundo, a escolher o certo... Mas você simplesmente... enfiou tudo no rabo!  


Ela arregalou os olhos, abrindo sua boca para falar, mas eu ergui as mãos, cortando seu impulso. Eu estava cansada daquelas impulsividades. Se ela fosse realmente embora, teria que crescer. 


— Você me obrigou a me afastar. Apareceu na minha casa quando eu pedi pra não aparecer. Fez escândalo. Gritou. Disse pra todo mundo o que sentia por mim, como se minha vida fosse um palco. Tentou me beijar, Amanda. E depois me mandou uma porr* de um nude como se eu fosse qualquer uma! DENTRO DA MINHA CASA, COM A MINHA MULHER TE ACOLHENDO.  


Gritei essa última parte, pois minha voz serena estava absolutamente trêmula, eu não tinha mais forças, mas eu precisava ser dura. Ela abaixou a cabeça por um segundo, mas ainda assim, eu continuei:  


— Você acha mesmo que isso não contribuiu pro meu afastamento? Eu fiquei com medo, Amanda. Medo de você. Medo do que eu tava alimentando sem perceber. Medo de destruir minha família, meu casamento, a mim mesma. Medo de destruir você também ou você se autodestruir e fazer uma besteira. E ainda assim... eu fiquei calada. Eu só me afastei. 


As lágrimas começaram a cair do meu rosto e eu comecei a odiar cada segundo daquela conversa. Eu estava vulnerável e se tem uma coisa que eu odeio na vida, é estar vulnerável na frente de alguém.  


— E sabe o que é pior? É sentir tudo isso e ainda assim me culpar. Porque no fundo... eu nunca quis te machucar. Nunca quis que você se sentisse abandonada. Você foi importante pra mim. É importante pra mim. Mas você acha que eu sou de ferro? Que eu não quebro?  


Ela estava estática, me olhando como se nunca tivesse me visto assim – e talvez não tivesse visto mesmo – mas, naquele momento, eu já tinha perdido minhas forças.  


— Eu tentei ser forte por você, por todo mundo. Eu fui sua fortaleza, seu escudo, sua bússola. Até da cadeia eu te tirei. Mas ninguém nunca me perguntou se eu tava bem com a situação. Todo mundo só me julgou! Ninguém nunca cuidou de mim, quis saber como eu estava, só a Fê! Mesmo não gostando da situação, mesmo aturando o que você fez debaixo do nosso teto.  Nem você perguntou se eu estava bem, o que eu achava, o que eu sentia. E agora eu tô aqui... esgotada... tentando te salvar mais uma vez, mesmo depois de tudo.  


Me calei, respirando fundo, mas as mãos ainda tremiam pra caralh*. Limpei meus olhos rapidamente, tentando voltar a ter qualquer resquício de autocontrole, mas já era tarde. Eu que tentava o tempo todo ser uma fortaleza, estava desabando naquele momento.  


Foi quando Amanda se aproximou devagar, receosa. Ela sentou ao meu lado no chão, que era onde eu já tinha escorregado quando estava sem forças. Ela balançou a cabeça, engolindo seco. 


— Eu não queria... eu não queria te ver assim. Você nunca chora... Você quem me ensinou a ser forte. Não chora por minha causa, por favor. 


Eu ri dolorosamente. 


— Porque eu aprendi a não chorar. E ensinei você a mesma coisa. Mas olha pra mim, Amanda. Olha bem. Isso aqui é o que sobra quando a gente segura tudo por tempo demais. Eu já falei pra você tudo o que eu passei na minha vida, todas as coisas que eu tive que fazer para ser a Anna. É uma pena que você não aprendeu nada ou fui eu quem te ensinei errado? Ou simplesmente não deveria tê-la ensinado e sim deixado para suas mães? Eu acho que fico com a terceira opção. 


Amanda hesitou, suas lágrimas caíam também.  


— Me desculpa por ter feito tantas besteiras.  


— Eu não preciso de desculpas, eu preciso que você haja como uma adulta e conserte a sua vida.  


Ela assentiu, abaixando o olhar. 


— Eu queria ser forte como você. 


— Você pode ser. Mas do jeito certo. Não fugindo dos seus problemas ou tentando anestesiá-los com escolhas ruins. 


Seu corpo tremia levemente, e percebi que ela estava se segurando para não chorar. 


— Você ainda acredita em mim? 


— Se eu não acreditasse, não estaria aqui. 


Ela esboçou um sorriso triste. 


— Então eu vou tentar. Não por você... mas por mim. 


— É assim que tem que ser. 


O silêncio nos envolveu novamente, estava pesado, ela mexia nos próprios cabelos e isso era um dos sinais que ela estava nervosa, eu a conhecia bem. Ela queria dizer mais alguma coisa. 


— Pode dizer o que quer dizer — digo, cansada.  


— Eu... Eu queria pedir uma coisa — Amanda sussurrou, hesitante. 


— O quê? 


— Pode me abraçar? Só dessa vez. 


Minha respiração vacilou por um segundo. 


Havia um tempo em que abraçar Amanda era algo natural. Mas agora... Era diferente. Um passo arriscado. Uma linha tênue entre carinho e algo que ela poderia interpretar de forma errada. 


Me aproximei devagar, hesitante. Amanda não esperou. Se jogou nos meus braços, apertando o rosto contra meu ombro, segurando-me como se eu fosse a última coisa segura no mundo dela. 


Ela chorou. 


E, dessa vez, eu não a impedi. 


Passei os braços ao redor de seu corpo e apenas fiquei ali, sentindo seu choro silencioso contra mim. 


— Você vai ficar bem, Amanda — murmurei contra seus cabelos. 


Ela assentiu contra meu peito, soluçando. 


Quando finalmente se afastou, seus olhos estavam ainda mais vermelhos, mas seu semblante parecia um pouco mais leve. 


— Vai ser estranho sem você por perto — murmurou. 


— Você vai se acostumar. E vai perceber que pode se virar sozinha. 


Ela sorriu, enxugando o rosto. 


— Eu espero. 


— Eu gostaria de fazer algo por você, mas preciso que aceite. E que confie em mim.  


— O quê? — Ela levanta a cabeça, curiosa. 


Vou até o meu telefone e passo um contato para o whatsapp dela. 


— Esse telefone é de uma psicóloga, ela é de São Paulo. É próxima ao CT do Corinthians onde você vai ficar. Entra em contato com ela, marque uma consulta e me manda o pix que eu vou pagar. Ela é especialista em pessoas em situação de vulnerabilidade psíquica, atende mulheres LGBTQIA+. Não fale com ninguém que estou te ajudando nisso, por favor. 


Amanda deixa algumas lágrimas caírem e me abraça novamente, faço cafuné em seus cabelos e a deixo chorar. Sei o quanto ela está vulnerável nesse momento. 


— Você não existe, Anna Florence. — Ela sorri — É impressionante o quanto você consegue ser mil vezes melhor do que a minha mãe. 


Beijo o topo da sua cabeça, mas ainda assim chamo a sua atenção: 


— Eu não sou melhor que a sua mãe, Amanda. Só temos jeitos diferentes de agir, mas eu tenho certeza que ela te ama e quer o seu bem.  


Ela revira os olhos. 


— Ela fez até a Andressa ir embora. As duas estão se separando, você sabia?  


Assinto com a cabeça.  


— Esse é um assunto das duas, história das duas. Não vamos nos meter nisso, ok? 


— Minha mãe traiu a Andressa com a minha mãe Paola, exatamente como ela fez quando eu tinha 4 anos. 


Paro alguns instantes, colocando a mão nas minhas têmporas. Então Andressa estava certa? 


— Como você sabe disso? — Pergunto olhando suas feições, tentando ter certeza que ela não estava mentindo. 


— Um dia quando cheguei do treino, as duas estavam na cozinha... Elas não me ouviram chegar e estavam... hm... como posso dizer? Transando. 


Tampo os ouvidos. Não queria mais ouvir aquilo. Não era da minha conta. Entretanto, meu sangue ferve, pois as duas eram hipócritas. Odiava gente hipócrita. 


Amanda percebe minha reação e solta uma risadinha. 


— Desculpa, eu sei que você não queria saber disso. 


Tiro as mãos dos ouvidos e respiro fundo, tentando organizar meus pensamentos. 


— Não queria, mas agora já era. — Dou uma risada também, cúmplice. Como éramos antes. 


Ela me observa por alguns segundos, parecendo avaliar minha expressão. 


— Você vai contar pra Andressa? 


Cruzo os braços, ponderando. 


— Eu não sou mensageira de traição, Amanda. Esse é um problema delas. Se Andressa já foi embora, talvez já saiba. — Não quis contar sobre minha conversa com Andressa 


Amanda solta um suspiro longo, encarando o celular acessando o instagram da psicóloga.  


— Você tá certa. Não devia nem ter falado nada, só... — ela engole em seco — Eu fico com raiva. Ela sempre exigiu tanto de mim, sempre quis que eu fosse perfeita, enquanto ela mesma faz esse tipo de coisa. Ela não, elas né?  


— Sei que é difícil, mas não carrega essa raiva com você. Ela não te ajuda em nada. 


Amanda assente devagar, mas sei que ela ainda está processando tudo. 


Me levanto, pegando as chaves do carro. 


— Preciso ir. Seu voo é cedo, e você precisa descansar. 


Ela me acompanha até a porta, e antes que eu saia, segura minha mão por um breve instante. 


— Obrigada, Anna. Por tudo. E me desculpa... por tudo também. 


Aperto sua mão de volta e ofereço um pequeno sorriso. 


— Se cuida, Mands. — A chamo pelo apelido que usamos uma com a outra. 


E então saio, sentindo o peso daquela conversa se acomodar dentro de mim. 


No caminho de volta, minha mente se divide entre o alívio por saber que Amanda finalmente está disposta a buscar ajuda e a inquietação pelo que descobri sobre Adriana. Hipócrita do caralh*. Estaciono o carro na garagem e vejo as duas mulheres da minha vida brincando no jardim.  


— Mamããããe!  


Meu pinguinho de gente vem correndo na minha direção empolgada, como sempre. Abro os braços para recebê-la e a pego em meu colo, rodopiando-a no ar.  


— Senti tanto a sua falta, princesinha. Se divertiu muito na festa do pijama? 


 — Mamãe, foram várias festas do pijama! Eu fiquei na piscina, fui no cinema e a mãe da Lari deu muitoooo sorvete pra mim — Ela abre as mãos, gesticulando o quando de sorvete ela comeu.  


Fernanda veio na minha direção e me deu um beijo rápido nos lábios. Fomos para dentro com Cecília, que não parava de me contar sobre o final de semana na casa da amiguinha. Ela realmente estava empolgada e me fazia prestar atenção em cada detalhe.  


Chegamos à sala, onde Cecília estava agora saltitando de um lado para o outro, animada com suas histórias, enquanto Fernanda nos observava, o sorriso suave, mas atencioso. Porr*, estar em casa era... aconchegante. Só que dentro de mim ainda havia aquela sensação de inquietação, meus pensamentos em conflito. Eu sabia que precisava conversar com Fernanda, dividir o peso que carregava desde o dia anterior.  


— Fê, preciso te contar uma coisa… — começo, chamando sua atenção enquanto ela se aproxima, tocando suavemente minha mão. Ela me olha com uma expressão curiosa, sentindo a mudança no meu tom.  


— O que aconteceu, amor? — Fernanda pergunta, a preocupação começando a surgir em seus olhos. 


— Eu fui ver a Amanda. — solto de uma vez. 


O sorriso nos lábios da Fernanda vacila. Ela tenta manter a expressão neutra, mas eu conheço cada microexpressão dela. A sobrancelha ergueu um pouco, a mandíbula travou. 


— Você foi... ver a Amanda? — repete, devagar, como se precisasse digerir cada sílaba. 


Assinto, passando a mão no rosto, cansada. 


— Sim. Eu precisava. Encontrei Andressa no Fórum hoje e ela me disse que Adriana e Paola irão mandar Amanda pra São Paulo amanhã. Não dava para eu deixá-la ir embora daquele jeito. Eu... eu precisava encerrar isso de um jeito certo, sabe? 


— Certo pra quem, Anna? — a voz dela sai baixa, mas afiada. — Pra você? Pra ela? Porque pra mim, isso não parece certo. Parece mais uma vez você priorizando ela. 


— Não é isso, Fernanda. Não é prioridade, é... responsabilidade. Ela tá indo embora amanhã. Tá frágil, desmoronando. Ela precisava de um ponto final, e eu também. 


Fernanda cruza os braços e se afasta alguns passos, o olhar agora mais duro. 


— Você chorou? 


— O quê? 


— Lá. Com ela. Você chorou? 


— Eu... — hesito. — Chorei. 


Ela ri. Um riso amargo, quase debochado. 


— Percebi assim que chegou que havia chorado. Legal. Porque comigo você sempre segura. Sempre diz que “precisa manter a postura”, que “não quer me preocupar”. Mas com ela você se desmancha. 


— Fernanda, não faz isso. Não joga assim. Eu não fui lá pra escolher entre vocês. Eu fui lá pra fechar uma ferida. 


— E abriu outra aqui. 


Aquilo me atinge como um soco no estômago. Tento me aproximar, mas ela dá um passo pra trás. 


— Você fez isso sem me consultar. 


— Fê, não era sobre consultar. Era algo que eu precisava resolver. 


— Claro. Claro que era. A super-heroína da Amanda resolve tudo. Sempre. 


Ela dá uma risada irônica e balança a cabeça, andando de um lado pro outro como se tentasse conter a própria fúria. 


— Eu não acredito que depois de tudo, depois do que ela fez com a gente, você ainda foi atrás. 


— Não fui “atrás”. Eu fui encerrar uma história mal resolvida. Ela tá indo embora. Eu precisava disso. 


— Você precisava. E eu? Eu também precisava de você aqui, comigo. Com a nossa filha. Mas você tava lá, com ela. 


— Fernanda... 


— Tá parecendo que essa menina te controla até quando tá saindo da sua vida. Você foi lá se despedir ou se certificar que ela ainda sente sua falta? 


— Você tá sendo cruel agora. Você sabe que eu jamais faria isso ou teria esse tipo de pensamentos sobre Amanda. Não sinto absolutamente nada por ela além de uma preocupação fraternal. Achei que me conhecesse.  


— Eu? Cruel? Não mais cruel do que você foi comigo. — ela rebate na hora. — Você não me contou. Você não disse que ia. Sabe por quê? Porque no fundo você sabia que eu não ia aceitar. 


— Eu sabia que você ia ficar puta. Que ia pensar mil coisas, mas não que iria acreditar nos seus próprios pensamentos. 


— E você achou melhor esconder. Obrigada, Anna. Sério. Incrível saber que você prefere proteger a Amanda de um sofrimento do que a mim. 


— Eu não escondi, eu estou lhe contando. Você queria que eu fingisse que nada aconteceu? Que eu simplesmente ignorasse? 


— Não. Eu queria que você me colocasse na mesma altura. Só isso. 


O silêncio fica pesado. Ela respira fundo, tentando controlar a raiva. Mas os olhos dela continuam em chamas. 


— Você abraçou ela? — Ela pergunta e pela intensidade do azul em seus olhos, ela estava com ciúmes. 


— Fernanda... 


— Me responde! 


— Sim. Eu abracei. 


Ela fecha os olhos com força, como se tivesse levado um tapa. 


— Quantas vezes mais eu vou ter que disputar seu coração com os fantasmas que você insiste em manter vivos? 


— Não são fantasmas. São feridas que eu tô tentando cicatrizar. 


— E vai acabar deixando as minhas abertas no processo. 


Ela se vira, indo até o corredor. Eu vou atrás, mas ela ergue a mão, parando no mesmo instante. 


— Hoje, não. Eu preciso de espaço. 


— Fê... 


— Vai cuidar da sua consciência. Depois a gente vê se ainda tem espaço pra mim dentro dela. 


E então ela entra no quarto e fecha a porta. 


Fico ali parada, com a respiração presa e o peito doendo. Cecília aparece na sala naquele momento, com um livrinho na mão. 


— Mamãe? Cadê mainha Fê? 


Me abaixo, sorrindo fraco, tentando não deixar a tristeza escorrer. 


— Ela foi descansar, meu amor. Vem cá, a mamãe lê pra você. 


Peguei Cecília no colo e suspirei, sentindo o peso do que acabei de fazer. Mesmo quando a intenção é certa… às vezes o estrago é inevitável. 


Depois que coloquei Cecília pra dormir — um processo mais longo que o normal, com ela pedindo “só mais uma história” três vezes — voltei pra sala vazia. A casa estava em silêncio, mas minha cabeça não. 


A briga com Fernanda me deixou mal. E piorava cada vez que eu lembrava do olhar dela... aqueles azuis machucados, feridos. O tipo de dor que vem quando você espera ser prioridade e descobre que não foi. 


Merda. 


Fui até o escritório. Peguei o copo pesado de vidro e servi o whisky sem pensar muito. O líquido do macallan 12 desceu queimando, e aquilo deveria ajudar a me acalmar. Claro que não ajudava. Mas eu me enganava bem o suficiente. 


Peguei o celular. Algumas mensagens de Roberta sobre um caso de revisão criminal — ela perguntava sobre a nova estratégia para apresentar no tribunal. 


“Vou enviar as imagens das câmeras e pedir perícia.” Enviei. 
“Tudo bem. Boa noite, Anna.” 
“Boa noite, Robertinha. Obrigada por segurar as pontas.” 


Bloqueei a tela. Apoiei o copo meio vazio no braço da espreguiçadeira. A noite estava fresca, algumas folhas das árvores do vizinho vieram para o meu quintal com o vento. Fechei os olhos por um segundo. Só por um segundo.  


Minha garganta embargou. Raiva de mim mesma. Eu odiava brigar com Fernanda. Não costumávamos brigar muito, mas quando brigávamos parecia que faltava algo em meu peito. 


A culpa, o whisky e o cansaço tomaram conta do meu corpo. Adormeci ali mesmo.  


🌙 


Escutei a porta de vidro se abrir com cuidado, senti passos vindo na minha direção, mas não consegui abrir os olhos. Senti que o copo de whisky foi tirado da minha mão, enquanto eu estava toda encolhida. 


— Ah, não… — ela murmurou, mais decepcionada do que brava. 


Aproximou-se, tirando o copo da minha mão com delicadeza. Encostou no chão. Sentou-se ao meu lado e passou a mão no meu cabelo, afastando uma mecha do meu rosto. 


— Anna… amor… acorda. Tá frio aqui. 


Demorei a abrir os olhos, mas quando vi o rosto dela, a vergonha veio junto com o arrependimento. 


— Fê… 


— Vem pra dentro. Você vai acordar com dor nas costas e ressaca na alma. 


— Me desculpa… 


Ela suspirou, e dessa vez não foi raiva. Foi cansaço, e tristeza, e amor, tudo junto. 


— Eu não gosto quando você bebe isso, você sabe. Ainda mais quando tá assim… 


— Eu só queria desligar um pouco. 


— Tem outras formas. Me abraçar, por exemplo. 


Sentei devagar, ainda zonza, e olhei pra ela com os olhos marejados. 


— Achei que não quisesse mais me ver. 


Ela riu e balançou a cabeça negativamente. 


— Eu te peço um tempo pra pensar e você interpreta como “Sai daqui, Anna. Não quero lhe ver hoje.” — Concluiu 


— Eu errei com você. Eu devia ter pedido sua opinião antes de ir. Eu devia ter confiado que você ia entender. 


— Eu não precisava entender. Eu só precisava ser incluída. 


Ela me olhou por alguns segundos, enquanto eu abaixei minha cabeça. Eu não tinha forças para chorar mais, só queria minha esposa comigo. 


— Nós prometemos nunca dormir brigadas, lembra? — Ela diz enquanto acaricia minhas mãos 


— Eu sei... só... achei que não quisesse realmente me ver hoje.  


— O problema não é te ver, Anna. O problema é quando você toma decisões e não me inclui. Quando te vejo indo embora, mesmo estando aqui. 


— Eu tenho medo de te perder... — Confesso, olhando nos seus olhos. 


— Então para de se perder de mim primeiro. 


Ficamos em silêncio por alguns segundos, os olhos fixos um no outro. Depois, Fernanda me puxou, me envolvendo num abraço apertado, daqueles que curam mais do que palavras. 


— Vem. Vamos pra cama. A gente precisa dormir de conchinha hoje. Urgente. — ela disse, com a voz mais suave. 


— Vai me dar carinho mesmo eu tendo agido feito idiota? — Faço um biquinho 


— Sim, minha idiota.  


Ela revira os olhos e me puxa para um beijo rápido. Seguro em suas mãos e vamos de mãos dadas até o quarto. Deito na cama já bagunçada por ela e ela se deita ao meu lado, puxando minha cintura e sendo a conchinha maior. León, nosso gato, estava preguiçosamente deitado aos nossos pés, ronronando confortavelmente. E se eu fosse um gato, com certeza faria o mesmo. Eu estava cercada por um amor que só ela poderia me dar.  


☀️  


Na manhã seguinte, o alarme tocou insistentemente e eu queria ter uma arma para que eu pudesse dar um tiro e desligá-lo. O que me deixou anestesiada foi o calor do corpo de Fernanda colado ao meu, a mão dela ainda na minha cintura, como se durante a madrugada ela tivesse me puxado ainda mais pra perto. 


Abri os olhos devagar e minha cabeça latej*v*. O maldito whisky. Só poderia ser praga da minha linda esposa que odiava quando eu o tomava. Minha garganta estava seca, mas eu estava admirada no quanto o abraço de Fernanda era reconfortante, e com ela respirando em mim, me sentia melhor ainda.  


Fiquei alguns segundos ali, só sentindo sua respiração na minha nuca e ouvindo seus pequenos suspiros durante o sono. 


Até que ela se mexeu um pouco e passou a mão nos meus braços. 


— Bom dia, Anna Florence. 


— Bom dia, senhora dona da razão — sorri 


Ela ergueu a cabeça, me olhou com aqueles olhos que sabem exatamente onde eu tô quebrada, e ainda assim me amam. 


— Tá com dor de cabeça? — ela perguntou, levantando o tronco com cuidado. 


Assenti, encolhida sob o edredom. 


— Eu mereço. 


— Não vou discutir. Só vou cuidar — respondeu, já saindo da cama e indo direto pra cozinha. 


Minutos depois, voltou com um copo d’água, um comprimido e um café com leite do jeito que eu gosto: sem açúcar, mas com canela em cima. 


Sentou na beirada da cama e estendeu tudo pra mim. 


— Obrigada — murmurei, a voz falha. 


Ela só fez um carinho na minha perna, por cima da coberta, e sorriu com um canto de boca. 


— Sabia que você ia me deixar preocupada. Você nunca dorme no deck. E nunca larga o celular longe. Achei que tinha acontecido alguma coisa. 


— Aconteceu. Eu fiquei com medo de te perder. E fui burra. E fui fraca. 


— Ei — ela cortou, firme, mas doce. — Ter medo não é ser fraca. E você não foi burra. Só foi... você. Intensa, dramática, apaixonada, meio cabeça-dura. 


— E você me ama mesmo assim? 


— Não tem o “mesmo assim”. Eu amo por causa disso tudo. 


Dei uma risada leve, meio emocionada. Ela se inclinou e me deu um beijo na testa. 


— Termina seu café. Eu vou acordar nossa filha antes que ela decida que quarta-feira é feriado. 


— Fê… 


Ela parou na porta, me olhando por cima do ombro. 


— Obrigada por não desistir de mim. 


Ela sorriu, os olhos brilhando daquele jeito que só ela tem quando está tentando parecer mais forte do que sente. 


— Só desisto de você se virar torcedora do Flamengo, aí não dá. 


— Credo, Fernanda. 


— Pois é. Então vê se me ama direito. 


Ela piscou e sumiu no corredor. E eu fiquei ali, com o café na mão, um sorriso besta no rosto e a certeza de que, apesar de tudo, a gente ainda era “nós”. 


E isso bastava.


 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi, gente!

Era para postar só amanhã, mas eu decidi fazer uma surpresa nesse feriado. Bom, pelo menos aqui no Rio é feriado de São Jorge, não sei na cidade de vocês. 

O capítulo 7 eu quis deixar claro como Amanda se sente e como Fernanda também se sente. Não quis fazer um POV para não ficar muito extenso, mas acho que deu para passar o que as personagens estavam sentindo pela visão da Anna, né? Se não ficou claro, vocês podem me fazer perguntas sobre isso. 

Queria agradecer pelos comentários e por continuarem me apoiando na história. Amo receber e responder o comentário de vocês, saber o que vocês acham e se vocês tiverem alguma sugestão para a história, vocês podem falar que eu vou amar vocês interagindo e ajudando a construir essa história tão linda das duas. 

Ah! Gostaria de dar um pequeno spoiler. 

Amanda vai dar uma sumida da história para dar lugar a outro conflito... 

Não posso dizer o que é, mas só posso dizer para vocês acompanharem os próximos capítulos! 

É isso. 

Qualquer coisa chamem no direct no insta: @rodriguesnathh

Em breve vou fazer um insta de autora ^^


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Comentários para 7 - capitulo sete: onde dói de verdade :
HelOliveira
HelOliveira

Em: 24/04/2025

Nossa esse capítulo li com o coração acelerado, sabia que Anna não ia abandonar Amanda, mas tinha certeza que a confusão com a Fernanda ia acontecer....mas como disse  a Fê sabe ser firme e doce ao mesmo tempo....

Eu tinha outra da visão da Adriana...

Novo conflito já fiquei ansiosa ....


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 29/04/2025 Autora da história
Matei vocês do coração, é? hahahaha
A Fê é a cabeça da relação, mas lembrem-se que ela também é humana e comete erros.
Adriana eh uma cuz0n@.


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Mmila
Mmila

Em: 24/04/2025

Nossa, Amanda cresceu e os problemas cresceram com ela.

Anna, minha eterna heroína, se cuida e cuida da tua família....

Adriana surpreendeu, atitudes digamos, intempestivas.

Ela e Paola nesse momento, se merecendo.


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 24/04/2025 Autora da história
eu não queria que vocês odiassem a Amanda, sério
ela eh só uma baby girl confusa que nunca teve apoio familiar direito, só a Anna estava ali pra ela o tempo todo, então normal que ela esteja um pouco confusa quanto a esses sentimentos...

E olha… as duas mães… meu Deus. Eu prometo que elas vão encarar umas verdades ao longo da trama, juro


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