Capitulo 12 - Almoço perfeito
12 — Almoço perfeito
Mariana
Parei o carro em frente ao bar. Apesar de saber que meu pai precisava conversar comigo, eu queria mesmo era estar com a Camila. Está com ela me fazia muito bem, isso era fato, talvez fosse aquele jeito tímido, meigo, e algumas vezes tão bravo. Sai do carro e fui até ao bar. Meu pai encarava o fundo do copo que repousava em cima da mesa.
— As soluções para os seus problemas não estão no fundo do copo.
— Não estou procurando a solução, apenas tomando coragem para executá-la. Sente-se filha.
Puxei a cadeira vazia. Encarei seus olhos perdidos e tristes.
— Suponho que a essa altura sua mãe já deve ter contado sobre o divórcio.
— Sim. Na verdade, ela não veio apenas me contar sobre o divórcio, papai, ela queria que eu te convencesse a deixar essa ideia de lado.
— E o que você acha?
— Apesar de me sentir mal pelo amor de vocês ter acabado, sei que uma hora o divórcio viria. Há tempos que vocês não dormem juntos.
— Na verdade, desde a morte da sua irmã. Sua mãe esquece que eu também perdi um pedaço de mim naquele dia. Mas uma hora o luto acaba, contudo, ela parou no tempo, nada preenche o vazio que sua mãe sente. Ela não é a mulher pela qual me apaixonei. — Suspirou pesadamente.
— Eu sinto muito, papai.
— E para mim não adianta fingir que vivemos felizes. Quando vamos a jantares e eventos, e quando chegamos em casa não temos um minuto de paz.
— Foi exatamente o que eu lhe disse. Não conseguimos ter paz em casa.
— E ainda tem o jeito que ela trata a Manu. A criança não tem culpa de nada.
— Eu sei, já até desisti de tentar convencê-la.
— Dei um prazo a ela, dois meses, é o tempo que ficarei. Depois disso, vou mudar para meu apartamento perto do hospital.
Conversamos por quase quatro horas, e apesar de saber que ele estava decidido a se separar, era notória a tristeza. Foram quase quarenta anos de união e a maioria deles foi de muita alegria e cumplicidade. Tive que deixar o carro dele, no bar, pois acabou exagerando do uísque.
Chegamos em casa, deixei-o no quarto e segui para o da Manu, que estava com saudade.
— Oi! Tia.
— Pensei que já estava dormindo.
— Perdi o sono, e a senhora sabe que não consigo dormir sem meu beijo de boa noite! — Tinha como não amar?
— Que linda, vem cá. — Me aproximei da cama, sentei e ela deitou no meu colo. Acariciei seus cabelos negros, beijei sua testa e ela sorriu de olhos fechados.
— Eu te amo, você é uma mãe para mim. Promete que nunca vai me deixar sozinha? — Sussurrou, bocejando.
— Prometo meu amor. Eu prometo. — Meu coração bateu descompassado, ouvi-la me dizer aquilo me emocionou profundamente.
Esperei que dormisse para sair. Tomei banho, deitei, lembrei que não havia falado com Camila, pois o celular estava descarregado. Olhei a hora e decidi que não adiantaria falar com ela, pois possivelmente já estaria dormindo.
Amanheceu mais rápido do que esperei, tive a impressão de que nem ao menos descansei. Abri os olhos lentamente, vi que ainda era cedo, decidi então fazer uma surpresa a Camila. Vesti-me e encontrei a Manu me esperando na sala.
— Tia, a vovó estava chorando ontem. — Me contou com certa preocupação na voz.
— A vovó está passando por um problema, ela e o vovô, mas vão resolver não fique preocupada.
— Eu sei que ela não gosta de mim, mas não me senti bem vendo ela chorando.
Não tendo mais o que falar apenas me calei. Ela voltou a olhar pela janela do carro. Por mais que minha mãe não fosse nada carinhosa com a menina, ela a amava. Me doía o coração ver o desprezo da minha mãe.
Deixei Manu na escola e fui para a casa de Camila, por azar não esbarrei na dona Lurdes, me restando apenas esperar do lado de fora. Demorou alguns minutos, até que avistei ela saindo, me encostei no carro. Ela estava com uma expressão nada amigável. Dei meu melhor sorriso ao vê-la caminhar até mim.
— Bom dia! Como pode ver não tive a sorte de encontrar a dona Lurdes hoje.
— Bom dia! O que você está fazendo aqui? — Realmente ela não estava de bom humor.
— Vim te buscar. Algum problema? — Mordisquei o lábio tentando pensar no motivo daquele mau-humor todo. — Ah! Já sei, é porque não falei com você ontem?
— Eu estou começando a pensar que você consegue mesmo ler mentes. — Afirmou surpresa.
— Já te disse, esse é meu super poder. — Segurei sua mão e sorri para aqueles lindos olhos.
Pronto esse era o sinal que eu precisava para me aproximar. Cheguei mais perto e nem me importei de onde estávamos, apenas queria beijá-la, foi exatamente o que fiz.
— Primeiro, sinto muito por não ter te mandado mensagem ontem, meu celular descarregou. E resolvi te fazer uma surpresa. Surpresa. Justifiquei-me, ela deu um pequeno sorriso. — Suponho que esse sorriso indica que estou desculpada, né?
— Sim, está. Mas vamos, não quero me atrasar. — Tentava manter a pose de durona.
Como tudo no universo parece ir a favor do que estamos vivendo, começou a tocar a música que ouvimos juntas a primeira vez.
— Essa agora é nossa trilha sonora. — Comentei dando partida no carro.
Busquei sua mão, para enlaçar a minha. E como sempre, bastou nossa pele se tocar para meu coração se derreter de tanto amor. O silêncio que antes era constrangedor hoje era algo nosso. Pois, com ele vinha a troca de olhar, os carinhos.
— Chegamos. — Desliguei o carro e me virei para olhá-la.
— Mariana, o que estamos fazendo?
— Como assim?
— O que é isso? Onde isso vai dar? — Perguntou aflita. — Você é minha chefe, o que estamos fazendo é antiético.
— Camila, nesse momento eu não estou com a Camila Goys, minha advogada. — Segurei suas mãos. — Nesse momento você é apenas a Camila, a mulher que tem o melhor beijo do mundo e que nesse momento eu vou ter que beijar de novo.
Foi exatamente o que fiz, mesmo que ela protestasse. Nos afastamos e ela olhou para trás.
— Se vamos ficar juntas, isso não pode acontecer aqui na empresa. Já imaginou se alguém nos vê?
— Por mim não teria problema nenhum em ser vista com a mulher mais linda do mundo.
— Mariana, estou falando sério.
— Tudo bem, faremos do seu jeito.
— Ótimo, agora eu entro primeiro depois você vai.
— Precisa de tudo isso? Não posso apenas ter dado uma carona? — Ela me encarou séria. — Tudo bem, não está mais aqui quem falou.
Saiu do carro a passos apressados, esperei que ela sumisse no hall de entrada. Em seguida sai. Ainda era cedo, não havia quase ninguém, o que só me fez pensar ainda mais que Camila não precisa exagerar tanto.
Tranquei-me na sala, precisava organizar os números da empresa. A cada ano conseguimos ir melhor, os investimentos tinham um retorno quase vinte vezes maior do que esperávamos, o que me deixava ainda mais satisfeita era ver que eu havia conseguido dar continuidade ao trabalho que Marina fez com muita competência. Girei a cadeira, encarando a rua lá embaixo. Sentia muita falta de Marina, apesar de ser muito parecida com a mamãe nós sempre fomos confidentes, iria adorar contar o que eu estava sentindo. Às vezes me sentia sozinha, isso era fato, nunca tive uma vida social agitada. Meus amigos sempre eram em sua grande maioria filhos dos amigos dos meus pais.
Durante minha vida inteira, além de Marina, tive uma grande amiga, Charlotte. Sei que parece nome de gato, mas Charlotte era uma pessoa maravilhosa. Há alguns anos ela mora fora do país, encontrou um namorado e resolveu mudar. Perdemos o contato, penso que é isso que acontece, na maioria das vezes os problemas, as responsabilidades vão nos consumindo tanto que acabamos deixando as pessoas de lado.
— Aquela vaca me faz falta. — Suspirei e voltei a trabalhar.
O horário do almoço chegou e eu fui surpreendida por Manu que entrou na minha sala, ainda estava de uniforme.
— Tia, pedi para o motorista me trazer aqui. Podemos almoçar juntas?
— Oi! Meu amor, claro que podemos. Vem cá me dá um beijo. Ai que delícia. Vamos?
Saímos da sala, ao olhar a porta de Camila, pensei em chamá-la, mas será que isso seria passar os tais limites que ela impôs?
— Algum problema, tia?
— Não, só estava pensando se deveria chamar uma amiga para ir conosco.
— Chama ué.
Encorajou-me e com passos incertos caminhei até a sala. Ela me mandou entrar e eu quase tive um treco quando vi ela mordendo a perna dos óculos enquanto lia algo em uma folha.
— Oi! Mariana.
— Eu, eu... Estava saindo para almoçar com a Manu, pensei em te convidar.
Arregalou os olhos. Ótimo, acredito que nem ao menos consegui manter a promessa de ser discreta por duas horas.
— Eu entendo se você não quiser ir. — Tentei consertar a burrada que eu fiz.
— Como você me convida e desconvida?
— Pensei que você não havia gostado da ideia.
— Mariana, você precisa me perguntar antes de deduzir.
— Então vamos, ela está esperando lá fora.
— Vamos.
Caminhamos lado a lado, mas era um trabalho nada fácil me manter longe daquela boca maravilhosa. Manu estava sentada nos esperando, ela fitou Camila com um ar curioso.
— Manu, essa é a Camila. Camila, essa é a Manu.
— Prazer, Manu.
— Prazer, Camila, tia, essa é a mesma Camila daquele seu sonho?
Crianças e suas inocências. Camila me encarou esperando uma explicação e Manu esperava a minha confirmação. Até mesmo Andreia estava como telespectadora, nos observando.
— Sim, Manu, essa é a mesma Camila. Podemos ir agora?
Questionei sem ter coragem de encontrar os olhos de Camila, pois sentia que ela me fitava com um sorriso contido. Comecei a me arrepender desse almoço. Fomos de carro até o restaurante, e Manu encheu a Camila de pergunta.
— Eu não tenho filhos, Manu, mas tenho uma afilhada linda. Você iria adorar conhecê-la.
— Olha, tia, você deveria me levar na casa da Camila.
— Manu, ela não te convidou, apenas disse que você ia adorar conhecer a Lívia.
— Mas para eu conhecer tenho que ir lá não é, Camila?
— É sim, Manu, vamos marcar um filme qualquer dia desses. — Ela respondeu e me olhou de canto de olho.
— Sabe o que seria melhor, vocês irem um dia lá em casa.
— Não. — Camila nem ao menos pensou. Virei para olhá-la.
— Porquê? — Manu indagou.
— É, Camila, por qual motivo você não pode ir lá em casa?
— Sua mãe não iria gostar. — Confessou e notei seu tom de tristeza.
— Mas a casa também é nossa, né, tia?
— Isso mesmo, Manu, a casa também é nossa.
Não podia julgar Camila por ter medo da minha mãe, desde o primeiro dia não foi muito amigável com ela. Depois que notou a nossa aproximação passou a gostar menos ainda. Imagina se soubesse que estamos nos relacionando mais que profissionalmente. Nem quero pensar nisso.
Fim do capítulo
Boa noite, boa leitura e bom inicio de semana.
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