Capitulo 11 - Jogando Limpo
Camila
Depois daquele susto com a mãe da Mariana quase nos pegando no flagra, minha dor de cabeça piorou cem por cento. Dei meu dia encerrado e fui embora, cheguei em casa corri para o banho, tomei remédio para dor e fiquei de bobeira em frente à tv.
Estava sozinha, nunca fui aquele tipo de pessoa com problemas em ficar sozinha, mas hoje eu queria mesmo era Diana aqui, para conversar sobre o que aconteceu, ou quase aconteceu.
Revivi a cena mais vezes do que assisti ao Rei Leão. Virei de um lado para o outro da cama sem conseguir descansar, na minha cabeça ainda ecoava a voz de Lindalva me chamando de empregada. Não que eu me importasse, apenas me fez cair na real que ter qualquer tipo de envolvimento com Mariana enquanto trabalhasse para ela seria algo errado.
— Você tinha que se apaixonar por ela? Espera, eu não estou apaixonada, no mínimo interessada. E louca por estar falando sozinha.
Ouvi batidas na porta o que me fez lembrar de mandar consertar a campainha.
— Já vai. — Abri e me surpreendi. — Mariana, o que você faz aqui?
Ela continuou parada, apenas me olhando. Parecia travar uma batalha interna, para me responder.
— Será que nós podemos conversar?
— Claro, entra, está tudo bem? — Apontei para o sofá e ela se sentou.
— Desculpa te incomodar. É que eu saí para dar uma volta e quando percebi estava aqui na frente. — Confessou encarando as mãos.
— Não tem problema. Só estou preocupada, você está pálida. Quer um pouco de água?
— Eu, estou apenas nervosa, só isso.
— Espera vou buscar água. — Fui até a cozinha. — Toma. — Estendi o copo.
— Obrigada, mas será que você tem algo mais forte?
— Vinho?
— Mais forte.
— Uísque?
— Por favor.
Peguei a garrafa e dois copos, para servir a bebida. Sentei-me ao seu lado. Ela bebeu tudo em um só gole. Serviu mais um pouco e eu resolvi brincar.
— Pelo visto amanhã será você que terá ressaca. — Ela sorriu, e eu fiquei um pouco mais aliviada.
— Você está sozinha?
— Sim, a Diana está trabalhando e a Lívia na casa dos avós.
— Ótimo.
— Por quê?
— Eu preciso conversar com você, e nem sei por onde começar. — Bebeu mais um gole, depois ficou passando o dedo na borda do copo. — Primeiro quero me desculpar mais uma vez pelo comportamento da minha mãe, e eu sei que isso tem se repetido demais. Mas eu sinto muito.
— Já disse que você não tem culpa das coisas que sua mãe faz, você não é ela.
— Mesmo assim, penso que preciso. Ela tem aquele ar de superioridade e isso me irrita, pensa que somos melhores apenas pelo dinheiro que possuímos. Mas eu preciso saber de uma coisa, na verdade, preciso te perguntar. Porque sinto que tem essa coisa acontecendo entre a gente, posso até estar maluca.
Respirou fundo, e meu coração batia acelerado, ela estava mesmo prestes a me perguntar se eu também gostava dela.
— Preciso saber de você, e por favor seja sincera, o que teria acontecido se a minha mãe não entrasse àquela hora na sua sala? — Fitou meus olhos, apreensiva.
— O que você queria que acontecesse?
— Não se pode responder uma pergunta com outra pergunta. — Sorriu de canto. — Olha, eu sinto essa conexão entre a gente, desde aquele dia que bati aqui e você me atendeu quase nua. Depois vieram as trocas de olhares, aquele almoço onde você tocou minha mão e meu corpo inteiro reagiu. Em seguida a música, aí veio sua foto ontem, a minha em resposta, e sei que você entendeu ser para você. E hoje, por questão de milésimos de segundos, nós não nos beijamos.
Falou sem me encarar, e eu estava boquiaberta. Ela falou exatamente tudo o que eu senti quando estávamos juntas, a filha da mãe da Diana estava certa ela gostava mesmo de mim.
— Mariana...
— Espera, antes que você me responda. Preciso te contar que nunca me senti assim, ninguém nunca me fez sentir metade das sensações que você me faz sentir. — Me encarou, fitando meus olhos.
— Posso falar? — Balançou a cabeça concordando. — Você não está maluca, eu me sinto exatamente assim quando estou ao seu lado. — Ela sorriu abertamente, seus olhos brilhavam de um jeito que eu nunca havia visto.
— Então, você gosta de mim?
— Sim. — Foi mais fácil do que eu pensava, admitir aquilo em voz alta me parecia uma ideia completamente maluca.
— Você se importa...- Aproximou-se. — Se eu...- Colocou sua mão em minha nuca, acariciando meus cabelos. — Continuar... — Aproximou seu rosto a poucos centímetros do meu. — De onde paramos mais cedo?
O que eu iria falar? A mulher mais linda do mundo, estava simplesmente perguntando se poderia me beijar. Não conseguia parar de olhar sua boca entreaberta, seus olhos me fitando aflitos. Sua respiração pesada.
— Pode sim.
Sorriu mordendo o lábio, e deixou sua boca tocar a minha. Nem sei definir o que foi o beijo. Ela não parou o carinho em minha nuca, enquanto sua língua se mantinha ocupada com a minha, me causando arrepios. Ela soltava pequenos gemidos enquanto sua boca tocava a minha com ternura e precisão. Sem conseguir controlar meus impulsos, subi em seu colo sem interromper o beijo. Ela passou as pontas dos dedos delicadamente em minhas costas, me causando um verdadeiro misto de sentimentos.
— Puta que pariu. — Escutei a voz de Diana e saltei do colo de Mariana que arregalou os olhos, assustada.
Diana estava com a mão tapando os olhos de Lívia. Adoraria saber qual o intuito do universo em me deixar a sós com Mariana para que algo aconteça e alguém apareça para nos interromper.
— O que está acontecendo? Eu quero ver, mamãe. — Lívia falou curiosa.
— Não aconteceu nada filha. Você já pode olhar.
— Mamãe, você precisa colocar dinheiro no pote do palavrão. Você falou duas palavras com ‘’P”.
— Pode deixar filha, eu coloco, agora preciso que você vá para o seu quarto, daqui a pouco vou te dar banho.
A menina correu até o quarto. Diana caminhou para onde estávamos, estendeu a mão para Mariana que estava pálida.
— Você deve ser a Mariana, muito prazer. — Encarei Mariana que olhava para a mão da minha amiga, mas permaneceu sem mover um músculo. — Ela fala? — Diana brincou e Mariana começou a rir.
Não demorou e nós três caímos no riso, a situação havia sido no mínimo cômica.
— Muito prazer, Diana. — Falou com dificuldade, pois estava tendo uma verdadeira crise de risos. — É que hoje já fomos flagradas por duas pessoas. Mas você teve a sorte de observar o completo, me desculpe. — Desatou a rir.
— Duas vezes? — Minha amiga me encarou. — Bom, preciso ir banhar a Lívia, mas vocês por favor, comportem-se, ou arranjem um quarto.
Observamos ela se afastar e rimos mais uma vez.
— Acredito que chega de emoções por hoje.
— Sério? Você me beija daquele jeito, e agora vai me mandar embora? — Fingiu-se ofendida.
— Não estou te mandando embora. — Sorri e ela passou os dedos em meu rosto.
Lá vem mais uma interrupção. O celular dela começa a tocar.
— É o meu pai. Preciso atender.
— Claro, ali fica a varanda. — Apontei e ela foi até lá.
Observei-a caminhar de um lado a outro enquanto falava com o pai. Alguns minutos se passaram e ela desligou. Achei certo ir até onde estava.
— Eu sinto muito, mas preciso ir. — Sorriu sem graça.
— Claro, está tudo bem?
— Sim, meu pai está precisando de mim. — Aproximou-se segurando minha cintura. — Não precisa se preocupar.
E então aconteceu mais uma vez, nós nos beijamos. Na varanda, sem nem ao menos se importar com quem passava na rua, ou muito menos com meus vizinhos fofoqueiros.
— Eu realmente sinto muito, mas preciso ir.
— Não tem problema. Não é como se eu fosse fugir.
Fui deixá-la até a porta, onde mais uma vez ela me beijou. Foi embora prometendo me ligar. Pela primeira vez me senti em uma cena de filme, fechei a porta e comecei a rir sozinha. Eu estava muito, muito feliz. As borboletas dançavam no meu estômago.
— Que cara de apaixonada. — Diana tirou sarro de mim.
— Não estou apaixonada. — Revidei, me deitando em seu colo.
— Com aquele beijão e não estão apaixonadas, imagina quando estiverem. Mas preciso concordar com você, ela é uma mulher linda.
— Eu sei, ela é muito, muito, muito... — Olhei para os lados.
— Pode falar que ela está brincando no quarto.
— Gostosa. — Rimos tanto que minha barriga doeu.
Após contar detalhe por detalhe de como eu havia acabado no sofá de casa dando o maior amasso com minha chefe, Diana me deixou ir para o quarto. A cada dois minutos eu conferia o celular para ver se ela me mandava alguma mensagem. De tanto esperar acabei dormindo. Na manhã seguinte acordei com um ótimo humor, mas bastou pegar o celular e ver que ela nem ao menos me deu sinal de vida, para ficar triste.
— Bom dia!
— Bom dia!
— Ihh! Que cara é essa?
— Você acredita que Mariana não me mandou nem sequer uma mensagem?
— Amiga, vai ver que ela ficou até tarde com o pai.
— Isso não justifica, por mais que tenha sido até tarde, poderia ter mandado e quando eu acordasse olharia.
— Eu vivi para ver isso. Camila Goys cobrando mensagens de uma pessoa.
— Não começa, Diah, eu tenho que ir. Beijo.
Desci as escadas e para minha surpresa Mariana estava parada encostada no carro. A desgraçada tinha um sorriso tão lindo que me fazia até esquecer que a dois minutos estava com raiva dela.
— Bom dia! Como pode ver, não tive a sorte de encontrar a dona Lurdes hoje.
— Bom dia! O que você está fazendo aqui? — Precisava manter minha pose de durona.
— Vim te buscar. Algum problema? — Me fitou mordendo o lábio. — Ah! Já sei, é porque não falei com você ontem?
— Eu estou começando a pensar que você consegue mesmo ler mentes.
— Já te disse, esse é meu super poder. — Sorriu segurando minha mão.
Quebrou a distância que havia entre nós e me beijou. Droga, além de um sorriso lindo, ainda tem esse beijo que é irresistível. E consegue me quebrar inteira.
— Primeiro, sinto muito por não ter te mandado mensagem ontem, meu celular descarregou. E resolvi te fazer uma surpresa. Surpresa. — Abriu os braços.
Tinha como sentir raiva dela? Claro que não gente. Eu sorri.
— Suponho que esse sorriso indique que estou desculpada, né?
— Sim, está. Mas vamos, não quero me atrasar.
Entrei no carro, e estava tocando a música da primeira vez.
— Essa agora é nossa trilha sonora. — Falou sem me olhar, deu partida no carro.
Senti que seus dedos enlaçaram os meus. Em um leve carinho com o polegar. Se existia alguém mais feliz do que eu no mundo inteiro, desconheço totalmente.
Fim do capítulo
Voltei, bom difinal de semana e boa leitura.
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