Capitulo 10 — Na sua rua.
Mariana
— O que você está fazendo aqui?
— Vim te dizer que não posso mais trabalhar para você. — Usou um tom sério, que por um momento eu senti meu chão desabar.
— Como assim, Camila?
— Foi isso que você ouviu. Eu não posso mais trabalhar para você. — Enfatizou.
— Você não pode fazer isso, porque você está fazendo isso?
Nada respondeu, deu alguns passos em minha direção. Segurou meu corpo contra o seu.
— Não posso trabalhar para você, porque nesse momento eu vou te beijar, e preciso que você não seja minha chefe.
Beijou-me e eu senti meu corpo desfalecer em seus braços.
— Tia, tia. Tiaaaa! — Manu me sacudia na esperança que eu acordasse. Droga aquilo foi um sonho, e que sonho.
— Oi! Manu, bom dia!
— Você está atrasada, a vovó saiu com o motorista, você precisa me deixar na aula.
— Me dá dois minutos. — Levantei e fui para o banheiro. Meu corpo estava em chamas, aquele sonho me deixou completamente excitada. Como era possível?
No carro a Manu cantava a música que tocava. Até que parou, me olhou e perguntou:
— Quem é Camila?
— Camila? Porque está me perguntando isso?
— Você falou esse nome antes que eu te acordasse. — Corei. Muito bem! Mariana, faça a sua sobrinha saber dos seus sonhos eróticos com sua funcionária.
— Camila é a moça que trabalha para mim, acho que sonhei conosco em uma reunião na empresa. — Menti, ela me olhou, porém, não falou mais nada.
Desceu do carro em frente à escola, esperei que ela entrasse e sai. A manhã inteira eu passei em reunião. Não tive tempo de pensar em Camila, mas ao chegar o horário do almoço não tive como não pensar nela. Sai da sala e encontrei Andreia saindo da sala dela.
— Ainda por aqui? Pensei que já tinha ido almoçar.
— Estamos indo, fui convidar Camila, mas ela disse que não vai. Falou que não está bem.
Segurei-me para não demonstrar que fiquei preocupada. Ela saiu com o restante do pessoal e eu fui comprar almoço. Então, porque não levar o almoço para Camila e eu? Bati na porta e esperei que ela me mandasse entrar.
— Pode entrar. — Entrei na sala e ela nem ao menos percebeu ser eu.
— Assim terei que aumentar seu salário, trabalhando em horário de almoço. — Pode ser impressão minha, mas bastou ela ouvir minha voz para me olhar e sorrir.
— Não se engane, estou terminando para poder ir embora mais cedo. — Passei a mão nos cabelos sob o olhar atento dela. — Trouxe comida. — Mostrei a sacola. — Andreia disse que você não ia sair para almoçar, que não estava se sentindo bem.
— Sim, um pouco de dor de cabeça. — Caminhei até a mesinha, deixei a sacola e me sentei em frente à sua mesa.
— Foi o vinho? — Ergui a sobrancelha, sorri, pois sabia que aquilo era ressaca.
— Acho que sim, tomar uma garrafa sozinha resulta em uma bela ressaca.
— Se tivesse me convidado, teríamos dividido o vinho e a ressaca. — Mariana, pega leve. Baixa a bola e as cantadas.
— Você não teria ido. — Mal sabe ela que até mesmo se me chamasse para ver um filme piegas eu ainda iria.
— Como tem tanta certeza se nem me convidou? — Acho que não tinha uma forma de ser mais clara, será que ela não havia se tocado que a foto foi uma resposta para ela? Inclinei meu corpo para a frente, notei seu olhar no meu decote.
— Acho que sua companhia de ontem foi melhor que a minha.
— A Manu sempre é uma excelente companhia, assim como a sua. — Tenho certeza que ela vai me processar por assédio.
— Então se eu te convidar para jantar comigo hoje você iria?
— Você não é boa em convites. — Comentei brincando e vi que ela sentiu vergonha
— Você me daria a honra de me acompanhar em um jantar hoje à noite?
— Assim ficou melhor. Claro que eu aceito. Mas antes vamos almoçar? — Apontei para a mesinha.
Sentamos e começamos a comer. Falamos sobre nossos gostos para filme, música.
— Então seu filme preferido é O Rei Leão?
— Claro que não, mas o fato de Lívia ter me feito assistir umas mil vezes ele entrou para a minha seleção dos favoritos.
— Eu entendo, a Manu me fez ver a coletânea de HP várias e várias vezes, me sentia em um loop infinito.
— Adoro HP. — Confessou com uma cara de criança que vem contar a traquinagem que fez.
— Sério? Você tem uma cara de Lufa-Lufa.
— Como você sabe? — Questionou surpresa.
— Eu tenho um dom, não sabia?
— Dom?
— Sim, eu consigo ler mentes.
— Então no que eu estou pensando agora? — Desafiou-me.
— No pote de açaí de sobremesa. — Ela arregalou os olhos.
— Como, como você fez isso?
— Já disse ser um dom. — Sorrimos.
Abriu o pote de açaí e sorriu falando:
— Assim você me deixa mal acostumada. — Acho que ela pensou, mas acabou falando.
— Isso não seria de todo ruim, gosto de almoçar na sua companhia. – Sério alguém precisa encontrar meu freio, encarei a colher na minha frente.
Não consegui formar uma resposta para o que falei. Nem posso culpá-la por isso, eu sou uma verdadeira paqueradora. Mas, ela me surpreendeu ao dar a primeira colherada. Soltou um pequeno gemido ao sentir o sabor do açaí. Não tive como não rir daquilo. Ao perceber que ela não fazia ideia do motivo da minha risada resolvi explicar:
— É que você está bem parecida com a Manu ontem, tem açaí pelo seu rosto.
Corando levemente, ela tentou em vão limpar o rosto, pois só piorou a situação e claro que eu comecei a rir ainda mais.
— Espera, me deixa te ajudar. — Levantei e sentei ao seu lado no pequeno sofá dois lugares. — Seu cheiro é delicioso. Já disse isso?
— Si-sim. — Sua voz falhou.
Peguei outro guardanapo. Com delicadeza passei onde estava sujo. Ela de longe era a coisa mais linda, e olhando-a de perto parecia que eu ainda estava longe. Sabe aquela coisa que por mais que você tente evitar o seu corpo, seus pensamentos, até mesmo sua alma grita para você fazer? Era assim que eu estava me sentindo em relação à Camila. Estávamos tão próximas que era possível sentir o cheiro dos cabelos dela.
Minha respiração estava ofegante, e eu podia observar a dela tão entrecortada quanto a minha. Não conseguia mais lutar, eu precisava senti-la. Meus movimentos foram lentos, inclinei a cabeça em sua direção, torcendo para que ela não se afastasse, o que para minha surpresa não foi o que aconteceu. Íamos nos beijar, se não tivéssemos sido interrompidas, a porta foi aberta repentinamente o que nos causou um baita susto, me levantei olhando a pessoa parada nos encarando com um olhar acusador e desconfiado.
— O que está acontecendo aqui? Posso saber?
— Nada, estávamos almoçando. — Tentei soar o mais natural possível.
— Você almoçando com uma empregada? — Olhou com certo desdém para Camila que ficou visivelmente sem graça.
— Camila não é apenas uma funcionária.
— E o que ela é? — Ótima pergunta mamãe, há dois minutos eu quase a beijei, mas até o momento não posso te dizer o que penso que ela é. Revirei os olhos. Ambas esperavam a minha resposta.
— Ela é minha amiga, satisfeita? — Pelo olhar que me lançou sei que ela não ficou convencida.
— Certo, podemos conversar em sua sala?
— Claro, por favor. — Apontei a porta e virei para Camila. — Sinto muito. — Sussurrei e ela balançou a cabeça.
Caminhei atrás da minha mãe, ela sentou-se e me encarou.
— Seu pai quer o divórcio, você precisa convencê-lo a desistir dessa ideia maluca. — Apesar da surpresa, eu esperava que um dia isso iria acontecer.
— Mamãe, eu não posso fazer nada, o casamento de vocês claramente já acabou há muito tempo.
— Mariana, onde já se viu falar uma coisa dessas?
— A senhora sabe que estou apenas falando a verdade. Faz quase um ano que vocês dormem em quartos separados.
— Ele não tem esse direito.
— De quê? De ser feliz, de viver em um lugar onde possa ter paz?
— Como você ousa falar que não temos paz na nossa casa?
Apesar de ter muitas coisas para falar, julguei que aquele seria o melhor momento.
— Já estou indo. Pedir sua ajuda logicamente não foi uma boa ideia. — Pegou a bolsa e saiu pisando firme.
Girei na cadeira. E agora mais essa, meus pais estão se divorciando. Lembrei da Camila, do seu rosto lindo próximo ao meu. E do meu desejo desesperado por seu beijo. Levantei em um impulso e fui até sua sala.
— Eu preciso... — Abri a porta e a sala estava vazia, ela já havia ido embora.
— Você precisa? — Andreia questionou atrás de mim.
— Era um documento, mas ela já foi embora, amanhã resolvo. — Sorri sem jeito.
Fui para minha sala, peguei minhas coisas e resolvi dar uma volta. Precisava esfriar a cabeça. Liguei o carro e dirigi sem rumo, apenas olhando as pessoas indo e vindo. Até que, entrei em uma rua que me era familiar.
Desliguei o carro e olhei a fachada do prédio onde Camila morava. Será que ela estava em casa? Será que eu incomodaria se fosse até lá? E afinal como diabos eu cheguei até aqui. Escutei duas batidas no vidro do carro e dei um pequeno pulo com o susto.
— Veio ver a Camila? — Era Dona Lurdes, a vizinha informante.
— Sim, a senhora sabe se ela chegou?
— Chegou minha fia, estava com uma carinha triste. Sabe se aconteceu algo? — Dona Lurdes era uma informante que passava a informação para conseguir mais informação.
— Não sei, mas vou tentar falar com ela e descobrir, a senhora pode me ajudar a entrar?
— Claro fia, venha comigo. — Caminhou em minha frente lentamente. — Boa sorte. Agora vou conversar com a Geruza, acredita que a neta dela de quinze anos está grávida? Essa juventude, parece que tem....
Saiu caminhando e resmungando algo que eu não faço ideia do que seja. Quase morri subindo as escadas. Parei em frente a porta do apartamento. Depois de uma dúvida infinita se deveria bater ou não, entreguei a Deus e seja o que Ele quiser.
— Já vai. — Ouvi sua voz e seus passos até chegar à porta. — Mariana, o que você faz aqui?
Ótima pergunta, nem lembro como cheguei a sua rua, imagina lembrar o que vim fazer aqui na sua casa. Responde Mariana, responde...
Fim do capítulo
Alguém perdeu completamente falaaaaa. Boa leitura
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