Capitulo 9 - A megera
Camila
Flores, isso mesmo, flores. Um lindo buquê, por sinal. Andava em círculos tentando entender o porquê de toda aquela raiva que eu estava sentindo. Não havia nenhum motivo que justificasse aquele meu comportamento.
— Camila, deixa de loucura, e vai trabalhar. — Pronto era o que faltava eu falar sozinha.
Bem que minha mãe diz, mente vazia oficina do diabo. Enquanto ocupei a mente nem lembrei que Mariana existia. Pelo menos isso durou boa parte da tarde. Às cinco horas, comecei a me organizar para sair. Fechei a sala, deixei a chave com Andreia e sai.
Meus pés quase me traíram quando vi Mariana parada em frente ao carro, me encarando. Olhei para o banco do passageiro e percebi haver alguém com ela. Mais uma vez aquele sentimento o qual eu não faço a menor ideia do que seja, me dominou por completo e eu só consegui caminhar na direção oposta a que ela estava.
Cheguei em casa quase uma hora depois. Diana estava na varanda.
— Boa noite!
— Boa, onde está a Lívia?
— Luan veio buscá-la para ir à casa dos pais dele. Você está bem? — Questionou-me olhando.
— Sim. — Menti e ela me encarou séria, intimidade é um saco, ela sabe que eu menti. — Vou tomar um banho.
— Quando você voltar estarei aqui, para conversarmos.
Ela me conhecia muito bem, e com certeza iria me encher de perguntas quando eu voltasse. Tomei banho tentando demorar o máximo possível, pois sabia que quando estivesse diante de Diana, ela me faria perguntas. E eu não teria respostas. Vesti algo leve e voltei para a varanda.
— O que vamos jantar?
— Pizza. Não estou com interesse em ir para a cozinha. Eu já pedi. Senta. — Indicou a cadeira a sua frente. Ela mantinha os olhos em mim.
— O que foi?
— Você está estranha. O que aconteceu?
— Nada. — Insisti na mentira.
— Te conheço.
— Tá! O problema é que nem eu sei o que está acontecendo.
— Explica, talvez possamos juntas resolver seu problema.
— Sabe a Mariana?
— Sua chefe.
— Sim, eu me sinto estranha quando estou próxima a ela. Desde aquele dia que ela veio aqui.
— Estranha como?
— Não sei te explicar, mas eu nem pareço eu, fico travada, parece que esqueço como se fala, se anda, até como se respira. E quando ela me olha, eu fico desconcertada, parece que ela consegue me deixar tímida, hoje, por exemplo, por duas vezes nossos olhares se encontraram e parece que o tempo para. Ela me olha de um jeito que ninguém nunca me olhou. Ela elogiou o meu perfume. Estou ficando maluca? — Diana riu.
— Você está apaixonada.
— Tá brincando?
— Não, tudo isso que você disse é coisa de paixão. O que mais aconteceu?
— Almoçamos juntas hoje, ela me convidou. E por mais que eu quisesse dizer não, ela parecia empolgada com a ideia de almoçar comigo.
— Então ela corresponde ao seu sentimento.
— Claro que não, a Mariana é linda, inteligente, rica. O que iria querer comigo?
— Amiga, você é tão linda quanto ela, inteligência sabemos bem que você tem de sobra. E o dinheiro é apenas um detalhe. Então creio que ela está interessada em você.
— Será que é por isso que ela disse que da próxima vez quer que seja um jantar, com vinho?
— E espero eu que sex* de sobremesa. — Diana estava se divertindo.
— Dianaaa! Eu nunca transei com uma mulher.
— Assim como nunca namorou nenhum homem. — Concluiu séria. — Olha, ao meu ponto de vista, ela quer se aproximar de você. E não existe nada mais íntimo do que duas pessoas jantando juntas e dividindo uma boa garrafa de vinho.
— Será?
— Vai por mim.
— Mas ela recebeu flores de uma pessoa hoje, lindas. E eu nem sei por que fiquei com tanta raiva quando vi as flores.
— Ciúmes, você viu as flores e sentiu ciúmes. Imaginando que ela pode ter alguém.
— Eu? Com ciúmes?
— Sim, cara amiga. Você com ciúmes.
— Não posso, eu nem a conheço direito. E tem o fato de ela ser minha chefe.
— Amiga, corta essa. Você gosta dela, da companhia, da pessoa dela. Não tenta fazer grande caso sobre isso.
— Você fala com tanta naturalidade.
— É porque não tem nada de anormal nisso. Vocês são duas mulheres lindas, que se sentiram atraídas uma pela outra. O que tem de errado nisso? Pouco importa se ela é sua chefe.
Não sabendo o que responder resolvi me calar. Comemos a pizza e Diana alegando cansaço foi deitar, peguei um livro para ler, enchi minha taça de vinho e fui para a varanda. Comecei a ler e minha concentração no livro era zero. Peguei o celular e vi uma foto que Mariana havia postado, estava no shopping com a Manu. Sorri vendo a menina toda suja. Era linda, tão linda quanto a tia. Suspirei olhando o céu, me veio até uma vontade de puxar assunto falando dela, mas mudei de ideia.
Tirei uma foto, que não posso negar que foi um tanto provocadora. Minhas pernas de fora, o livro repousando, e a taça de vinho na mão. Coloquei uma legenda e postei, agora era esperar que ela visse e torcer para que puxasse assunto comigo, ao menos a respeito do livro que eu estava lendo.
Voltei minha atenção para o livro, mas fiquei de olho no celular que nem ao menos deu sinal. Desisto, ela não dá a mínima para mim. Fechei o livro, peguei o celular e fui para o quarto. Após fazer minha higiene pessoal, me deitei, com o celular em mãos reprogramei o despertador, e apenas por curiosidade resolvi olhar os status.
Lá estava, ela havia postado uma foto da piscina. A foto não me surpreendeu, a surpresa maior foi a legenda que ela usou, era um trecho da música que havíamos escutado no carro. Levantei em um salto, acendi a luz do quarto da Diana.
— O que foi? — Resmungou.
— Olha isso. — Entreguei o celular, com dificuldade em abrir os olhos ela viu a foto.
— O quê?
— É a Mariana, eu postei uma foto, na esperança que ela puxasse assunto comigo. Mas ela não o fez. — Diana me olhava sem entender. — Essa legenda, foi a música que ouvimos no carro dela hoje.
— Então ela te respondeu. “Você não sabe o quão adorável você é, tinha que te encontrar dizer que preciso de você.” — Leu a legenda e sorriu. — E agora qual sua dúvida de que ela está querendo você?
— Será? — Tudo bem que havia sido exatamente isso que eu pensei quando vi a foto, mas ouvir a Diana falando era diferente. Eu estava feliz.
— Vai dormir, e me deixa dormir. Até amanhã! — Me empurrou porta afora.
Fui para o quarto, me atirei na cama, com um sorriso de orelha a orelha. O resultado de uma garrafa de vinho ingerida, é uma bela dor de cabeça na manhã seguinte. Tateei o celular que tocava insistente. De banho tomado e devidamente vestida me juntei a Diana na mesa de café.
— Bom dia! Anotou o carro que passou por cima de mim?
— Bom dia! Pelo visto você se divertiu ontem.
— Aquele maldito vinho. — Encarei a garrafa vazia em cima da bancada.
— Ele não tem culpa, você exagerou, tomou a garrafa toda? — Perguntou olhando a garrafa.
— Sim, cada gota.
— Melhor resolver essa questão da paixão pela Mariana, porque se não resolver vai acabar uma alcoólatra.
— Ha-ha, que engraçada.
Nunca pensei que ir para a empresa fosse se transformar em um martírio. O que falaria caso encontrasse Mariana? Afinal não posso fingir que não sinto nada por ela. Muito menos que não vi aquela declaração de ontem na foto. Mas se fosse apenas coisa da minha cabeça e da Diana também, afinal ela disse que tudo indica que Mariana está interessada em mim.
Agradeci, por ainda ser cedo e não ter ninguém, entrei na sala e me dediquei ao trabalho. Precisava terminar alguns relatórios para entregar a Mariana. Passei a manhã inteira sem sair da sala, com medo de encontrá-la no corredor, precisava evitar seu olhar.
Escutei batidas na porta e meu corpo tencionou.
— Po-pode entrar. — Meu coração saltava no peito. Mas para minha sorte ou meu azar não se tratava de Mariana.
— Camila, estamos saindo para almoçar, vamos?
— Obrigada, Andreia, mas eu passo, não estou me sentindo muito bem, vou terminar esses relatórios e tentar sair mais cedo.
— Tudo bem, então, melhoras. — Sorriu e saiu.
Voltei minha atenção para o que fazia, cerca de dez minutos depois escuto batidas na porta de novo.
— Pode entrar. — Respondi sem perder o foco do que fazia.
— Assim, terei que aumentar seu salário, trabalhando em horário de almoço.
Ah! Deus! Aquela voz rouca, que se misturava a um sorriso divertido. Aquele cheiro delicioso que emanava dela. O meu corpo inteiro reagiu, até mesmo a dor de cabeça havia passado.
— Não se engane, estou terminando para poder ir embora mais cedo. — Ela sorriu ajeitando os cabelos, e eu parecia ter levado um tiro, absorvendo cada gesto seu, meticulosamente.
— Trouxe comida. — Mostrou a sacola nas mãos. — Andreia disse que você não ia sair para almoçar, que não estava se sentindo bem.
— Sim, um pouco de dor de cabeça. — Ela colocou as coisas na mesinha, e sentou-se na minha frente.
— Foi o vinho? — Sorriu erguendo a sobrancelha.
— Acho que sim, tomar uma garrafa sozinha resulta em uma bela ressaca. — Brinquei tentando disfarçar meu nervosismo.
— Se tivesse me convidado, teríamos dividido o vinho e a ressaca.
Oh! Senhor! Por que ela faz isso comigo? Brincar com meu psicológico desse jeito.
— Você não teria ido. — Respondi séria.
— Como tem tanta certeza se nem me perguntou? — Ela sabia jogar, e estava me fazendo de bola de basquete, me levando nas mãos. Seu corpo estava inclinado para a frente, consegui ver um pouco de seu decote.
— Suponho que sua companhia de ontem foi melhor que a minha. — Mudei de assunto desviando o olhar de seus seios.
— A Manu sempre é uma excelente companhia, assim como a sua. — Teria como ser um pouco menos direta?
— Então se eu te convidar para jantar comigo hoje você iria?
— Você não é boa em convites. — Brincou e senti meu rosto arder.
— Você me daria a honra de me acompanhar em um jantar hoje à noite?
— Assim ficou melhor. Claro que eu aceito. Mas antes vamos almoçar?
Concordei e almoçamos em um clima divertido, ainda sentia o olhar dela me queimar inteira. Para melhorar além de levar o almoço, ainda comprou açaí. Se eu já estava gostando dela, nesse momento passei a gostar ainda mais.
— Vai acabar me deixando mal acostumada.
— Isso não seria de todo ruim, gosto de almoçar na sua companhia. — Falou encarando a colher no pote com açaí.
Ficamos em silêncio, parecia não existir mais nenhuma palavra que precisasse ser dita naquele momento. Até que levei a colher à boca, e soltei um pequeno gemido ao sentir o maravilhoso gosto de açaí. Mariana levantou a cabeça com rapidez e começou a rir, eu fiquei sem entender.
— É que você está bem parecida com a Manu ontem, tem açaí pelo seu rosto.
Corei levemente e passei o guardanapo tentando limpar a lambança que fiz. Ela riu mais uma vez.
— Espera, me deixa te ajudar. Seu cheiro é delicioso. Já disse isso?
— Si-sim. — gaguejei.
Levantou, sentou-se ao meu lado e pegou outro guardanapo. Passou no meu rosto, senti meus pelos arrepiarem. Ela estava tão próxima a mim, podia sentir sua respiração, que estava tão ofegante quanto a minha. Inclinou a cabeça em direção a minha, eu prendi a respiração. Era isso mesmo que eu estava imaginando, seus olhos me diziam isso, íamos nos beijar. A porta foi aberta repentinamente o que causou um baita susto em nós duas, ela afastou-se encarando a pessoa que havia entrado.
— O que está acontecendo aqui? Posso saber?
E lá estava a megera, Lindalva Carvalho, parada com as mãos na cintura nos encarando esperando uma resposta.
Fim do capítulo
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