Mariana

Para uma pessoa que não tinha vida social, eu até estava me saindo bem. Primeiro o almoço com o Erik, e agora com a Camila, que se mostrou ainda mais encantadora do que eu poderia imaginar. Falamos sobre nossas vidas e tocar no assunto da morte de Marina ainda mexia muito comigo. 

Camila se mostrou ainda mais especial quando tocou minha mão tentando me confortar. Mas o conforto foi a última coisa que ela me fez sentir com seu toque suave em minha pele. Foi totalmente diferente de quando Erik me tocou, as mãos de Camila tinham um calor quase inexplicável.  Fora seu cheiro, delicioso, amadeirado. Paguei a conta quando decidimos ser hora de ir.

— Próxima vez, será por minha conta. — Falou colocando o cinto. 

— Mas da próxima vez quero que seja um jantar, de preferência com um bom vinho. — Mariana onde está seu bom-senso? Se convidando para jantar com ela, sem nem ao menos saber se ela deseja isso. 

Antes de nos separarmos eu agradeci pela companhia, que foi de fato a melhor que já pude ter nos últimos tempos. Não deixei de elogiar seu perfume. O cheiro era delicioso demais para que eu não dissesse nada. Na recepção a mesa de Andreia estava enfeitada com um lindo buquê de flores, que eu pensei ser do Lucas para ela. 

— Alguém tem um admirador.

— Pois é, julgo que você tem um admirador. — Respondeu-me. 

Fiquei sem ação, era a primeira vez que eu recebia flores. Olhei para Camila que estava séria. 

— Eu preciso ir. Boa tarde! — Saiu repentinamente. 

Observei ela caminhando até a sala, podia jurar que ela estava triste, mas por qual motivo? Até agora a pouco ela estava se divertindo, ao menos era o que parecia. Andreia me viu olhando-a, eu sorri sem graça como uma criança que é pega aprontando. 

— Vou levar isso para minha sala. — Falei pegando as flores e caminhei o mais rápido que pude, para fugir daquela saia justa. 

Procurei o cartão no meio das flores e o encontrei. Claro que pelo exagero só poderia ser do Erik. 

“As flores são para agradecer o nosso agradável almoço de ontem. E também para te convidar para a inauguração de uma boate que comprei. Não aceito não como resposta. 

Beijos, Erick.”

Homens e suas insistências. Sorri olhando as flores, até que eram bonitas. Peguei o celular e mandei mensagem agradecendo. Já eram quase cinco horas quando minha mãe entrou na sala. 

— Filha, bonitas flores. Presente? 

— Oi! Mamãe, sim. — Respondi sem tirar os olhos do computador. — O que a senhora faz aqui a essa hora? 

— Vim conversar com os engenheiros. Pelo que me lembre, apesar de você administrar essa empresa ainda é minha. 

— Claro. Bom, eu estou indo embora. 

— Se importa em me dar uma carona? Vim com o motorista, mas ele foi buscar a Manuela na natação. 

— Posso sim, mamãe. — Peguei a bolsa. 

— E as flores, não vai levar?

Não estava interessada em causar uma discussão, então acabei pegando o buquê. Carreguei as flores e minha visão estava um tanto quanto limitada. Passei pela recepção e fomos para o carro. Coloquei minhas coisas no banco de trás e abri a porta da frente, antes vi Camila descendo as escadas. Ela me fitou por alguns segundos e caminhou na direção oposta. 

— O que foi? — Minha mãe e essa mania de querer se meter em tudo. 

— Nada. 

Dei partida e fomos para casa. Agradeci, pois, não aguentava mais a minha mãe falando do Erik, até parecia que as flores eram dela. 

— Oi! Princesa. — Beijei sua testa. — Você está suada, precisa de um banho. 

— Agora? 

— Claro que precisa ser agora Emanuela, daqui a pouco vamos servir o jantar, você quer sentar-se à mesa com cheiro de mendigo? — Quanta delicadeza. 

— Não vovó. Estou indo tomar banho. 

— Leve sua mochila. — Ordenou. A menina voltou, em seguida correu escada acima. — Sem correrrrr!

— Mamãe, menos. Ela é uma criança, o comportamento até que é justificável, mas a senhora aos berros em casa não dá. Vou para o meu quarto.

Passei pelo quarto da Manu e vi a porta aberta. Ela estava atirada na cama, chorando. Meu coração doía por vê-la daquela maneira. Tomei banho, troquei de roupa e resolvi que levaria a Manuela para fazer algo diferente. 

— Manu. Terminou seu banho? 

— Sim, tia. 

— Veste uma roupa bem linda, que vamos sair. 

— Jura? Em plena semana? A vovó vai deixar? 

— Amor, nós precisamos passar um tempo sozinhas, a vovó está pior nos últimos dias, então vamos nós duas jantar fora. 

— Hambúrguer? 

— O que você quiser princesa. 

Ajudei-a a se vestir e descemos as escadas de mãos dadas. Na sala de estar, minha mãe conversava com o meu pai. E pelo que pude notar o clima entre os dois não era dos melhores. 

— As mulheres da minha vida. — Ele diz assim que nos vê.

— Oi! Vovô. — Correu para abraçá-lo. 

— Oi! Princesa. Vão sair? 

— Sim, a tia Mari vai me levar para jantar. — Me olhou com os olhinhos brilhantes. 

— Tudo bem, meu amor. Tomem cuidado e voltem cedo. 

— Pode deixar, papai. — Estranhei o silêncio da minha mãe. 

Fomos ao shopping, levei a Manu para assistir a um filme, depois fomos comer um belo hambúrguer. Ela estava toda melecada de molho, a coisa mais fofa do mundo, não resisti e tirei uma foto. Postei nos status e voltei minha atenção para ela. 

— Tia, porque você não tem um namorado? 

— Que assunto é esse? 

— Não sei, te acho linda, e não sei porque você não namora ninguém. 

— Manu, eu lá tenho tempo para namorar.

— Tia, acho um desperdício, você é linda. Sabia que uma pessoa já veio me perguntar se você namora? 

— Sério, quem? 

— A minha professora de inglês, acho que ela namora meninas. Você namora meninas? — Ótimo a menina tem uns assuntos que nem adultos conseguem entender. Mas foi inevitável não lembrar da mão de Camila na minha, do sorriso fácil que ela tinha. — Você está com cara de apaixonada. — Riu baixinho colocando uma colherada de sorvete na boca. 

— E desde quando você sabe o que é uma cara apaixonada? 

— Fica com cara de bobo. Parecido com os desenhos animados, os corações saindo dos olhos. 

— Manu, come seu sorvete. 

Essa nova geração já vem adulta de fábrica. Sabe o que assusta mais, é que eu não consegui responder à pergunta que ela me fez. Se fosse alguns dias atrás eu teria apenas respondido não.  Mas nesse momento eu não faço ideia do que está se passando comigo, sempre que estou com a Camila eu me sinto diferente. 

— Tia? Tia? Podemos ir embora, estou cansada. — Bocejou. 

— Podemos sim, vou pagar a conta. 

Fomos para casa, no percurso Manu acabou dormindo. Deu uma trabalheira levá-la para dentro. Após colocá-la na cama, desci as escadas, fui até o bar, coloquei um pouco de uísque em um copo e me sentei na beira da piscina. 

Observei o céu por alguns minutos. Até que, meu pai apareceu. 

— Sem sono? — Questionou apoiando-se na parede.

— Sim.

— Se importa que eu faça companhia?

— De forma alguma. — Aponto a cadeira para que ele se sente. —  Onde está a mamãe?

— Não sei, ela saiu poucos minutos depois de vocês. 

— Mamãe saindo à noite? Coisa estranha. — Ele bebeu um longo gole de sua bebida e ficou em silêncio fitando o fundo do copo. 

— Como está a empresa? 

— Muito bem! Depois da contratação da nova advogada as coisas estão funcionando melhor. 

— E sua vida pessoal? 

— Como assim? 

— Filha, te vejo apenas trabalhando e cuidando da Manu. Você precisa se divertir, namorar. 

— Papai, não tenho tempo para isso. 

— Percebi a sua mãe querendo te jogar para cima do Erick. 

— Até você? 

— Não, longe de mim querer que você se envolva com aquele crápula. 

— Por que papai? 

— Por nada querida, vou dormir. 

Beijou minha testa e como dizem por aí, saiu à francesa. Mas me deixou com uma imensa pulga atrás da orelha. O que ele sabia sobre o Erick para chamá-lo de covarde? Terminei minha bebida e servi mais uma dose. 

Peguei o celular e fui conferir minhas redes sociais. Abri minha última foto no WhatsApp e vi que Camila visualizou a foto. Abri uma caixa de conversa, ela estava online, com quem estaria conversando essa hora? Danou-se! Agora quero controlar até com quem ela fala.

Sai da tela da conversa e fui olhar o status e juro que se eu não estivesse sentada eu teria caído. Camila havia colocado uma foto, mas não era qualquer foto. Ela estava apenas com um micro shorts, mostrando as pernas, onde repousava um livro e na mão uma taça de vinho. Na legenda “Companhias da noite”. 

Dei zoom na foto diversas vezes, que pernas mais torneadas. Me senti até mal por não malhar, as minhas pareciam dois gravetos. Ela tinha uma pinta em uma das coxas, o que dava uma beleza ainda maior àquelas pernas maravilhosas. Como não reparei nela quando a vi quase nua?

Senti meu rosto corar, não sei se pelo álcool ou pelo que imaginei olhando aquela foto. Será que havia postado para alguém? Será que seria para mim? Não, claro que não, ela havia deixado bem claro que não era lésbica. Fora que eu também não sou lésbica.

A lua está linda, refletindo na água da piscina. Fotografei e resolvi responder ao status dela. Postei a foto e coloquei um trecho da música que havíamos escutado mais cedo. “You don’t know how lovely you are, I had to find you, tell you I need you.” “Você não sabe o quão adorável você é, Tinha que te encontrar dizer que preciso de você.” Eu não poderia ser mais direta do que isso. Depois que postei, resolvi ir dormir já estava cansada. Fiz minha higiene e deitei, apagando em seguida. 

Fim do capítulo