Capítulo 15 – Sofia

O calor de mais um dia se espalhava pela fazenda, aquecendo não apenas a terra, mas também o espírito de Sofia. Nos últimos meses, parecia que o tempo havia finalmente decidido ser gentil. A fazenda prosperava, o gado estava saudável, os negócios iam bem, e as preocupações que costumavam tomar conta de sua mente agora pareciam mais distantes.

Sofia caminhava devagar pelo pasto, observando os cavalos no campo aberto. Respirou fundo, deixando o cheiro da grama molhada invadir seus sentidos. Era nesses pequenos momentos que sentia a presença do pai mais forte, como se ele tivesse deixado pedaços de si espalhados por ali.

Ela sorriu para si mesma e continuou andando até a cerca onde dois dos peões estavam ajeitando uma parte da madeira quebrada. Acenou de longe, recebendo de volta um sorriso amistoso. As relações na fazenda tinham se tornado ainda mais sólidas com o tempo, e Sofia, embora nunca tivesse se imaginado tão imersa naquela vida, agora sentia que pertencia àquele lugar.

Voltando para casa, encontrou Júlia sentada na varanda, corrigindo provas, como de costume.

— Tá estudando de novo, professora? — Sofia brincou, puxando uma cadeira para si.

— Corrigindo, minha cara fazendeira! — respondeu Júlia, rindo. — Alunos precisam de notas, e eu preciso de paciência.

Elas riram juntas, conversando sobre coisas simples, sobre a escola, sobre a fazenda, sobre o dia a dia. Era bom. Era leve.

Mas, em meio à conversa, Sofia viu, como um flash em sua mente, o rosto da médica que vira na festa meses atrás. Bianca. Era curioso... nunca tinham trocado mais que alguns olhares e algumas palavras apressadas naquela noite em que, de maneira inesperada, ela interveio em uma situação estranha entre Bianca e uma outra mulher.

Desde então, era raro que o pensamento surgisse, mas quando surgia, vinha carregado de uma inquietação diferente. Não era desejo, ela dizia a si mesma. Não era interesse. Talvez apenas... curiosidade.

Sacudiu a cabeça discretamente, voltando a focar em Júlia, que contava alguma história engraçada sobre seus alunos.

Sofia não comentou nada. Nem cogitou comentar. Era apenas um pensamento passageiro, um pequeno desvio da rotina que, com certeza, logo sumiria. Pelo menos era isso que ela dizia a si mesma.

À noite, enquanto ajudava Eunice a preparar o jantar, deixou a mente vagar. Pensou nos projetos da fazenda, nos novos investimentos que estavam planejando para o próximo semestre. Pensou na escola de Júlia, nos eventos que viriam com a chegada da primavera. E, de repente, sem nem perceber, pensou de novo na médica.

"Bianca", lembrou do nome. Era bonito. Simples, mas com uma sonoridade gostosa de dizer.

— Sofia, você cortou a cenoura ou só olhou para ela? — Eunice chamou sua atenção, rindo, do outro lado da cozinha.

Sofia olhou para baixo e viu que ainda segurava a faca parada sobre a tábua.

— Acho que me perdi nos pensamentos — disse, rindo também, tentando não parecer estranha.

Terminaram o jantar em meio a risadas, e a noite caiu tranquila sobre a fazenda. No seu quarto, já deitada, Sofia encarou o teto branco. Havia tanto acontecendo em sua vida... e, mesmo assim, aquele pequeno lampejo de curiosidade parecia querer ficar.

Ela suspirou.

— Besteira — murmurou para si mesma, fechando os olhos e se obrigando a pensar em cavalos, em gado, em contas para pagar.

Mas, no fundo, uma parte dela sabia que, talvez, aquilo fosse o começo de algo que ainda nem tinha forma.

Algo que ela, por enquanto, preferia não nomear.

---

Fim do capítulo