APAIXONADA
RAFAELA
Depois do convite de Helena o meu sorriso para entregar às crianças era ainda maior. Acordei pela manhã antes do despertador tocar. Andei pela casa até dar a hora de começar a me arrumar, pela primeira vez em alguns anos eu não organizava minha semana no domingo à noite. Mesmo fugindo da rotina eu me sentia feliz. Tinha me dado conta de que Helena me desejava tanto quanto eu desejava. Se eu contasse a Sabrina o que tínhamos feito ela certamente iria rir e dizer que estou perdendo o juízo. Mas o que eu poderia fazer? Depois que todas as crianças foram entregues, entrei na sala dos professores para pegar meu material e me assustei ao ver Janaína ao lado do meu armário. Abri o armário como se ela nem estivesse presente no local.
- Aquela lá vai ser mais uma das suas vítimas?
Me virei rapidamente e a encarei.
- Do que você está falando?
- A mãe da menina novata. Você vai comer ela também? Fazer gostar de você e dispensar?
- Eu achei que nosso problema já estava resolvido Janaína.
- Cansou de comer as colegas de trabalho e agora vai comer as mães de alunos?
- Eu não sei do que você está falando, mas acho melhor você me dar licença que eu preciso ir embora.
- Ir embora não. Eu ouvi ela te chamando para almoçar.
- Janaína eu não te devo satisfação nenhuma. Você é minha coordenadora e não minha mãe e piorou minha mulher. Me deixe passar e vai cuidar da sua vida!
Já tinha gastado minha cota de paciência com Janaina, passei esbarrando em seu braço e quando estava chegando na porta ouvi:
- Não vou deixar você destruir a vida de ninguém igual fez com a minha!
Bati a porta da sala e sai rapidamente pelos corredores para que ninguém me visse nervosa. Entrei no carro e enviei uma mensagem para Helena.
“Estou saindo da escola agora. Até daqui a pouco.”
O trânsito já tinha diminuído e cheguei bem rápido ao shopping, cheguei na praça de alimentação e de longe avistei os três sentados em uma mesa de quatro lugares. Davi estava com um celular nas mãos e um fone gigante nas orelhas. Stella falava algo com a mãe e gesticulava sem parar.
- Já pediram?
- Tiiia Raaafa!!!
A pequena correu e me abraçou como se não tivesse me visto a menos de meia hora na escola.
- Ainda não pedimos, estamos te aguardando Tia Rafa.
Helena falou e sorriu quando pronunciou “Tia Rafa”.
- Então vamos pedir logo porque estou com a fome de 3 leões.
Respondi já pegando o cardápio. Helena nem precisou olhar. Fez um sinal de mãos para o garçom que se aproximou e com toda gentileza ela pediu seu prato e das duas crianças.
Nos primeiros minutos Stella não nos deixava conversar. Para ela era uma novidade me ver fora da escola, então queria minha atenção toda para ela. Davi me cumprimentou, mas estava entretido no celular.
- Filha, quer ir nos brinquedos? Quando o almoço chegar mamãe te chama.
- Ebaaaaaaaa.
Helena sorriu o mais belo dos sorrisos e levou Stella até uma piscina gigante de bolinhas. Quando estava se sentando me disse:
- Agora ela vai te deixar um pouquinho em paz.
- Que isso… Estou acostumada com muitas crianças ao redor.
- Não sei o que a Tia Rafa tem que está fazendo minha família inteira se apaixonar por ela…
Sorriu e eu não perderia a oportunidade
- Será que são só os filhos que são fãs da Tia Rafa?
Helena ficou vermelha imediatamente e olhou para os lados
- Rafa não fala isso aqui. Você não tem medo?
- Medo de que?
- Sei lá, eu sou medrosa!
- Não sei se a mãe deles é fã da Tia Rafa, mas a Tia Rafa é super fã da mãe deles.
Sua pele que já estava voltando a cor normal voltou a ficar vermelha.
- Estou com vergonha.
- Não fique. É apenas um elogio.. Você ainda não me respondeu…
Helena bateu as unhas de forma alternada na mesa. Juntou os dois braços na frente do corpo:
- Rafa, eu não sei o que responder…
Tinha uma mecha de cabelo caindo em seu rosto, coloquei atrás de sua orelha e disse:
- Você não precisa me dizer nada, pois seus olhos já dizem. Não planejei nada disso, mas preciso te dizer o que está no meu coração e qualquer decisão que você tomar eu vou respeitar. Eu não sei onde isso vai nos levar Helena. Mas eu estou apaixonada por você.
Ela me olhou com os olhos arregalados.
- Rafa… Eu… Eu…
- Ei, eu não estou te cobrando nada… Estou falando dos meus sentimentos. Sei que você é mãe e casada. Mas eu não estou aguentando guardar isso pra mim. Eu sou muito controlada, mas quando estou perto de você não sei o que acontece comigo. Pode parecer um clichê, mas eu nunca senti isso por ninguém. Não consigo parar de pensar em você Helena. Não estou te pedindo reciprocidade, só gostaria que soubesse que é uma mulher incrível, uma mãe perfeita e que mesmo com esse pouco tempo que nos conhecemos o seu jeito me conquistou.
Helena apenas me olhava com a boca aberta, mas nenhum som era emitido.
- Rafa eu tam…
- Com licença… O pedido das senhoras…
O garçom chegou atrás de nós e interrompeu a fala de Helena. Quando viu a comida na mesa Davi retirou o fone e falou:
- Mãe busca a Stella.
Helena me olhou como se não estivesse raciocinando naquele momento.
- Deixa que eu busco ela.
Levantei e fui até o brinquedo em que Stella estava.
- Vou comer porque estou com a fome de três gatos…
Stella fez uma referência a minha fala de mais cedo.
- São três leões filha
Helena corrigiu a pequena.
- Mãe Tia Rafa é fome de três leões porque ela é grandona, eu sou pequeninha. Sou uma gata.
- Entendi filha, você realmente é uma gata.
Davi comia em silêncio e eu apenas observava o carinho com que Helena tratava aquelas crianças.
Tivemos um almoço tranquilo com Stella muito falante e Davi concentrado na comida. Helena e eu pouco nos falamos e muito nos olhávamos. Meu tempo já estava ficando corrido, pois tinha uma aluna para atender às 14 horas.
- Galerinha foi muito bom almoçar com vocês, mas já vou indo porque tenho compromisso daqui a pouquinho.
- Aaaaaah não tia…
- Amanhã nos vemos na escola princesa… Davi vamos marcar aquele futebol na praia pra eu ganhar de vocês dessa vez.
Estiquei a mão em formato de soquinho, mas além do soquinho ele ainda me abraçou e beijou meu rosto. Me direcionei a Helena e nesse momento eu era quem estava sem jeito.
- Vou indo Helena porque tenho aluno às 14 horas e ainda tenho que passar em casa pra trocar de roupa. Obrigada pelo convite.
Helena fez um sinal para o garçom e quando ele chegou ela entregou-lhe um cartão.
- Pode passar tudo aqui.
- Não Helena, não vou deixar você pagar tudo sozinha.
- Eu te convidei, então sou eu quem paga. Se quiser me pagar um almoço, terá que fazer um novo convite.
Percebi em seu olhar que naquele momento não tinha conversa. Fomos andando até o estacionamento. Chegando lá ajudei a colocar as crianças no carro e nós paramos na porta do motorista. Helena me abraçou e falou no meu ouvido:
- Te vejo daqui a pouco?
- Estarei te esperando.
Esperei que ela saísse com o carro e depois entrei no meu e fui para casa. Estava aliviada por ter falado para Helena dos meus sentimentos e ao mesmo tempo apreensiva pelo fato de não saber o ponto de vista dela já que fomos interrompidas. Mas faria algo para que ela me dissesse o que se passava naquela cabeça.
Fim do capítulo
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