Estamos finalizando a historia, ainda teremos um ou dois capitulos de epilogo, mas o bruto é isso pessoal. Já podem ir desapegando =)
Abraços.
Capitulo 71
Cap 70
Eu nunca havia entrado no Jornal, no mundo quase secreto da Bruna. O máximo que eu entrei foi na recepção e fiquei esperando a Bruna, e isso a uma vida atrás, antes mesmo de namorarmos, quando convidei ela para ir tomar um café. As demais vezes, eu no máximo esperei ela no térreo. Enfim, passei pela recepção e subi até o terceiro andar. Já vim nesse período outras vezes, afinal minha terapeuta ou melhor a terapia que tentei fazer é aqui. Parei em frente à entrada do “Dói Notícia” e me identifiquei para a recepcionista. A moça, muito educada, pediu que eu sentasse e aguardasse. Era possível ouvir o barulho, o murmurinho de pessoas falando ao fundo, acho que isso é normal em um jornal. Pouco tempo depois a m oncinha veio me chamar:
- A sra pode entrar, pode ir lá?
- Onde fica?
- Só seguir reto, no final do saguão já vai ver a sala da chefe - e assim eu fiz segui por entre os computadores, pelos corredores de mesas de trabalho. Realmente o barulho era intenso, pessoas conversando, teclados batendo, papéis sendo mexidos, impressoras trabalhando. Mas era um barulho encaixado ao ambiente, condizente com o espaço. Fui andando até o final do espaço e logo enxerguei ela atras de um notebook, conversando e gesticulando com uma mulher jovem. A sala dela era com vidro nas paredes, como um aquario.
- Oi - falei colocando o rosto à mostra na porta. Tentei sorrir, ser gentil.
- Oiii - Bruna me respondeu sorrindo. A moça que estava junto acabou me olhando também, por reflexo - Vem, entra - falou: Drica, preciso de meia hora aqui. Fecha tudo.
- meia hora? - a menina perguntou olhando direto pra mim, como se tentasse descobrir quem eu era. Se me lembro Drica é a assistente da Bruna, lembro que ela ficava ligando direto para ver sobre arte, alguma coisa desse tipo.
- Meia hora Drica. Preciso conversar com a Flávia - a menina olhou pra mim como se tudo fizesse sentido - é para me interromper só se cair algum avião, morte de presidente, qualquer coisa grave.
- Tá chefe. Vou segurar o pessoal. Quer um café?
- Um café, Flávia? - Bruna me perguntou e eu confirmei com a cabeça - Trás dois por favor - a tal Drica acenou concordando e saiu da sala. Eu ainda estava na porta, do lado de dentro, mas em pé, esperando a educação da Bruna de oferecer uma cadeira. Assim que a Drica saiu, a Bruna levantou de trás do computador e começou a fechar as persianas da sala dela. Acabei olhando a Bruna com um certo detalhismo, estava de calça social e claro, saltos. Uma blusa soltinha, de um tecido elegante, regata. Confesso que acabei lembrando dos seios dela, não tem como ignorar muito, são bonitos e dava para notar bem o volume na camisa - Vai ficar em pé aí na porta? Entra!
Ela fechou as duas persianas enquanto eu sentei na cadeira em frente a mesa dela.
A Bruna veio até onde eu estava, parou na minha frente e me olhou com calma, um certo carinho - me dá um abraço pelo menos - levantei da cadeira e abraçei ela. Não foi um abraço rápido, acho que ela precisava disso de alguma forma, talvez um carinho. Demorou tanto que eu inicialmente tensa e rígida, fui me soltando, harmonizando com ela e eu me permiti receber o carinho. Não sei quanto tempo ficamos naquele abraço, mas foi demorado.
Quando nos soltamos, ela esticou a mão em direção ao meu rosto, na parte que ainda estava bem roxa, mudando de cor - o que foi isso? - falou baixinho, carinhosa. Eu achei estranho ela carinhosa desse jeito, apesar que ela tem historico de ser carinhosa e depos agressiva, acho que de certo modo me esquivei do carinho dela, que continuou - tá doendo?
- Não, só sensível - eu respondi e a Bruna se aproximou mais ainda de mim, e em uma velocidade que não tive tendo de entender e encostou o lábio dela no meu, tentando me beijar. No segundo que consegui entender o que estava acontecendo, me afastei dela, com as mãos em seu ombro e dei um passo para trás - Opa Bruna, o que é isso?
Acho que ela se assustou com a minha reação, teve uma expressão de “o que foi?”, deu um passo pra tras, sem entender. Ficamos alguns segundos em silêncio até ela voltar a falar:
- Eu não entendi, você veio me ver, conversar comigo, a Mayra está presa, eu estou sozinha, você sozinha, achei que era pra gente voltar. Que veio falar isso comigo
- Ai Bru, não, não. Senta aqui cara, vamos conversar, vem - estiquei a mão apontando a cadeira na minha frente - vem, vamos conversar - Não sei se por decepção ou vergonha, o olho dela começou a encher de lágrima e ela desabou, sentou na cadeira e chorou, chorou doido. Apoiou a mão no rosto e chorou. Eu me aproximei um pouco dela, puxando a cadeira e passei o braço pelos ombros dela, abraçando de alguma forma, dando suporte, dando apoio. A Bruna só voltou a si, se acalmando ou sei lá, se recompondo, quando fomos interrompidas pela Drica trazendo os cafés.
- Posso entrar? - foi o primeiro momento que a Bruna levantou o rosto.
- Pode sim, preciso de um café - enquanto a Drica deixava o café pra gente,a Bruna puxou um lenço da gaveta e tentou de alguma forma secar os olhos, mas sem conseguir muito. Quando a menina foi embora, eu tentei conversar.
- Tá bem? Quer conversar?
- Ai, tem tanta coisa acontecendo, desculpa. Eu achei que você viria conversar comigo para voltarmos. Sei lá, Mayra presa, você solteira. Achei que fosse isso.
- Eu não estou solteira Bru, eu to com a Bia.
- Serio mesmo Flávia - falou em tom ironico - sério? Você acredita mesmo que é sério isso? Ela não tem aquele ex namorado dela? Que fica atrás dela o tempo todo? Ela nem sabe o que é mulher direito. Sem contar a historia com o Bibo.
- Bruna, primeira coisa é respeito. Eu não admito que fale uma palavra contra a Beatriz. Você não sabe nada sobre nós duas, muito menos sobre ela.
- Ah Flávia, sem puritanismo. Duvido que ela nunca falou de mim.
- Não, e se um dia falar vou agir do mesmo jeito, pedindo respeito. E eu exijo isso - falei bem firme, sem pestanejar ou gaguejar.
- Tá desculpa. Não vou falar dela. Enfim, fiquei feliz de você querer vir aqui. Eu estou me sentindo muito sozinha, vai ser bom distrair um pouco. Ninguém fala comigo sabe, aqui eu sou a chefe, não tenho ninguém mais. Nem o Antônio está falando comigo. Ele está puto com o que aconteceu com a Mayra, já jogou na minha cara mil vezes que foi minha culpa. Não me sinto culpada por ela ter sido presa, não fui eu que fiz coisa errada.
- Mas isso não tira a falta que ela faz né? - joguei direto.
- Não! - voltou a chorar - sinto falta dela. E me sinto tão idiota por isso Flávia, tão idiota.
- Você não tem culpa das coisas que ela fez.
- Eu fico todo o tempo me questionando, como não desconfiei de nada? Ela não deixava eu mexer no celular dela, tinha essas viagens estranhas. Eu achei que era só traição, um caso em Portugal ou em Londres, que ela sempre ia. Achei que era isso, nunca imaginei que ela era traficante de pessoas. Porr*, eu sou jornalista cara, como não vi o obvio?
- Bru, nem sempre dá pra ver. A gente confia nas pessoas, principalmente em quem amamos. O amor nos cega. Você sabe disso. Então não se culpe por amar.
- Eu tô tão sozinha, triste. Sentindo que to entrando em poço que tá foda sair. Os olhares aqui do jornal, os olhares do Antônio. Ele me culpa de um jeito que… doi. Eu não sou cúmplice dela, eu acho que só amei a pessoa errada. Eu ando pelo jornal e as pessoas me olham, me julgam. Eu sempre amei esse jornal, cresci aqui, sei de cada processo, se a impressora trava, eu resolvo. Se o tipógrafo falta, eu sei fazer. Eu sei quando o cheiro daqui está errado, mas não me sinto mais em casa. Não pertenço mais a esse lugar, me incomoda vir aqui.
- Bru, eu te falei isso várias vezes. Não é porque o Antonio te treinou, que você deve escravidão a ele, você não é dele. O amor que ele tem por você, deve ser o amor de padrinho e não de posse.
- Ele é meu pai.
- Oi, como assim? Não era seu padrinho?
- Em uma das últimas vezes que você foi lá em casa, que vocês até meio que discutiram, lembra?
- Claro que lembro, que raiva que eu fiquei dele, acho que se eu pudesse tinha dado na cara dele.
- Nesse dia ele me falou que é meu pai, nunca conseguiu se aproximar de mim como pai, só como padrinho. E na verdade isso só aconteceu porque meu avô ajudava. Eu fui realmente ter contato com o Antônio quando eu saí de casa.
- Pesado isso hein. Machuca! Como você está com isso?
- Eu não posso ficar puta com ele, ele sempre me ajudou no que pode e na forma como pode. Ele também era casado, tinha uma esposa que não gostava de mim. Nunca entrei em detalhes e nem quero. Mas ele defender a Mayra como defende me incomoda. Parece que ele não enxerga o que ela fez como um crime, não sei explicar.
- É crime e dos pesados. Ela não tem direito a fiança, ser reu primário não vai ajudar muito ela não. A situação dela está bem complicada.
- Eu posso fazer alguma coisa pra ajudar ela? - perguntou olhando pro chão, com vergonha da própria pergunta.
- Bruna, olha aqui pra mim. Para de se importar com ela, preciso conversar sobre você!
- Eu? Sobre mim?
- A Mayra falou de você no depoimento dela.
- Falou? O que ela falou?
- Ela te acusou de ajudar ela a fugir, que você emprestou a moto pra ela. Falou que você buscou o passaporte falso pra ela e que ajudou ela a mudar o cabelo, para facilitar a fuga.
- Não - falou bem séria, em desespero - Eu não fiz nada disso. Flávia, você me conhece, sabe que eu não sou bandida. Só idiota pelo visto.
- Calma, calma. Ainda não foi feita a denúncia ao ministério público, mas vai ser feita, provavelmente amanhã. Eu vim te avisar. Estou aqui como amiga, na verdade como ex namorada, extra oficial, não como investigadora. Eu quero que você consiga um advogado. Até onde sei o depoimento dela é falho, cheio de lacuna, não fecha nada em relação a você.
- Puta que pariu. Porque ela fez isso?
- Bru, não tem como saber. Quem não garante que de um jeito errado, não está fazendo isso pra ficar com você? Juntas, presas? Não dá pra saber.
- Não faz sentido, não faz sentido Flávia. Porr*, a unica coisa que eu fiz foi ser idiota, ajudar ela. Ah, quero tingir meu cabelo? Me ajuda? Ajudo! ME empresta sua moto? Empresto! Sabe como ela é estourada, eu não conseguia falar não pra ela.
- Bruna, calma. Primeira coisa é ficar bem e calma para pensar nas coisas. Depois achar um bom advogado. Mesmo que seja inconsistente, vai ter denúncia e gastar sua energia em defesa. Não acho que vai dar nada, mas vai precisar se defender.
- Não acredito nisso, cara! Não acredito! Filha da Puta. E sabe, eu toda preocupadinha aqui, será que visito ela no presídio? Tento manter nosso namoro, afinal sou a idiota que ama ela, olha minha preocupação e ela vai lá e me acusa? E você, depois de tudo que eu fiz ainda está aqui me ajudando, me avisando? Eu sou uma bosta - voltou a chorar.
- Calma. Você precisa se estabilizar, levantar a cabeça e se organizar. Independente de querer ou não, sua moto está no aeroporto, tem vídeo dela chegando no aeroporto com a sua moto. Você vai ter que explicar isso judicialmente. Você é réu primário, moradia fixa, emprego fixo, tudo isso tem uma importância legal. Pesa a seu favor.
- Será que dá ruim isso?
- acredito que não, ainda mais se for inconsistente. Mas vai precisar se defender e isso vai gastar sua energia - Ela respirou fundo, como se tentasse pegar um pouco de oxigênio ou alinhar os chacras.
- Porque está me avisando isso?
- Porque eu gosto de você. Não te desejo nenhum mal.
- Só isso?
- Bru, eu sou muito fiel aos meus conceitos. Se posso te ajudar, vou te ajudar. Tenho um carinho enorme por você.
- Eu pensei muito na gente esses dias.
- Pensou o que?
- Eu troquei você pra ficar com a Mayra, olha a merd* que fiz.
- Acho que nosso namoro não deu certo por nós duas, não por conta da Mayra. Pelas nossas escolhas.
- Você está mesmo com a Bia?
- Estou. Me sinto muito bem ao lado dela, sinto que volto pra casa com ela.
- Alguma vez você sentiu isso por mim? - me perguntou bem séria, olhando nos meus olhos.
- Bru, não precisamos ter essa conversa. Ou melhor já tivemos.
- Não, quero uma conversa de SAC, serviço de atendimento ao consumidor - foi a primeira risada desde que começamos a conversar - o que tivemos foi real mesmo?
- Hahaha, pra mim foi. Espero que tenha sido pra você. Acho que o que nos atrapalhou foi sermos de mundos diferentes. Eu não sei nem me portar no seu mundo e você se achava acima do meu.
- Sempre fui muito snob ne?
- Ai Bru, desculpa, mas sim. Nem acho que era por maldade. Acho que você só tinha isso a oferecer, só essa realidade. Como andar de bicicleta, se sempre andei de carro? Você ofereceu o que podia. Eu tentei o quanto deu, mas as vezes precisamos soltar um cabo de guerra que machuca. Nunca estive tão sozinha do que quando estava com você.
- Sério?
- Infelizmente sim. Nem quando aconteceu o acidente da Fabi eu me senti tão sozinha. No acidente dela eu tinha pessoas em volta dando algum auxilio, mas quando eu estava com você eu não me sentia bem. Só aquela emoçaõ inicial, nosso sex* era bem bom, mas no final eu estava sozinha. Sei lá, você estar com a Mayra já era o esperado. Ah chega disso, não vim aqui lavar roupa Bru.
- Bom, agora estou me sentindo pior ainda. Você é linda, inteligente, e eu perdi você para uma traficante de pessoas.
- Traficante de pessoas que você amou e ainda ama, não fique se punindo mais ainda não cara. A gente não esquece sentimento só porque alguma coisa aconteceu.
- Sim, você está certa e isso vai fazer doer mais ainda.
- Porque?
- Preciso tomar um rumo na minha vida, eu estou descarrihando e não sei como voltar mais.
- Antes das abordagens, de tomar alguma decisão, nós paramos, comemos, bebemos, pensamos e depois que decidimos. Acho que pode fazer isso. Não toma nenhuma decisão de cabeça quente. Pensa em tudo com carinho, pros, contras.
- Ai Flavinha, ai, mesmo depois de tudo, você está aqui me dando apoio.
- Eu não sou uma pessoa ruim Bruna, não quero seu mal. Até ia te falar, a dona Carmem, mãe do Bibo é uma excelente advogada.
- Puta merd*, a tia Márcia e a tia Carmem, quando elas souberem desse indiciamento eu to ferrada. Vão me comer viva com sal.
- Calma.
- Não, não tem calma com elas. Quando eu fui lá na sua vó, que fui super escrota, a tia Márcia me chamou de canto e me comeu no esporro, sai de lá sem rumo. Quando eu voltei com a Mayra e tia soube, me chamou de novo pra conversar, mais uma rabada. Quando ela souber da denúncia, vão me dar uma bronca absurda.
- Mas tenho certeza que vão te ajudar. Elas te veem como filha, querem seu bem também cara. Bru, você tem rede de apoio, você tem pessoas que te amam. Você só fez algumas escolhas erradas, que dá tempo de mudar, dá tempo de escolher melhor. Por exemplo, dá tempo de você se demitir daqui e ir, sei lá, ser jornalista na África, acompanhar uma guerra, não sei. Você é jovem, inteligente, muito bonita. Dá para voltar aos trilhos ainda.
- Me dá um abraço? - sacodi a cabeça e ofereci meu ombro, a Bruna encostou em mim e voltou a chorar, chorar forte, durante o choro falou “ estou tão sozinha, tão sozinha".
Eu fiquei com a Bruna até ela se acalmar e conseguir se recompor, passou fácil dos 30 minutos que ela havia pedido. A própria Drica teve que entrar na sala para resolver alguma coisa e ajudou, de alguma forma, a colocar a Bruna no eixo novamente para as demandas do jornal.
Sai do Doi Notícia com uma sensação de leveza, de que fiz o que tinha que fazer. Eu não sou uma pessoa ruim, não desejo mal a Bruna, pelo contrário, desejo que ela cresça, que amadureça principalmente. Quando saí do jornal, não tive nenhuma sensação de “porque não beijei ou porque não pisei”, não, sai plena e pensando na Beatriz, como sou sortuda por ter essa possibilidade, como sou sortuda por ter ela próxima a mim.
Voltei pra casa em cima da minha CG simples, mas que cumpre minhas missões, entrei no meu apartamento, comprado no financiamento com o meu esforço e encontrei a Bia na cozinha. Ela estava de bermudinha e uma regata solta, daquelas de ficar em casa, lavando a louça. Encontrei ela no nosso apartamento e não pude deixar de sorrir e sorrir muito, com verdade, ela é meu porto seguro, meu lugar de aconchego, lar.
Passei no banheiro, lavei a mão, lavei o rosto e segui em direção a cozinha. Abracei ela por trás, passando meus braços por baixo dos dela. Encostei meu nariz em seu pescoço e senti seu cheiro suave de perfume - Hummm, cheirosa - desci a mao e apertei os gluteos - hummm, gostosa! - a Bia sorriu e continuou lavando a louça. Abracei ela novamente, eu queria sentir aquele lar, o calor dela.
- Como foi no DP? - ela perguntou.
- Tranquilo, conversei com o Alcino e com a Isa, volto amanha.
- Vai ficar na equipe da Isa mesmo?
- Aparentemente sim, ela me quer e o Cantão não. Então devo ficar trabalhando com ela.
- Ela te quer? - falou secando a mão, ainda na pia, de costas pra mim - ela sempre te quer!
- Quanto ciúmes gostosa! - virou o corpo e olhou pra mim - eu não estou nem aí pra ela. Quero você na minha vida!
- hummm - encostou a mão ainda úmida no meu corpo - só na sua vida? - vi que ela mudou o tom. Puxei o corpo dela, nos aproximando mais, estreitando mais o espaço.
- na verdade quero você na minha cama! Agora! - falei no pé do ouvido, lasciva e provocativa.
- Agora? - não me dei ao esforço para responder. Passei a mão na nuca, enlaçando os dedos no cabelo pouco acima do ombro, mas sempre solto e aproximei nossos corpos. lábio com lábio, beijei suavemente a Bia, mordiscando os labios, passando a lingua. Um beijinho suave no pescoço, intercalado com mordidas.
- Quer que eu continue ou pare? - perguntei olhando fundo nos olhos da Bia. Não tive resposta verbal, mas a Bia sorriu e voltou a me beijar. Deixei ela guiar o beijo, dei espaço para ela. Quando nos soltamos, eu sorri, verdadeiramente. Segurei sua mao esquerda e fui puxando ela para nosso quarto. Mais do que nunca coloco como nosso quarto e não mais só meu, não sinto como só meu.
A Beatriz sorrindo o tempo todo, sempre envergonhada, com o rosto vermelho, aceitou mais um beijo meu e deitou em nossa cama. Deitei por cima dela, segurando o corpo nos braços até onde deu, depois deitei em cima dela. Passei minha mao esquerda tirando o cabelo dela do rosto, permitindo que eu a beijasse. A mao direita passou pela lateral do corpo, da coxa, por baixo da bermuda larga, depois pelo tronco, por baixo da regata.
- “Tá” sem nada? - a Bi ficou mais vermelha com a minha pergunta.
- Em cima e embaixo!
- Hahaha, sério? - falei com certa luxuria. Comecei a beijar seu pescoço, dando sutis mordidas, a mão continuou a acariciar ela. Puxei a blusa com calma, até o busto e fui mordiscando o bacon, beijando, acariciando. Os mamilos estavam acesos e claro que cai de boca neles, enquanto uma mão massageava, outro ch*pei com força. Já conheço bem a Bia e seus gostos, enquanto mordisquei firme, deixando uma sutil sensação de dor.
Voltei a apoiar o peso do corpo nos braços para poder beijar mais a Bi, mas um choque absurdo percorreu meu tórax, próximo a fratura de costela e o dreno. Que dor. Tentei disfarçar, soltei meu corpo nela, encaixando minha perna no meio das delas. Voltei a beijar a barriguinha e fui subindo para o pescoço. Falei pertinho do ouvido dela: - Vira, quero morder você.
A Beatriz e eu juntas somos uma dupla bem estabanada, enquanto eu fui sair de cima para ela virar, ela virou antes e meteu uma cotovelada no meu tórax, não consegui pensar, de tamanha a dor, tentei xingar de dor, mas não saia o ar, os olhos lacrimejaram.
- Aí Flávia. Caramba, desculpa amor, desculpa. Tá bem? - ela falou sentando rápido na cama e tentando apoiar meu corpo. Eu ainda estava na mesma posição que tomei a porr*da, tentando recuperar o fôlego, não consegui responder - Espera, vou pegar um gelo, calma - Ela saiu correndo do quarto e eu tentei me posicionar de um jeito confortável e fui puxando o ar calmamente, tentando aliviar a dor de alguma forma. Pouco tempo depois a Bia voltou com uma sacola de mercado cheia de pedrinhas de gelo, eu já estava deitada sob um travesseiro, mais elevada, mas nitidamente com muita dor ainda
- Fla, amor, gelo. Coloca o gelinho. Desculpa. Desculpa - esticou a mão e colocou o saco com gelo por cima da minha camiseta - Será que quebrou? Desculpa amor, desculpa.
- Acho que não. Só está doendo, muito. Calma, calma amor. - eu morrendo de dor tentando acalmar a Bia, chega a ser engraçado - Só me dá um tempinho, calma, só um tempinho de respirar.
- Vou pegar um daqueles remédios de dor seu. Ver se alivia - A Bia saiu rapidamente para pegar os meus remédios de dor. Apesar de estar doendo muito, o gelo está ajudando bastante - Toma o remédio amor! Vem - me deu um comprimido e um gole de água. Depois disso eu calmamente fui soltando meu corpo na cama novamente. Vou só precisar esperar fazer efeito, simples. Será que assustei muito a Bia? Merda, estávamos tentando namorar um pouco, não consigo voltar.
- Bia, vem cá - ela estava em pé, me velando, travada - vem, fica aqui comigo.
- Não, capaz de machucar você de novo, como sou estabanada - ela estava assustada, talvez até com medo de uma reação mais agressiva. Claro que eu não faria e não farei nada, mas entendo o medo dela.
- Então vem estabanada mesmo, vem deita aqui do outro lado - pulei devagarinho para o lado, dando espaço para ela deitar no meu tórax direito. Aos pouquinhos, mas ainda muito travada, ela deitou ao meu lado, sem nem encostar em mim - Não Bi, mais pertinho, vem cá! Quero seu corpo me esquentando! - Ela foi se aproximando lentamente e com muito cuidado. Estiquei minha mão direita por cima dela e comecei a fazer carinho no cabelo da Bi, aos poucos ela foi soltando o corpo.
Eu deitadinha com a Bia, não sei se por efeito da dor ou do analgesico, comecei a lembrar um pouco de mim, de onde estava, onde estou. Eu perdi a Fabi tem três anos, depois disso eu pensei que não fosse nunca mais me levantar. Foi a maior dor que já tive, o acidente dela doeu mais que a morte dela. Depois disso eu me perdi de mim, liguei um modo destruição absoluto, trabalho em excesso, situações de risco, relacionamentos sem vínculo algum. Acho que eu só estava esperando a minha vez, eu morrer junto com ela.
Quando conheci a Bruna, não tinha ideia de que ela seria o começo de uma nova Flávia. Apesar de eu não estar mais com ela, e isso ser uma coisa excelente, a Bruna foi a primeira pessoa que consegui me relacionar, me soltar depois da Fabi. Acho que a Bruna foi essencial para que eu pudesse criar uma ponte entre a Flávia antes e depois da Fabi, uma ponte para eu aceitar esse passado doloroso, mas entender que há um presente e um futuro honesto, saudável.
Eu cresci tanto depois que me reencontrei, tenho um apartamento meu, tenho minha moto, tenho um emprego bom, terminando a faculdade, mesmo que a trancos e barrancos. Como a Fabi ficaria feliz por ter conquistado tudo que desejávamos, claro que eu queria ter conquistado tudo isso com ela, mas não deu, não estava na nossa história. Mas sei que de algum lugar ela me guia, me protege e comemora essas pequenas vitórias.
Acho que de alguma forma ela aprovaria a Beatriz. Uma pessoa que tanto amor para dar que ela própria não entende isso, alguém que foi tão machucada que tem medo de tudo. Acho que minha função com a Bia é ajudar ela a se amar de novo, a conseguir ser amada, ajudar a ela se permitir.
E olho eu hoje, aqui na cama, deitadinha com ela, como sou sortuda pelas oportunidades que recebi. Quantos colegas de infância, lá da Brasilândia, não se perderam na vida? Quantos a própria polícia que hoje eu pertenço não matou? Eu consegui de alguma forma me apoiar nos bons exemplos, pegar as boas oportunidades e usar bem, seguir por um caminho de boas ações. Sei que não tenho grandes luxos, mas tenho o que eu preciso. Agradeço ao hoje por essa mulher linda e companheira que encontrei na minha vida.
- Está chorando Flá? Ainda está doendo?
- Não Bia, estou emocionada por tudo que aconteceu comigo e pelo quanto sou feliz por ter você ao meu lado - acertei meu corpo e consegui encostar nossos labios, comemorando esse momento.
Fim do capítulo
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