Capitulo 25
-Bom dia. - Falei ao passar pela porta do consultório
-Bom dia Helena! - Marilia falava com um sorriso no rosto
Aquele sábado em específico, era um dia diferente dos outros, eu estava em um momento da minha vida que por muito tempo eu almejei, eu estava bem, claro que ninguém fica totalmente bem, mas devido a tudo que eu já passei eu me sentia bem e isso era não era somente um avanço, era como se eu estivesse perto da linha de chegada
- Me conta, como você tem se sentido nesses últimos dias?
Eu respirei fundo antes de responder. Ainda era difícil falar sobre mim mesma sem sentir que estava sendo julgada, mas Marilia sempre me transmitia segurança.
- Eu tenho me sentido bem. Mariana tem sido uma parte importante disso. Ela trouxe uma nova energia para a minha vida... - Sorri ao lembrar do jeito doce dela, da forma como seu toque parecia trazer uma sensação de pertencimento que eu não sentia há anos. - Acho que, pela primeira vez em muito tempo, estou me permitindo viver sem tanto medo.
Marilia sorriu, inclinando levemente a cabeça.
- Isso é maravilhoso, Helena. Você merece ser feliz. E como estão as coisas entre vocês?
Minha mente viajou para a noite anterior, quando Mariana e eu conversamos sobre seus planos para o restaurante. Ela estava tão empolgada que seus olhos brilhavam. Era impossível não me contagiar com sua paixão pelo que fazia.
- Está tudo bem. Ela é incrível, Marilia. Me sinto segura ao lado dela. É como se, depois de tanto tempo, eu tivesse encontrado um lar fora de mim mesma.
Marilia assentiu, parecendo satisfeita com minha resposta.
- E isso te assusta? - Ela perguntou com a gentileza de sempre.
Pisquei algumas vezes antes de responder. A verdade era que sim, me assustava. Entregar-me novamente ao amor era algo que, por muito tempo, achei que não fosse mais possível. Mas, ao mesmo tempo, Mariana fazia tudo parecer tão fácil...
- Um pouco. - Admiti. - Mas estou tentando não deixar o medo me impedir.
Marilia sorriu e fez uma anotação em seu caderno.
- Isso já é um grande passo, Helena. Lembre-se: você não precisa ter todas as respostas agora. Apenas permita-se sentir. - Marilia sorria para mim de uma forma tão boa -De acordo com tudo que você me passou, acredito que seria bom, a diminuição dos seus remédios, por isso, te indico a marcar uma consulta com o doutor Carlos, para ver o que pode ser feito. Lembrando Helena, que você precisa contar pra ele, o seu avanço.
Esse fato era um dos motivos da minha felicidade, era tão significativo para mim.
Eu assenti com a cabeça, sentindo um calor reconfortante crescer dentro do meu peito. Era estranho pensar que, depois de tanto tempo, eu finalmente estava ouvindo palavras que me davam esperança. A redução dos remédios significava progresso, significava que eu estava no controle da minha vida novamente.
- Eu vou marcar a consulta com o doutor Carlos ainda hoje. - Respondi com um sorriso tímido, sentindo os olhos de Marilia me analisando com ternura.
- Fico muito feliz por você, Helena. Seu esforço está trazendo resultados. - Ela disse, apoiando as mãos sobre a mesa
Saí do consultório com o coração mais leve. O dia estava bonito, o sol aquecia minha pele e a brisa leve parecia trazer uma promessa de recomeço.
No dia seguinte, Mariana e eu estávamos no carro a caminho da casa dos pais dela para o almoço de domingo. Eu sentia um leve nervosismo, algo que Mariana percebeu imediatamente.
- Está tudo bem? - Ela perguntou, tirando os olhos da estrada por um instante para me observar.
- Sim, só um pouco ansiosa. - Admiti, soltando um suspiro. - Faz tempo que não conheço a família de alguém...
Mariana sorriu e estendeu a mão, segurando a minha por um momento.
- Meus pais vão te adorar. Meu pai adora conversar sobre qualquer coisa, e minha mãe provavelmente vai te encher de comida. - Ela riu. - Você gosta de comida caseira, né?
- Amo. - Sorri, tentando relaxar.
Quando chegamos, a casa tinha um ar acolhedor. O cheiro de comida feita no fogão à lenha invadia o ar. Mal entramos e a mãe de Mariana, Dona Lúcia, veio nos receber com um abraço apertado.
- Mariana! E essa moça linda? - Ela perguntou animada, olhando para mim com curiosidade.
- Mãe, essa é a Helena. - Mariana me puxou um pouco para frente. - Helena, essa é minha mãe, Lúcia.
- Seja bem-vinda, querida! - Dona Lúcia disse, segurando minhas mãos com carinho. - Entre, entre! O almoço já está quase pronto.
O pai de Mariana, Seu Antônio, estava na sala assistindo a um jogo, mas se levantou assim que nos viu.
- Finalmente conheço a moça de quem Mariana tanto fala. - Ele disse com um sorriso simpático. - Seja bem-vinda, Helena.
- Obrigada, senhor Antônio. - Respondi, um pouco envergonhada, mas sentindo-me acolhida.
Durante o almoço, as conversas fluíram naturalmente. Dona Lúcia perguntava sobre meu trabalho, minha família e, claro, sobre como Mariana e eu nos conhecemos. E eu a lembrei da vez que fui à procura de Mariana no quiosque. E isso me fez sentir cada vez mais confortável.
No fim do almoço, enquanto tomávamos café na varanda, percebi que todo o nervosismo inicial tinha ido embora. Estar ali, cercada de carinho e boa comida, me fazia sentir que estava, de fato, vivendo algo novo e bom.
Mariana apertou minha mão de leve e sussurrou:
- Eu disse que ia ser tranquilo.
Olhei para ela e sorri. Talvez, só talvez, o medo estivesse perdendo espaço para a felicidade.
[...]
O soro descia em um fluxo lento pelo tubo transparente até alcançar a agulha fincada em meu braço. Eu observava o líquido claro com uma estranha fixação, acompanhando seu trajeto como se esperasse que, a qualquer instante, algo diferente acontecesse. O quarto de hospital estava silencioso, salvo pelo bip contínuo do monitor ao lado da cama e o ruído abafado de passos no corredor. O ar tinha aquele cheiro característico de antisséptico, frio e impessoal.
Dois meses.
Dois meses desde que tudo virou de cabeça para baixo.
Contrai levemente os dedos, sentindo a textura do lençol contra a pele quente. Era um pequeno movimento, quase insignificante, mas cada detalhe do meu próprio corpo parecia ter um peso diferente agora. Respirava fundo, sentindo o peito subir e descer devagar, como se precisasse se certificar de que o ar ainda fluía, de que estava ali, presente, real.
Dois meses de perguntas sem resposta. De um turbilhão de emoções que pareciam me esmaga pouco a pouco. De tentar entender algo que não deveria ser possível.
A revelação tinha me atingido como um golpe certeiro, me tirando o chão e o ar. O peso da descoberta me atravessou sem piedade, me consumindo de dentro para fora. Meu corpo reagiu antes que minha mente conseguisse assimilar, e eu sucumbi. O desmaio veio como uma cortina fechando o palco, me arrastando para a inconsciência antes que pudesse lutar contra o impacto da verdade.
Agora, eu estava ali. Fraca. Presa à cama, ao soro, ao próprio corpo que ainda se recuperava do choque. Minha mente, no entanto, não encontrava descanso. O que fazer com aquilo? Como seguir em frente sabendo o que sabia? Como olhar para Mariana e não sentir o peso esmagador daquilo que estava entre elas?
Passei a língua pelos lábios secos, apertando os olhos por um instante. Não sabia a resposta. Não sabia se conseguiria encontrar alguma. O que sabia, no entanto, era que nada mais seria como antes.
E a falta de resposta de Mariana demonstrava isso, que nada, nunca mais, seria como fomos um dia.
Fim do capítulo
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