Capitulo 39
O silêncio na sala de reuniões da delegacia era quebrado apenas pelo som das páginas sendo viradas e das canetas rabiscando cadernos. Hugo tinha convocado todos para discutir o que parecia ser o ponto de partida de uma análise mais profunda: traçar o perfil do assassino. A tensão era evidente, mas havia também uma determinação coletiva para desvendar o mistério.
Ricardo estava em pé ao lado do quadro branco, marcando informações importantes enquanto Lucas lia o resumo do que haviam reunido até o momento.
— O legista confirmou — começou Lucas, ajustando os óculos de leitura. — Todas as vítimas tinham algo em comum: eram jovens, entre 20 e 35 anos, com pouca ou nenhuma ligação familiar próxima. E, como já notamos, os padrões do assassino são meticulosos, quase ritualísticos.
Olívia, que estava recostada na cadeira com os braços cruzados, levantou o olhar para o quadro.
— O que sugere um perfil específico. Estamos lidando com alguém metódico, calculista, mas que não se importa em correr riscos. Ele deixa os corpos em locais visíveis, mesmo sabendo que atrairá atenção.
Fernanda fez um gesto de dúvida.
— Isso não é meio contraditório? Quer dizer, ele é cuidadoso, mas ao mesmo tempo se expõe?
— Não, não é — respondeu Gabriela, apontando para o quadro. — Isso só reforça que ele conhece bem a região. Ele sabe como agir sem levantar suspeitas. Além disso, é provável que ele seja alguém que passa despercebido. Um cidadão comum, talvez alguém de meia-idade, com uma rotina que não chame atenção.
Ricardo balançou a cabeça em concordância.
— E se for assim, o fato de ele agir localmente e conhecer tão bem os arredores indica que é alguém daqui, alguém que vive ou já viveu nessa comunidade.
Hugo, que observava tudo em silêncio até então, se aproximou da mesa central.
— Isso faz sentido. Também explica por que ele conseguiu se manter inativo por tanto tempo. É provável que ele tenha encontrado uma forma de esconder sua verdadeira natureza, desempenhando um papel irrepreensível em público.
— Isso também significa que ele pode estar acompanhando de perto o progresso da nossa investigação — acrescentou Lucas, lançando um olhar preocupado para o chefe.
Olívia apontou para uma das anotações no quadro.
— Se formos usar o perfil como base, precisamos focar em homens entre 40 e 60 anos, locais ou com histórico de longa permanência aqui. Não descartem ninguém com alguma conexão com as vítimas, mesmo que superficial.
Gabriela, pensativa, folheou novamente os relatórios.
— E mais uma coisa: ele não escolhe as vítimas aleatoriamente. O padrão é claro demais. Precisamos identificar o que conecta essas pessoas além da idade e da situação familiar. Pode ser algo pequeno, mas será crucial para rastreá-lo.
Fernanda bateu levemente na mesa.
— Vocês já consideraram que ele pode estar agindo por uma motivação simbólica? Talvez tenha alguma relação com eventos do passado que o marcaram, algo que ele acredita que justifica os crimes.
— Ou ele acredita que está fazendo justiça de alguma forma — completou Ricardo.
Hugo fez um gesto afirmativo.
— Quero que vocês revisem qualquer arquivo antigo que possa ter relevância. Não só o caso de 2010, mas registros de desaparecimentos, relatos de comportamento suspeito, qualquer coisa que possa se encaixar nesse perfil.
Enquanto os outros discutiam, Lucas sentiu um desconforto crescente. O perfil delineado coincidia com muitas características de seu pai, o antigo xerife. Ele tentou afastar o pensamento, dizendo a si mesmo que era impossível. Seu pai era um homem íntegro, alguém que dedicara a vida à lei e à ordem. Ainda assim, a ideia o incomodava.
Gabriela percebeu a inquietação de Lucas e tocou levemente em seu braço.
— Está tudo bem? — perguntou ela, com uma expressão de preocupação.
Lucas forçou um sorriso.
— Sim, só estou tentando organizar as ideias.
Gabriela não insistiu, mas ficou com a impressão de que algo mais o estava perturbando.
Hugo encerrou a reunião com um aviso.
— Trabalhem com cautela, mas sem perder o foco. Se estamos certos sobre o perfil, nosso alvo pode estar mais perto do que imaginamos.
Enquanto a equipe se dispersava, Lucas permaneceu sentado, encarando as anotações no quadro. Algo não parecia certo.
Fim do capítulo
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