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  • capítulo três: paranóias

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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

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Palavras: 4546
Acessos: 823   |  Postado em: 24/03/2025

capítulo três: paranóias

CAPÍTULO TRÊS 

Fiquei estática, sentindo meu cérebro travar por alguns segundos.  

— O quê? — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. 

Fernanda deu de ombros, como se estivesse comentando algo óbvio. 

— Eu já venho reparando isso há um tempo, até conversei com Andressa sobre isso, mas achei que era coisa da minha cabeça. Ela sempre foi muito apegada a você. Sempre te admirou, te seguiu, quis ser igual. E agora, do nada, se distancia, se rebela, decide sair da cidade? Parece fuga. 

Eu passei as mãos pelo rosto, tentando processar. 

— Isso não pode ser verdade. Amanda é minha afilhada, praticamente minha filha. 

— Justamente. Ela cresceu te vendo como um exemplo, e às vezes, quando a admiração se mistura com sentimentos confusos, a gente não sabe como lidar. 

Neguei com a cabeça. 

— Não, Fê. Não pode ser. Que loucura é essa? — Me levanto e começo a andar em círculos  

— Então pergunta pra ela. 

Engoli em seco. Eu não queria perguntar. Porque, se fosse verdade, como eu lidaria com isso? 

— E se for verdade? 

Fernanda levantou e segurou minha mão. 

— Se for, você vai ter que conversar com ela. Deixar claro que não pode retribuir esse sentimento, mas que isso não muda o carinho que você tem por ela. 

Suspirei, sentindo um peso no peito. 

— Eu nem sei como começar essa conversa. 

Fernanda apertou minha mão. 

— Sem falar que, ela não ia criar ranço por mim do nada, né? Nunca foi "do nada". Ela deve achar que não pode te ter por conta de mim.  

Que loucura...  

— Mas ela nunca poderia me ter, independente se você existisse ou não. Ela vai ser pra sempre minha afilhada, nunca a olhei com outros olhos e nem poderia. — Penso um pouco — O que Andressa disse sobre isso?  

— Ela tem a mesma percepção que eu. Quando falei que achava isso, ela se espantou e eu achei que ela fosse brigar comigo por estar pensando merd*, mas ela tem a mesma opinião.  

— Adriana sabe? — Pergunto, colocando as mãos no rosto  

— Não. Amanda não se abre com ela.  

— Mas se abre com aquela bruxa da Paola, o que é pior. Será que ela contou pra bruxa? Por isso ela tá apoiando Amanda ir pra São Paulo?  

— Não sei, amor. Essa é uma das conversas incômodas que você vai ter que ter com Amanda. — Ela coloca a mão no queixo — Ela já não te chama de "dinda" há muito tempo, só te chama de Anna.  

— Será que eu fiz algo que possa ter iludido ela? Eu juro, Fê... Eu não me lembro de... — Fernanda põe o dedo indicador na minha boca e me puxa para um abraço  

— Você não tem culpa. O amor... Acontece. Assim como aconteceu com nós duas, com Andressa e Adriana, Beatriz e Bruna (?) — Ela faz uma cara estranha no final, mas ri. — A diferença é que nós somos correspondidas.  

— Tenho tanto medo... Ela fica pegando todo mundo, indo pra cama com todas, me contou cada coisa que já fez e ela acabou de fazer 18 anos...  

— Não seja puritana, Anna Florence. — Fernanda revira os olhos  

— Não estou sendo, eu fiz pior do que ela. Eu não acreditava no amor mesmo. — Dou de ombros — Mas é diferente quando você quer proteger alguém que você viu crescer e está́ completamente sem juízo. Ela já me apresentou umas 10 garotas esse mês. Isso me preocupa, Fernanda.  

— Conversa com Adriana. — Ela sugere  

— Adriana está mais perdida que eu, ela não sabe lidar com Amanda... Principalmente quando essa está sendo influenciada por Paola.  

— Então cabe à madrinha dela ter essa conversa.  

— AAAAAAAAAA — grito, abafando na almofada — Diz pra mim que Cecília não vai crescer, por favor. Eu não tô preparada pra lidar com esses assuntos amorosos.  

— Ela vai. E fique ciente que ela vai contar pra mainha primeiro, pois do jeito que você é, vai colocar o terror no primeiro namoradinho.  

Faço uma cara de dor quando ela fala "namoradinho" e Fernanda ri.  

— Vamos tomar banho, loira. — Diz se levantando — E hoje não vou fazer janta, pede pizza.  

Ela joga um beijo e eu o pego no ar, coloco no coração e ela sorri. 

Eu já tinha pedido a pizza tinha 1 hora, quando eu ia ligar para reclamar, Fernanda passou por mim, eu estava deitada no sofá mexendo no telefone. A campainha tocou e ela passou com um sorriso maroto.  

— Eu atendo. Deve ser a pizza. 

Levantei a cabeça na hora e a encarei. Ela usava uma camisola minúscula, de alça fina, que mal cobria as coxas. 

— Nem pensar. Você não vai assim. 

Ela arqueou a sobrancelha, segurando o riso. 

— Como assim "não vou assim"? Eu sou livre, Anna Florence. 

Cruzei os braços. 

— Não de camisola. Vai colocar uma roupa decente. 

— Ai, meu Deus, que machismo! — Ela colocou a mão no peito, fingindo choque. 

— Não tem nada de machismo, Fernanda! Tem um monte de cara abusado, você vai pegar pizza desse jeito? Não tem necessidade. 

Ela riu e se aproximou, me cutucando. 

— Você tá com ciúmes, amorzinho? 

— Não é ciúme. É questão de bom senso. 

— Sei... — Ela estreitou os olhos, provocando. 

A campainha tocou outra vez. Bufei e afundei o rosto na almofada. 

— Me dá a chave, eu vou. — Digo 

— Eu que vou. 

— Não vai. 

— Vou sim. 

— Não vai. 

— Vou. 

Levantei, pronta para arrancar a chave da mão dela, mas Fernanda foi mais rápida. Ela me segurou pelo rosto e encheu minha bochecha de beijos exagerados. 

— Para, Fernanda! 

— Não paro! Vou te encher de beijos até você sorrir. 

Fiz cara de brava, tentando resistir, mas foi impossível. Acabei rindo. 

— Te odeio. 

— Não odeia nada. — Ela me envolveu num abraço apertado. 

Ficamos assim por alguns segundos, até ela sussurrar no meu ouvido: 

— Vai você buscar a pizza, então? O Motoboy vai embora. 

— Não quero — Digo, birrenta. 

Ela levanta e se afasta um pouco de mim.   

— Nem pense em abrir essa porta assim! — Apontei pra ela. 

— Relaxa, amor. Eu sou obediente… às vezes. 

Ela pegou um roupão no encosto da poltrona e vestiu antes de abrir a porta. O entregador mal olhou pra ela, só entregou a caixa e recebeu o pagamento. 

Fechei os olhos, aliviada. 

— Feliz agora, amorzinho? 

— Muito. — Respondi, tentando manter a seriedade. 

Afundei no sofá, de braços cruzados, ainda de cara fechada. Fernanda me olhava com aquele sorrisinho irritante de quem sabia que tinha vencido a discussão. 

— Você tá muito birrenta, sabia? 

— Não estou birrenta. Só não quero minha esposa desfilando por aí de camisola. 

— Ai, que coisa mais anos 50, doutora Anna. 

— Não tem nada de anos 50. Você tá praticamente de lingerie! 

Ela riu e se jogou no sofá ao meu lado, apoiando a cabeça no meu ombro. 

— Você fica tão fofa quando tá emburrada… dá vontade de te apertar. 

— Não toca em mim. — Virei o rosto, fazendo charme. 

Fernanda sorriu travessa e deslizou os dedos pelo meu braço. 

— Mas se eu fizer isso aqui… — Ela fez cócegas na minha cintura. 

— Fernanda, não! 

— Ou isso… — Ela soprou no meu pescoço, me fazendo encolher. 

— Para! 

— Ah, então quer dizer que a poderosa Anna Florence tem um ponto fraco? 

— Cala a boca, Fernanda. Vamos comer.  

— Sabia que tudo terminaria em pizza. 

Eu revirei os olhos, mas acabei rindo. 

Fernanda venceu. 

Nos sentamos na mesa, e eu peguei meu prato, posicionando a fatia de pizza e cortando um pedaço com garfo e faca, como qualquer pessoa civilizada faria. Fernanda, do outro lado da mesa, pegou uma fatia direto da caixa e deu uma mordida generosa, sem a menor cerimônia. 

Ela me olhou com um sorriso zombeteiro. 

— Ai, ai… minha esposa é uma patricinha mesmo. Quem come pizza de garfo e faca, Anna Florence? 

Levantei uma sobrancelha. 

— Pessoas civilizadas, Fernanda. 

Ela riu, balançando a cabeça. 

— Civilizada? Isso aqui — apontou para minha mão segurando os talheres — é frescura de quem nasceu em berço de ouro. Aposto que, quando criança, você era daquelas que levava toalhinha na lancheira. 

Revirei os olhos. 

— Primeiro: sim, eu levava. Segundo: tem coisa mais nojenta do que ficar com a mão toda melecada de gordura? 

Fernanda deu de ombros, lambendo os dedos só para me provocar. 

— Isso se resolve com uma lambida e um guardanapo, patricinha. 

— Nojenta. 

Ela riu alto. 

Hoje ela estava realmente a fim de me irritar. 

— Ah, pronto! Vou precisar começar a ensinar minha esposa como viver de verdade. Primeiro passo: comer pizza com a mão. 

— Isso nunca vai acontecer. — Digo 

Ela apoiou os cotovelos na mesa, me olhando com um desafio estampado no rosto. 

— Duvido. 

— Eu tenho classe, meu amor. Diferente de você, que come igual uma criança de cinco anos. 

— Criança feliz, né? — Ela piscou, e eu precisei segurar o riso. 

Nos encaramos por alguns segundos, até que Fernanda, sorrateira, pegou minha fatia de pizza e mordeu direto com a mão, me encarando com um olhar travesso. 

— FERNANDA! — Protestei, indignada. 

— Agora sua pizza tá cheia de germes e sem classe. Aceite a derrota. 

Bufei, pegando outra fatia e a ignorando, mas ela se inclinou e roçou o nariz no meu pescoço. 

— Não vai chorar, né, patricinha? 

— Sai, nojenta. 

Ela riu e me deu um selinho rápido. 

— Eu te amo, mesmo você sendo metida. 

— E eu te amo, mesmo você sendo sem modos. 

Nos encaramos por um instante e caímos na risada.  

Depois que terminamos de comer, Fernanda foi para o sofá, zapeando os canais, enquanto eu fiquei na cozinha, encarando o prato vazio e o copo com restos de Coca-Cola. 

Suspirei. 

Três meses na academia, controlando alimentação, me esforçando para manter uma rotina saudável… e aí vem Fernanda, me chama de patricinha, me faz rir e pronto, lá estou eu comendo pizza e bebendo refrigerante como se não houvesse amanhã. 

Passei as mãos no rosto, frustrada comigo mesma. 

Faltam poucos meses para os meus 40 anos. Eu deveria estar no auge da minha forma, mas nada nunca está bom. 

E a menopausa? Deus… falta pouco para isso também. Eu não quero envelhecer. Não quero que meu corpo mude.  

— Amor? — Fernanda chamou da sala. 

Respirei fundo antes de responder. 

— Já vou. 

Fui até ela e me joguei no sofá. Fernanda me puxou para seu abraço, sem nem perceber o turbilhão de pensamentos na minha cabeça. 

Ela beijou minha testa e sussurrou: 

— Melhor patricinha do mundo. 

Fechei os olhos e tentei acreditar que estava tudo bem. 

Peguei meu celular e digitei uma mensagem para Beatriz. 

Anna Florence: Bia, me diz uma coisa... tem algum procedimento que ajuda no condicionamento físico? Sei lá, algo que melhore a recuperação muscular, que me deixe com mais disposição… 

A resposta não demorou. 

Karma: Condicionamento físico? Depende. Você tá falando de quê exatamente? Força, resistência, definição muscular? 

Anna: Tudo, né? 

Karma: Humm... Deixa eu ver. Você já faz academia, né? Alimentação certinha? 

Anna: Faço academia há três meses. Alimentação… nem sempre. Acabei de comer pizza. 

Karma: Parabéns pela dedicação kkkkk 

Anna: Muito engraçado, Beatriz. 

Beatriz mandou um emoji rindo e depois continuou: 

Karma: Bom, tem alguns tratamentos estéticos que podem te ajudar, tipo bioestimuladores de colágeno, que ajudam na firmeza da pele e na recuperação muscular. Tem também alguns procedimentos injetáveis que ajudam na disposição. Você sente muito cansaço? 

Mordi os lábios, hesitando. 

Anna: Nem sempre, mas sinto que meu corpo não responde como antes. Meu metabolismo desacelerou. Tá tudo mais difícil, sabe? 

Beatriz demorou um pouco para responder dessa vez. 

Karma: Anna, você tem noção de que isso é normal, né? 

Reviro os olhos, será que ninguém me entende nesse país? 

Anna: Eu sei. Mas não quer dizer que eu tenha que aceitar sem lutar. 

Beatriz: Ok, guerreira. Vou te passar algumas opções e você vê se faz sentido pra você. 

Enquanto Beatriz explicava os procedimentos, eu sentia um peso no meu peito. Não era apenas sobre a aparência. Era sobre o tempo. Sobre sentir que, por mais que eu lutasse, o relógio nunca parava. 

Fernanda mudou de posição ao meu lado e apoiou sua cabeça no meu ombro. Aquele cheiro dela era tão bom... 

— Tá distraída, loira. 

Bloqueei o celular por precaução, não gostaria que ela visse as minhas inseguranças. 

— Só vendo umas coisas aqui. 

Fernanda me deu um beijo na bochecha, aconchegando-se mais em mim. 

— Depois diz que não é patricinha... 

Eu ri, mas aquela inquietação ainda estava presente. 

Depois de 1h de filme, senti minha esposa resmungar algo e vi que ela estava dormindo.  

— Amor, vamos deitar na cama. 

Fernanda abriu os olhos lentamente, preguiçosa. 

— Me leva no colo? — murmurou, com um sorriso manhoso. 

Arqueei minha sobrancelha, divertida. 

— Quem é a patricinha agora? 

Fernanda fez um biquinho. 

— Eu não sou a patricinha. Eu sou a mimada. É diferente. Me leva, loira, por favor. 

Revirei os olhos, mas o meu sorriso... Ah... Esse entregava que eu faria qualquer coisa pela minha esposa. Com facilidade, segurei Fernanda e a ergui nos braços, sentindo o corpo dela se moldar ao meu. 

— Você vai acabar me acostumando mal — Fernanda murmurou contra meu pescoço. 

— Já tá mal-acostumada faz tempo. 

Levei meu amor até o quarto e a coloquei na cama com cuidado. Ela suspirou satisfeita, e antes que eu pudesse me afastar, puxou-me para deitar ao seu lado.  

A noite parecia estar tranquila, me agarrei na cintura de Fernanda e dormi, assim como fazíamos todas as noites.  

A noite parecia tranquila, até os pesadelos começarem. 

Eu estava presa em um espelho. Meu reflexo se transformava diante dos meus olhos. Primeiro, meu rosto parecia cansado, as minhas olheiras fundas. Depois, minha pele ficava flácida, minhas mãos enrugavam, meu corpo estava estranho, pesado diferente. Eu queria me mover, mas estava paralisada. No reflexo, eu me via envelhecendo em tempo real, enquanto vozes sussurravam ao fundo:  

"O tempo não para." 
"Nada mais volta a ser como antes." 
"Você nunca vai estar satisfeita." 

O pânico tomou conta do meu peito.  

Acordei com um sobressalto, meu coração disparado. Sentei-me na cama, passando as mãos pelo rosto. 

Deus...  

Fê estava dormindo ao meu lado, bem tranquila, alheia ao turbilhão que estava dentro de mim.  

Tomei coragem e fui ao banheiro me olhar no espelho, eu ainda estava ofegante. Toquei meu rosto, minha pele, minhas coxas, nada parecia certo.  

Eu estava enlouquecendo. 

Quando acordei, decidi que era a hora de conversar com alguém sobre isso. Liguei para Marcela, minha psicóloga, marcando uma sessão de emergência. Liguei para Roberta, avisando que eu não iria logo pela manhã. 

Sentada na poltrona confortável do consultório, encarei a psicóloga. 

— Eu sei que parece besteira… Mas eu estou entrando em uma crise com meu corpo, minha idade, tudo. Eu sei que envelhecer é natural, mas eu sinto que, por mais que eu lute, nunca vai ser suficiente. 

Marcela me observou com atenção, sem julgamentos. 

— O que exatamente te assusta nessa ideia de envelhecer, Anna? 

Respirei fundo e respondi a sua pergunta:  

— Perder o controle. Perder a vitalidade. Me olhar no espelho e não me reconhecer mais. 

As palavras saíram mais pesadas do que eu esperava. Era como se tivesse uma anilha nas minhas costas. 

A psicóloga sorriu suavemente. 

— Vamos falar sobre isso. 

Anna baixou o olhar, mexendo nos próprios dedos. 

— Eu também tenho medo de começar a esquecer as coisas… De perder minha lucidez, sabe? Minha mente sempre foi meu maior trunfo. Eu nunca fui a mais bonita, mas eu sempre fui inteligente, determinada, a nerd. E se um dia eu não for mais? 

Marcela continuou me observando com paciência, ela me dava espaço para que eu pudesse desabafar no meu próprio ritmo, sem me achar uma louca de pedra.  

— E se a Fernanda perder o interesse em mim? — Ri de nervoso — Eu não duvido do nosso amor, mas e se um dia ela olhar pra mim e não sentir mais nada? Se eu envelhecer e não for mais atraente pra ela? 

Coloco as mãos na cabeça, visivelmente tentando me encontrar nos meus pensamentos. 

— E tem o medo do relacionamento em si. A gente tá bem, mas e se… sei lá, se um dia não estivermos mais? E se alguma coisa mudar? 

Continuo. 

— E tem um medo ainda pior… — Minha voz saiu mais baixa, quase um sussurro. — O medo de morrer. 

Fechei meus olhos por um instante, tentando controlar aquela angústia que subia pelo meu peito.  

— Eu tenho medo de não conseguir aproveitar a Cecília. Medo de não viver o suficiente para estar ao lado dela, para vê-la crescer, realizar os sonhos dela. Eu não quero que ela cresça sem mim. 

Marcela manteve sua expressão acolhedora.  

— Parece que o que mais te assusta na ideia de envelhecer não é só a aparência. É a possibilidade de perder o controle sobre sua vida, seu corpo, sua mente e as pessoas que você ama. 

Assenti, apertando meus lábios, segurando minha vontade de chorar. 

— Sim… É isso. 

Respirei fundo, cruzei as pernas e soltei: 

—Mas eu também tenho medo de ficar uma velha feia — disse, com um meio sorriso amargo. — É ridículo, né? Marquei uma sessão de emergência para te ocupar com meus dramas. 

— Não é ridículo. É humano. 

Encarei-a.  

— Podemos falar sobre todos esses medos, um por um. Você não precisa carregar isso sozinha. 

Pela primeira vez depois de ontem a noite, eu senti que estava no lugar certo para lidar com aquilo e fui pontuando meus medos um a um e Marcela foi me ajudando, me indagando, me fazendo refletir. Saí daquele assunto melhor do que entrei na sala, mas ainda tinha uma pontinha de preocupação.  

— Tem mais alguma coisa te preocupando além disso? Eu estou sentindo que essa questão que você me trouxe não é a sua principal queixa essa semana. 

Fui para o sofá cama do consultório, queria conversar sobre aquilo deitada, procurando relaxar, pois aquele assunto me deixava tensa demais. Marcela me observava paciente, esperando que eu continuasse.  

— Tem... tem algo mais. 

— Algo que envolve outra pessoa? — Marcela arriscou, claramente captando meu nervosismo só de olhar pra mim.  

Assenti lentamente.  

— A Amanda. 

Marcela inclinou a cabeça levemente, incentivando-me a continuar. 

— Eu descobri que ela sente algo por mim. Algo que não deveria sentir. 

— Como você descobriu? 

Soltei um suspiro cansado.  

— Ela veio conversar comigo que recebeu uma proposta do Corinthians para jogar em São Paulo, algo que mudaria a carreira dela e super vale a pena, mas estou preocupada com a rebeldia. Ela só sabe beber, trans*r com várias garotas, levar uma vida que não pertence a ela, sabe? E isso está a afastando da Adriana, as duas vivem brigando e ela está ficando mais próxima da outra mãe, a Paola, pela qual eu não tenho um pingo de simpatia, sinto que ela não é flor que se cheire e agora Amanda está cada dia mais grudada com ela e seguindo seus conselhos. Enfim, depois que dei minha opinião ela veio com um papo que se apaixonou por uma mulher mais velha há algum tempo e que o amor não era correspondido, quando cheguei em casa e contei tudo para a Fê, ela me fez enxergar que a mulher mais velha era eu. Isso me incomoda, eu me sinto estranha com isso. 

— Estranha como? 

— Culpada. Confusa. Eu nunca dei abertura para esse tipo de coisa. Sempre a tratei como minha afilhada, minha família. Mas agora, depois do que aconteceu, eu fico revisando tudo na minha cabeça, tentando entender se fiz algo errado. 

Marcela permaneceu em silêncio por um momento antes de dizer: 

— Você sente que, de alguma forma, alimentou esses sentimentos nela? 

— Não! — Respondi rápido, de forma exasperada, tentando deixar claro que não alimentei e nem pretendo alimentar. Depois hesitei. — Quer dizer… não conscientemente. Mas e se, sei lá, alguma coisa na forma como eu sempre a tratei tenha feito ela se sentir assim? 

— Anna, carinho, proximidade e afeto não são convites para romantização. Você sempre a tratou com respeito e amor, como uma pessoa importante na sua vida. Desde quando ela era uma criança, certo? O que ela sente agora pode ser reflexo da própria fase que está vivendo, das inseguranças dela, das idealizações… mas isso não significa que você fez algo de errado. 

Abaixei o olhar, preocupada com as minhas próprias ações.  

— Eu sei. Mas e se eu machucá-la? E se a forma como eu reagir agora afetar nossa relação para sempre? Eu a considero minha afilhada, Marcela. E ela está tão... diferente. Tão... perdida. Adriana não está sabendo lidar, Paola vai estragá-la. Cabe a mim guiá-la. 

— Você não tem controle sobre os sentimentos dela, mas tem controle sobre como lida com isso. O mais importante é ser clara, sem ser cruel. Você já tomou alguma decisão sobre como agir? 

Passei a mão no rosto, pensativa. 

— Fernanda disse que eu teria que ter essa conversa incômoda com ela. Queria manter distância, queria que ela soubesse que tudo tem limite, mas como fazer isso se ela nem me contou o que sente? Tenho medo de machucá-la de uma forma que ela fique mais perdida do que já está. Ela acabou de fazer 18 anos, mas ela age como se fosse mais nova. Ela não tem a mentalidade de uma adulta. 

Marcela manteve o mesmo tom tranquilo:  

— Parece que o que mais te preocupa não é apenas o que ela sente, mas o que ela pode fazer com esses sentimentos. Você vê a Amanda como uma menina que ainda está se encontrando, e o medo de tomar uma atitude que a empurre para ainda mais confusão está te travando, certo? 

— Sim… — murmurei. 

— Então talvez o melhor caminho não seja o afastamento brusco, mas o diálogo. Não precisa dizer que sabe o que ela sente, mas pode se manter firme nos seus posicionamentos. Mostrar para ela que há limites, mas que eles não significam rejeição. 

Depois de duas horas na terapia — hablei muito — fui direto para o consultório de Beatriz, ia conversar pessoalmente sobre os procedimentos estéticos.  

— Olha só quem resolveu me visitar no meio do expediente — Beatriz brincou, com um sorriso divertido. 

Revirei os olhos e me sentei de frente para a mesa da minha ex-namorada. 

— Eu vim a trabalho. Ou melhor, como cliente. 

Beatriz arqueou uma sobrancelha. 

— Anna...  

— Beatriz, eu não sei o que fazer. Eu fui para a terapia, mas tem algo me incomodando. Alguma coisa pra melhorar meu condicionamento físico, minha pele, meu… sei lá, minha juventude. 

Beatriz entrelaçou os dedos e a encarou por um instante, séria. 

— Juventude? 

— É. Eu tô quase fazendo quarenta, Bia. 

— E daí? 

— E daí que tudo tá mudando! Minha pele, meu metabolismo, meu corpo. E eu não quero que isso piore. 

Beatriz suspirou, inclinando-se para frente. 

— Anna, você não precisa de nada disso. 

Bufei, cruzando os braços. Brava com a situação.  

— Claro que preciso. Você não entende, eu… 

— Eu entendo. — Beatriz me interrompeu com um tom firme. — Eu entendo mais do que você imagina. Mas sabe o que eu vejo quando olho pra você? A mesma menina que eu conheci na adolescência. A mesma Anna Florence de sempre. 

Desviei o olhar, desconfortável. Ela não estava sendo sincera. 

— Não exagera. 

— Não tô exagerando. Você sempre foi linda, e, se me permite dizer, envelheceu como vinho. Ficou mais bonita ainda. 

Ela me arrancou uma risada, balancei a cabeça negativamente.  

— Diga isso mais uma vez e Fernanda e Bruna entrarão aqui para lhe matar. — Zombei 

— Eu não corro esse risco, minha namorada sabe que posso tecer elogios a você sem que isso signifique voltar ao passado e creio que Fernanda também saiba disso. Hoje, somos amigas. Conversamos muito. — Piscou 

— Você sempre soube falar bonito. 

— E você sempre teve um problema sério em se enxergar como realmente é. — Beatriz sorriu de canto. — Não é um procedimento estético que vai te fazer sentir melhor se o problema tá na forma como você se vê. 

Anna ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras. 

— Então você acha que eu deveria desistir da ideia? 

— Eu acho que você deveria pensar no motivo real por trás dessa vontade. Se for por você, ótimo. Mas se for por medo, insegurança, ou porque acha que precisa disso para ser suficiente… se você acha que Fernanda vai te deixar por estar envelhecendo, então não. 

— Como você sabe disso? — Questionei 

— Eu te conheço, Anna. Você por mais segura que seja na sua vida profissional, é insegura com você mesma e eu confesso que eu tive muita culpa nisso, eu nunca vou me perdoar. E quando você vem aqui, me dizer essas coisas... Eu me sinto na obrigação de dizer: Ei, Anna! Não é nada disso. Você é linda, não precisa de nenhum procedimento, Fernanda te amaria até se você tivesse cabelos grisalhos e outra, ela também está envelhecendo. Todas nós. É normal. O que não é normal é você ficar paranoica com isso.  

— Eu odeio quando você tem razão. 

Beatriz riu. 

— Eu sei. 

Fiquei ali conversando por mais alguns minutos com Bia, conversando sobre outros assuntos, principalmente Bruna, antes de sair da clínica. E, embora eu ainda sentisse uma inquietação sobre isso no meu peito, uma parte de mim queria acreditar que Beatriz e Marcela estavam certas.  

No caminho para o escritório, me peguei olhando para o próprio reflexo no retrovisor. As palavras de Bia ecoavam na minha mente: “Você sempre foi linda. E, se me permite dizer, envelheceu como vinho.”  

Nossa, eu queria acreditar nisso. Queria mesmo. Mas a insegurança ainda estava lá. Na verdade, era uma coisa que eu tinha muito em relação a minha mesma: autossabotagem.  

Estacionei o carro, respirei fundo e olhei para a tela do celular. Nenhuma mensagem do meu amor, ela provavelmente deveria estar ocupada com o trabalho.  

Fechei os olhos por alguns instantes antes de sair do carro. Talvez fosse o momento de ter essa conversa com Fernanda... ou não. Eu não me sentia pronta para fraquejar na frente da minha esposa, principalmente quando a insegurança era em relação a mim.  

Com esse pensamento, entrei no elevador do escritório, sentindo que essa batalha interna ainda precisava de muita terapia para ser esclarecida.  

Fim do capítulo


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Comentários para 3 - capítulo três: paranóias :
Lea
Lea

Em: 19/04/2025

Anna é uma figura. Crise de idade,quase inevitável,quanto se encontra aos 40 anos.(Sei bem sobre o assunto)

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