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  • O Nosso Recomeco - 2a Temporada
  • Capítulo dois: verdades não ditas

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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

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Palavras: 4975
Acessos: 942   |  Postado em: 17/03/2025

Capítulo dois: verdades não ditas

CAPÍTULO DOIS. VERDADES NÃO DITAS.  

Na manhã̃ seguinte, nossa princesinha não parava de tagarelar sobre o quanto estava animada para ir à escola e não parava de perguntar quem iria de nós duas para o "dia de quem trabalha". Confesso que eu estava com um pouco de medo da reação dos colegas de Cecília quando eu falasse no quê eu exatamente trabalhava. Explicar para adultos já era complicado, pois sempre tem a turma do "bandido bom é bandido morto", mas explicar para crianças era mais complicado ainda.  

Observo a interação de Cecília com Fernanda e Dira, nossa babá. Cecília era apegada à Dira desde quando Fernanda saiu do resguardo e voltou a trabalhar. Nós vivíamos fora de casa, mas aos finais de semana só existia nós três. Temos um combinado: sexta à noite, sábado e domingo era proibido trabalhar na nossa casa. Nossa família era o mais importante, já que passávamos tantas horas fora de casa de segunda a sexta. Amávamos aproveitar o tempo com a nossa filha, nós fazíamos questão de sermos presentes na vida do nosso amorzinho.  

— Se despede da sua mãe, filha. — Fernanda diz, apontando pra mim com a cabeça.  

Minha cria vem correndo com a mochilinha nas costas, parecendo uma tartaruga e pula no meu colo para me dar um beijo.  

— Boa aula, meu amor. Mamãe te ama muito. — Dou um beijo na testa dela  

— Mamãe, eu tô levando o Sonic vermelho. Pode?  

— Se a professora pedir pra você guardar, você guarda. Combinado?  

Damos um soquinho com as mãos em promessa. Fernanda sorri e balança a cabeça negativamente, enquanto nossa filha sai acompanhada da babá pela porta.  

— Agora, Dra Florence... me dá o meu beijo de bom dia.  

— É claro, Dra Alencar. Precisa de um contrato formal pra isso? 

Capturo seu lábio inferior, puxando-o devagar, antes da minha língua pedir passagem para entrar em sua boca. Fernanda se senta em meu colo e desce a mão pela minha cintura, apertando ali. Ela suspira e eu procuro finalizar nosso beijo de "bom dia", antes que se torne um beijo de "boa trans*".  

Dou uma risada nasal do nada lembrando de algumas coisas da nossa época de namoro.  

— O que foi? — Ela pergunta, arqueando sua sobrancelha perfeitamente delineada  

— Estava lembrando de quando a gente namorava, quando a gente fazia um esforço tremendo para não dormirmos juntas... A gente combinou 3 dias durante a semana pra dormir uma na casa da outra, mas a verdade é que a gente não conseguia e acabava dormindo a semana inteira.  

Ela ri com a lembrança e se aconchega no meu peito.  

— É tão bom migrar do "quer dormir lá em casa hoje?" para o "vamos embora pra nossa casa?"  

— Sim, isso é muito bom. — Dou um selinho demorado em seus lábios — Mas a verdade é que a gente meio que mora juntas desde o terceiro mês de namoro.  

— Ah, Anna... Nossa vida foi uma loucura, nem me lembre do quanto foi complicado naquela época com todos aqueles ataques, achei que ia lhe perder a qualquer momento.  

— Não perdeu e nem vai perder. — Asseguro, fazendo um carinho em seu rosto. — E eu te prometi que se algo semelhante acontecesse, eu iria largar tudo por conta de você e da Ceci.  

— Você mudou tanto... — Ela diz, enquanto passa o dedo contornando os meus lábios  

— Por você. Depois pela nossa filha. Não há nada no mundo que seja tão importante pra mim quanto vocês duas.  

O olhar de Fernanda fica cheio d'água, mas ela disfarça piscando os olhos diversas vezes e acaba mudando de assunto.  

— Quer que eu te leve no trabalho? Depois do expediente passo para buscar você.  

Fernanda adorava dirigir, as vezes quando brigávamos ela me levava para algum lugar totalmente sem rumo e não voltávamos pra casa enquanto não resolvêssemos nossas questões.  

Não costumávamos brigar muito, mas a rotina do dia a dia às vezes pesava. Tirando isso, nossas discussões eram sempre por ciúmes bobos. As duas eram extremamente ciumentas, mas eu era mais. Fernanda chamava a atenção por onde passava, seja pela sua beleza, charme ou inteligência. Era uma mulher linda, podia ter quem quisesse, mas como ela mesma diz: "eu te escolhi e vou continuar te escolhendo". 

Fernanda me deixou no trabalho e seguiu para o dela. A linguagem de amor da minha ruiva era fazer esses gestos carinhosos. Cumprimentei o meu setor quando passava e ao chegar na minha sala, coloquei o blazer no cabideiro e sentei-me para olhar o meu planner e ver quais eram as tarefas do dia: clientes, associados ou administração de escritório.  

Minha sorte era que o café coado da minha esposa com uma pitada de canela me deixou completamente sã. Decidi resolver as questões dos associados primeiro, era uma coisa que eu não abria mão: treinar jovens advogados para se tornarem profissionais melhores. E claro, eu fazia isso muito melhor que Roberto. 

Quando ia levantar para ir até o saguão, Adriana surge na porta e diz com cara de poucos amigos que eu tenho visita. 

— Anna, me desculpa. Amanda está aqui e quer falar com você. — Ela diz contrariada  

A relação de Adriana com a filha não estava muito boa, visto que ela passou de adolescente rebelde para adulta rebelde. Ela havia feito 18 anos e era uma das maiores revelações do Flamengo. Minha afilhada estava vivendo a vida loucamente desde quando descobriu a sexualidade e um bando de Maria chuteiras dispostas a seguir carreira junto com ela. 

Adriana preocupava-se muito com ela, era nítido o amor que ela tinha pela filha, mas o temperamento de Amanda não ajudava, era igualzinho ao da outra mãe dela, Paola. Eu odiava a peça e ela também me odiava, nos tratávamos com cordialidade por conta de Amanda, mas eu sentia raiva dela por conta do que fez Adriana passar quando se separaram e de quebra, tentou fazer alienação parental com a filha.  

— Anna... — Ela chega e se aproxima da mesa, me dando um abraço  

Paro para analisar o quanto ela cresceu e, com isso, deixou de me chamar de ‘dinda’ há muito tempo. Agora era só Anna pra lá, Anna pra cá... 

— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto a ela, retribuindo o abraço e apontando a cadeira para que ela possa se sentar  

Ela olha para trás e vê a mãe olhando pra nós duas, ela arqueia a sobrancelha e dá um tchauzinho para a mãe, que significa que é para nos deixarmos a sós. Adriana balança a cabeça negativamente e fecha a porta.  

— O que te traz aqui, meu amor? — Digo com carinho  

— Anna, eu não sei o que fazer. Eu recebi uma proposta do Corinthians para jogar na base, morar em SP por 3 anos.  

Meu coração se enche de felicidade, essa notícia era realmente boa e fruto de toda a competência e dedicação de Amanda desde os 6 anos de idade, quando a levei pra escolinha e um olheiro a viu. Desde então, ela segue carreira futebolística. Apesar dos desafios de uma mulher jogar futebol no Brasil, Amanda se saía muito bem e era uma jogadora incrível.  

— Eu tô muito feliz e orgulhosa de você — Pego em suas mãos que estão geladas — O que sua mãe falou?  

— Está surtando. Não quer que eu vá, já mãe Paola disse que me apoia, paga passagem e todos os gastos necessários.  

Fico com o semblante mais sério e cruzo os braços, murmuro um uníssono "HM" e continuo observando-a, mas não consigo segurar minha sinceridade:  

— E você acha justo? Acha certo com Adriana?  

— Qualé, Anna. Mamãe vive pegando no meu pé, eu quero me libertar. Eu estou jogando no Rio desde nova, eu quero experimentar coisas novas, novos ares, tem tanta coisa que quero viver.  

— Você está vivendo intensamente desde quando descobriu sua sexualidade, Amanda. E isso é bom, pegar 2, 3 mulheres numa noite, fazer orgias, mas sua mãe está preocupada com você. E com razão. A vida não é só isso.  

— Você vai realmente ficar ao lado dela, não é?  

— Eu não tô dizendo pra você não ir, que não te apóio, mas você precisa fazer isso com um pouquinho mais de sanidade. Você vai pra São Paulo pela sua carreira ou pra fugir da supervisão da sua mãe que sempre cuidou e te amou? E o que Paola sabe sobre você? Sobre quem você é? E o vestibular? São coisas que você tem que colocar na balança. 

Amanda suspirou pesadamente, desviando o olhar. 

— Eu não tô indo embora só pra fugir da minha mãe ou viver loucamente. Eu tô indo porque… me apaixonei. 

Automaticamente eu sorri. 

— Isso é maravilhoso, Amanda! Se apaixonar é uma das melhores coisas da vida. Desde que me apaixonei por Fernanda, eu soube o que era sentir algo assim. Esse tipo de sentimento é bom, intenso… 

Ela revirou os olhos, soltando uma risada sem humor. 

— Ah, claro. Você e a Fernanda. Casal perfeito. Tudo sempre certo, resolvido… 

Franzi o cenho. 

— O que você quer dizer com isso? 

Amanda hesitou por um momento, mas então soltou tudo de uma vez, como se estivesse segurando há muito tempo: 

— Eu me apaixonei por uma mulher mais velha. Uma mulher que eu nunca tive chance nenhuma. Que eu sei que nunca vai me olhar desse jeito. E eu percebi que esse sentimento é inútil, mas tá aqui, me atormentando há anos. Desde que eu descobri minha sexualidade, meu coração ficou confuso. Dividido. E talvez eu seja essa rebelde sem causa porque nunca soube lidar com isso. 

Seu tom era de frustração, de alguém que tentava seguir em frente, mas estava presa a algo impossível. 

Me aproximei um pouco mais, pegando suas mãos frias entre as minhas. 

— Amanda… paixão não é algo inútil. Se você sente isso por alguém há anos, por que não vai atrás? A idade não é um problema, e eu realmente prefiro que você viva isso do que fique pulando de galho em galho sem entender o que quer de verdade. 

Ela prendeu a respiração, os olhos piscando rápido, como se lutasse contra alguma emoção. E então soltou uma risada seca, afastando-se um pouco. 

— Você realmente não entende, né? 

Minha testa franziu. 

— Entender o quê? 

Amanda me olhou de um jeito estranho. Não sabia se ela estava sentindo dor ao me contar sobre algo que sentia ou alívio. 

— Esquece. 

Ela se levantou rápido, como se precisasse sair dali com urgência. 

Amanda se levantou rápido, como se precisasse sair dali antes que eu juntasse as peças. 

— Espera. — Minha voz saiu firme, e me levantei também, indo até ela antes que alcançasse a porta. 

Ela parou, mas não se virou. 

— Amanda, me diz… o que eu posso fazer pra te ajudar? — perguntei, tentando entender o que estava acontecendo ali. — Por que você tá agindo assim? 

Ela apertou os punhos ao lado do corpo, e por um instante, vi seus ombros tremendo. 

— Não pode fazer nada. 

— Claro que posso. Eu me importo com você. Se tá doendo tanto assim, você precisa falar sobre isso. 

Ela ergueu a mão devagar e pousou os dedos na maçaneta. Respirou fundo. Engoliu em seco. 

E então, finalmente, virou o rosto para mim. Seus olhos estavam marejados, e havia algo tão cru naquela expressão que meu peito apertou. 

— Você não entenderia, Anna. 

Minha testa franziu. 

— Tenta me explicar. 

Ela mordeu o lábio inferior com força, como se estivesse segurando um turbilhão dentro de si. Seu olhar era um misto de raiva, tristeza e desespero. 

— Eu… Eu não me sinto à vontade pra ter esse tipo de conversa com você. Nem com ninguém. 

E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela girou a maçaneta e saiu. 

Fiquei encarando a porta fechada, tentando juntar as peças.  

Por que a Amanda não se sentia à vontade para falar comigo? O que eu não estava enxergando? Suspiro. Eu realmente ando preocupada com ela e gostaria de fazer alguma coisa que a ajudasse.  

Ao sair da sala, vejo Adriana de cabeça baixa e o olhar entristecido, eu odiava ver minha amiga dessa forma, mas não fazia ideia de como era ter uma filha recém-saída da adolescência. Cecília tinha apenas 6 anos e dou graças a Deus, eu não estava nem um pouco preparada para lidar com essa fase.  

— Ei, está chorando? — Pergunto colocando a mão no ombro de Adriana, que enxuga as lágrimas rapidamente. 

— Desculpa, Anna. Não era para eu estar assim aqui no trabalho, mas... — Ela não consegue completar, sem forças. 

— Não precisa pedir desculpas. Eu entendo perfeitamente, mas quero continuar essa conversa fora do escritório, tá? Vou te mandar mensagem pra você ir lá em casa e conversarmos.  

Pego na mão de Dri e dou um aperto como se quisesse confortá-la.  

— Obrigada. 

Ela diz e eu saio em direção ao saguão dos associados, precisava olhá-los de perto para ter certeza de que estão fazendo um bom trabalho. Assim que chego, vejo que o local estava movimentado. No escritório, tínhamos um plano de carreira muito bom para quem gostaria de crescer na empresa. Na Proetti-Baldez sempre teve, mas eu sentia que ainda faltava algo. Os associados eram advogados recém-formados, eu os treinava para que pudessem adquirir prática na advocacia criminal.  

Eu não era nenhuma Miranda Priestly, mas gostava de impor minha presença e respeito. Ao menos, eu era uma líder muito melhor que o Roberto e isso me dava um puta orgulho de mim mesma. Falando no Diabo, ele se aposentou. Foi advogar na casa do Cara- 

Vejo que eles estão espalhados pelas mesas, discutindo casos, alguns rabiscando anotações e outros com a cara enfiada no computador, provavelmente fazendo alguma apelação. Alguns pareciam confiantes ao me ver, outros, inseguros, mas todos compartilhavam do mesmo desejo: cargo de advogado júnior.  

Assim como eu quis muito um dia, gostaria que todos tivessem a mesma ambição. Claro, uma ambição saudável. 

Meu olhar sério percorreu os rostos dos associados. Eu sabia o peso que eu carregava ali dentro — não apenas como líder, mas como referência para aqueles que buscavam um espaço na advocacia criminal.  

— Bom dia. — Disse com a voz firme, que preencheu a sala, pois todos pararam o que estavam fazendo para prestar atenção em mim — Espero que tenham aproveitado bem a semana, porque hoje nós vamos para a parte prática. 

Os associados se entreolharam. Eles sabiam que os meus treinamentos de não eram brincadeira. Eu era rígida, exigente e, acima de tudo, uma professora implacável. Mas essa última parte de ser a professora implacável, eu devo à Fernanda, ela me ajuda muito nessa questão de ensinar.  

— Dividam-se em grupos de três. Cada grupo vai receber um caso real que a Florence-Baldez já enfrentou no passado. Quero que leiam os autos, identifiquem os pontos fortes e fracos da defesa e montem uma estratégia. Em uma hora, cada equipe vai apresentar sua linha argumentativa. 

Os burburinhos começaram e logo eles começaram a se organizar, pegar pastas e começar a discussão. Eu, na minha postura de costume, cruzando os braços e passando em cada mesa, ouvindo as ideias, questionando, desafiando. Eu era assim: não gostava de jogar no peito de um subordinado e falar "agora é com você", eu estava disposta a ouvir e ensinar. Queria ser diferente de Roberto, que nunca foi exemplo pra nada.  

— Essa argumentação não se sustenta, Santiago. Se o promotor rebater com jurisprudência, vocês desmoronam. Tentem de novo.  

— Letícia, ótimo raciocínio, mas e se o juiz fizer perguntas fora do script? Você está preparada para responder sem hesitar? 

— Ricardo, pelo amor de Deus, você precisa aprender a ser mais incisivo. Direito Penal não é para gente que hesita. Se você não acredita no que está falando, como espera que o juiz ou jurados acreditem? Foco nessa oratória.  

Eu não pegava leve. A advocacia não era lugar para covardes, não permitia fragilidade e um erro poderia condenar um cliente de forma injusta.  

Quando a hora acabou, os grupos começaram a se apresentar. Eu ouvia atentamente cada argumento, mas colocava eles contra a parede. Alguns lidavam bem, outros não, mas todos saíram melhores do que estavam no começo.  

— Essa foi a primeira rodada. Na próxima, quero ver evolução. — Ela fechou a pasta e olhou para os jovens advogados. — Aqui na Florence-Baldez, não estamos formando advogados comuns. Estamos formando os melhores. Se vocês não querem ser os melhores, as portas da concorrência com certeza estão abertas.  

Eles ficaram em silêncio. Então, alguns assentiram determinados.  

Sorri de leve. Esse era o espírito.  

Dra. Baldez estava parada, no corredor, me observando com um olhar atento, os braços cruzados e um leve sorriso nos lábios. 

— O que foi? — Perguntei, erguendo o olhar com desconfiança. Eu, hein...  

A minha sócia apenas balançou a cabeça, como se negasse a necessidade de palavras. Caminhou até mim, sendo observada pelos associados, estendeu alguns papéis e disse: 

— Preciso da sua assinatura. 

Peguei a caneta e assinei sem hesitação. Quando olhei para ela de novo, vi que ela continuava com o mesmo sorriso.  

— Você tá estranha. O que foi? 

Dra. Baldez apenas negou com a cabeça, pegou os documentos e saiu sem mais explicações.  

"Renata deve ter dado um chá nela ontem a noite, por isso tá sorridente assim" 

— Pensei  

Sinto meu celular vibrar no bolso da calça minutos depois. 

Roberta Baldez:  

 "Tenho muito orgulho de você." 

As palavras simples fizeram meus olhos marejarem. Administrar um escritório daquele porte não era fácil, mas eu havia conseguido. Com a ajuda de Roberta, duas pós-graduações — Gestão de Escritório Jurídico e Tribunal do Júri — e anos de dedicação, me tornei referência para muitos advogados em ascensão, dentro e fora da firma.  

Respirou fundo, me recompus e voltei ao trabalho.  

Durante a atividade com os associados, notei alguns burburinhos que o ar condicionado não estava funcionando direito ou dando vazão. Aquilo bastou pra eu pegar o telefone e ligar para a empresa responsável pela climatização. 

A extrema onda de calor no Rio de Janeiro estava demais. Bateu 45°C no Centro do Rio outro dia, minha empresa merecia o melhor, um ambiente de trabalho confortável ao menos.  

— Quero que substituam todos os aparelhos do prédio. Não adianta manutenção, eu quero novos. 

A empresa prometeu resolver dentro de 48 horas. Roberta ia me matar por conta dos gastos, mas era necessário. 

Assim que desliguei o telefone, Adriana entrou na minha sala com uma caixa em mãos.  

— Chegou uma encomenda pra você. 

Arqueei a sobrancelha, peguei a caixa e vi um bilhete com a caligrafia inconfundível da minha esposa: 

"Passei pelo shopping, vi esses bombons e pensei em você. Como eu não aguento de ansiedade, resolvi te enviar logo. Te amo muito, minha Anna. Vou te buscar no trabalho, não esquece. Já falei que te amo hoje? Sei que sim, mas não canso de dizer: te amo!" 

Dei um sorriso largo, completamente derretida com o bilhete. Levei ele ao peito e suspirei. Quando ela ia deixar de ser tão perfeita? 

Decidi ligar pra minha ruiva.  

— Você é um problema na minha vida, sabia? — digo em tom jocoso, mas não parando de sorrir  

— Ah, é? — Fernanda riu. — Por quê? 

— Porque me deixa boba com esses gestos. 

— Minha intenção é essa mesmo. Tá com saudades? 

— Muitas. 

— Também, meu amor. 

Trocamos algumas palavras carinhosas antes de desligarmos.  

Eram 16h30, será que o dia não acabava nunca? Já tinha feito mil coisas e o tempo não passava, então decidi ir até a copa tomar um café para recarregar as energias. 

Quando voltei, decidi comer um dos chocolates que Fê me deu e para minha surpresa, eram de Amarula. A minha esposa me conhecia bem, ela sabia que eu amava bebidas assim.  

Depois de saborear meus chocolates, fui surpreendida com uma chamada de vídeo. Achei que fosse da minha filhota, mas tocou no Whatsapp Business. Duas figuras ilustres, meus clientes já há algum tempo, traficantes conhecidos, apareceram no vídeo.  

— Oi, Doutora! — Eles dão um sorriso de nervoso  

— O que vocês aprontaram, meninos? — Digo com voz de enfado  

— A polícia tá na nossa cola. A gente vai ficar entocado por uns dias, nós só tá ligando pra senhora ficar atenta, tá ligada? Pode cair geral de uma hora para outra.  

— Bolinho, já falei pra você não ficar dando pinta. Mais uma prisão e eu não consigo te tirar, cara. Onde vocês estão?  

— Melhor a senhora não saber.  

— Espero que nenhum dos dois vire camisa de saudade. — repreendo 

— Mas se der merd*...  

— Eu estarei lá. — Prontamente digo.  

Nós desligamos. Eu sabia que era um risco defender clientes desse tipo, mas era minha profissão. Eu já tinha atendido clientes bem piores que traficantes de drogas.  

Logo em seguida, recebi uma ligação de vídeo da minha princesinha avisando que chegou da escola e que está morrendo de saudade da mamãe. Conversamos um pouquinho e desligamos a chamada. Eram 17h30, sinal que daqui há 1h30 eu já conseguia ir embora se não houvesse mais nenhuma demanda urgente. 

Assim que o relógio marcou 19h, finalizei os últimos ajustes do dia e saí da minha sala. Passei pela recepção e encontrei Adriana organizando alguns papéis. 

— Boa noite, Dra. Anna. 

— Boa noite, Adriana. Até amanhã. 

O elevador estava lotado, então optei pela escada, descendo os lances com passos decididos. Assim que saí do prédio, vi Fernanda encostada no carro, braços cruzados e um sorriso nos lábios. 

 

— E aí, poderosa, quer uma carona? 

Ri pelo nariz e balancei a cabeça. Minha esposa adorava me provocar com esse tom debochado. 

— Depende. Vem com brinde? 

— Só se o brinde for um beijo. 

Ela abriu os braços, e eu não hesitei. Me aproximei, deslizei as mãos pela sua cintura e selei nossos lábios. O gosto familiar de Fernanda misturado ao perfume dela sempre me trazia uma sensação de lar. 

— Como foi o dia? — Ela perguntou enquanto entrávamos no carro. 

— Cansativo. Treinei os associados, tive reunião com clientes e precisei resolver a questão do ar condicionado da empresa. E o seu? 

— Corrido também. Tive que ir no cartório resolver mil coisas, depois na junta comercial, depois decidi passar no shopping e aí lembrei de você... Tudo me lembra você e Ceci. Acabei comprando algo pra ela também.  

— O chocolate estava uma delícia, você acertou em cheio. — Faço um afago na sua perna enquanto ela dirige — O que você comprou pra pequena?  

— Pantufas de bichinho. Bem parecido com o monstrinho que você me deu quando namorávamos.  

— Ela vai amar, amor. Ela vive tentando pegar o monstrinho. — Sorrio com a lembrança  

— Saudade...  

— Do quê?  

— De você me chamar de monstrinha. — Ela direciona o seu olhar pra mim fazendo um biquinho  

Dou um sorriso.  

— Monstrinha só quando você tá com ciúmes ou brava  

— Eu não sou ciumenta — Ela me diz, sínica.  

— Imagina... — Ironizo 

O caminho até nossa casa foi tranquilo, com Fernanda dirigindo e conversando sobre coisas aleatórias. Ao estacionarmos, antes mesmo de abrirmos a porta, ouvimos o som de passinhos apressados pelo jardim.  

— MAMÃES! 

Cecília surgiu correndo e se jogou nos nossos braços, distribuindo beijos e apertos. 

— Oi, meu amor! — Peguei minha filha no colo, sentindo seu cheirinho doce. 

Fernanda fechou a porta e cumprimentou Dira, que estava na sala terminando de guardar alguns brinquedos. 

— Ela foi um anjo hoje — a babá informou, sorrindo. 

— Cecília sempre é um anjo — brinquei, e minha filha sorriu, toda convencida. 

Fernanda foi até a bolsa escolar de Cecília, pegou a agenda e folheou rapidamente. Então, parou em uma página e arqueou a sobrancelha. 

— Dia das Profissões... daqui a três dias. 

Suspirei, porque já sabia onde aquilo ia dar. Cecília, ainda em meu colo, olhou para mim com aqueles olhinhos brilhantes e ansiosos. 

— Mamãe Anna, você vai falar sobre seu trabalho na minha escola? 

Eita, caralh*... Socorro, Deus.  

Hesitei por um momento. Eu amava minha profissão, mas sabia que nem todo mundo via a advocacia criminal com bons olhos. 

— Acho que sua mãe Fernanda pode fazer isso melhor, filha. Ela é advogada de família...  

— Mas eu quero você! — Cecília fez biquinho. — Meu amigo Pedro falou que advogado criminal defende bandido. 

Engoli em seco. Fernanda trocou um olhar comigo, já sabendo o que se passava na minha cabeça. 

— A gente conversa sobre isso amanhã, pode ser, amor? Agora já tá tarde. 

Cecília assentiu, bocejando. 

Depois de um banho e uma historinha, nossa filha adormeceu no meu colo. Enquanto eu a observava, Fernanda se aproximou e me estudou com aquele olhar atento. 

— O que foi? 

— Você tá inquieta. 

Suspirei.  

— Por que será que Cecília faz tanta questão que eu vá? — Observo nossa pequena em meus braços, calçadas com suas pantufas que ganhou de presente da mainha dela. Dou um singelo sorriso.  

— Cecília pode ter nascido de mim, mas... Ela é uma cópia de você. Ela te ama, te admira e quer ser igual a mãe dela. Ela vê que você é forte, dedicada, brava no trabalho, decidida... Todos esses valores você acaba passando pra ela.  

— Eu não sei, Fernanda... Eu... — Não completo, pois não sei o que falar.  

— Você é advogada de um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro e está com medo de ir na escola da sua filha? Não precisa falar sobre isso, amor. Vá e fale de forma didática para as crianças o que você faz. Você é ótima com crianças.  

Fernanda me assegura e eu assinto, olhando pra Cecília e fazendo um carinho nos cabelos loiros.  

— E se ela não sentir orgulho de mim? — Pergunto apreensiva  

— Ela já sente muito orgulho de você. É tudo mamãe, nunca mainha... Fico até com ciúmes às vezes — Ela confessa  

— Não precisa ter ciúme, ela ama as duas igualmente, amor. E ela é agarrada comigo pois sou a mãe da bagunça. — Ela ri concordando  

Depois de deixar Cecília na sua cama, caminhamos de mãos dadas até a sala e eu aproveito para deitar no seu colo, recebendo um cafuné gostoso das mãos dela e fico alguns minutos perdida nos meus pensamentos.  

— Não é só Cecília que está te preocupando.  

Suspirei. Não passava nada batido pra Fernanda.  

— É a Amanda... Estou preocupada.  

— O que tem sua afilhada? — Ela perguntou inclinando a cabeça  

Hesitei por um momento, mas Fernanda era minha esposa, não tinha motivo para esconder e com certeza ela não ia falar nada com Amanda, pois não sei o porquê, Amanda estava com ranço de Fernanda de uns anos pra cá. Contei sobre comportamento rebelde, a decisão de ir para São Paulo, o apoio da mãe Paola e a forma como ela vem magoando Adriana com essas atitudes e, sem falar que, ela só está indo para São Paulo, pois se apaixonou por uma mulher mais velha e o amor não é correspondido.  

Fernanda me escutou em silêncio, e quando terminei, ela disse com a maior simplicidade:  

— Essa mulher mais velha é você. 

O quê? 

Fim do capítulo

Notas finais:

Essa família é a coisa mais linda, não? 

Conflitos virão pela frente, aguardem! hahaha


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Comentários para 2 - Capítulo dois: verdades não ditas:
Lea
Lea

Em: 19/04/2025

Assim que a Amanda falou sobre essa paixão,saquei que era a Ana,essa mulher mais velha.

 


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 19/04/2025 Autora da história
Só a Anna não percebeu, né? KKKKKKK


Responder

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HelOliveira
HelOliveira

Em: 12/04/2025

Ta tudo tão lindo, que já deu medo desses conflitos....

Sabia que a Fernanda ia matar a charada da mulher mais velha....


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 13/04/2025 Autora da história
Essa temporada será um pouquinho mais leve do que a outra, mas cheia de emoções. Nossas meninas amadureceram e agora são mães e perto dos 40, então muitas coisas mudaram ao longo dos anos (menos os ciúmes de ambas kkkkk)


Responder

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Mmila
Mmila

Em: 18/03/2025

Eita que vai de ruim pra Ana.


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 24/03/2025 Autora da história
Será?


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