Primeiro capítulo de degustação da obra, ela está disponível no link
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Capitulo 1
“Me dê a mão
Vem ser a minha estrela
Complicação
Tão fácil de entender
Vamos dançar
Luzir a Madrugada
Inspiração
Pra tudo que eu viver
Quando um certo alguém
Desperta o sentimento
É melhor não resistir
E se entregar.”
Um certo alguém |L. Santos
- Eu não acredito no que tô vendo! Eu realmente não acredito nisso!
Sevilla mordeu o lábio e o celular touch screen não parava de vibrar, denunciando a chegada de uma nova mensagem. Ela caminhava de um lado para o outro como se isso fosse fazer desaparecer a notificação que acabara de chegar. Ali, naquele cômodo, dois olhos verdes estavam acompanhando seu movimento.
Aqueles olhos, pertenciam a felina peluda que estava muito bem acomodada na mesa de madeira de centro da sala. Seu olhar era de mais puro tédio, como soubesse do drama existencial que a mulher a sua frente estava passando. A caixinha robótica, chamada Alexa, começou a tocar baixinho The Loneliest girl da Carole para completar o repertório dramático daquela manhã.
Certamente, aquela sala estava ficando apertada demais para a caminhada frenética daquela mulher de madeixas curtas, ombros fortes e olhar angustiado. Uma de suas mãos segurava o celular para continuar a leitura, enquanto a outra massageava o cabelo em tom acobreado. Era só o que faltava, uma ironia do universo em formato de mensagem.
- Sem Futuro, olha isso! – ela se aproxima da mesa de centro e mostra o display do seu celular para a felina com pelo tricolor em tom amarelo, branco e preto. A gata alterna o olhar entre a humana e o celular como se pudesse ler ou compreender alguma coisa que aquela mensagem estava dizendo. – Você faz ideia da gravidade que é essa situação? Só me explica, por que depois de tanto tempo sem me dá notícias, justo agora ela me manda mensagem?
A gata de nome Sem Futuro começava a fazer seu ritual de higienização, lambendo todo seu pelo, quando foi interrompida pela mulher.
- Dá para parar de se lamber só por um minuto? Eu estou com um problemão aqui, sabe?!
A gata lançou um miado forte.
- Ah, não me venha com um miado passivo-agressivo agora. Eu estava em busca da sua validação emocional, garota! – ela se joga no sofá cinza em frente a gata. – Escuta só, eu vou ler o que ela me mandou.
A mulher começou a aquecer a voz, cujo timbre é agradável e envolvente com uma tonalidade um pouco grave, mas marcante. Ela começou a ler em tom alto, dramatizando cada palavra que achava necessário uma ênfase mais artística, assim a mensagem dizia:
“Oi Sevilla! Nossa, o quanto é difícil escrever seu nome. Odeio te chamar dessa forma, mas também não sei como poderia te chamar depois de tanto tempo. Quero fazer um pedido, se assim eu puder... gostaria de te encontrar no nosso velho lugar especial. Espero que você vá, caso não compareça, irei entender perfeitamente!
Atenciosamente,
Mick”
Sevilla Oviedo terminava de ler a mensagem que havia deixado transtornada. Mick, a responsável por essa inquietude e crise existencial, pedia por um reencontro no velho lugar especial.
- Estou me sentindo em um dos filmes de suspense do Hitchcock agora. Quem diria que minha vida iria parecer como um desses filmes, lentos e melodramáticos. Se soubesse disso desde o início, teria preparado pipoca. – sorriu sem humor. Costumava aliviar sua tensão com um pouco de sarcasmo. Nem sempre funcionava, mas acalmava um pouco.
Por um momento, esqueceu que a música ecoava pelo apartamento com decoração urban jungle. As paredes foram pintadas de cinza claro para despertar uma calmaria aos residentes de forma estratégica, já que a outra amiga com quem dividia o apartamento era uma psicologa amante de feng shui, embora usado com moderação, pois moravam também a namorada de sua melhor amiga, Cate.
Assim, o que dava destaque era a coleção vibrante das plantas que dominavam o espaço. As três dividiam o apartamento e fizeram questão de deixar aquele espaço com a cara de cada uma, então todas traziam um pouco dos seus gostos para conviver harmonicamente.
Enquanto ainda estava sentada no sofá, Sevilla passava as mãos pelas almofadas em tons verde oliva e terracota com as frases clássicas que Cate fez questão de registrar: “O que seria a vida sem um pouco de caos.” e “Se der errado, ao menos terá uma boa história para contar.” Aquelas eram frases chaves da Cate que serviam como lembretes para as três encararem a vida. E vinha servindo de certa forma.
Sevilla respirou fundo e se sentiu abraçada pelo aroma das folhas que se misturavam ao cheiro amadeirado do incenso que queimava próximo ao chão com uma fumaça flutuante, tentou fazer todos os artifícios que conhecia para manter sua mente calma. Mas estava impossível, a atmosfera estava melancólica graças a melodia que ainda tocava, deixando a mulher ainda mais contemplativa.
- Muito bem, vamos ler só mais uma vez. Tudo isso pode ser apenas uma brincadeira.
Leu novamente aquelas linhas, tentando resolver o enigma, mas não achou nenhum. Não havia brincadeira oculta, não havia erro no destinatário ou incoerência na ortografia. Era para ela a mensagem e estava muito claro sobre o seu pedido. Pela primeira vez Sevilla começou a cogitar a ideia da teoria do multiverso do físico Hugh Everett[1], pois essa seria a solução mais óbvia.
Um miado fora ouvido e Sem Futuro chamou atenção para si.
- Me diga, eu deveria ir para o lugar especial? – Sevilla soltou um suspiro, enquanto fitava Sem Futuro - Sim, eu sei, você tem as rédeas da sua vida melhor do que eu, já sabemos.
Ela escutou outro miado como resposta, aparentemente, Sem Futuro tinha mesmo as rédeas da sua vida.
Um misto de sentimento lutava para ter sua atenção no coração da mulher, ansiedade, euforia, medo e curiosidade. Sim, curiosidade, ela queria mesmo saber por qual motivo aquela pessoa mandou mensagem depois de tanto tempo. Assim, tudo que podia fazer, era respirar fundo e de fato, não havia dúvidas de que era a Mick.
Ela era como uma Shay Mitchell brasileira, só que muito mais sexy e menos hetero. Exatamente como Sevilla achava que ela ficaria quando a Micaela adulta surgisse.
- Vamos pessoal, o que eu faço agora, ignoro? Respondo? Sério Sem Futuro, você nem para me ajudar, ao menos me sugira escolher entre a pílula azul ou vermelha?
Mais um miado foi ouvido.
- Sim, você terá a descrição de cada uma. Um miado para a pílula vermelha que significava ir. Dois miados se você escolher a pílula azul que é para... bem, ignorar e continuar fingindo que minha vida está sob controle e não sendo decidida pelo miado de uma gata ou que a mensagem da Mick não abalou cada estrutura do meu ser – ironizou.
Sevilla sabia que Mick iria para o lugar especial, mas e quanto a ela? Ela iria?
- Olha, para te ajudar a escolher para qual pílula miar, eu vou te contar uma história, o que acha?
Mais um miado, como se fosse um sim.
- Vou entender isso como um sim. Então, tudo começou anos atrás, lá em 2007, é eu era só uma garotinha do ensino médio, introspectiva e com um sonho...
[1] Físico estadunidense, criador da teoria do multiverso, postulando a existência de múltiplas realidades alternativas.
Fim do capítulo
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