Era chegada a véspera do famigerado casamento de Ramón Peña e Lorenzo Gutierrez. Obviamente, os irmãos Gutierrez não poderiam deixar de fazer uma despedida de solteiro memorável. Para fugir de qualquer boato de imprensa, Anabê,  Luiza, Mirella, Lorenzo, seu assessor Bruno, seu mentor Murilo, sua diretora de Marketing de campanha  Maria Júlia e Daniela pegaram um dos taxis aéreos e foram para Ibiza. Ramon tinha ficado com alguns amigos em São Paulo e sairia por lá mesmo após o trabalho para um jantar, sem muito estardalhaço.

Já quase pousando, Ana Beatriz pegou seu celular e puxou o aplicativo de notas para expor seu itinerário.

- Vamos lá pessoal, como vocês sabem eu sou a best woman, fiquei a cargo de planejar essa despedida de solteiro. Primeiro vamos descansar um pouco na casa que alugamos, e então pedi para um dos chefs do Heart Ibiza preparar um especial de comidas do mediterrâneo que sei que o Lô adora. De lá, vamos para a Privilege, onde fechei um setor somente para nós. Pensei em ficarmos algumas horas lá na Privilege e encerrarmos a noite na Blue Marlin, o que acham?

- A Amnesia é legal também. – Luiza comentou.

- Nossa, eu fui na Amnesia uma vez. Não recomendo, o nome faz jus ao que acontece na manhã seguinte de ressaca! – Mirella riu.

- Que lugares são esses? – Daniela perguntou, cochichando, para Maria Julia.

- Pelo que pesquisei, são clubes noturnos de luxo.

- Nossa, a Ayla e a Liara mandaram mensagem agora. Disseram que estão vindo também, estão pegando o jato neste momento. – Luiza comentou.

- Ayla é sua outra ex namorada, né? – Maria Julia cochichou para Daniela.

- Sim...

- Então vamos para uma festa com duas ex suas?

- Basicamente... isso seria um problema? – Daniela cochichou de volta.

- Problema nenhum... – Maria Julia respondeu, lutando para não se sentir intimidada.

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Menos de uma hora depois, o grupo já havia se acomodado na casa, ou melhor, palacete que Ana Beatriz havia alugado. Após um belo banquete com pratos que variavam de moussaka marroquina, kebabs e tabule, o grupo se dirigiu para a primeira festa do itinerário.

Para surpresa de Lorenzo, uma de suas cantoras favoritas também resolveu ir naquele clube na mesma noite. Era uma cantora POP hispano-brasileira que estava há algum tempo sem lançar álbum, e mesmo assim ainda fazia sucesso.

- Guiana?! – Lorenzo não acreditava.

A cantora devolveu o olhar, tentando identifica-lo.

- Eu te conheço de algum lugar, não te conheço?

- Lorenzo Gutierrez, estou concorrendo à prefeitura de São Paulo!

- Ah, é você! Eu nasci em São Paulo, sabia? Minha zona eleitoral é lá! Vou votar em você semana que vem, sabia?

- A Guiana vai votar em mim!! – Lorenzo repetia a si mesmo, sem conseguir acreditar.

- Desculpa o tietismo, Guiana... – Ana Beatriz interveio. – Ele adora suas músicas.

- Fico feliz que o futuro prefeito adore minhas canções! Pode me chamar para cantar na posse, viu?

- Com certeza!! – Lorenzo sorria feito criança.

- Lorenzo! – Ana Beatriz deu um cutucão no irmão. – Até parece que ela é a primeira cantora que você conhece na vida...

- Ela foi a única cantora que me fez pender ligeiramente à bissexualidade, ok? – Lorenzo respondeu, justificando-se. – Daí eu percebi que estava mais apaixonado pela voz do que por ela, mesmo, não se preocupe.

- Pessoal, pessoal, olha o que a Mirella conseguiu! – Luiza apareceu segurando um saquinho com algumas cápsulas de cor verde neon e rosa.

- O que raios é isso, Luiza? – Ana Beatriz perguntou.

- Sei lá, ela conseguiu do contato dela aqui de Ibiza.

- Ai, eu já usei uma dessas, é maluquice, mas eu adoro! – Guiana se meteu na conversa.

- E como se chama isso? É algum remédio  daqui? – Anabê perguntou.

- Sem nome. É manufaturado, quase que artesanal.

- Não quiseram nomear?

- Na verdade essas pílulas se chamam “Sem nome”.

- Me dá uma aqui. – Lorenzo pegou o pacote.

- Você está louco?! – Ana Beatriz o repreendeu. – Vai lá saber o que essas pílulas causam, e você casa amanhã!

- Para, Anabê, não deve ser tão ruim assim. Uma só e vamos descobrir.

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Oito da manhã. Lorenzo acordou no que parecia ser um quarto de apartamento. Olhou pela janela e percebeu que estava em Brasília. Começou a procurar sua cueca box, e a encontrou debaixo da cama. Quando começou a vesti-la, deparou-se com um homem saindo de toalha na cintura do banheiro.

- A....Apolo??!? – Lorenzo parecia ter visto um fantasma.

- Por que essa cara de surpreso? – O jovem respondeu, estranhando.

- Há quanto tempo você está aqui?!

- Desde madrugada, ué, foi você que me chamou.

- Eu te chamei?!? Como eu vim parar aqui? Eu não me recordo de nada!

- Como assim não se recorda, Lô?

O candidato a prefeito entrou em pânico.

- Relaxa, bobinho. Não fizemos nada. Você estava bem alterado, passei a noite toda escutando você desabafar. E eu aproveitei para tomar banho porque já já tenho que trabalhar.

- E o que tanto eu desabafei?

- Nada demais, seus planos sobre a vida, sobre Ramon, sobre a Presidência da República um dia e do quanto o Ramon é o candidato perfeito a primeiro cavalheiro.

- Eu só queria entender como eu vim parar aqui, de verdade.

- Talvez algum ponto do seu subconsciente quisesse estar aqui.

Lorenzo se calou por um instante. Ficou pensativo.

- Acho melhor eu ir. Obrigado pela hospedagem.

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Ao descer, Lorenzo percebeu que o Lobby do prédio estava lotado de jornalistas.  Colocou sua touca e rapidamente subiu para o apartamento do ex novamente.

- O que foi? Sentiu saudades?

- A imprensa está lá embaixo. Saberia me dizer por quê?

- Não sei, vários políticos moram nesse prédio, poderia ser sobre qualquer um deles.

- Você precisa me ajudar a sair daqui.

- Você não tem seguranças? Não pode pedir a ajuda deles?

- Acha que já não liguei para eles? Estão aqui perto, rondando o perímetro, mas se entrarem, a imprensa vai notar, vão fazer perguntas e vão ficar em cima para saber quem estão protegendo.

- Vem aqui, use isso. – Apolo pegou um boné e um par de óculos escuros. – Aí você sai pelo elevador de funcionários e pelos fundos do prédio, na área de serviços.

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Já no fim de tarde, Lorenzo fazia o toque final em sua gravata borboleta prateada quando sua assistente de mídias invadiu a sala, ofegante.

- Lorenzo, o doutor Ramón sumiu!

- Como assim sumiu? Ele não está se arrumando?

- Sumiu! Nós o procuramos no salão reservado, no quarto de hotel, em todos os lugares! Tentamos ligar para o celular dele, falar com a família, mas ninguém sabe onde ele está!

O primeiro pensamento de Lorenzo foi imaginar que Ramón tivesse visto alguma notícia vazada de tabloide. Dito e feito. Uma rápida busca e encontrou nas redes sociais um link para um site pouco conhecido, mas que estava começando a viralizar pela foto de relance, mostrando Lorenzo disfarçado.

- Como você deixou passar isso, Maria Júlia?!

- Nós monitoramos absolutamente tudo! Estava tudo sob controle! Não sei como esse site conseguiu, mas vamos correr atrás disso.

- Agora é tarde, certeza que Ramón viu isso, e o fato de eu ter saído escondido vai me imputar uma culpa automática. Como vou encontra-lo?!

- Bom, ouvi dizer que tem alguém que tem recursos para encontrar qualquer pessoa...

- Não... você não está falando dela, né?

- Se estiver se referindo a sua mãe, sim.

- Não quero dever favores a ela. Ainda mais que estou tentando um cargo político. Pode não soar bem.

- Ela é sua mãe e vai te ajudar a encontrar seu noivo, não vejo política nisso.

- Se ela me cobrar lá na frente, é o seu que estará na reta. Lembre-se disso.

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Lorenzo reuniu seu grupo familiar e equipe de assessores para comunicar o ocorrido. Sem pestanejar, sua mãe iniciou as buscas comunicando-se com seus contatos, e em menos de três minutos, mais exatamente dois minutos e quarenta e cinco segundos, já tinha a localização do rapaz.

- O que ele está fazendo em Brasília?! – Ana Beatriz olhou por cima no celular da mãe.

- Provavelmente foi tirar satisfação com o outro rapaz, aquele ex namorado arquiteto. – Cecilia respondeu. – Aquele que o Lorenzo encontrou depois da noitada de vocês na Espanha.

- Como a mãe ficou sabendo de tudo isso? – Luiza questionou.

- E tem algo que a mãe não saiba? – Indagou Anabê.

- Eu só quero saber como deixaram vazar essa história. – Cecília comentou novamente.

- Eu...e-eu...eu só...- Maria Júlia começou a gaguejar.

- Mãe, olha o avanço da internet. Está quase impossível conter um boato hoje em dia. – Luiza defendeu a namorada de sua ex, compadecendo-se.

- Na verdade, podemos usar isso a nosso favor. – Cecília afirmou.

- Como, mãe? Eu estou mandando mensagem para o piloto agora, tenho que ir atrás do Ramón antes que isso vire uma tragédia. Ele não leva desaforo para casa. Algo de ruim pode acontecer.

- Não vá. – Cecília ordenou. – Você precisa ficar aqui.

- Ramón vai atrás de Apolo, certeza, e meu ex namorado é um cara imprevisível, quem garante que ele não vai mentir e dizer que fizemos alguma coisa? Ramón vai surtar!

- Tenho contatos em Brasília que podem supervisionar essa questão e impedir qualquer ameaça. Você precisa ficar aqui, passar a imagem de abandonado no altar. Não haverá briga em Brasília, isso lhe garanto.

- Claro, vou passar a imagem de abandonado depois de Ramon soltar por aí que o traí na noite anterior ao casamento.

- E você o traiu? – Cecília cruzou os braços, encarando o filho.

- Não! – Lorenzo respondeu, fitando os olhos nos de sua mãe.

- Sei que está falando a verdade. Aguarde trinta minutos após o que seria o início da cerimônia e faça uma coletiva de imprensa.

- E vou falar o quê? Que Ramón me abandonou? Ele vai virar o vilão da história?

- Ou ele se torna o vilão, ou o vilão é você. Em seu posto, não existe meio termo.

- Não posso jogar o Ramón assim. Seria injusto com ele, e eu o amo.

- Tudo bem, deixe Ramón contar a história e você se torna o vilão.

Lorenzo refletiu. Sabia que tinha muito a perder.

- Está bem. O que tenho que falar nessa coletiva?

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- Prezados, o que tenho para lhes falar hoje é algo que nunca, em meus mais remotos pensamentos, diria no dia do meu casamento. Acontece que, baseado em boatos e montagens, Ramón pensou que eu tivesse ido para Brasília, então foi para lá e acabou sendo preso por assédio e tentativa de homicídio contra um ex namorado meu. Não estamos aqui para julgá-lo e faremos todo o possível para que ele seja julgado com imparcialidade, sempre dentro da lei.

Ao sair da coletiva, Lorenzo entrou no carro executivo em que sua mãe lhe aguardava.

- Agora vamos torcer para o Apolo não abrir a boca.

- Ele não vai abrir. Seu ex já foi notificado.

- Como assim notificado?

- Ele sabe que não pode abrir a boca.

- Mãe, o que você fez com ele?

- Não há nada que dinheiro ou uma leve investigação sobre o passado dele não tenham resolvido.

 - O que você usou contra ele?

- Pelo visto, havia coisas do passado dele que nem você sabia. E é melhor não continuar sabendo.

Lorenzo suspirou. Uma onda de remorso lhe sobreveio.

- Não acredito que Ramón está preso. Sinto que destruí a vida dele.

- Ele foi para Brasília para atacar seu ex namorado. Não havia outro método para contê-lo.

- Fico pensando no que mamãe diria se estivesse aqui...

- Ela diria para você ser forte e que tudo é passageiro. Você tem uma eleição para ganhar daqui alguns dias.

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Fim do capítulo