FOGUEIRA
RAFAELA
O beijo tinha sido maravilhoso. No início fiquei um pouco atônita pela sua iniciativa, afinal a pouco tempo eu havia passado por um grande problema com Janaína. Mas Helena me trazia muita segurança e eu não poderia resistir aos seus lábios. Quando houve o encontro de nossas bocas eu pude apenas fechar os olhos e me sentir no céu. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. Helena gem*u e isso me despertou.
Puxei Helena para o meu colo e senti o seu cheiro de perto, naquele momento não tive mais dúvidas, tentei tirar esse pensamento de minha cabeça por dias, mas eu queria Helena. Minhas mãos tomaram vida própria e eu tinha urgência em tirar sua roupa e sentir toda sua pele na minha. Mas Helena segurou o vestido, quando me revelou o motivo, vi tristeza em seus olhos e era inadmissível uma mulher tão linda como aquela, sentir vergonha do próprio corpo. Insisti e ela me permitiu tocar seus seios e beijá-los, aos poucos ela foi se entregando, seu corpo desejava aquele momento tanto quanto o meu. Por mais que eu desejasse seu corpo, a razão não poderia ser deixada de lado, ela precisava ser abraçada e deveria entender que para mim ela era uma mulher especial. E que não havia pelo que se envergonhar. Eu não poderia trans*r com ela e fazê-la pensar que minhas palavras eram apenas para convencê-la a se entregar. Qualquer pessoa normal teria achado estranho o fato de Helena ter chorado após o nosso beijo. Mas ela estava dentro do meu abraço e naquele contato em silêncio eu pude sentir algo que jamais havia sentido com nenhuma outra pessoa… SEGURANÇA.
A chuva passou e ela ainda estava acomodada em meu peito. Não sei quanto tempo durou aquele silêncio confortável. Eu acariciava suas costas e pude pensar em muitos aspectos da minha vida, como trans*s casuais e relacionamentos fracassados. Não sei o que se passava na cabeça dela, mas algum tempo depois ela me perguntou:
- Estou te pesando?
- De forma alguma. É gostoso ficar com você assim.
Ela olhou pelo vidro da janela e quebrou nosso contato, sentando-se no banco do motorista.
- A chuva parou e o nível da água desceu. Acho que já dá pra passar.
- Verdade, a maioria dos carros já se foram.
Ela ligou o carro e permanecemos em silêncio. Nem eu e nem ela queríamos falar sobre o momento. Eu sempre fora muito desenrolada para esse tipo de situação, mas com Helena era diferente. Eu não sabia como começar um assunto e parecia que ela não estava à vontade para começar também. Chegamos no portão da minha casa e eu nem sequer sabia como me despedir. Tirei o cinto, peguei minhas coisas e respirei fundo.
- Rafa, desc…
- Helena, para de me pedir desculpa o tempo todo.
Falei ajeitando uma mecha de seu cabelo que estava na frente do seu olho.
- É que eu não sei…
Interrompi ela novamente
- Nos beijamos, foi gostoso, somos adultas e está tudo bem.
- Como você pode ser tão tranquila com o que fizemos?
- Porque somos adultas. E eu me arrependeria se não tivesse feito.
- Não sei o que me deu…
- Desejo!
Seu rosto ficou vermelho.
- Estava tão claro assim?
- Nitidamente.
Falei sorrindo e ela devolveu um sorriso tímido.
- Eu estou confusa…
- Não fique! Isso não é algo que deva te colocar pra pensar.
- Como não Rafaela, eu nunca senti desejo por uma mulher…
- E isso é um problema pra você?
- Não é que seja um problema, mas…
- Você é casada!
- Não é isso também. É que é… Estranho… É novo… Não sei como agir
- Não pensa muito… Você é linda demais pra ficar com a cabeça fritando.
Acariciei seu rosto e recebi seu sorriso perfeito. Se eu me apegasse naquele sorriso mais uns segundos, não conseguiria entrar em casa. Desfiz o contato.
- Me avisa quando chegar em casa.
- Obrigada Rafa.
- Pelo que?
- Por me emprestar seus olhos e me achar uma mulher “linda”.
- Você é linda, não dê razão para ninguém que diga o contrário.
Falei piscando para ela e abrindo o portão de casa.
Entrei e Helena arrancou com o carro. Entrei em casa e fui tirando a roupa pelo caminho. Entrei no chuveiro ainda com as mãos no lábios pensando que pouco tempo atrás eu estava beijando Helena. Quando estava terminando o banho meu celular vibrou. Olhei no visor, era Helena.
[20/02 03:17] Helena Albuquerque: Oi Rafa… Cheguei em casa.
[20/02 03:19] Rafaela Personal: Obrigada por ter avisado. Você está bem?”
[20/02 03:20] Helena Albuquerque: Estou sim. E você?
[20/02 03:22] Rafaela Personal: Melhor impossível.
[20/02 03:24] Helena Albuquerque: Não vou te incomodar mais. Vou tomar um banho. Boa noite Rafa.
Eu não queria encerrar o assunto com Helena, daqui a pouco o sol estaria nascendo, mas eu não tinha sono…
[20/02 03:29] Rafaela Personal: Imagina… Não vou dormir por agora.
[20/02 03:31] Helena Albuquerque: Está sem sono?
[20/02 03: 33] Rafaela: Por incrível que pareça, estou sem sono. E você?
Helena demorou um pouco mais a responder e eu imaginei que estivesse no banho assim como tinha dito.
[20/02 03:54] Helena Albuquerque: Pós banho o sono bateu. Vou me deitar se não durmo com o celular na mão kkkkkk
[20/02 03:59] Rafaela: Bom restinho de noite. Tenha bons sonhos Helena.
[20/02 04:02] Helena Albuquerque: Pra você também Rafaela.
Eu não estava com sono, ainda corria nas veias adrenalina de todos os acontecimentos daquela noite. Fechei os olhos na tentativa de atrair o sono, mas a única coisa que vinha em minha mente era a lembrança dos lábios de Helena tocando os meus, do sabor do seu beijo, o cheiro e a textura de sua pele. Tentava desviar meus pensamentos para outras situações que aconteceram naquela festa, mas meus pensamentos sempre me traiam e me levavam até nosso momento no carro. Meus pensamentos e sentimentos estavam saindo do meu controle e isso me assustava.
Li páginas de um livro, meditei, fiz agachamentos e flexões, mas nada era capaz de desligar meu cérebro… E meu coração.
Sei que uma noite de sono perdida é algo irrecuperável, mas não pude evitar. Desisti de dormir. Coloquei uma roupa e tênis de corrida e fui para orla ver o sol nascer. O sol nascendo é um dos fenômenos que eu mais aprecio e me transmite calma, mas naquele dia em questão não estava surtindo efeito. Os primeiros vendedores ambulantes começaram a surgir na praia e fui tomar uma água de coco. Sentada na areia não resisti e fui ver se Helena tinha me mandado mais alguma mensagem. Ampliei sua foto de perfil para apreciar cada pedacinho do seu rosto e sorri ao constatar que por alguns minutos aqueles lábios foram totalmente meus.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: