APAIXONADA
HELENA
Após responder a última mensagem de Rafaela, coloquei o celular para carregar na esperança de me deitar e descansar um pouco. Mas foi deitar a cabeça no travesseiro e meus pensamentos me transportavam para aquele momento no carro. Não sei de onde tirei coragem para beijá-la. Mas ao olhar em seus olhos e deduzir que ela também queria me fez perder a razão. Nunca tinha beijado uma mulher. E nem tinha cogitado essa hipótese. Então quando ela envolveu meus lábios com o seus lábios macios foi como se meu corpo se derretesse, seu beijo era doce e ao mesmo tempo tão voraz. Tinha fome e delicadeza. Era fogo e água. Rafaela me acendeu e eu a apaguei. Eu fiquei consternada, pois era a sensação do primeiro beijo. A iniciação de uma adolescente indo ter seu primeiro beijo às escondidas. Adrenalina, curiosidade e os hormônios dizendo “vai viver”.
Agora aqui deitada, olhando para o teto me pergunto onde eu estaria agora se tivesse me entregado. Foi muito difícil resistir ao seu toque gostoso. Mesmo sem nunca termos tido contato semelhante a esse, parecia que Rafaela tinha um mapa do meu corpo. Poderia ter sido… Mas foi um quase. E a partir de agora como seria? Eu a quero e sei que ela também me quer. Não tínhamos bebido a ponto de perder o controle do nosso corpo. Não sei explicar o sentimento, mas o desejo de me entregar e de possuí-la era real.
Fiquei ali deitada com a cabeça cheia de “E se” e nem vi a hora passar. Estranhei quando ouvi a campainha tocar. Lá fora o sol já brilhava e eu nem tinha percebido o seu nascer. Coloquei o hobby e fui até o banheiro. Eu tinha retirado a maquiagem quando cheguei, mas uma noite sem dormir tinha as suas consequências, olheiras terríveis. Lavei o rosto, escovei os dentes e fui ver o que tinha acontecido para alguém tocar o interfone de casa às 7:00 da manhã de um sábado. Desci as escadas e vi Carlos deitado no sofá da sala com os pés sujos de lama. Ainda estava com a mesma roupa do dia anterior, mas parecia estar mais lúcido do que quando deixei a festa.
- Carlos, você pode fazer o favor de tirar os pés do sofá?
Falei me sentando na poltrona ao seu lado e pegando no celular.
- Primeiramente, bom dia querida esposa.
- Chega ein, o teatro já acabou. Estamos em casa!
- Não vai perguntar onde eu estava?
- Como se eu me importasse.
- Acho que você deveria. Eu me importo para onde você vai.
Falou enquanto se levantava e afrouxava a fivela do cinto. Desviei os olhos do celular e fitei Carlos. Seu pescoço tinha uma grande marca. Era provável que tivesse passado o resto da noite com alguma mulher. Quando retirou a camisa, suas costas e abdômen estavam com marcas de unha.
- Preciso que você organize tudo para amanhã.
Olhei pra ele com o cenho franzido
- O que tem amanhã?
- Marquei um churrasco com algumas pessoas da empresa aqui em casa. Algumas esposas virão. Preciso que esteja presente.
- Pelo amor de Deus Carlos. Você não pode marcar essas coisas em cima da hora. Preciso organizar as crianças, ver escalas de funcionários…
- Você tem tempo pra isso.
- São quantas pessoas?
- Provavelmente umas 15 pessoas, vou subir para um banho e mandar mensagem para eles confirmando.
Já não bastava toda a energia que tive que gastar ontem, ainda tinha que organizar um churrasco para amanhã. Além disso, eu odiava esses momentos em piscinas. Minha insegurança com o corpo, não me deixava confortável em situações como essa. Carlos subiu as escadas. Liguei para alguns fornecedores de bebidas, comidas e som. Pedi aos funcionários que fizessem uma escala extra e organizassem o espaço. Já passava do meio dia quando Stella e Davi chegaram cheios de areia e a menina pulou no meu colo.
- Mãããããããããe. Eu tava com saudade.
Davi ficou em pé na minha frente.
- Ei filho, não tava com saudade da mamãe também não?
- Sim. Tomei água de coco e joguei futebol.
- Sério filho? Que legaaaal. Outro dia mamãe vai querer te ver jogando.
- Davi fez gol na Tia Rafa.
Olhei para Stella e ela me confirmou.
- Verdade mamãe.
Para afastar todas as minhas dúvidas perguntei:
- Tia Rafa estava na praia filha?
- Sim mamãe. E eu chamei ela pra jogar bola com a gente. A Tia Débora queria trazer a gente pra casa, mas eu falei que a tia Rafa era minha tia da escola e ela deixou.
Débora era a babá dos meninos desde que Stella tinha nascido, não hesitava em nos seguir para qualquer cidade que íamos e minha orientação era que não deixasse que os meninos tivessem contato com estranhos.
- Eu quero jogar com a Tia Rafa de novo mamãe.
Davi falou e não consegui evitar a pergunta.
- Você gostou dela filho?
- Sim. Ela até me deu um beijo no rosto, ela é cheirosa, tem olhinho cor de folha e tem o cabelo enroladinho.
Sorri boba ao ouvir a forma como meu filho descrevia Rafaela. Sua percepção infantil contrastava com a minha de adulta. Rafaela mesmo suada pós academia exalava perfume, seus olhos eram claros e profundos e seu cabelo cacheado e versátil era muito estiloso. Através dos olhos de Davi eu pude confirmar que eu estava apaixonada por ela.
- Um dia vamos chamar a Tia Rafa para brincar com a gente.
- Obaaaaaaaaaaa
Essa era Stella com toda sua energia expressada através do grito. Davi apenas sorriu e isso indicava que ele tinha ficado feliz com minha promessa.
Levei as crianças para um banho. Pois a tarde deveria conferir se tudo estava como planejado para o evento de domingo que Carlos proporcionaria em nossa casa.
Fim do capítulo
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