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Dois elementos por Woolf Sam

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Palavras: 979
Acessos: 317   |  Postado em: 18/03/2025

APAIXONADA

HELENA

Após responder a última mensagem de Rafaela, coloquei o celular para carregar na esperança de me deitar e descansar um pouco. Mas foi deitar a cabeça no travesseiro e meus pensamentos me transportavam para aquele momento no carro. Não sei de onde tirei coragem para beijá-la. Mas ao olhar em seus olhos e deduzir que ela também queria me fez perder a razão. Nunca tinha beijado uma mulher. E nem tinha cogitado essa hipótese. Então quando ela envolveu meus lábios com o seus lábios macios foi como se meu corpo se derretesse, seu beijo era doce e ao mesmo tempo tão voraz. Tinha fome e delicadeza. Era fogo e água. Rafaela me acendeu e eu a apaguei. Eu fiquei consternada, pois era a sensação do primeiro beijo. A iniciação de uma adolescente indo ter seu primeiro beijo às escondidas. Adrenalina, curiosidade e os hormônios dizendo “vai viver”. 

Agora aqui deitada, olhando para o teto me pergunto onde eu estaria agora se tivesse me entregado. Foi muito difícil resistir ao seu toque gostoso. Mesmo sem nunca termos tido contato semelhante a esse, parecia que Rafaela tinha um mapa do meu corpo. Poderia ter sido… Mas foi um quase. E a partir de agora como seria? Eu a quero e sei que ela também me quer. Não tínhamos bebido a ponto de perder o controle do nosso corpo. Não sei explicar o sentimento, mas o desejo de me entregar e de possuí-la era real.

Fiquei ali deitada com a cabeça cheia de “E se” e nem vi a hora passar. Estranhei quando ouvi a campainha tocar. Lá fora o sol já brilhava e eu nem tinha percebido o seu nascer. Coloquei o hobby e fui até o banheiro. Eu tinha retirado a maquiagem quando cheguei, mas uma noite sem dormir tinha as suas consequências, olheiras terríveis. Lavei o rosto, escovei os dentes e fui ver o que tinha acontecido para alguém tocar o interfone de casa às 7:00 da manhã de um sábado. Desci as escadas e vi Carlos deitado no sofá da sala com os pés sujos de lama. Ainda estava com a mesma roupa do dia anterior, mas parecia estar mais lúcido do que quando deixei a festa. 

- Carlos, você pode fazer o favor de tirar os pés do sofá?

Falei me sentando na poltrona ao seu lado e pegando no celular.

- Primeiramente, bom dia querida esposa.

- Chega ein, o teatro já acabou. Estamos em casa!

- Não vai perguntar onde eu estava?

- Como se eu me importasse.

- Acho que você deveria. Eu me importo para onde você vai.

Falou enquanto se levantava e afrouxava a fivela do cinto. Desviei os olhos do celular e fitei Carlos. Seu pescoço tinha uma grande marca. Era provável que tivesse passado o resto da noite com alguma mulher. Quando retirou a camisa, suas costas e abdômen estavam com marcas de unha. 

- Preciso que você organize tudo para amanhã.

Olhei pra ele com o cenho franzido

- O que tem amanhã?

- Marquei um churrasco com algumas pessoas da empresa aqui em casa. Algumas esposas virão. Preciso que esteja presente.

- Pelo amor de Deus Carlos. Você não pode marcar essas coisas em cima da hora. Preciso organizar as crianças, ver escalas de funcionários…

- Você tem tempo pra isso.

- São quantas pessoas?

- Provavelmente umas 15 pessoas, vou subir para um banho e mandar mensagem para eles confirmando.  

Já não bastava toda a energia que tive que gastar ontem, ainda tinha que organizar um churrasco para amanhã. Além disso, eu odiava esses momentos em piscinas. Minha insegurança com o corpo, não me deixava confortável em situações como essa. Carlos subiu as escadas. Liguei para alguns fornecedores de bebidas, comidas e som. Pedi aos funcionários que fizessem uma escala extra e organizassem o espaço. Já passava do meio dia quando Stella e Davi chegaram cheios de areia e a menina pulou no meu colo.

- Mãããããããããe. Eu tava com saudade.  

Davi ficou em pé na minha frente.

- Ei filho, não tava com saudade da mamãe também não?

- Sim. Tomei água de coco e joguei futebol.

- Sério filho? Que legaaaal. Outro dia mamãe vai querer te ver jogando.

- Davi fez gol na Tia Rafa.

Olhei para Stella e ela me confirmou.

- Verdade mamãe.

Para afastar todas as minhas dúvidas perguntei:

- Tia Rafa estava na praia filha?

- Sim mamãe. E eu chamei ela pra jogar bola com a gente. A Tia Débora queria trazer a gente pra casa, mas eu falei que a tia Rafa era minha tia da escola e ela deixou.

Débora era a babá dos meninos desde que Stella tinha nascido, não hesitava em nos seguir para qualquer cidade que íamos e minha orientação era que não deixasse que os meninos tivessem contato com estranhos. 

- Eu quero jogar com a Tia Rafa de novo mamãe. 

Davi falou e não consegui evitar a pergunta. 

- Você gostou dela filho?

- Sim. Ela até me deu um beijo no rosto, ela é cheirosa, tem olhinho cor de folha e tem o cabelo enroladinho. 

Sorri boba ao ouvir a forma como meu filho descrevia Rafaela. Sua percepção infantil contrastava com a minha de adulta. Rafaela mesmo suada pós academia exalava perfume, seus olhos eram claros e profundos e seu cabelo cacheado e versátil era muito estiloso. Através dos olhos de Davi eu pude confirmar que eu estava apaixonada por ela. 

- Um dia vamos chamar a Tia Rafa para brincar com a gente. 

- Obaaaaaaaaaaa

Essa era Stella com toda sua energia expressada através do grito. Davi apenas sorriu e isso indicava que ele tinha ficado feliz com minha promessa. 

 

Levei as crianças para um banho. Pois a tarde deveria conferir se tudo estava como planejado para o evento de domingo que Carlos proporcionaria  em nossa casa.

Fim do capítulo


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