Capitulo 22
Me sentei em uma cadeira de frente a janela do meu quarto, o vento suave da noite acariciava meu rosto. O céu estava claro, as estrelas pareciam brilhar com mais intensidade naquela noite, como se estivessem tentando iluminar meus pensamentos. Segurei a caneca branca de café, mas o que estava realmente em minha mente não era o líquido escuro, mas sim a pergunta que me atormentava há dias: "Devo me entregar a Mariana?"
O peso da dúvida era algo que eu não sabia se conseguiria carregar por muito tempo. Era estranho sentir essa incerteza, especialmente depois de tanto tempo vivendo com a dor da perda, depois de tanto tempo acreditando que nunca mais seria capaz de amar alguém da mesma maneira.
Fechei os olhos por um momento, tentando me concentrar, mas, como sempre, minha mente voltava àquele dia. Ao dia em que perdi a Victória, cinco anos atrás. Uma dor tão profunda que parecia impossível de superar. Eu sabia que o tempo havia suavizado o sofrimento, mas ele ainda estava ali, um buraco silencioso no peito. Eu ainda sentia a ausência, a falta de uma presença que ela tinha dado por garantida. Não era fácil deixar para trás alguém com quem eu tinha compartilhado sonhos, esperanças e um amor imenso. O luto se transformou em uma sombra constante, às vezes mais distante, outras vezes tão perto que eu mal conseguia respirar.
Mas agora, com Mariana, tudo parecia diferente. Mariana era leve, tão cheia de vida e alegria. Ela trazia risos e momentos de felicidade, algo que eu pensava que nunca mais experimentaria. E, mais do que isso, Mariana fazia com que eu me sentisse viva novamente. Sua presença era como um alicerce, e, ao mesmo tempo, um convite para explorar um futuro que eu havia desistido de imaginar.
Respirei fundo e olhei para a caneca em minha mão, refletindo sobre a conversa que tive com Mariana algumas noites atrás. Sabia que Mariana estava começando a querer mais, a desejar algo mais. A pergunta estava no ar, quase palpável, mas eu não sabia como responder. Será que era hora de dar esse passo? Será que eu estava pronta?
Olhei para o céu novamente. As estrelas estavam lá, constantes e imutáveis, como o tempo que havia se passado desde a perda da minha esposa. Eu sabia, durante todo esse tempo, que nada poderia substituí-la, que a dor era algo que fazia parte de quem eu era. Mas Mariana... Mariana não estava tentando substituir ninguém. Ela não pedira para estar ali, mas estava. E eu, apesar de tudo, sentia que precisava de Mariana. Talvez não para apagar o que aconteceu, mas para reconstruir algo novo, algo que fosse só nosso.
Mas ainda havia a pergunta que não saía da minha cabeça: "Eu estou pronta para deixar o passado para trás? Ou será que o passado sempre vai me acompanhar?"
Me levantou da cadeira e caminhou até a janela, olhando a cidade que se estendia à minha frente. As luzes da rua brilhavam suavemente, e a sensação de solidão, que eu conhecia tão bem, começou a se dissipar um pouco. Talvez fosse a presença de Mariana, talvez fosse o simples fato de estar começando a me abrir para algo novo. Mas eu sabia que, cpara dar esse passo, precisaria de coragem. E mais do que isso, precisava aceitar que, por mais que amasse a Victória, a vida seguiria. O amor não precisava ser algo exclusivo, nem mesmo limitado. Eu não preciso me sentir culpada por permitir que alguém mais entrasse em meu coração.
Fui até a gaveta tirando dali uma caixa vermelha, pegando ali a aliança que usávamos, um símbolo do passado, um lembrete constante da promessa que fiz a mim mesmo de nunca esquecer o amor que tive. Mas Mariana, com sua leveza e paixão, me fazia questionar se ainda havia espaço para um novo amor. Se eu estava disposta a me permitir novamente, a arriscar tudo aquilo que ela pensava ter perdido.
A campainha do apartamento tocou, interrompendo meus pensamentos. eu sabia quem era antes mesmo de olhar pela janela. Mariana. A presença que eu tanto desejava e que, ao mesmo tempo, me fazia hesitar. Desci os degraus, olhei para a porta e, por um instante, pensei se deveria esperar mais um pouco, dar mais tempo para a minha mente se organizar. Mas, no fundo, eu sabia que o tempo nunca seria suficiente. Era preciso viver o momento.
Abri, encontrando Mariana com um sorriso iluminado no rosto, como sempre.
- Oi, Helena - Mariana disse, com a voz suave, mas cheia de energia.
Sorrir de volta, mas minha expressão era um pouco mais séria do que o normal. Mariana percebeu, mas não disse nada. Ela apenas se aproximou e me abraçou com uma leveza que parecia derreter toda a dúvida que eu carregava.
- Como você está? - Mariana perguntou, ainda me segurando.
- Pensando... - respondi, um pouco hesitante.
- Pensando no quê? - Mariana continuou olhando em seus olhos com uma intensidade que me fazia querer ser sincera, mas ainda faltava algo.
Me afastei um pouco, olhando para o rosto de Mariana com mais clareza. Eu não queria mais esconder meus sentimentos. Precisava ser honesta comigo mesma. E com Mariana.
- Eu não sei se estou pronta para isso - Falei, com a voz tranquila, mas carregada de emoção. - Não sei se consigo me entregar a você... ou se devo. Eu ainda estou...
Mariana não pareceu surpresa. Ela apenas a olhou, com compreensão, e então deu um passo para mais perto, segurando sua mão com firmeza.
- Eu entendo, Helena. E eu não estou aqui para substituir nada. Não estou pedindo que você me esqueça, ou que deixe o que aconteceu para trás. Eu só quero estar aqui com você. Para o que der e vier.
Respirei fundo, sentindo o peso das palavras de Mariana. Era uma oferta simples, mas profunda. E, de alguma forma, me fez sentir que talvez não fosse tão difícil assim começar de novo. Talvez o passado pudesse ser uma parte de quem eu era, mas não precisava definir tudo o que viria.
Olhei para Mariana, e pela primeira vez, sentir que poderia dar esse passo. Não porque fosse esquecer, mas porque eu estava pronta para viver algo novo, algo que era só meu e de Mariana.
Fim do capítulo
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