ENCONTROS
RAFAELA
Após ser deixada no portão de casa por Helena, me permiti tomar um longo banho. Seria ainda mais demorado se meu telefone não tivesse tocando insistentemente. Era Sabrina. Me enrolei na toalha e atendi.
- Espero que seja importante. Atrapalhou meu banho.
- Mais do que importante amiga. É super importante.
- Hum…
- Vai fazer o que sexta-feira?
- Trabalhar.
- A noite sonsa…
- Dormir.
- Não vai mais. Se arruma muito gata pois você vai me acompanhar em uma festa.
- Que festa mulher? Tá maluca?
- Festa de inauguração no meu novo emprego.
- Você aceitou a proposta do tarado?
- Aceitei amiga, mas desde aquele dia ele não falou mais nada comigo.
- Isso não significa que ele não vai tentar de novo.
- Por isso você vai na festa da inauguração comigo, vamos pagar de casalzinho e ele vai sair do meu pé.
- O que?
- Até parece que a gente nunca fez isso. Você me deve. Toda vez que queria se livrar de alguém eu pagava de casal com você. Vou te buscar às 20:30min.
- Eu tenho escolha?
- Não! Se arruma pra matar ein
- Tá bom. Beijo
- Beijo.
Após desligar o celular já corri para meu bullet journal e acrescentar o compromisso “fingir ser namorada da Sabrina. Sexta feira. 20:30min.
Os dias vão se passando e eu durmo e acordo com uma certa ansiedade que não me cabe, ao mesmo tempo eu não sei de onde vem e por que vem. Vou para a escola pela manhã e todos os dias na hora da saída levo as crianças até o portão na ânsia de ver Helena buscar sua filha. Que já tinha se tornado um chicletinho meu, mas a mãe nunca aparecia para buscá-la.
A tarde continuo atendendo os alunos na academia, inclusive a própria Helena que nos últimos dias tem roubado todos os meus pensamentos. Até mesmo um simples sorriso dela tem o poder de me tirar de órbita. Esse jogo é perigoso e por isso a cada dia me policio para que meus pensamentos intrusivos não tomem conta da realidade.
Na sexta -feira acordei antes do despertador, na noite anterior tinha tomado quase uma garrafa de vinho imaginando que ela tiraria Helena dos meus pensamentos, mas foi como jogar gasolina na fogueira, pois além de eu não ter dispersado os pensamentos, eles ficaram ainda mais libidinosos. Eu deveria ter dormido mais, mas a ansiedade não me deixava dormir.
Levantei mais cedo e tomei um banho frio, lavei o cabelo e sequei com o difusor. Preparei um café da manhã caprichado já que me dispunha de tempo para fazê-lo. 10 minutos de meditação foram feitos e chamei um UBER. Já sentia meu braço melhor e tiraria a tala antes de ir para a academia à tarde.
Dei aula toda a manhã, quando entrei na minha última sala de aula do dia, lá estava Stella.
- EEEEEEEEEi tia. De que vamos brincar hoje?
- Calma princesa, deixa a tia entrar e fazer a chamada, já falo com vocês.
- Taaaaaa booooom
Fiz a chamada e dei início a aula. Percebi Stella agitada e a todo momento me perguntava as horas.
- Tia, tá quase na hora de ir embora?
- Por que você está ansiosa pra acabar a aula logo? Não está gostando da brincadeira?
- Eu gostei tia, mas eu quero que acabe a aula logo porque a mamãe vem me buscar pra gente almoçar hamburguer no shopping.
- Ah que legal, daqui a pouco é hora da saída.
Aquela animação da garotinha me contagiou. No fim da aula, organizei todos e fui levá-los no portão.
A fila de carros parecia maior do que nos outros dias. Olhei para todos os que estavam ao meu alcance e não vi o carro de Helena.
De repente um carro estacionou e Stella gritou:
- É a mamãe.
Hesitei em soltar a mão da menina já que aquele carro não era o de Helena, mas logo o vidro do carro foi abaixado e pude ver a loira me olhando com olhar de surpresa. Stella não parava de se sacudir
- Mamãe! Mamãe!
Helena saiu do carro e deu a volta abrindo a porta traseira do carro e acomodando a criança. Vi que lá atrás tinha um garotinho e deduzi que fosse o outro filho de Helena. Ela fechou a porta e se virou para mim.
- É muita coincidência mesmo. Então você é a famosa Tia Rafa da escolinha?
- A própria. Já vi que tenho boas referências.
Rimos juntas.
- Professora da mãe e da filha.
Eu não pude evitar de olhá-la de cima abaixo, estava com o cabelo impecável, unhas bem feitas e parecia radiante. A buzina do carro atrás do de Helena me despertou do meu devaneio. Helena disse:
- É melhor eu ir, senão vão passar por cima do meu carro. Eu iria te mandar mensagem e acabei esquecendo. Hoje não comparecerei a nossa aula, pois tenho um compromisso à noite e combinei de passar a tarde com as crianças.
Preciso confessar que aquilo tinha me deixado um pouco chateada, mas depois me lembrei que facilitaria minha vida, afinal eu tinha que me arrumar para a tal festa de Sabrina.
- Tudo bem, marcamos em outra oportunidade.
Nos despedimos com um abraço e fui ao ortopedista para que ele avaliasse a possibilidade de tirar minha tala. Inicialmente ele foi reticente, mas insisti até que o mesmo fosse positivo à minha vontade. Agora eu estava livre para dirigir.
Fui para a academia e atendi um aluno apenas. Desde o dia em que Helena me deu carona, evitei sair da academia ao mesmo momento que ela. Sempre enrolava dizendo que tinha algo para resolver para que eu não tivesse que ficar no carro com ela. Todo o interior do carro tinha o cheiro dela e estávamos tão perto. E quando ela acidentalmente esbarrava em mim era como se eu levasse um choque. Nesse dia eu poderia sair tranquilamente pois Helena não estaria presente.
Fui para casa, tomei um longo banho, lavei os cabelos e deixei que secassem naturalmente para dar mais volume e definição. Fiz uma maquiagem leve e coloquei um vestido vermelho colado em cima e embaixo abria uma fenda deixando a lateral da coxa à mostra. Me olhei no espelho e me senti satisfeita com o que vi. Ainda eram 20:15, mas Sabrina já buzinava. Peguei com as mãos um par de sandálias prateadas de salto e desci de chinelos nos pés correndo.
- Você marcou 20:30!
- Uaaaau você está um espetáculo! Se não fosse minha amiga eu te pegava.
- Sai fora. Por que você adiantou? Nem deu tempo de calçar as sandálias.
- Aaaah calça ai, vai dar tempo. Você já está um arraso, não precisa de mais tempo.
Sabrina dirigiu em direção a festa enquanto eu terminava de me arrumar e vestia mentalmente a capa de namorada de mentirinha. Ensaiando sorrisos falsos de paixão.
Fim do capítulo
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