Onde Todos Nós Possamos Pertencer.
Capitulo IV - Juntas
Capítulo IV
Juntas: Onde Todos Nós Possamos Pertencer
Claire Bell
UMA SEMANA. Sete dias.
Desde o nosso encontro no banheiro, eu e Melanie não nos falamos mais. Recebi mensagens dela, verdade seja dita, mas não respondi nenhuma. Estava com muita raiva de tudo o que tinha acontecido. Raiva dela. Raiva de mim. Sim, eu estava com raiva de mim por ainda não ter esquecido o beijo dela. Praticamente, sonhei com aquele beijo todas as noites. E em muitos desses sonhos, o beijo ficava mais ousado e a mão de Melanie fazia coisas incríveis com o meu corpo. Era quando eu ficava mais irritada por não ter eu respondido a nenhuma de suas mensagens.
O livro de Machado de Assis estava fechado em meu colo. Estava tentando lê-lo, mas ainda mal tinha aberto a página em que eu tinha deixado o marcador. Resolvo abandonar o livro de vez, pego meu celular e abro o aplicativo de músicas e escolho uma da minha playlist, aleatoriamente, e fecho os olhos...
''Is it right or wrong
Try to find a place
We can all belong?
Be as one
Try to get on by
If we unify?
We should really try'' ¹
Então, o celular toca. Abro os olhos, desejando ser Melanie que resolveu ligar, ao invés de mandar mensagem. Era papai...
Fecho o aplicativo da música e atendo:
— Papai? Tudo bem?
— Oi, filha, eu estou bem, mas preciso de sua ajuda.
— Minha? Para quê?
— Falei com Melanie Newfield.
Como assim, ''Falei com Melanie... '' Papai a conhecia? Não tinha o que falar, nem que eu quisesse.
— Ela precisa falar com você, querida, e é muito importante. Por que você não a atende?
— Ela mentiu para mim. E por falar em mentiras, de onde você a conhece?
— Não conheço.
— Então?
— Quem falou comigo foi a chefe dela, Alicea Davis.
— E quem é essa?
— Não queira saber, mas preciso desse favor seu, filha. Preciso que você converse com Melanie. É muito importante. Não pediria se não fosse.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Está bem, pai, eu falo — decido, afinal eu queria mesmo vê-la de novo —, mas quero saber o que você faz de verdade.
Papai solta um longo suspiro e escuto-o conversar com alguém. Será que essa tal de Alicea está com ele?
— Certo, combinado. Obrigado, filha. Eu te amo.
— Eu também te amo, papai.
Encerramos a ligação e, na mesma hora, recebo uma mensagem no celular. Era ela:
''Estou aqui. Você abre a porta para mim?''
Como assim, ''Estou aqui.'' Meu Deus, ela está aqui. Levanto-me atabalhoadamente e vou até a porta e abro-a sem pestanejar.
— Oi, Claire.
— Entra — digo, dando passagem para ela. Ela vestia um conjunto de blazer azul, uma blusa decotada preta e escarpim preto. Ela parecia uma agente de verdade, e ela era, não é? Na bolsa, a tira colo, deveria estar a arma dela.
Senti um pulsar entre minhas pernas.
— Vamos sentar? — Eu peço. Ela assente e sentamos lado a lado.
— Obrigada por me receber.
Não digo nada, mas continuo a encará-la.
— Bom, serei direta, pois não temos tempo a perder. — Permaneço calada. — Preciso que você marque um encontro com seus amigos.
— Por quê?
— Porque um deles está envolvido em uma trama terrorista.
— Lá no banheiro, você não quis dizer quem era. Agora você pode?
— Você não pode saber para que essa pessoa não desconfie de nada. Então, não posso dizer o nome.
— Então, não... — digo e levanto-me, mas sou impedida de afastar-me. Ela segura-me pelos ombros, obrigando-me a olhá-la e a ficar bem próxima dela.
— Escute-me. Depois que saí do banheiro, eu e nossa equipe seguiu essa pessoa e, com escutas, usando microfones direcionais, ouvimos o que eles estão tramando.
— Não posso acreditar que Octavia, Johnny, Josh ou Kelly possam ser terroristas.
— Um deles...
— Não importa — digo e tento livrar-me de seu agarre, mas ela não me solta.
— Claire, eles querem explodir uma bomba durante a Copa do Mundo, no Robert F. Kennedy Memorial Stadium, em Washington, capital. Pessoas vão morrer...
— Não posso acreditar — falo, cobrindo meu rosto com minhas mãos. Melanie, então, abraça-me.
— Acredite em mim, por favor. Preciso de sua ajuda...
Tiro minhas mãos do rosto e a olho, profundamente. Vejo medo em seus olhos. Será que é tudo verdade? Então, tomo minha decisão.
— O que você quer que eu faça?
Melanie Newfield
Atravesso a avenida e paro em frente ao restaurante. Pego o celular da bolsa e levo ao meu ouvido como se fosse atender a uma chamada, mas, na verdade, o gesto faço para olhar em torno e verificar se todos os nossos agentes estão em seus postos. Alicea já está dentro do Savoury, o local onde Claire marcou o encontro, um almoço. Como é um local que ela e seus amigos sempre frequentam, não iria despertar desconfiança em ninguém. Pelo menos era o que esperávamos.
Eles já estão lá dentro. E mais agentes nossos, também. Ninguém conseguiria fugir, e também pretendíamos agir tão rapidamente que ninguém teria reação nenhuma.
O sinal para a ação será a minha entrada.
Suspiro fundo, fecho os olhos e penso em Claire. Não deixarei que nada acontecesse com ela. Prometi ao pai dela e a mim mesma.
Entro.
Visualizo a mesa em que eles estão. Todos conversavam animadamente. Claire está de costas para mim. Então, ele me encara e seu sorriso desfaz-se imediatamente.
Será que ele me reconheceu?
Saco minha arma ao mesmo tempo em que todos os agentes levantam. Alicea já está na frente dele, a mão na sua arma, que está presa em sua cintura.
— Josh Smith, sou Alicea Davis, Agente Federal. Você está preso.
Todos na mesa ficam estarrecidos.
Josh arregala os olhos e leva a mão para debaixo da mesa.
— Não se mexa, Josh. Você está cercado.
Ele olha ao redor e vê mais homens nossos cercando a mesa. Os poucos clientes do restaurante são afastados por outros agentes. O nosso objetivo é não disparar nenhum tiro. Ele levanta rapidamente, mas antes de terminar seu ato, recebe um prato na cara que o desequilibra, fazendo que dois dos nossos homens o segurem pelos braços, jogando-o de bruços no chão. Todos olham para a direção de onde veio o prato e vemos Kelly com um sorriso no rosto. Octavia está quase desmaiando e Claire já tinha levantado e ficado um pouco afastada de toda a ação.
Josh já está sendo levado para fora do lugar. Tudo foi rápido e ocorreu da maneira como planejamos.
— Obrigada, senhorita Bell — Alicea diz olhando para Claire, que mal se mexe. — E você, senhorita Windsor, fez uma bobagem muito grande — afirma, apontando para Kelly, que dá de ombros e um meio sorriso. Logo ela é abraçada por Octavia.
— Você está bem? — Pergunto ao aproximar-me de Claire. Ela assente e pega em minha mão.
— Precisamos ir, agente Newfield — cobra minha chefe, que passa por mim e sai com todos os agentes. Josh já deve estar longe daqui.
— Ligo para você mais tarde — digo a Claire. Ela sorri para mim em concordância e solto sua mão, saindo dali também.
''Let's come together
Right now
Oh yeah
In sweet harmony
Let's come together
Right now
Oh yeah
In sweet harmony'' ²
Olhávamos Octavia e Kelly dançar. Dançar, não. Na verdade, Kelly está mais esfregando-se na sua namorada do que outra coisa. Octavia está mais tímida do que nunca, principalmente agora sabendo o quanto Kelly é rica: estávamos na piscina da cobertura que pertence aos seus pais, em um dos edifícios mais caros de Nova Iorque.
Eu e Claire, desde que chegamos aqui, não saímos uma do lado da outra. Nossas mãos estão entrelaçadas. Agora, as meninas se beijavam. Olho para ela, que sorri e beija meus lábios, mas logo afasta-se.
— Nossa, ela é uma Windsor. Você sabia? — Assinto. — Claro que sabia. Você investigou todo mundo — ela ainda não tinha digerido bem o que eu fiz, mas já tínhamos avançado muito. — Não entendo ainda como Josh envolveu-se nisso. E quase tivemos um caso sério...
— O irmão do avô da mãe dele foi um oficial nazista. Não tinha como você saber. Ninguém saber. E ele escondeu muito bem isso, principalmente quando começou a fazer viagens frequentes para a Alemanha e envolveu-se com os grupos neonazistas. Vamos esquecer isso, ok?
Escutamos um barulhão e olhamos para a piscina. As duas tinham pulado e estavam fazendo uma algazarra.
— Quem chegar por último é a mulher do padre — ela grita e sai correndo em direção à piscina.
Não penso duas vezes e corro atrás dela e, praticamente, pulamos juntas, quase em cima das outras duas, mas todas nós ''in sweet harmony''...
Notas De Rodapé:
¹ ''Isso é certo ou errado,
Tentar encontrar um lugar
Onde todos nós possamos pertencer?
Sermos um só,
Tentar seguir em frente
Se nos unirmos?
Deveríamos realmente tentar''
² ''Vamos nos unir
Agora mesmo
Oh, sim
Em doce harmonia
Vamos nos unir
Agora mesmo
Oh, sim
Em doce harmonia''
Sweet Harmony [Doce Harmonia] - The Beloved - 5:02
Link YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=rP9Z5Pc8cRM
Fim do capítulo
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Zanja45
Em: 17/03/2025
Que bom que tudo terminou bem. O suspeito foi preso com êxito e Claire e Melanie puderam enfim dar início a algo.
Zanja45
Em: 18/03/2025
Infelizmente, meu chute quase acertou o gol, mas que pena que bateu na trave. Eu falei que suspeitava de Johnny, por conta dos comentários dele, mas no final era o que menos esperava, o Josh.
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Cristiane Schwinden
Em: 16/03/2025
ótima trama de investigação e romance! Gostei muito de seu conto, obrigada por participar!
Omuwandiisi
Em: 18/03/2025
Autora da história
Oi, Cristiane leitora, boa tarde...
Que bom que gostou. Aprecio quase todo o tipo de literatura e, confesso, gosto muito mais de thrillers quando bem escritos, por isso tentei escrever uma estória de 'mistérios', apesar de não ter talento para isso. Saber que uma Autora como você apreciou o que escrevi, deixa-me com vontade de produzir mais. Acho que vou escrever um 'final' para essa estória e finalizar o conto. Veremos.
Emirembe!
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Omuwandiisi Em: 18/03/2025 Autora da história
Oi, Zanja45 leitora, boa tarde...
Sim, tudo deu certo e, como você já tinha percebido, o 'meliante' era um dos 'J', no caso aqui, o Josh. Era nele que você 'jogava' mais suas fichas???
Sobre o tal 'início de algo' entre elas, estou encorajada a escrever um 'final'. Espero conseguir. Se conseguir, postarei logo, logo. Acho.
Estou lisonjeada por sua leitura e comentário.
Emirembe!