Capitulo 3
Nala
— Não me peça para esperar. Estou fazendo isso há mais de um mês.
— Entenda que as coisas não acontecem num passe de mágica. É necessário investigar. Não posso sair por aí acusando qualquer um apenas por querer seu.
— Não só pode como já deveria ter feito. O MEU FILHO ESTÁ MORTO, Nala. Acha mesmo que estou preocupado com quem vai para a cadeia?! — Berrou a plenos pulmões — Claro que não. Quero que resolva isso. Preciso dar uma resposta a minha esposa.
— Sinto informar que não trabalho para a sua esposa. Trabalho para manter a sociedade meramente organizada e segura.
— Acho que não entendeu — agachou em minha frente falando olhando dentro dos meus olhos — você trabalha para mim. Faça desse caso a prioridade que ele é. Entenda de uma vez por todas que essa investigação é a coisa mais importante que tem a fazer. Não me faça perder a cabeça. Pode ter certeza que não gostará disso.
— Está tentando me intimidar, governador? É isso mesmo?
— Não! Eu não estou intimidando. Tenho pessoas para fazerem isso pra mim. No seu caso, estou ordenando.
— Preciso ir, governador. Tenho uma delegacia para dar conta e vários casos para resolver. Com licença.
— Nala, — olhei para trás sem soltar a maçaneta na minha frente — não queira virar minha inimiga. Se insistir em tratar o caso do meu filho como só mais um caso da sua delegacia pedirei sua cabeça e só descansarei quando me for servida. Espero que tenha entendido o meu recado. Agora pode ir.
Quem esse homem pensa que é?! Finge se preocupar com a população quando na verdade quer que eu pare tudo o que estou investigando para dar conta de como o filho dele morreu.
— O que é Cícero? Não me invente mais problemas, por favor.
— Eita! Achei que a bonitinha que vive vindo te procurar por aqui estava te dando uns amassos decentes, mas me enganei. — Gargalhou.
— Ligou pra falar merd*, então tchau.
— Calma, fera. Oxe, oxe, que ideia é essa. Cabeça de gelo aí.
— Fala.
— Ainda está no gabinete do governador?
— Estou saindo agora.
— É melhor ficar por aí e procurar entender por que a autoridade não contou que recebeu ameaças contra o filho e que o mesmo passou uns meses internado em uma clínica a um ano atrás.
— Espera, como assim? Como descobriu essas coisas?
— Lembra que a PM nos entregou o celular do garoto dias depois. Encontraram a carteira e o celular do garoto largados a umas quadras de onde ele foi desovado.
— Sim. E o que tem a ver?
— Os peritos acabaram de mandar a análise parcial do aparelho. Tem prints tanto do documento de internação, quanto das ameaças feitas ao rapaz. E sabe o que é melhor?! Os prints estão na conversa dele com a autoridade.
— Mentira.
— Verdade. Vou te mandar e você já enquadra o pilantra. Nem gasta essa gasolina.
Voltei à sala do Gregório e nem deixei que me anunciasse.
— Que porr* é essa? — Perguntei sem acreditar no que via.
Ela puxou as laterais da blusa cobrindo o sutiã. Passou por mim dizendo baixo.
— Conversamos mais tarde.
********
Soraia
— Quim, não força. Te falei que isso era só um lance. Não posso fazer nada se achou que era um romance.
— Sô, não precisa ser desse jeito. — Tentou me beijar.
— Claro que precisa. Estou falando a meia hora que não quero mais nada contigo e ainda assim você não conseguiu ir embora da minha casa. Sai, cara. Já te falei que acabou, não quero mais nada contigo.
— Não é possível. Estava tudo bem entre nós. — Limpou as lágrimas que escorriam por seu rosto — Tem outra pessoa na jogada? É isso?
Me joguei no sofá já exausta daquela conversa que não rendia. — Tem sim.
— Eu conheço?
— Conhece muito bem, é a sua irmã.
— O que? Como ela pode? Não. Isso não está acontecendo. A Nala não faria isso comigo. Vou falar com ela.
— A Nala não, mas eu sim. Não vai falar com ninguém. Não quero mais nada contigo. Saía da minha casa agora e nem pense em atrapalhar o meu lance com a Nala, bico fechado. Se disser qualquer coisa que seja sobre o que tivemos a ela, eu saberei. Agora sai.
********
Nala
Respirei fundo passando a mão no rosto. Não dá pra surtar aqui agora. Tenho coisas mais importantes para fazer aqui neste momento.
— Achou mesmo que estava comendo essa gostosa sozinha? — Levantou fechando o zíper da calça gargalhando e baforando a fumaça do seu charuto fedorento.
Que homem imundo! A vontade é dar um tiro no meio dos cornos dele agora, mas não posso. Não vale a pena perder minha liberdade por conta de um verme desse.
— Com quem você deita não é da minha conta. Quero saber por que não me contou sobre isso? — Mostrei a tela do celular com o print da ameaça ao filho dele aberto.
— Como sabe disso?
— Caso não lembre, meu trabalho é investigar coisas desse tipo. Se continuar escondendo fatos esse inquérito não será encerrado tão cedo. Pelas cobranças que me fez deveria ter me contado tudo o que aconteceu com o seu filho ou achou mesmo que saber que ele era dependente químico não fazia parte da investigação?
— Ora sua...
— Cuidado com o que vai dizer. Estou aqui a trabalho e exijo que me respeite ou então sairei daqui com você algemado.
— Não teria coragem.
— Tenta a sorte, Gregório. Obstrução de provas é crime e sabe bem disso. Vai colaborar ou não?
Saí do escritório do governador acompanhada por ele. Na unidade da DHPP, ele nos contou como e quando tinha recebido a ameaça contra o filho e também os problemas que o rapaz já tinha tido com drogas. Depois de quase 5 horas de depoimento, o senhor governador foi liberado.
Estou exausta. Cheguei em casa depois das 22horas, parei em um barzinho na esquina de casa para tomar uma cerveja. Entrei no banheiro e só naquele momento me permiti pensar no que estava acontecendo com a minha vida. Encostei a cabeça no espelho apoiando uma das mãos me perguntando como me permiti chegar nesse lugar. Apaixonada por uma mulher que está se envolvendo com um homem casado. O que mais essa mulher é capaz de fazer?!
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]