Capitulo 4
Soraia
— Ela está muito próxima. Você anda dando espaço demais.
— Calma, querido. Ela está perto porque quero, sabe bem. Logo despisto os passos dela outra vez.
— Cuidado, Soraia! A Nala parece boba, mas não é. São muitos anos em um cargo de grande responsabilidade e se não fosse você, tenho certeza que o governador já a teria nomeado como secretária de Segurança Pública do Estado.
— Pobre, Nala, coitadinha. Ela se de por satisfeita por não morrer como era o meu plano inicial. A sorte é que ela fode bem gostoso ou então já teria ido de arrasta pra cima.
— Que horror, minha irmã! Não sei com quem aprendeu a ser fria assim. Me arrepiou a espinha.
— Agora vai dá um de santinho. Me poupe, Cícero. Quer morrer pobre como o otário do nosso pai servindo a sociedade e sendo um exemplo de cidadão.
— Também não é para tanto. O pai era um bom homem.
— Tão bom que morreu por falta de medicamento em um hospital público onde trabalhou a vida inteira, com a sociedade dando uma grande banana para ele. Me poupe e se poupe. Se quiser passar a vida com esse salário de fome que recebe aí nessa delegacia é só avisar também.
— Agora que já te informei tudo o que aconteceu na investigação e tirei todas as peças do quebra-cabeça que ligavam a você, quer me descartar. Sonsa.
— Para vai. — Gargalhou do outro lado. — Sabe que é meu fechamento. Não deixaria meu irmãozinho fora dessa de jeito nenhum.
— Falando nisso, o carregamento que estava esperando já está no porto e a distribuição começará às 13h.
— Ótimo! Agora preciso desligar. Vou almoçar com a delegata.
— Almoço executivo, né, vadia?!
— Meu amor, se posso comer o pão onde ganho a carne, irei comer muito bem com toda certeza. Te amo, meu querido, se cuida.
********
Nala
— De novo essa história, meu amor. Já passou. Te expliquei o que aconteceu. — Beijou meu pescoço massageando meus ombros.
— Meu bem, aquele homem precisa ser preso. Presta a queixa de assédio moral, por favor. Tem dois meses que estou te pedindo para fazer isso.
— Gata, entenda uma coisa. Gregório é um homem muito poderoso. Estamos falando do governador e já te falei que no início ele foi invasivo, mas para mantê-lo afastado precisei ameaçá-lo, e você faz parte dessa ameaça, sabe bem disso.
— Sei e concordo depois que me explicou, mas isso precisa acabar. Chega de viver nessa corda bamba.
— Minha delegata gostosa, — sentou sobre minhas pernas enlaçando suas pernas em minha cintura — não vou pedir demissão do meu emprego, não agora. Apesar dos pesares, essa é uma oportunidade de ouro e não vou abrir mão de alavancar minha carreira por conta de um velho babão.
— Não gosto de saber que aquele imundo quase te estuprou e eu não fiz nada com ele. E se ele tentar outra vez?
— Meu amor, para. Olha pra mim. Deixa ele lá. Me deixa desfrutar do meu delicioso prato executivo — falou engatinhando sobre meu corpo, mordendo meus lábios.
É sempre assim, tento conversar e mostrar outras perspectivas a essa mulher, mas ela sempre me leva na lábia. Não sei o que acontece com o meu corpo que sempre enlouquece ao seu lado, assim como a minha mente que esquece a racionalidade todas as vezes que ela simplesmente me beija.
— Fala, maninho. Certo, te espero lá em casa. Pode ser sim.
— Preciso de colo. Tenho uma bomba para jogar em seu colo.
— Tenho até medo. Mas vai sim, vai ser muito bom passar um tempo contigo. — Ouvi batidas na porta — Pode entrar.
— Doutora, tem um cara aí fora dizendo que marcou horário contigo.
— Pode mandar entrar. — Voltei a atenção a ligação — Joca, preciso ir, se cuida. Eu te amo, beijo.
— Então, Pedro, quais são as novidades?
— As piores possíveis, Nala, a sua desconfiança é real. Sabe que nada do que foi investigado aqui pode ser usado como prova.
— Vai ensinar missa ao vigário agora, é isso? — Gargalhei.
— De forma alguma, como imaginou tem sim alguém daqui de dentro te sabotando. Deu um certo trabalho encontrar o rato, mas encontrei.
— Lembra daquela câmera que colocou na sala de provas e me pediu para monitorar?
— Claro, assim que começamos a investigação era um sumiço infinito de provas. O que tem ela?
— Aqui está o seu suspeito. — Colocou sobre a mesa um dossiê com fotos, documentos e prints do Cícero. Uma das fotos me chamou muito atenção. Ele abraçava Soraia, na sequência das fotos foram aparecendo informações bem importantes e relevantes para a minha investigação. — Lembre que nada disso pode ser usado judicialmente.
— Eu vou matar aquele canalha. Como ele ousa chefiar uma organização dentro da minha delegacia? — A essa altura meu sangue estava fervendo e só queria dar umas porr*das em um dos meus melhores investigadores.
— Nala, olha direitinho. O Cícero não chefia nada. Ele é meramente um testa de ferro que aparece na organização com nome falso.
Só naquele momento me dei conta que o comando da organização pertencia a uma mulher, que claro também usava um nome falso.
— Não pode ser, Iolanda Xavier é a Soraia. Pedro, eu estou namorando com essa mulher. Não pode ser.
— Minha amiga, sinto muito.
Sai desolada. Mandei mensagem para Soraia. Preciso resolver isso. Pedi para que fosse até minha casa, a noite se anunciava no céu e com ela a chuva.
— Do que está falando? Jamais me envolvi com isso.
— Não mente, eu vi.
— Para, minha delegata, eu te amo. — Tentou segurar minha mão, a chuva já caía forte sobre nós a essa altura. — Isso é coisa do Gregório, não vamos deixar ele nos separar.
Quase a beijei. Fechei os olhos encostando minha testa na sua. Ela não podia ter me traído dessa forma. Minutos depois ouvi alguém chamar seu nome e um estampido preencher meus ouvidos. Soraia estava caída em meus braços. Senti seu corpo amolecer junto ao meu.
— Soraia, Soraia, Soraia, fala comigo, por favor. — Minhas lágrimas se misturavam à chuva lavando meu rosto.
Olhei ao redor e vi uma figura familiar ajoelhada no chão segurando uma arma. Soltei o corpo inerte de Soraia, correndo até ele.
— Levanta daí, me dá essa arma agora. Saí daqui.
********
Joaquim
1 mês depois
— Não perca em instantes a reportagem mais esperada dessa edição: Delegada é presa por assassinar a assessora do governador. Crime premeditado ou passional?
— DROGA! DROGA! O que eu fiz com a vida da minha irmã?!
Fim do capítulo
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Cristiane Schwinden
Em: 16/03/2025
Eita porra, o irmão matou a bandidona e ela assumiu a culpa? Adorei o suspense! Obrigada por participa do desafio!
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