Capitulo 1
Nala
— Não sei onde estava com a cabeça ao me deixar convencer a vir para cá!
— Se não foi sob o pescoço, não quero nem saber onde estava. — Gargalhou próximo ao meu ouvido.
— Você tem cada ideia boba e... — olhei ao redor sentindo um frio percorrer minha espinha — mórbida. Quero ir embora. Que decoração mais macabra desse lugar.
— Nem vem. Acabamos de chegar. — Puxou minhas mãos mantendo os passos de dança na batida da música que tocava.
O local estava lotado e detesto pessoas. Podem pensar o que quiserem, mas me relaciono bem melhor através de aparelhos eletrônicos. Não sou de toda antissocial, porém não curto muito toques e nem pessoas muito pegajosas. Curto ficar na minha, no meu espaço, fazendo o que gosto, como quero e quando quero.
Não lembro a década em que me deixei ser trazida a uma casa de shows. Barulho, muita gente, agitação e as pessoas se esbarrando em mim o tempo todo me irrita em um grau que não vale perder a paz.
Mas fazer o que se o chato do meu irmão resolveu comemorar o aniversário de vinte e um anos em um lugar como esse. E para variar eu tive a infeliz ideia de dizer a ele que poderia me pedir o que quisesse de presente este ano.
— Joca, estou cansada, dá um descontinho que trabalhei o dia todo.
— Nem vem! Quero te apresentar uns amigos.
Onde fui amarrar meu burro? Na chuva forte com certeza. Pensei enquanto mais uma vez ele me arrastava pela mão em meio às pessoas sem perder os passos na melodia que inundava o ambiente.
Nos dirigimos a um grupo de umas cinco pessoas. Nele encontrei três homens e duas mulheres. Joca me apresentou a todos, animadíssimo. Confesso que faz muito tempo que não vejo meu irmão tão animado assim. Estou feliz, afinal, não foi nada fácil passar por tudo o que ele já passou na vida mesmo com pouca idade. Dizem que a vida é feita de escolhas e meu irmão já fez as piores possíveis.
— Ei, vai ficar aí com essa cara feia ou vem se divertir com a gente?
— Joca, preciso ir, estou cansada. Amanhã levanto cedo — olhei para o relógio em meu pulso — já passei mais de uma hora aqui. Nosso combinado já está mais que cumprido.
— Nada disso. Você não bebeu nem um gole d’água sequer. Tá de mãos vazias até agora. Vem, — puxou minha mão me guiando para mais perto dos seus amigos me entregando uma long neck — agora sim.
— Um brinde ao nosso aniversariante do dia. Parabéns, Quim.
Uma de suas amigas levantou o brinde. A olhei intrigada. Que apelido era aquele? Todo mundo que conheço sempre o chamou de Joca ou Joaquim e agora me aparece esse Quim com esse risinho de canto estranho.
— Alô... — gritei no celular, tampando o ouvido com a mão livre — não estou escutando muito bem, fala mais alto por favor.
— Nala, encontramos outro corpo e dessa vez mais longe do nosso raio de investigação.
— O que? — voltei a gritar — Não estou entendendo.
— Vou mandar o endereço por mensagem, tem muito barulho onde está. Te espero lá.
Me despedi rapidamente do meu irmão que ainda tentou me convencer a ficar, mas o dever me chamava. Há alguns dias que começou uma onda de mortes por overdose na cidade. Não é que isso não aconteça, mas em quinze dias morreram dez pessoas, o que é bem significativo. Fora que até o momento esses corpos tinham sido encontrados em lugares próximos a DHPP. O caso de hoje é mais longe e fora do raio de ação da quadrilha que estamos investigando.
— Cícero, o que aconteceu?
— Bom, doutora, recebemos uma denúncia anônima mais cedo na DHPP, mas sabe como é, pensamos que fosse trote e não tinha como deslocar uma viatura para cá. Horas depois uma viatura da PM estava fazendo ronda por aqui e viu o corpo.
— Errou, você sabe. Se não dava para deslocar uma viatura pedia reforço à PM, assim eu não passaria pelo transtorno de ser chamada atenção pelo Major. Levei um baita sermão do cara e só tinha estacionado o carro.
— Foi mal, doutora. Devia mesmo ter passado um rádio pros caras, mas o jogo estava tão bom que esqueci.
— Devia ter vergonha de me dizer que estava jogando em horário de serviço. Da próxima te suspendo por uns dias. Não é a primeira que me apronta dessas.
— Qual foi, doutora? Vai embaçar agora?
— Me respeita. Não é porque somos amigos que te dei essa folga. Já falei que essa merd* de ficar jogando apostado dentro da delegacia vai dar ruim em algum momento. Para enquanto é tempo, não vou cobrir besteira de ninguém.
— Tá, Nala, tá. Você já falou. Um joguinho às vezes não faz mal a ninguém.
— Faz quando vocês deixam de fazer o serviço pelo qual são contratados por pura preguiça de arrastar a bunda de trás da mesa. Olha esse circo que poderia ter sido evitado se vocês tivessem apenas levantado e feito o trampo. - se referia aos inúmeros curiosos que se aglomeravam.
— Vai ficar mesmo dando sermão?
— Vou! Você e aqueles imprestáveis — apontei para um pequeno grupo de homens à frente — respondem a mim e isso significa fazer o trabalho de vocês bem feito se não quiserem ser transferidos de DHPP.
— Agora foi que deu! O sermão da montanha começou.
— Cícero, não estou brincando. Agora vai fazer o seu trabalho se não quiser ser o primeiro a ser transferido.
— Pelo amor, hein?! Alguém precisa de uns amassos. Misericórdia.
Passamos a madrugada no local. Para o nosso azar, a vítima estava sem documentos. Como a mídia estava em cima do caso, preferi acompanhar o corpo até o IML, assim acompanharia em tempo real a coleta das digitais e daria o devido andamento a essa análise. Passava das quatro da madrugada quando coloquei a cabeça no travesseiro completamente exausta.
— Alô, — esfreguei os olhos bocejando — sim, sou eu.
— A análise já está pronta. Sabemos o nome da vítima.
— Ótimo! De quem se trata?
— Marcelo Nobrega Ferreto.
— Não pode ser! É o filho do governador!
Fim do capítulo
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Zanja45
Em: 26/02/2025
Muito estranho o corpo ser achado fora do raio de ação da quadrilha suspeita, mas possa ser que se queira desviar a atenção dos investigadores, ou até mesmo confundi.
Lily Porto
Em: 09/03/2025
Autora da história
Oi, Zanja!
É uma linha de raciocínio muito boa a sua, e sim, faz sentido as duas ideias, o capítulo 4 está no ar, depois dá uma olhadinha pra ver se condiz com o que pensou.
Um ótimo dia.
Bjs.
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Zanja45
Em: 26/02/2025
Oi, boa tarde!
Essa investigação vai andar de maneira mais celere sendo o filho de uma pessoa importante, a vitima.
Lily Porto
Em: 09/03/2025
Autora da história
Bom dia, Zanja, tudo bem?!
Pela autoridade em questão a investigação teria a velocidade de um foguete após perder um ente querido, porém nem tudo o que se espera acontece como se quer.
Muito obrigada pela leitura.
Bjs.
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Lea
Em: 25/02/2025
Já gostei!!!
Lily Porto
Em: 25/02/2025
Autora da história
Oi, Lea, tudo bem?!
Muito obrigada pela leitura.
Bjs.
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