AVALIAÇÃO
RAFAELA
Chegamos na sala da academia preparada para avaliações físicas. Abri a porta gesticulando para que ela entrasse enquanto eu segurava a porta. Ao fechar a porta atrás de mim todo o barulho externo desapareceu e a partir dali poderíamos conversar de forma mais tranquila para que eu pudesse entender o objetivo de minha aluna.
- Então agora somos só eu e você. Aguarde só um instante que vou ligar o computador.
Ela estava sentada diante de mim, com uma bolsa de grife no colo, usando um vestido que caia lindamente sobre seu corpo. O cabelo impecável e uma maquiagem leve no rosto, mas não escondia que atrás daqueles olhos tinha mistério. Ela olhava para os lados como se estivesse absorvendo cada detalhe daquela sala.
- Não nos apresentamos. Me chamo Rafaela Mendes.
- É um prazer conhecê-la Rafaela. Peço desculpas novamente pelas circunstâncias iniciais, mas permita-me que eu também me apresente. Sou Helena Alves Albuquerque.
O aperto de mãos durou cerca de 5 segundos e serviu para selar a paz entre nós.
- Então Rafaela, sempre que inicio um atendimento começo com uma anamnese e avaliação para que te conheça melhor e consiga montar um treino específico de acordo com seu objetivo. Você topa responder algumas perguntas?
- Claro.
- Data de nascimento?
- 30/01/1995
- 30 anos, certo?
- Sim. Sei que pareço mais velha, mas é o que eu tenho.
- Na verdade você parece ser mais nova.
- Vou receber isso como um elogio.
- Você tem algum problema de saúde? Hipertensão? Diabetes?
Respondeu negativo para qualquer problema de saúde.
- Já fez alguma cirurgia?
- Cesárea. Duas.
- Então possui dois filhos?
- Isso
- Você é casada?
Não sei porque fiz essa pergunta, ela nem mesmo está na minha ficha, mas saiu sem pensar. Ela hesitou alguns segundos e respondeu revirando os olhos:
- Sim, sou casada.
Sem saber o real motivo aquilo me incomodou internamente. Disfarcei.
- A senhora já fez musculação alguma vez?
- Esquece esse senhora, me chame apenas de Helena. Nunca, sou leiga de tudo.
- Legal Helena, prefiro assim. Sorri.
- Por que? Ela me perguntou.
- Assim eu posso te ensinar o jeitinho certo. Alguns alunos chegam com alguns erros cometidos por anos de musculação sem acompanhamento de um profissional e muitas vezes são difíceis de consertar.
- Você não terá esse problema comigo.
- Ótimo. E qual é o seu objetivo ao buscar a musculação?
Percebi que nesse momento ela ficou pensativa, colocou a mão no queixo como se buscasse uma resposta.
- Na minha primeira gestação não tive muito acréscimo de peso, pois eu era bem jovem. Mas na segunda gestação subi o peso e meu corpo não voltou ao normal.
Percebi que ali ela não buscava apenas o emagrecimento, mas também recuperar a sua autoestima. E eu estaria disposta a ajudá-la.
- Então vou criar um plano para você e te indicarei uma nutricionista. É muito importante que você alie a musculação com a dieta.
Falei já entregando o cartão de Alexandra, uma excelente nutricionista que eu costumava indicar para os meus alunos.
- Obrigada, irei procurá-la.
- Ótimo, agora vamos para a parte prática Helena. Pode ir até o banheiro e tirar a roupa.
Ela arregalou os olhos e começou a gaguejar
- Co… Com… Como assim tirar a roupa?
Sorri e busquei explicar de forma detalhada.
- Vamos fazer uma avaliação chamada bioimpedância e para isso irei usar um instrumento chamado adipômetro. Necessito que você esteja com algumas partes do corpo descobertas para que eu possa aferir suas dobras cutâneas.
- Mas eu vou ter que ficar pelada?
- Não necessariamente. Geralmente as mulheres as fazem de short e top. Você está com eles por baixo?
- Não. Apenas calcinha e sutiã.
- Não vejo problema. Se te serve de consolo, vejo gente seminua todo os dias e quase o dia inteiro.
Rimos e percebi que seu rosto ficava vermelho. Mas ela confirmou com a cabeça e eu apontei para o banheiro.
Peguei os instrumentos e aguardei que ela saísse do banheiro, depois de alguns minutos ouço o barulho da porta do banheiro destravando. Eis que sai de lá uma mulher baixinha, diferente da que entrou no banheiro pois já não estava de salto. Seu corpo estava “coberto” apenas por um conjunto de calcinha e sutiã pretos. Ela vinha na minha direção com as mão inquietas como se pudesse esconder um pouco de sua nudez. Durou uma eternidade até eu perceber que estava literalmente boquiaberta. As coisas ao meu redor começaram a se mover em câmera lenta. O que estava acontecendo? Durante todos esses anos de profissão já avaliei tantos corpos e nenhum tinha chamado tanto a minha atenção. Meu peito arfava e eu conseguia ouvir as batidas do meu coração. Eu precisava me recompor ou perderia a aluna antes mesmo de ganhá-la.
Fim do capítulo
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