Era para ser um sábado tranquilo. Ana e Bianca estavam apenas passeando pelo shopping, sem grandes planos além de comer alguma coisa e talvez olhar vitrines sem intenção real de comprar nada. Mas, como o mundo é pequeno — e a faculdade menor ainda —, acabaram esbarrando com Luísa e Mariana na praça de alimentação.

O cumprimento foi meio desajeitado, como se todas estivessem tentando decidir se aquilo era estranho ou só uma coincidência engraçada. No fim, resolveram abraçar o destino e ir juntas ao cinema.

O filme não era nada muito elaborado, só uma comédia leve que parecia uma escolha segura para um grupo inesperado como aquele. Quando as luzes se apagaram e a tela brilhou, cada uma se acomodou do seu jeito: Ana e Mariana de um lado, relaxadas como se estivessem em casa, enquanto Bianca e Luísa, no outro, mantinham uma distância cuidadosa… pelo menos no começo.

A escuridão tornava tudo mais íntimo. O brilho da tela refletia de leve nos rostos, mas não o bastante para expor os pequenos movimentos que aconteciam entre os assentos. Em algum momento entre a segunda e a terceira piada do filme, Bianca sentiu o toque sutil dos dedos de Luísa roçando contra os seus. No início, pensou que fosse sem querer. Um movimento inconsciente, talvez. Mas então aconteceu de novo. E de novo. Um toque delicado, quase hesitante, até que, sem que nenhuma das duas dissesse nada, os dedos começaram a se entrelaçar devagar.

Era um carinho leve, experimental. Um traço desenhado na pele com a ponta dos dedos, como se estivessem testando os limites do que podiam fazer ali, naquele momento em que ninguém parecia prestar atenção. Mas Bianca sabia. Sabia que, do outro lado, Ana e Mariana provavelmente tinham notado. Porque Ana era impossível de enganar, e Mariana… bem, Mariana observava tudo com um olhar analítico que fazia Bianca se perguntar o quanto exatamente ela já tinha percebido antes mesmo de qualquer coisa acontecer. Mas ninguém disse nada.

O único som que quebrou a tensão foi um suspiro baixo vindo de Bianca. Não intencional, não planejado, só uma reação involuntária ao calor do toque de Luísa, à forma como os dedos dela se fecharam de vez ao redor dos seus. Era um gesto pequeno, mas que parecia tão significativo que fez seu coração disparar um pouco.

Do outro lado, Ana e Mariana trocaram um olhar rápido, um daqueles carregados de significados que só amigas sabem interpretar. Mas, em vez de qualquer comentário direto, Ana apenas puxou o balde de pipoca e ofereceu para Mariana.

"Quer? Vai que melhora a experiência cinematográfica."

Mariana pegou um punhado, balançando a cabeça com uma expressão de quem já esperava aquele tipo de comentário. "Se melhorasse sua concentração, seria mais útil."

Ana riu baixo. "Ah, mas aí eu ia perder toda a diversão."

E assim o filme seguiu, sem que ninguém quebrasse o momento entre Bianca e Luísa, sem que precisassem colocar em palavras o que já estava ali, na ponta dos dedos.

Mais tarde, já na saída do shopping, Ana esticou os braços como quem espreguiça e comentou, casual, enquanto bebia o resto de sua Coca Zero:

"Aliás, Mariana, preciso dizer… você é uma gata."

Mariana arqueou uma sobrancelha, surpresa e um pouco chocada com a declaração repentina e cara de pau. "Como é que é?"

"Nada, só uma constatação científica. Essa faculdade tá cheia de professora gata, sinceramente. Com uma de vocês e uma latinha de Coca Zero, eu sobrevivo uns cem anos fácil."

Bianca revirou os olhos, segurando o riso. "Você não existe, Ana."

"Existo sim, e sou um fenômeno natural, minha querida." Ana piscou para Mariana, que apenas soltou uma risada baixa e continuou andando.

No fim, não importava tanto os comentários e brincadeiras. O importante era que, naquela noite, de alguma forma, tudo parecia se encaixar naturalmente.

Fim do capítulo