PERIPÉCIAS
RAFAELA
Eu deveria ficar de molho, mas minha hiperatividade não me permite. Rasguei o atestado e prometi para Sabrina que iria me cuidar deixando o braço imobilizado. Quando cheguei em casa o efeito dos remédios já me deixaram com sono, então não tive tempo de pensar muito.
No dia seguinte Fui para a escola de UBER e assim seria nos meus próximos 20 dias já que eu não poderia dirigir. Na escola conversei com a equipe gestora para que colocassem um auxiliar em minhas aulas até que eu me recuperasse. Janaína, minha amada coordenadora retrucou:
- Negativo, temos demanda demais para os auxiliares já.
A diretora me olhava aguardando uma resposta:
- Então, o médico quis me dar o atestado, mas vocês sabem como é, passou de 15 dias é INSS. Fora que vocês terão que contratar outro professor pra ficar no meu lugar durante esse tempo. Não posso ficar sozinha porque às vezes preciso usar as duas mãos para ajudar alguma criança, quando caem, etc.
A diretora se dirigiu a Janaina.
- Acho válido o que Rafa está pedindo.Estamos no início do ano letivo. Muitas crianças estão se adaptando. Não seria legal esse revezamento de professores. Coloque alguém com ela.
- Ok. Janaina não discutiu.
Suspirei aliviada, pois na academia seria mais fácil. Não precisaria correr atrás de nenhum bagunceiro.
As crianças se adaptam fácil a um professor “dodói”. Cheguei na primeira sala mostrando o braço machucado e todas as crianças se sensibilizaram dizendo que não iriam fazer bagunça pois a Tia estava dodói.
Durante o recreio das crianças passei para ir até o banheiro dos professores no andar de baixo e vi uma menininha correndo, muito parecida com a aceleradinha causadora da minha subluxação. O sinal já estava perto de bater e eu não podia perder tempo já que só tinha uma mão para fazer qualquer coisa.
Entrei na sala do primeiro ano e quando terminei de fazer a chamada as crianças falaram:
- Tia, tem aluna nova.
Lá no fundinho da sala uma menininha que me olhava tímida, tinha os cabelos loiros ondulados, o material espalhado pela mesa era todo azul, assim como seus olhos. Me aproximei e falei:
- Tudo bem mocinha? Como você se chama?
- Tia, seu dodói não melhorou com gelo.
Eu já tinha percebido que era a menina do acidente, mas não queria que ela sentisse que eu a trataria diferente por esse fato que já estava resolvido.
- Gelo não, mas o médico passou remédio e é só eu ficar com o braço quietinho que vai melhorar.
Ela me olhou como se estivesse triste e ficou em silêncio.
- Ainda bem que tenho dois braços né galera? Todos riram e eu abaixei do lado dela.
- Mas você ainda não me disse seu nome.
A coleguinha do lado disse:
- Nome dela é Stella tia.
Percebi a timidez da menina e agradeci mentalmente a coleguinha ao lado ajudava a quebrar o gelo.
- Então seja bem vinda Stella. Espero que goste da nossa escola. Eu sou a tia Rafa, sua professora de Educação Física.
- Ontem foi meu primeiro dia aqui. Eu tava chorando porque queria ir embora com a mamãe. A diretora me disse que tinha uma tia legal que fazia brincadeiras. Me mostrou sua foto e disse que hoje você iria brincar com a gente.
- E ela falou a verdade. Peguem suas garrafinhas, organizem as filas, porque hoje tem… QUEIMAAAAADA.
- ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ.
Todos gritaram e saíram alvoroçados da sala como se jogar queimada fosse a melhor coisa do mundo.
E eu pensando comigo mesma… Que destino era aquele? Eu teria que ver aquela loira riquinha e arrogante de novo. Afinal era mãe de uma aluna minha. Que mundo pequeno.
Fim do capítulo
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