Preparei-me sacando a arma detrás da calça e avancei mirando rapidamente a sala, percebendo meu alvo sentado atrás da mesa, contando dinheiro e colocando numa maleta ao lado de uma arma.

 – Largue isso agora e levante as mãos, afaste-se da mesa devagar e não tente nenhuma gracinha. Temos um batalhão inteiro lá fora. Ele me olhou assustado e raivoso, aos poucos um sorriso de escárnio aparecendo.

– Olha se não é a minha empregadinha, uma desclassificada que tem a ousadia de tentar me prender. Acha que vai conseguir me parar? Antes que seu turno acabe eu já estarei livre! 

Avancei rapidamente pegando-o de surpresa, minha arma encostada em sua cabeça, obrigando-o a se virar e o arrastando ao chão para algemá-lo.

 – Tentar não, estou te prendendo e acabando com seu reinado de merd*! Reinaldo Junqueira, você está sendo preso pelo assassinato dos Santoro, por extorsão, tráfico de pessoas, de drogas e sequestro.

Antes que terminasse de levantar vi alguém sair do banheiro, surpreendida me virei não acreditando na visão. O que diabos ela faz aqui? Assustada, tentava entender a situação trágica na qual eu me encontrava, sentindo um baque no peito “Eu tinha me ferrado e poderia por tudo a perder”. Puxei rápido o microfone da roupa colocando no bolso.

 – O que você faz aqui? Te deixei no aeroporto ontem à tarde! Esse é o ultimo lugar em que deveria estar! Quando mirei em seus olhos vi sua expressão se desfazendo em tristeza e mágoa, a respiração alterada denunciando seu estado caótico, eu a tinha quebrado!

– UMA POLICIAL? Mentindo pra mim esse tempo todo! Uma farsa? Seus olhos vermelhos escorriam.

- Você me usou desde o início para chegar até ele? Ela suspirava e chorava enquanto andava pela sala desorientada.

- Deus! Não acredito que eu fui tão idiota!

Tive que me segurar para não largar minha arma, correr para abraçá-la e esclarecer tudo.

 – Sou sim a pessoa que acabou de derrubar a quadrilha perigosa dele, que acabou de prender o homem que destruiu sua vida, te controlou e assediou de todas as formas possíveis! Suspirei derrotada

- Só eu sei o quanto tive que me segurar para não te revelar tudo, tentar esclarecer, mas se eu fizesse isso colocaria em risco toda missão, quase dois anos de trabalho árduo e por mais que eu queira te abraçar, te acalmar e te levar daqui eu preciso concluir meu trabalho e fazer o que vim fazer.

– Não acredito que se deitou com gente dessa laia! Você é mais idiota do que imaginei, ludibriada por uma policial qualquer, ser enganada é o que você faz de melhor. Que patética! Esqueça tudo o que eu lhe prometi esposinha, não merece mais saber, vai morrer sem respostas. Olhando-me com arrogância completou

– Sua hora chegará!

Nesse momento Camila tremendo pega a arma sobre a mesa e mira nele.

- Eu te odeio! Nunca pensei que seria eu a acabar com sua vida...

- Camila não! Por favor, solte essa arma, você odeia violência, é a pessoa mais sensata que conheço, essa aí não é você! Ela vai virando a arma para mim devagar e trêmula. Soluçando ela continua:

- Você também me enganou, estou destruída e posso acabar com tudo agora! Abaixei devagar minha arma que apontava pra ela, tremendo arrisquei.

- Meu amor veja, estou me desarmando, estou vulnerável pra você, não faça nada para se arrepender, por favor! Devagar seu corpo vai amolecendo fazendo-a cair sentada, as duas mãos trêmulas na arma agora virando para a própria cabeça abaixada. Fui ajoelhando para perto desesperada e chamei

- Cami, pelo amor de Deus olhe pra mim! Com os olhos sem expressão foi virando seu rosto.

- Eu não faço mais sentido! Esse louco me convenceu com um vídeo no aeroporto, Gabriel já é um adolescente e me odeia! Vocês me enganaram, não sobrou mais nada! Enquanto ela falava me aproximei devagar, abaixei suas mãos e a abracei chorando junto.

- Nunca mais diga isso, você é tão forte! Seu menino não te odeia, vamos encontrá-lo, estamos bem perto, não pude te dizer antes, mas agora posso!

Quando me virei vi o idiota tentando pegar minha arma no chão. Num impulso chutei seu rosto com ódio fazendo-o tombar. Atordoada procurei o microfone. 

- Missão cumprida parceiro, demorou porque encontrei Camila acorrentada no banheiro, precisei usar a força também, podem entrar.

Imediatamente o cômodo foi invadido por policiais armados e virou um caos. No primeiro andar várias pessoas deitadas algemadas chamaram minha atenção, pois tinha trabalhado ao lado deles por meses.

 – Tenente Ramos, ótimo trabalho, sem seu plano jamais conseguiríamos, terminamos com um mínimo de baixas e você merece uma medalha! Envergonhada olhei para a Camila destruída sentada num canto e suspirei, a minha batalha ainda não tinha terminado, eu precisava mais do que nunca tentar recobrar a confiança e amor da pessoa mais prejudicada nisso tudo, carregando anos de mentiras e abusos nas costas.

O pior é que eu também sou culpada pelo seu estado, a desculpa por escolher fazer o meu trabalho dessa forma não justifica, nem todos os envolvidos têm culpa, alguns são vítimas que saem perdendo mais do que todos e eu sei o que ela suportou! Distraída não percebi o comandante falar...

– Ela explicou o que fazia aqui? Quase estragou tudo! Suspirei com as mãos no rosto completamente esgotada.

- Você não faz idéia do que aconteceu lá dentro! Nem eu mesma sei como consegui resolver, mas vai ficar para depois meu amigo.

- Leve-a agora em segurança, descanse e deixe o resto com a gente.

Concordando a vi seguir de cabeça baixa amparada por um dos meus colegas. Eu sabia que ela ainda estava chorando, tentando se esconder de todos.

- Camila venha, vou levar você pra casa. Toquei de leve em seu braço.

- Não me toque, não vou a lugar nenhum com você. Chamei minha amiga e ela já chegou. Puxou seu braço e me deu as costas cambaleando rumo à saída.

- Nós precisamos conversar, sei que está muito decepcionada, mas preciso esclarecer que ... Magoada virou me olhando nos olhos.

- Precisamos? Você acha que vou acreditar em mais alguma coisa que saia da sua boca?

– Não consigo nem olhar para você, me deixe em paz!  

Saiu e me deixou ali estarrecida com o coração doendo.

Fim do capítulo