A Detetive
Isabela havia acabado de sentar em sua cadeira giratória no escritório onde trabalhava, ainda segurava a caneca de café, quando o interfone tocou às oito em ponto. Ali trabalhava apenas ela e o pai, eram detetives particulares, seu pai era policial aposentado, ela policial desligada da corporação após um escândalo sexual que abalou a pequena cidade de onde vinham.
Ouviu a porta externa abrindo e seu pai conversando com algumas mulheres, em menos de quarenta segundos sua porta se abriu, e a cabeça de seu pai apareceu, meio constrangido.
— Filha, acho que esse caso é para você.
— Peça para entrar. — A morena deu um longo gole no café, limpou a garganta, e fez um coque rápido.
Duas mulheres na casa dos quarenta e tantos anos entraram em sua sala, já foram logo se sentando e pareciam inquietas.
— Você é a tal detetive particular, que encontra as pessoas, igual naqueles filmes de Hollywood? — Perguntou a mulher que parecia mais nervosa.
— Também prestamos esse serviço. Qual seu nome?
— É Mariam, vai desculpando a falta de jeito, moça, é que a gente só via essas coisas em filmes, né Rania?
— Detetiva, você consegue achar alguém apenas pela descrição física e sotaque do interior paulista? — Perguntou Rania.
— E uma tatuagem de florzinha no pulso. — Completou Mariam.
— Florzinha?
— Acho que eram orquídeas. E também tinha uma rosa negra tatuada na… — Mariam ficou sem jeito. — Disgrama, como vou falar isso sem parecer uma tarada? Ela tem uma rosa tatuada acima do xibiu.
Isabela segurou a risada como pode, precisava ser profissional, mas quase cuspiu o café que bebia.
— Vocês não tem um nome? Um número de telefone?
— Não sei não, moça.
— Mulher, você se deita com a dita cuja e nem pergunta o nome? — Rania recriminava a amiga. — Tá pior que rapariga!
— Vai me humilhar na frente da dona sherlock? Sério Rania?
— Ok, me diga como a conheceu, não precisa se envergonhar de nada, pode entrar em detalhes, se achar necessário. — Isabela se ajeitou na cadeira e abriu seu bloco de anotações.
— Olha, eu sou mulher direita, viu? Hetero e mãe. Já vamos começar por aí pra não pensar safadeza de minha pessoa. A senhora já levou corno?
— Se eu já fui traída? Já. Continue, por gentileza.
— Meu marido me enfiou um par de galha tão grande que quase nem passei nessa porta aqui hoje, então eu e Rania saímos ontem para afogar as mágoas nessas baladas de jovens que fumam pendrive, viemos aqui para São Paulo, nós somos de Minas. A gente queria se enturmar, dar uma relaxada, daí enfiamos cachaça pra dentro a noite toda, entortamos o caneco! Pra abreviar a história, só sei que dancei que uma beleza com uma moça linda, que me chamava de gostosa e tudo, as cachaças deram um revertério aqui dentro das tripas e fiquei meio doida, quando vi tava me atracando com aquele pedaço de mau caminho.
— E?
— Acordei hoje num motel, com um bilhete de despedida dela.
— Ela lhe furtou o que?
— Só meu coração mesmo, dona sherlock.
— E o que vocês querem então?
— Que encontre ela, porque a noite foi danada de boa e preciso ver essa mulher linda de novo.
Novamente Isabela se via segurando para não rir, mas agora compreendia a consumição da mulher a sua frente.
— Então você não tem um nome, apelido, nada?
— Nadinha, na hora do vamovê eu chamava de mulher gato mesmo.
— Mulher gato?
— Ela tava vestida de mulher gato lá na balada, com máscara e tudo.
— Ok, me passe o nome da boate e o nome do motel, vou visitar esses lugares, me passe também a melhor descrição física possível.
— Pode deixar, passo tudim.
Isabela começou pelo motel, sabia que seria difícil arrancar qualquer tipo de informação num lugar desses, seria mais fácil conseguir fazer um padre quebrar o segredo de uma confissão do que fazer funcionários de motel falar sobre clientes.
No início da noite foi até a boate, queria falar com os funcionários antes do estabelecimento abrir. Após conversar com algumas pessoas, finalmente uma atendente do bar disse conhecer a mulher negra com máscara de mulher gato, e possuía a informação que ela precisava: seu nome era Zoe.
— De onde você a conhece?
— Você não vai querer se meter nisso. — Respondeu a bartender enquanto enxugava copos.
— Como assim?
— Você viu a tatuagem que ela tem no pulso?
— Orquídeas?
— Ela é uma das garotas do Marechal.
— Quem é Marechal?
— É o cara que comanda as paradas no interior, se eu fosse você não mexia com as garotas dele.
— Em qual cidade posso encontrar as garotas do Marechal?
— Ribeirão Preto, ele mora lá.
— Você sabe o sobrenome da Zoe?
— Não, só sei que ela tem uma moto esportiva.
Já de volta ao escritório, Isabela conseguiu mais informações sobre o Marechal com o pai dela, inclusive o possível endereço da chácara onde ele morava.
— Mariam, tenho novidades, estou indo para Ribeirão Preto, quer me acompanhar? — Isabela fez o convite por telefone ainda naquela noite.
— Só se for agora!
Rania ficou no hotel, detetive e amante abandonada partiram de carro para Ribeirão Preto, numa viagem de mais de três horas.
— Então essa Zoe é mulher de traficante?
— Algo assim.
— Eita diacho! No que fui me meter!
— Olha, estamos a poucos minutos da chácara, você vai ficar no carro, eu vou bater na porta e perguntar por ela, ok?
— Não senhora, entramos nessa juntas, não foi?
Era quase meia-noite quando as duas mulheres subiram alguns degraus e bateram na porta daquela chácara pouco iluminada, só se ouvia cachorros latindo e mais nada. Insistiram mais alguns minutos e viram uma luz se acendendo numa casa aos fundos, parecia ser uma casa de visitas, ou casa do caseiro.
Isabela a chamou com um gesto, seguiram em silêncio até os fundos, viram uma moto esportiva estacionada, circulavam com passos lentos a casa quando ouviram tiros sendo disparados.
— Jesus Amado! Tão atirando! — Desesperou-se Mariam.
Isabela sacou uma pistola do cós da calça, nas costas.
— Creundespai, você tá armada, criatura??
Fim do capítulo
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Zanja45
Em: 18/03/2025
Kkkk! Rosa negra acima do " xibiu", heim?
Juro que não tinha lido tua história ainda quando tatuei o escorpião e a serpente nas partes íntimas de Alexa e Na desconhecida do meu conto.
Muito engraçado Marian se apaixonar depois de ter um único encontro. - A mulher de máscara de gato tem o que de especial para Marian chegar ao ponto de ir procurar ela?

jake
Em: 17/02/2025
Ola Cris que bom saber que vc tirou um tempinho para nos presentear com a sua escrita.Ri mto com o relato da Mariam...ela gostou tanto da mulher gato q contratou até uma detetive.... Gostei da Isa ...Amei a história deixou com gostinho de quero mais....
Parabéns Cris....
Merece continuação....
Gratidão e obrigada
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Minh@linda!
Em: 16/02/2025
Olá!! Desculpa a minha falta de educação...
Fui desatenta ao não cumprimentá-la no primeiro capítulo, autora Christiane. Entendendo as coisas agora.
Que bom que Rania tá viva!!! Kkkkkk
Foi muito engraçado o capítulo. Ri muito com a rosa negra acima do xibiu kkkk
Vocês estão arrasando!!
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Diderot Dalambert
Em: 16/02/2025
Vocês são super inteligentes e loucas!!!! Adorando isso!
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Zaha
Em: 15/02/2025
Oieeee,
Nossaaaa, ameiii!!!! Muito bom!! E dei umas risadas boas!!
Miriam é engraçada...a do "Xibiu" foi ótima,ri aqui!! Assim como com outras frases...
Eita que ela foi se meter com gente graúda!! A mulher gato era perigosa mesmo!! E saiu atirando.... pôxa, acabou tão rápido!!! Fiquei na vontade!!
Ótima parceria, amando!!!
Beijinhos ,Cris!!!!
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