JOGANDO ALTO
ALAN POV
- Sim. Meu pai saiu de casa hoje. respiro aliviado, dando a notícia para uma amiga.
- Você ficou feliz né?
- Sim. Fiquei. Não estava mais suportando ficar ao lado dele. Me dava uma agonia no peito, não sei dizer. - sento em minha cadeira e olho direto para a tela do meu computador.
- Vamos ver se agora as coisas melhoram para você.
- Eu quero melhorar, só não consigo. Parece que tem uma força me puxando para baixo. Vive martelando na minha cabeça que tudo será melhor se eu não estiver aqui. As vozes me dizem que eu não sou nada. - dei um soco forte na mesa.
- Já reparou que é a primeira vez que você fala comigo sobre esse assunto comigo. Isso já é um grande passo.
- Eu tenho vergonha de ser assim. Não me falta nada, olha aqui em casa. Minha mãe faz de tudo para me ajudar e mesmo assim, sinto que falta algo.
- Sabe o que poderia ajudar? - sua voz soava tão calma que me sentia seguro em falar. - Ajudar alguém. Sei que gosta de animais, pois lá em casa, aquele dia você não desgrudou do Romero.
- Adoro qualquer bicho. É que aqui não consigo ter.
- Então. Tem uma ong que precisa de voluntários. Se permita pensar em outros por um tempo.
- Vou pensar Camila.
- Imagina! Estou do seu lado. E você contou para sua mãe?
- Ainda não. Ela nem sabe que tinha acesso ao whats dela pelo meu notebook.. Descobrir que ela estava apaixonada por uma mulher mexeu com minha cabeça. Se não fosse por você, já teria feito bobagem.
- Mas depois você desconectou?
- Só porque você praticamente me obrigou. - ri envergonhado
- Isso é errado Alan.
- Eu sei. Ainda mais que descobri que elas terminaram por causa do meu pai.
- Seu pai?
- Sim ! Ele descobriu sobre elas e quer dinheiro para não espalhar.
- Alan! Desculpe, mas esse seu pai. E porque você deixou seu pai chantagear sua mãe?
- Cara! Eu descobri que ela estava apaixonada por uma mulher!!! - falei mais grosso. - Não sabia o que fazer.
- E agora o que está sentindo?
- Ainda não sei. Nunca imaginei ela com outra pessoa ainda com… Você sabe. Sei que eles não terminaram por causa da Juliana. E tenho visto que ela está triste. Mas não sei como abordar isso com ela. Queria que ela me contasse.
- Já pensou que ela não te contou, por conta da sua depressão e que se algo acontecesse com você, ela se culparia?-
- Sim, eu vejo isso. Quero que ela seja feliz. Também quero ser feliz. Sem essa dor que sinto. Mas vou parar de te alugar. Porque senão, vou ter de pagar pela sessão de terapia com você. - rimos juntos.
- Mas de novo. Estou aqui e já te disse que quero ser psicóloga? - gargalhei, senti uma enorme alegria na conversa e no desabafo com ela.
JULIANA POV
- Nossa Carla! Está bem bonita. Se arrumando para um casamento? - me admirei ao abrir a porta de casa e dar de cara com ela, num vestido de um tecido bem soltinho, mas que marcava bem sua cintura e deixava seu colo exposto.
- Nosso reencontro merece. - abriu a porta do carro para que eu entrasse.
- Obrigada. - dei um beijo leve em seu rosto.
- Cheirosa como sempre. - sorri sem graça.
Era nossa primeira saída depois de tantos anos. Estava um pouco nervosa.
- Onde vamos? - perguntei logo que entrei.
- Naquele restaurante japonês do Jardim Satélite. Disseram que é maravilhoso.
- Sei! Ainda não fui mesmo. - falei empolgada.
Jantamos, contamos histórias. Mas não era a mesma coisa que estar com Dill. Carla era a revolucionária em pessoa, tudo queria discutir, parecia não respeitar minhas convicções. Apesar de toda educação, ela queria sempre ter razão. Já Dill, era o contrário. Fala mansa, sempre tinha dois pontos de vista, ria das minhas piadas. Apesar de todo esforço de Carla, o que nos afastou no passado, lá na frente, nos separaria de novo. Postamos uma foto juntas. Meu celular tocou, era Dill.
- Juliana? Não vai atender a ligação? Está olhando fixo para ele. - voltei do transe, já que pelo jeito eu estava a alguns minutos olhando para tela do celular.
- Não deve ser nada de importante.- virei-o para baixo.
- É a terceira vez que essa Dill está te ligando. - sorriu falso. - É ela né?- tentei negar, mas não sou boa em mentir.
- Desculpa, mas ela terminou comigo e fica me ligando , isso mexe comigo.
- Sei! - vi seus olhos perderem ir perdendo o brilho.
- Carla, você tem estado do meu lado. Queria mesmo que pudesse ser como antes, porém nunca mais vai ser. Fizemos vários caminhos nesse tempo, e eles acabaram por nos deixar mais distantes.
- Tudo bem! Eu vou entender.
O caminho de volta foi em silêncio, a alegria de antes se transformou numa despedida quase silenciosa. Antes de dormir, fiquei olhando fotos minhas e de Dill, do passeio que fizemos. Um pouco chorosa, fui dormir.
DILL POV
Após sair da loja, precisava ir para casa logo, Alan agora era minha preocupação. Durante todo o trajeto, me sentia leve, dando os primeiros passos para minha liberdade, mas com medo do que iria enfrentar pela frente com minha família.
Abro a porta e subo as escadas, percebo que ele estava ao telefone, meu coração dispara: Será que era André?. Ele desliga ao me ver.
- Com quem estava falando? - pergunto assustada.
- Camila. uma amiga da escola. Que cara é essa mãe?
- Você pode sentar pra gente poder conversar? - sentei no sofá e comecei a esfregar as mãos em total nervosismo.
- Ok! - sentou-se no outro sofá, mas ainda de frente para mim.
- Alan! Primeiro de tudo. Eu te amo e você é a coisa mais importante da minha vida. Tudo que faço é por você.- senti as lágrimas já molhando meu rosto.
- O que foi mãe? - se sentou a meu lado e me abraçou. Nesse momento não me segurei e deixei as lágrimas caírem.
- Você sempre foi um doce comigo meu filho. Te amo tanto. - acariciei seu rosto, olhando cada detalhe; beijei sua testa.
- Também te amo. Você sempre me entendeu, me ajudou. Diferente de meu pai.
- É sobre ele mesmo que preciso falar. enxuguei as lágrimas e me virei, saindo de seu abraço. Acho que a vergonha me pegou naquele momento.
- Filho. Eu e seu pai, não estamos juntos há muitos anos. Você sabe que ele morava aqui apenas para me ajudar com as contas e…e..- fiz uma pausa, não sabia como dizer.
- Para cuidar de mim, para que eu não fizesse uma loucura. Eu sei! -
- Não é isso. A gente se preocupa Alan. Mas de uns tempos pra cá, nem isso ele tem feito. Estou te falando isso, porque você não é mais criança e consegue entender as coisas.
- Entendo que tem sido um bosta, comigo e com você. Ele sempre vai ser meu pai, mas longe da gente. Quero me curar mãe e ele estava dificultando.
- Esse tratamento vai te ajudar.
A conversa parecia leve, mas eu ainda tentava encontrar uma forma de contar tudo.
Me levanto, ficando de costas para ele, tentando quem sabe sentir menos vergonha de mim mesma.
- Não sei como te dizer filho, mas seu pai. Ele.. Ele.
- Está te chantageando. Eu sei! - me virei rapidamente
- Como assim você sabe?- minhas pernas bambearam, acabei me sentando novamente.
- Você esqueceu seu whatsapp logado no meu notebook. - parei na sua frente, quase sem fôlego.
- Eu posso explicar!
- Vai explicar o que mãe? Que estava namorando outra mulher? meus olhos se encheram de lágrimas novamente.
- Isso não tem nada a ver com seu pai e eu ou você. - senti minha voz gaguejar.
- Não sei o que pensar mãe. Sei que ela não teve nada a ver entre você e meu pai, mas é tudo muito novo. Você é minha mãe! - sentia o pesar em suas palavras. - E se você está me contando é porque não aceitou a chantagem. O que fez muito bem. Não sei como vou encarar isso daqui para frente, mas a melhor coisa que você fez foi tirar o pai daqui e das nossas vidas.
- Me perdoa Alan! - segurei suas mãos.
- Não tem o que perdoar, isso é você. Só preciso me acostumar.
- Não vai precisar se acostumar com nada. Já acabou.
Ele foi para seu quarto, como de costume, não trancou a porta; isso me deixou um pouco tranquila. Tomei um banho, peguei o colchão e coloquei na sala. Queria ficar mais perto dele. Antes de dormir, fui xeretar as redes sociais e para meu espanto, vi o storie do instagram da Juliana, que me deixou mais triste. Pelo jeito já havia perdido. Ela estava com a ex. Era o que faltava para tornar meu dia mais sofrido. Em lágrimas fui dormir.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mmila
Em: 14/02/2025
Mano, quanto sofrimento pra essas duas....
Espero que esse filho dela melhore e dê apoio a mãe.
E esse calhorda do ex pegue a outra chifrando ele.
lorenamezza
Em: 16/02/2025
Autora da história
Ele vai ter o que merece sim
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