Capitulo 27
De algum ponto distante, escondido nas sombras, alguém observava a cena. Seus olhos estavam fixos em cada movimento dos policiais, os passos de Gabriela e o comportamento estranho de Olívia. Uma leve risada escapou dos lábios do observador, como se o que estivesse vendo fosse parte de uma performance cuidadosamente orquestrada. O cenário estava se desenrolando exatamente como deveria, como ele havia planejado. A tensão, as relações sendo puxadas até seus limites, e aquele jogo psicológico onde ele era o artista, e os outros, meras peças de um grande tabuleiro.
Ele observava Gabriela agora, prestando atenção em cada detalhe — a forma como ela andava, como sua expressão mostrava uma inquietude controlada, mas ao mesmo tempo, uma força que o fascinava. Interessante... Para uma policial nova, ela tem algo diferente. Bonita, até. O pensamento passou pela sua mente com um sorriso sinistro. Era quase encantador como ela não sabia o que estava acontecendo ao seu redor, como todos estavam sendo empurrados por uma corrente invisível, e ela... bem, ela ainda não havia se dado conta de seu papel.
Mas ele sabia. Ele sabia que tudo estava em movimento agora. A arte estava voltando à vida, e ele seria o único a possuir o controle. Era só uma questão de tempo.
Gabriela estava no carro com Lucas, o som suave da música preenchendo o espaço entre eles, mas a tensão ainda estava lá. Não apenas pela noite que parecia não ter fim, mas pela sensação crescente de que algo muito maior estava em jogo. Ela sentia um peso sobre seus ombros, mas tentava ignorá-lo. Não podia deixar que isso a afetasse agora.
Lucas estava falando sobre o caso, sobre as pistas, tentando manter o foco, mas Gabriela mal ouvia. Ela apenas olhou pela janela, as ruas vazias passando rapidamente, enquanto sua mente estava em outro lugar.
"Você está bem, Gabriela?" Lucas perguntou, olhando para ela de relance. "Você tem estado distante."
Ela sorriu de leve, tentando disfarçar o cansaço. "Estou bem. Só... cansada."
Ele assentiu, aparentemente aceitando a resposta, mas ainda havia algo em seu olhar que não parecia convencido. Gabriela pegou seu celular, sentindo a necessidade de falar com Olívia. Ela não sabia bem o porquê, mas sentia que precisava disso, de alguma forma. Olhou para a tela e, sem pensar muito, mandou uma mensagem.
"Você está acordada? Não consigo dormir."
Ela esperou alguns segundos até o celular vibrar com a resposta.
"Ainda estou aqui. "
Gabriela sentiu uma leve surpresa. Não esperava que Olívia estivesse tão... aberta, por assim dizer. Elas nunca haviam tido uma conversa assim antes. A tensão entre elas sempre havia sido uma barreira invisível, mas agora, naquela noite silenciosa, parecia que algo estava se quebrando, mesmo que fosse apenas por um momento.
"O que você está fazendo?" Gabriela perguntou, tentando manter a conversa leve, sem pressa de ir direto ao ponto.
"Trabalhando em alguns relatórios. Preciso manter a mente ocupada, senão começo a pensar demais." A resposta de Olívia foi quase uma confissão, algo raro nela.
"Eu sei como é... eu só queria que as coisas fossem mais simples às vezes." Gabriela digitou, sua mente ainda ocupada com os pensamentos sobre o caso. Mas, ao mesmo tempo, algo sobre a honestidade de Olívia em suas palavras a fazia se sentir mais próxima da policial experiente, mais humana, em um nível que ela não esperava.
"Eu também gostaria. Mas às vezes é preciso abraçar o caos para encontrar a ordem, gatinha." Olívia respondeu, e as palavras pesaram sobre Gabriela como uma revelação. Era típico de Olívia, uma filosofia que ela mantinha sem se deixar transparecer demais, mas que agora parecia ter um significado mais profundo.
Gabriela deu um sorriso cansado, respondendo: "Eu sei, Olívia. Só... espera aí. Gatinha?"
"Que foi? Não gostou, gatinha? Eu sempre tenho razão." A resposta veio acompanhada de uma leve provocação, como se Olívia, mesmo em um momento de vulnerabilidade, ainda quisesse manter a confiança.
Gabriela riu baixinho, o som suave interrompendo o silêncio pesado do carro. Ela não sabia o que aquela conversa significava, mas havia algo nas palavras de Olívia que a fazia sentir-se um pouco mais leve, como se, por um breve momento, a tensão entre elas tivesse diminuído. O riso foi quase imperceptível, mas seu coração acelerou. Ela não esperava isso de Olívia — essa mistura de seriedade com uma provocação inesperada.
Ela sentiu um impulso, uma necessidade de manter a conversa, de explorar essa conexão estranha que se formava entre elas, mas algo dentro de si a segurou. Talvez fosse o peso da situação, talvez fosse o medo de se perder nesse jogo mental, mas naquele momento, Gabriela só queria fugir um pouco dessa realidade, dessa pressão que a seguia constantemente.
Na manhã seguinte, Lucas, ao seu lado, percebeu o silêncio e a distância em sua expressão. "Você está bem mesmo?" ele perguntou, sem deixar de olhar para a estrada.
Ela forçou um sorriso e tentou desviar o foco. "Sim, só cansada mesmo."
A conversa com Olívia ainda martelava em sua cabeça. "Gatinha"? Gabriela se pegou sorrindo novamente, o pensamento fugaz, quase proibido, mas inegavelmente presente. Ela não sabia se aquilo tinha sido uma provocação, uma brincadeira ou algo mais, mas algo na maneira como Olívia a chamara despertou uma sensação estranha, quase como se ela quisesse mais.
Ela olhou para a tela do celular e escreveu de volta, com um toque de humor para aliviar a tensão que sentia, mesmo que não soubesse como fazer isso direito.
"Você sabe que não pode me chamar de gatinha assim, né?" Gabriela digitou rapidamente, sua mente mais acelerada do que queria admitir.
Olívia demorou um pouco para responder, e Gabriela sentiu a inquietação aumentar. Talvez ela tivesse ido longe demais. Talvez Olívia estivesse apenas se divertindo com o momento, mas, em algum nível, Gabriela sabia que não poderia ignorar o que estava crescendo entre elas. Ela sentiu isso.
A resposta de Olívia chegou, fria e provocante como sempre:
"E quem vai me impedir, gatinha? Eu sempre tenho razão."
Gabriela mordeu o lábio, sentindo um calor subir por seu corpo. Aquela resposta, direta, confiante, e quase desafiante, fez sua mente girar. Por um segundo, ela se sentiu puxada para um lugar onde não estava mais tão certa sobre o que queria. A tensão entre elas não desaparecia. Ao contrário, parecia só aumentar, como se Olívia estivesse jogando um jogo que Gabriela ainda não sabia jogar, mas estava disposta a aprender.
Ela olhou para Lucas, que estava absorto em seus próprios pensamentos, e respirou fundo. De alguma forma, ela sabia que tudo o que estava acontecendo, tanto dentro quanto fora, estava prestes a levá-la a algo muito maior. Algo que ela não poderia controlar, e talvez nem quisesse mais.
De volta à tela do celular, Gabriela respondeu, sua mente finalmente aceitando o que seu corpo sentia, apesar do medo e da confusão:
"Talvez você tenha razão... mas e coragem?"
Ela soltou o celular, como se aquilo fosse de mais. A conversa ainda estava no ar, e o mundo ao redor parecia parado enquanto ela tentava entender o que essa tensão entre elas realmente significava. Ela não sabia, mas não iria recuar, não agora.
Fim do capítulo
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